NOSTALGIA
- RESGATE DA
MEMÓRIA –
Blog de Francisco Souto Neto
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NO MEIO
DO CAMINHO TINHA UM CANO
TINHA UM
CANO NO MEIO DO CAMINHO
(parafraseando Drummond)
por
Francisco Souto Neto
Nunca, antes, pensei em
compartilhar um apartamento com quem quer que fosse. Mas o avançado da idade e
os naturais problemas decorrentes desta, abriram a perspectiva de associar-me a
um grande e velho amigo também septuagenário, Rubens Faria Gonçalves, para
comprarmos um apartamento juntos, mas que fosse muito espaçoso para que, embora
eventualmente cuidando um do outro em casos de emergência, pudéssemos ter
nossos espaços particulares sem que um interferisse na individualidade do
outro.
O apartamento que adquirimos é
perfeito por contar com amplo espaço social, quatro quartos grandes e dois
banheiros privativos. Entretanto, como não bastassem essas qualidades, o
apartamento, na sua face oeste, é dotado de uma vasta área de serviço ligada à
copa e à cozinha, e tem ainda um “quarto de despejo” ou despensa (que seria
um pequeno quinto quarto), mais um banheiro e mais um quarto (o sexto quarto)
que no passado poderia ser de empregada, mas que é grande o bastante para poder,
na atualidade, servir de quarto de hóspedes.
Pois resolvemos transformar esse
último cômodo numa salinha com armários para nossos arquivos, que dividimos
igualmente, metade para uso de cada um de nós, traçando-lhe uma diagonal
imaginária. Coube a mim uma parede lateral interna e a parede dos fundos, e ao
Rubens a parede lateral externa (com uma janela) e a parede da frente, como se
vê no desenho abaixo:
FOTO 1 - O quarto número seis do apartamento
Achei esse cômodo ideal para ali
guardar – ou mesmo expor – alguns pertences de meu saudoso pai Arary Souto
(1908 – 1963), tais como o seu armário da espingarda e alguns dos seus troféus
de tiro ao prato conquistados no Clube de Caça e Pesca de Ponta Grossa, e ainda
algumas das placas que o homenagearam em épocas diferentes em Presidente
Venceslau, São Paulo, Ponta Grossa e Curitiba.
Vale observar que as fotografias que tirei do cômodo em referência, são unicamente da metade que me cabe. Não fotografei a parte ocupada por meu amigo Rubens.
FOTO 2 - Cerquei o armário de meu pai com obras de arte assinadas por grandes artistas plásticos. À esquerda, aquarela de Tereza Koch e pintura do internacional Armando Sendin. Na parte de cima, grande tela do saudoso Raul Cruz (“Santa Terezinha e a Devota”) e desenho de Heliana Grudzien ("A criação depois do amor passado"), ambos expoentes da Geração Oitenta (jovens talentos que se projetaram na década de 80 em Curitiba).
FOTO 3 - Nesta foto atual, de novembro de 2019, está a espingarda ora exposta, que é a “espingardinha” que meu pai usava quando garoto para
“caçar passarinhos”.
FOTO 4 - Tirei esta foto 38 anos ANTES da FOTO 3, portanto, em 1981, pouco antes de minha mãe vender a espingarda Fernand Thonon a Rubens Slaviero. No centro do armário está a espingarda que meu pai usava nas caçadas e nos campeonatos de tiro, com seus dois canos sobrepostos, a bela e cobiçada Fernand Thonon, fabricada em Liège (Bélgica), com as partes metálicas gravadas à mão pelo mestre L. Smeets. Anos após o falecimento de meu pai, essa espingarda Fernand Thonon foi vendida pela minha mãe para Rubens Slaviero, que era companheiro de meu pai em campeonatos de tiro e em caçadas, a cuja família a arma agora permanece. Tirei a foto acima para guardar a imagem de lembrança. Acima da "poderosa" espingarda Fernand Thonon, ficava a espingardinha que meu pai usava quando garoto, e que continua até hoje no mesmo armário, porém agora exposta na parte central do espaço, como se vê na FOTO 3.
FOTO 5 - Detalhe da espingarda belga Fernand Thonon que pertenceu a Arary Souto e que muitos
anos após seu falecimento foi vendida pela minha mãe para Rubens Slaviero. Vale
lembrar que a espingarda não estava à venda, mas ao longo dos anos Rubens
Slaviero reafirmava seu desejo de comprar a arma que ele conhecia bem, e
disse-nos que com ele a espingarda estaria preservada para sempre.
FOTO 6 - Detalhe da espingarda belga Fernand Thonon que pertenceu a Arary Souto e que muitos anos após seu falecimento foi vendida pela minha mãe para Rubens Slaviero. Vale lembrar que a espingarda não estava à venda, mas ao longo dos anos Rubens Slaviero reafirmava seu desejo de comprar a arma que ele conhecia bem, e disse-nos que com ele a espingarda estaria preservada para sempre.
FOTO 7 - Detalhe da espingarda belga Fernand Thonon que pertenceu a Arary Souto e que muitos anos após seu falecimento foi vendida pela minha mãe para Rubens Slaviero.
FOTO 8 - Detalhe da espingarda belga Fernand Thonon que pertenceu a Arary Souto e que muitos anos após seu falecimento foi vendida pela minha mãe para Rubens Slaviero. Nesta parte da arma, está a assinatura do famoso gravador belga L. Smeets.
FOTO 9 - Algumas
das medalhas conquistadas por meu pai em campeonatos. A mais bonita de todas,
minha mãe usava como uma joia numa corrente de ouro ao pescoço; outras,
igualmente belas, ela as doou à filha e a algumas irmãs de Arary.
FOTO 10 - Algumas das medalhas conquistadas por meu pai em campeonatos. Alguns nomes de amigos do meu pai, evocados pelas medalhas acima: Alcion Peterlle, João Pedro Masini, Alfredo Pietrobelli, Rubens Slaviero, Constantino Zaniolo, Orlando Moro, Leonardo de Geus.
FOTO 11 - Dia das
Mães, maio de 1982. Em casa, Edith Barbosa Souto arruma as rosas no vaso. Na
corrente do pescoço, uma das medalhas de Arary Souto brilha à luz do flash. À
direita, vê-se o armário com a espingarda Fernand Thonon de Arary Souto e as
medalhas sobre o feltro vermelho do interior do móvel.
FOTO 12 - Sobre o
armário, as canecas que me pai recebeu de presente no fim da década de 40 ou começo da de 50, com os prenomes dos
familiares: Arary, Edith, Olímpio e Neto (sou eu). Falta a da minha irmã Ivone,
por ela mesma quebrada num incidente: enquanto a lavava, esta
escapou-lhe das mãos e espatifou-se. As quatro restantes continuam no mesmo
lugar há uns 70 anos, inclusive o bule em forma de uma casinha.
Mas...
No meio do caminho tinha um cano
Tinha um cano no meio do caminho.
(parafraseando Drummond)
FOTO 13 - Havia (e há) um
cano no meio do caminho, entre a tela de Raul Cruz e o desenho de Heliana
Grudzien ("A criação depois do amor passado"). E o cano ali permanece, conferindo um pouco mais de história a estas duas obras já famosas. A propósito, o quadro de Raul Cruz foi catalogado em 1994, quando o emprestei à Fundação Cultural de Curitiba para participar de uma exposição sobre a obra do artista que faleceu em 1993 (vide FOTOS de 26 a 30, num apêndice desta matéria).
FOTO 14 - Na parte
inferior do armário, exemplares da arte da cutelaria: meu avô, o engenheiro e
geólogo Francisco Souto Júnior, criou estes facões.
FOTO 15 - Ainda na parte
inferior do armário, a caixa de couro que guarda o binóculo que pertenceu ao
Visconde de Souto, meu trisavô, e que foi herdado por Francisco José Alves Souto,
meu bisavô que era pai de Francisco Souto Júnior e avô de meu pai Arary Souto.
FOTO 16 - Na parede
do fundo do cômodo, estão: no chão, a Deusa do Fogo (da Indonésia), que dei à
minha sobrinha-neta Marion, mas ela ainda não a levou para a sua casa. Também ali
está a máquina de costuma Singer da minha mãe, comprada pelo meu pai em Santos
no ano de 1937, pouco antes do nascimento da minha irmã Ivone. Sobre a máquina, vê-se uma “casinha de bonecas” maravilhosamente mobiliada, com minúsculos quadros de
meus familiares, tapetes e até lustres, que há uns 20 anos adquiri e montei para as minhas
sobrinhas-netas. Uma delas demonstrou interesse, mas não pôde ficar com a mesma
por falta de espaço... Acima da casinha, está um quadro feito pelo médium Luiz
Antônio Gasparetto (1949-2018), supostamente incorporado pelo espírito de
Picasso, pintado ao mesmo tempo com outra obra (portanto utilizando a mão
direita e a mão esquerda simultaneamente), em exibição pública, na presença de
minha saudosa amiga Marlene Sant’Anna, comprada por ela especialmente para me
presentear.
AS PLACAS E
OS TROFÉUS DENTRO DO ARMÁRIO
As placas abaixo exibidas estão meio deterioradas por causa da passagem de muitas décadas, mas oportunamente serão restauradas para que permaneçam com bom aspecto durante pelo menos mais meio século.
FOTO 17
Ao Prefeito
Ao Prefeito
Arary
Souto
em
sua profícua gestão, a homenagem da
Câmara
Municipal
de
Presidente Venceslau, SP
Pres.
Venceslau, 18 de abril de 1947
FOTO 18
Ao nosso diretor
Ao nosso diretor
Sr.
Arary Souto
que
fez da Rádio Central do Paraná
a
emissora mais popular dos Campos Gerais
e
a primeira no Estado a emitir somente música,
a
homenagem e a estima dos seus
funcionários
amigos.
Ponta
Grossa, 1º de janeiro de 1961.
FOTO 19
Ao
Arary
Souto
Diretor
de “O Jornal do Paraná”,
a
amizade e a gratidão de seus
companheiros
de luta pelos ideais jornalísticos.
Ponta
Grossa, 31 de dezembro de 1951.
FOTO 20
Ao
presidente
do
Rotary Clube de Ponta Grossa
Arary
Souto
As
homenagens dos
companheiros
rotarianos paulistas.
São
Paulo, 30 de outubro de 1962.
FOTO 22
Ao presidente Arary Souto
Ao presidente Arary Souto
com
seu cachorro Cacique,
as
homenagens do Clube de Caça de Pesca de Ponta Grossa.
FOTO 23 - O lustre atualmente no "sexto quarto" foi comprado pelo meu pai no ano de 1956, para o teto da sala principal, quando nos mudamos para o casarão da Rua Augusto Ribas em Ponta Grossa.
FOTO 24 - O lustre, ainda bonito, comprado há 63 anos pelo meu pai.
FOTO 24 - O lustre, ainda bonito, comprado há 63 anos pelo meu pai.
FOTO 25 - Esta é a visão que se tem de Curitiba através da janela do "quarto número seis".
APÊNDICE
A respeito dos dois quadros que estão colocados acima do armário com as lembranças de Arary Souto
A respeito dos dois quadros que estão colocados acima do armário com as lembranças de Arary Souto
“Santa Terezinha e a
Devota”, uma tela com história.
FOTO 26 - Francisco Souto Neto em 1985, quando comprou a tela
“Santa Terezinha e a Devota”, de Raul Cruz.
FOTO 27 - Ao comprar “Santa Terezinha e a Devota”, a tela não
estava assinada, nem datada pelo autor Raul Cruz. Nesta foto, o chihuahua
Quincas Little Poncho aparece ao lado da obra.
FOTO 28 - Em 1987, na residência de Francisco Souto Neto,
Raul Cruz prepara suas tintas e pincéis para assinar e datar a obra “Santa
Terezinha e a Devota”. À direita da foto, vê-se o Quincas Little Poncho.
FOTO 29 - Por distração, Raul Cruz escreveu “1987”, em vez de
1985, que é a verdadeira data da pintura.
FOTO 30 - Raul Cruz faleceu em 1993. No ano seguinte, 1994,
Paulo Dias e Denise Bandeira foram à residência de Francisco Souto Neto para
fotografar e catalogar “Santa Terezinha e a Devota”, que se vê sobre o
sofá para ser fotografada pela Denise, para a exposição “Projeto Raul Cruz” que se realizou na Fundação Cultural
de Curitiba.
No link abaixo, a história da tela, publicada na coluna
Expressão & Arte, de Francisco Souto Neto, no Jornal Indústria &
Comércio.
"A criação depois do amor passado", de Heliana Grudzien.
FOTO 31 - "A criação depois do amor passado", desenho Heliana Grudzien, ano 1989, presente da artista para Francisco Souto Neto.
FOTO 32 - O verso da moldura do desenho mostrado na foto anterior, também protegido por vidro, tem o convite para a exposição realizada na Galeria Banestado, Curitiba, inaugurada em 10 de junho de 1988, com currículo da artista.
FOTO 33 - Detalhe da dedicatória de Heliana Grudzien para Francisco Souto Neto:
"Amigo Souto,
Acho que a nossa maior recompensa neste árduo caminho da vida, é quando encontramos pessoas que nos apoiam, nos incentivam e nos dedicam amizade. Isto nos dá a certeza de que o mundo não se perderá e nos deixa menos preocupados com o que porventura teremos que enfrentar.
Muito obrigada por esta certeza, meu amigo, e que nesta simples lembrança minha admiração e amizade por você possam estar estampadas.
Um abraço
Heliana Grudzien"
Artista: Heliana Grudzien
Técnica: Lápis de cor sobre papel.
Título: Da série "A criação depois do amor passado"
Ano: 1989
FOTO 34 - Outro trabalho de Heliana Grudzien que tenho, é esta pintura (pendurada acima de uma tela de Rogério Dias, que pertence a Rubens Faria Gonçalves), num recanto da sala.
FOTO 35 - A pintura de Heliana Grudzien no contexto deste recanto da sala principal.
No link abaixo, a visita de Heliana Grudzien e Adalice Araújo a Francisco Souto Neto em maio de 2006, nas páginas do Jornal Centro Cívico:
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