quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

DOS 3 AOS 8 ANOS, AS MINHAS MEMÓRIAS MAIS REMOTAS, por Francisco Souto Neto.

 

 
Francisco Souto Neto ainda bebê em 1943 (foto em preto e branco pintada a cores por sua tia artista plástica Juracy Souto Alves da Cruz)


 
Comendador Francisco Souto Neto

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DOS 3 AOS 8 ANOS, AS MINHAS MEMÓRIAS MAIS REMOTAS

por  Francisco Souto Neto

 

A promessa de uma vela do meu tamanho



Eu, muito pequeno, por volta dos 3 anos, nos braços de minha mãe, vejo uma mulher aproximar-se aos prantos, querendo arrancar-me do colo materno. Minha mãe me protege pondo-me ora de um lado dos seus ombros, ora do outro, afastando-se, esquivando-se, desviando-se das investidas.

Muitos anos depois, um dia disse à minha mãe que me lembrava de uma mulher querendo arrancar-me dos seus braços, e perguntei-lhe o por quê daquela agressão. Minha mãe arregalou os olhos: “Você ainda era ‘de colo’! Como você se lembra disso?”.

Muito surpresa com minha memória, minha mãe contou-me o que ocorreu: carregando-me no colo, ela aproximava-se do portão de nossa casa, quando uma mulher desconhecida, que vinha em sentido contrário, começou a chorar ao ver-me, contando-lhe exaltada que seu filho estava hospitalizado, e que ela prometia mandar fazer uma vela do meu tamanho se o seu menino sobrevivesse. Desesperada, queria tocar-me, enquanto eu, certamente com muito medo daquilo que talvez me parecesse uma agressão, deveria estar chorando aos berros.

Minha mãe nunca soube quem era aquela mulher, nem se seu filho sobreviveu. E assim posso dizer que a lembrança mais antiga que tenho da minha vida é do desespero de alguém em face à ameaça da morte.


Na estação de trem, uma revolta à chupeta alheia


Vejo-me em pé na plataforma da estação ferroviária, ao lado de minha mãe. Devo ter uns 4 anos. Aproxima-se de nós um menino do meu tamanho, levado pela mão de sua mãe. O menino tem na boca uma chupeta. Eu arranco a chupeta da boca do menino, sua corrente rompe-se, e eu atiro o objeto à distância. A mãe do menino grita, minha mãe me protege e conversa com a mulher que segura o filho. Este parece pasmo, com a expressão petrificada de assombro, surpreso diante de algo que não se espera ou não se compreende.

               Menino com chupeta (foto da internet)

Eu soube, muitos anos depois, o motivo da minha revolta: minha mãe retirara a minha chupeta e eu passei a apresentar uma atitude de agressão contra as crianças que desfrutavam das suas. Embora eu me lembre de ter agredido apenas o menino na plataforma da estação de trem, minha mãe contava que eu fiz o mesmo contra outras crianças. Tomara que eu não as tenha traumatizado em demasia.

 

O trem que passa no meio da  noite e a mamadeira na cama pela manhã


Trem no meio da noite (foto da internet)

Uma lembrança também muito remota que tenho, ainda por volta dos 4 anos, é a seguinte: estou no colo de minha mãe, dentro de um carro no meio da noite. O carro está parado. De repente ouço apitos na escuridão, surge um farol radioso... e uma assustadora e barulhenta locomotiva fumegante passa à nossa frente, carregando muitos vagões com as janelas iluminadas e cheias de pessoas.

Ligada a esta, tenho mais uma memória que se segue: na sequência ao trem, chegamos logo a uma casa de fazenda. Ali, todas as manhãs sou despertado pela minha mãe para receber uma mamadeira com leite morno. Na casa dessa fazenda há uma varanda muito grande com sofá e poltronas de palhinha.

Sofá de palhinha (foto da internet)

Também houve uma ocasião em que eu, já menino crescido, perguntei à minha mãe que lugar seria aquele em que vi passar um trem à nossa frente no meio da noite, e que casa avarandada, com poltronas de palhinha, seria aquela onde, antes do nascer do sol, eu recebia na cama uma mamadeira com leite morno. Admirada com minha lembrança, minha mãe contou-me que aquilo aconteceu numa viagem que fizemos à fazenda de um tio, próxima à minha cidade natal de Presidente Venceslau, no Estado de São Paulo. Não me recordo do nome do tio. Mas era ele quem tirava o leite de uma vaca muito especial, destinado ao consumo da família, e o trazia para mim.


O primeiro beijo, aos 6 anos, numa “namoradinha”


A foto acima é de 1944, na entrada à casa de Tio Pery Martins. Em pé na escada, meu primo Júlio e meu irmão Olímpio. A moça sentada e cercada pelas crianças, é Elisa, prima de minha mãe. À esquerda da foto vê-se a menina Aída (Aidinha) aos 2 anos (irmã de Elisa e Júlio) e à direita da foto minha irmã Ivone aos 6 anos. No colo de Elisa estou eu, Francisco Souto Neto, com um ano de idade.

Passaram-se 5 anos após a foto acima. Vejo-me agora, seguramente aos meus 6 anos, sentado num banco de madeira, no quintal meio ajardinado. Ao meu lado, minha prima Aidinha, um ano mais velha. Aproximo-me dela e dou-lhe um beijo na bochecha. Ouço risos. Neste momento olho em direção à casa e vejo, debruçadas na janela, a minha mãe e sua prima Elisa, irmã de Aidinha, que rindo nos observam. Na minha reação infantil, aquele riso me desconserta. Saio correndo para enconder-me, envergonhado. Essa cena ocorreu no Porto XV de Novembro, Mato Grosso Uno, onde residiam os pais de Elisa e Aidinha, primos de minha mãe, aos quais eu chamava de “tios”: Tio Pery e Tia Emerenciana. Porto XV era um vilarejo às margens do Rio Pardo, quase onde desemboca no Rio Paraná, pouco abaixo da cidade paulista de Presidente Epitácio, um lugar que não existe mais, porque foi inundado para formação do lago da represa hidroelétrica Sérgio Motta.

Quero acrescentar que havia uma música que durante toda a infância fazia lembrar-me do Porto XV, que era ouvida na vitrola da casa de Tio Pery. Em minha casa tínhamos o mesmo disco, que é hoje tido como a provável primeira gravação de chamamé no Brasil. A música denominada Camba Cuá, também classificada como rasqueado, é originalmente argentina, e no Brasil foi gravada pelas Irmãs Castro:

Disco 78 rpm das Irmãs Castro: "Camba Cuá".


Abaixo, o link para ouvir "Camba Cuá" com Irmãs Castro:

https://www.youtube.com/watch?v=UaGh7H4mUiA

Depois do referido episódio do beijo em Porto XV, sempre que esse disco era tocado em minha casa, os adultos olhavam-se, olhavam-me e riam... e eu corria para esconder-me. A canção fazia lembrar-me de Aidinha, um “romance" infantil interrompido, que me pareceu “desrespeitado” pelo riso das “intrusas” da janela...


Um Papai Noel medonho


Na véspera do Natal de 1948 ou 1949, morávamos na Rua Visconde de Nacar nº 149, em Ponta Grossa. À noite havia muita correria de crianças no meio da rua que era calçada com paralelepípedos. De repente uma agitação maior fez saber que Papai Noel chegava para conversar com as crianças. Minha mãe pegou-me no colo para que eu ficasse com meu rosto à altura do de Papai Noel, para com ele conversar. Quem se vestia de Papai Noel era nossa vizinha Adelaide Emílio, que usava uma máscara dura de tecido engomado e pintada com os traços do rosto de um velho. Mas eu não sabia disso e acreditava, como as demais crianças, que ali se apresentava o Papai Noel verdadeiro, vindo do Pólo Norte.

Quando minha mãe aproximou-se do Papai Noel e ele falou comigo, percebi, horrorizado, que sua barba era de algodão, ele falava sem que os lábios se movessem, e os olhos pareciam dois buraquinhos na cara muito assustadora. Eu deduzi, na hora, que se o Papai Noel estava com algodão no rosto, é porque ele devia ter saído de um hospital, e sua cara petrificada e sem expressão era um sinal de que ele estaria doente. Com medo de olhar aquela aberração, tapei os meus olhos com as mãos e foi assim que falei com aquele Papai Noel monstruoso. Vale acrescentar que eu tinha medo de pessoas que tivessem sido hospitalizadas.

Máscara de Papai Noel muito bem elaborada e com a barba convincente. A do Papai Noel da minha infância era muito mais primitiva e assustadora, com grosseira barba de algodão mesmo! Foto da internet.

Na véspera do Natal do ano seguinte, minha mãe levou-me para a rua, em frente à nossa casa, para o encontro com Papai Noel. Como eu não quisesse ir, ela pegou-me no colo e ali fiquei com os olhos fechados protegidos pelas minhas próprias mãos em concha. Abri os olhos por um instante e vi que meu melhor amigo, Carlos Roberto Emílio, corria brincando com outras crianças. Lembro-me claramente de que fiquei admirado com a coragem do amiguinho que não demonstrava medo do Papai Noel, cuja figura já despontava virando a esquina e vindo na minha direção. Consigo lembrar-me de perceber nele a mesma assustadora face sem expressão. Fechei os olhos e, com o coração aos saltos de tanto pavor, disse ao Papai Noel quais os presentes que eu desejava receber. Na manhã seguinte, dia 25, corri até à árvore de Natal, e constatei que o Papai Noel trouxera todos os presentes que eu desejava. Achei que o velho Papai Noel era muito bondoso, embora sua aparência fosse apavorante.


Crianças com medo do Papai Noel. Fotos da internet.

Quando meu amigo Carlinhos me contou que Papai Noel não existia e que ele era a Adelaide “fingindo” ser um Papai Noel, lembro-me do meu suspiro de alívio. Creio que naquele momento surgiu-me o descrédito às divindades e nasceu em mim o agnóstico que sou hoje.


Viagem de trem de Ponta Grossa a São Paulo


Trem com vagões de madeira. Foto da internet. 

Entre os anos de 1947 e 1952, com certa frequência viajávamos de Ponta Grossa a São Paulo, para visitarmos os familiares de meu pai. O trem saía de Ponta Grossa na parte da manhã e chegava a São Paulo na manhã do dia seguinte. Meu pai comprava duas cabines conjugadas. Numa, minha mãe dormia no leito inferior e meu pai no superior. Na outra cabine, meu irmão Olímpio, 9 anos mais velho, ocupava o leito superior, e eu e minha irmã compartilhávamos o leito inferior. Deitados no nosso leito, estávamos à altura da janela. E ali, durante todo o dia eu e Ivone íamos deitados, deleitando-nos a cada curva da via férrea e acenando para as pessoas que viviam em casinhas isoladas naqueles campos sem fim. As paradas nas inúmeras estações do percurso eram festas para os olhos, por serem muito movimentadas naquele nervoso frenesi de pessoas que embarcavam e desembarcavam. O cheiro de carvão queimado da locomotiva era uma delícia. Os vagões tinham as paredes de madeira e as cabines possuíam pias, mas não contavam com privadas; estas, duas coletivas por vagão, localizavam-se nas extremidades dos carros... Nós éramos treinados a jamais nos sentarmos em privadas públicas. Ali, no banheiro, a janela era oval e o vidro fosco, sem transparência. O sabonete em forma de bola, pendia por uma corrente da parede. Na privada, os dejetos caíam diretamente sobre a estrada de ferro. Olhando por aquela abertura, via-se o trilho do trem, por isso, tornava-se proibido usar o banheiro enquanto o trem estivesse parado em alguma estação. O almoço e o jantar ocorriam no carro restaurante, entretanto atravessar de um vagão para o outro, a céu aberto, vendo os trilhos logo abaixo da emenda dos carros, representava um grande risco, de modo que fazíamos a travessia entre os vagões, sempre amparados pelas mãos seguras dos nossos pais. As mesas do restaurante eram cobertas por toalhas quadriculadas e o guaraná às vezes saltava para fora do copo, por causa dos sacolejos do trem. Viagens de trem encantavam-me. E encantam até hoje, porém esse prazer só pode ser realizado na Europa. Os trens europeus de hoje, moderníssimos e assépticos, são encantadores, mas não tanto quanto os antigos trens de madeira entre Ponta Grossa e São Paulo.

Tempestade: o voo quase fatal entre Ponta Grossa e Campo Grande em 1952


A minha primeira viagem aérea ocorreu em 1952, há exatos 70 anos, quando eu tinha 8 anos, época em que ainda ainda não existiam voos comerciais em aviões a jato. Foi uma viagem de Ponta Grossa a Campo Grande, a bordo de um DC-3 da Real Aerovias, um avião com duas hélices, velocidade de 200 a 300 km/h, com capacidade para 21 a 32 passageiros e três tripulantes, dentre os quais uma aeromoça. Embarquei com meus pais e os dois irmãos, Olímpio e Ivone.

Noutra ocasião, minha mãe desembarcando em Ponta Grossa, de um avião DC-3 da Real, retornando de São Paulo. Foto feita por meu irmão Olímpio. 

Assim era o interior dos DC-3, em foto da internet. 

Eis como eram os DC-3. Foto da internet. 

O avião deu uma corrida pela pista de terra e alçou voo. Para o aparelho ganhar altura, não havia a suavidade que encontramos hoje nos aviões a jato. A sensação era de estarmos numa montanha russa, empurrando para cima e o estômago descendo, e empurrando para baixo e o estômago subindo. Houve várias escalas antes da chegada ao destino, porém não me recordo quantas, nem em que cidades o avião aterrissou para desembarque de uns passageiros e embarque de outros. Também não me lembro do que nos foi oferecido para comer durante a longa viagem.

Um avião em voo entre raios. Foto da internet.

Inesquecível foi a tempestade que atravessamos quando voávamos já sobre Mato Grosso, após o Rio Paraná que avistamos quando as nuvens o permitiam. Começou então uma chuva forte, e foram intensificando-se os raios e trovoadas. Eu via raios cortando o opaco das nuvens. O simples fato de os DC-3 voarem baixo, fazia-os mais sujeitos a turbulências. À medida que nos aprofundávamos na tempestade, o avião saltava para cima, para baixo e para os lados o tempo todo. Na minha imaginação, vi-me numa carroça com o cavalo desembestado numa estrada cheia de buracos. Era estranho que o avião desse tantos socos "secos" onde não existia chão. Ouvi alguns gritos. A aeromoça foi projetada para cima, parece que bateu a cabeça no teto e caiu no corredor entre as poltronas. Dos bagageiros despencaram vários volumes. Os passageiros começaram a vomitar nos sacos de papelão próprios para esse tipo de indisposição, naquele tempo em que ainda não existiam sacos de plástico. E eram tantas pessoas vomitando, que gritos ouviam-se de todos os lados. Todos segurávamos sacos de papelão amparados na boca. E o que fazer com um saco cheio de vômito? Era preciso pô-lo em algum lugar, e os bolsos da parte traseira das poltronas da frente foram utilizados para tal fim. Pode-se imaginar que esses sacos, espremidos nos bolsos, resultaram em vazamentos. Ohhh! Oh! Ohhhhh! Os gritos e gemidos não paravam. A poltrona de um senhor gordo, duas filas atrás, desmontou-se e o pobre homem esparramou-se no corredor molhado de vômitos. Por sorte era a primeira poltrona após a porta de entrada do avião, que ficava no fim da cauda, e desta maneira aquele assento desabou em frente à porta e não sobre uma poltrona de trás – que sem dúvida feriria as pernas de algum passageiro. Lembro-me de alguns homens, dentre eles meu pai, levantando-se agarrados às poltronas do corredor, para irem acudir ao pobre senhor acidentado. Levaram-no para trás, onde o colocaram em algum lugar. Não vi onde, pois eu estava mais preocupado em observar a porta do avião, temendo que ela de repente se abrisse.

Ficou na minha memória a aterrissagem em Campo Grande e os passageiros desembarcando descabelados, com algumas manchas nas roupas.

Foi mais um momento em que eu, criança, refleti sobre essa coisa que naquele tempo me pareceu estranha, abstrata e aterrorizante, quase inconcebível na tenra idade, a que chamamos de finitude.


Meu jardim de infância em 1950


No primeiro dia da minha vida em que saí de casa rumo a uma escola, ocorreu em Ponta Grossa em 1950. Levados pela minha irmã Ivone, fomos eu e meu vizinho Carlinhos (Carlos Roberto Emílio), da mesma idade, curiosos e com um pouco de medo do tal "jardim de infância".

As ordens de meus pais eram expressas: eu e Carlinhos de mãos dadas durante todo o percurso (uns dez quarteirões), minha irmã segurando minha mão. Levávamos nossas lancheiras abastecidas para a hora do recreio. E assim chegamos ao Colégio Sant'Ana. Era um colégio para meninas, mas o jardim da infância funcionava com turmas mistas. 

Na foto acima: Carlos Roberto Emílio, Francisco Souto Neto (usava chuca-chuca), ambos aos 6 anos, e Ivone Barbosa Souto aos 11 anos. Foto de Arary Souto, registrando a saída para o primeiro dia de Souto Neto e Carlinhos no jardim de infância do Colégio Sant'Ana. A ordem era: os três de mãos dadas, por motivo de segurança, até chegarem ao colégio.       

Chegando ao colégio, minha irmã entregou-nos a uma freira. Por um momento senti pânico, pois queria a presença de minha irmã, mas esta seguiu para a sua classe e a freira puxou-nos pela mão para outro lado. O jardim de infância funcionava fora do antigo e majestoso prédio. Atravessamos o pátio dos recreios e, lá no fundo do terreno, existia uma escada que levava ao que chamávamos de pavilhão, um prédio "moderno" com uma única sala imensa. Ali funcionava o jardim de infância.

Antigo Colégio Sant'Ana. Foto tirada ao alto do Colégio Regente Feijó, ambos de frente para a Praça Barão do Rio Branco.

Emtre nossas carteiras comunitárias, lembro-me de ver freiras passando com enormes cartazes mostrando cenas do Velho Testamento, enquanto outra dissertava sobre aquilo que nos era exibido. Quando voltávamos do recreio, tínhamos que fazer um "repouso" de alguns minutos, debruçados sobre a carteira e os braços cruzados servindo de travesseiro. Algumas crianças adormeciam e as freiras, ao retomar a aula, respeitavam o sono do aluno e deixavam que se acordassem normalmente.

A escada que levava do pátio ao pavilhão, era externa. Na subida notávamos uns "respiradouros", que era o nome que davam àquelas pequenas aberturas, fechadas por grades, que existiam para ventilar os porões. Entre as crianças corria o boato de que ali existia o "quarto escuro", um lugar para onde seriam levadas as crianças desobedientes. A verdade é que as freiras, a quem tratávamos por "irmãs", eram dulcíssimas, e creio que desconheciam essa futrica certamente inventada pelas crianças mais velhas. 

Certa ocasião houve uma "festa" no jardim de infância. À entrada do pavilhão recebemos uma bandeja e, em fila, fomos ganhando salgados, doces e um refrigerante. Havia muita correria dos meninos maiores, e esses passavam por nós, as crianças menores, e furtavam nossos doces. Encolhi-me num canto para me proteger das investidas dos colegas ladrões.

Lembro-me dos nomes de apenas três colegas: Carlos Roberto Emílio, Marli Tamura Campos (ela casou-se com um colega que tive no Banestado, na década de 70, o Erol Vinícius Campos) e Álvaro Correia de Sá Filho. Sobre este último, tenho uma história curiosíssima que algum dia relatarei numa crônica.

Quem tiver curiosidade para saber das professoras de minha infância, as encontrará nesta crônica que publiquei em jornal há muitos anos:

https://soutoneto.wordpress.com/2014/12/02/professoras-da-minha-infancia-os-inocentes-e-as-bruxas/ 

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terça-feira, 4 de janeiro de 2022

SAUDADE DE MINHA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA NA RUA AUGUSTO RIBAS Nº 571, EM PONTA GROSSA, PR. Por Francisco Souto Neto.

 

SAUDADE DE MINHA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA NA RUA AUGUSTO RIBAS Nº 571, EM PONTA GROSSA, PR. Por Francisco Souto Neto.


 Francisco Souto Neto aos 16 anos, em casa.

 

Comendador Francisco Souto Neto

 

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SAUDADE DE MINHA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

NA RUA AUGUSTO RIBAS Nº 571,

EM PONTA GROSSA, PR.

 

Francisco Souto Neto

Neste tempo de pandemia, há quase dois anos em isolamento social, irritado e estressado com nosso maldito governo, tenho estado nostálgico e bastante reflexivo. Vivi três épocas diferentes em Ponta Grossa, e a mais marcante pelas lembranças da minha família foi aquela em que moramos na Rua Augusto Ribas, entre final de 1955 até aproximadamente 1962. Lamentavelmente os amigos dos meus pais, assim como eles próprios, já se foram (se vivos, teriam hoje mais de 100 anos). Os acontecimentos sociais somados a praticamente tudo o que gravitava ao redor da “jeunesse dorée” da década de 50 caiu no esquecimento. Por isso resolvi rememorar aqui no Facebook um pouco dos tempos mágicos da Rua Augusto Ribas.

 

1ª de 16 FOTOS.

Nesta foto, eu entre os 12 e os 13 anos, entrando em casa com minha mãe.


2ª de 16 FOTOS.

Numa tarde chuvosa de 1957, Mamãe (de capa escura) e minha irmã Ivone (de capa clara e capuz) atravessam a Rua Augusto Ribas em direção à Bombonière da Anastácia, que ficava ao lado do Edifício Ópera (o prédio de 4 andares, 5 com o mezzanino) na esquina com a Rua XV. Tirei esta foto da janela da minha casa.


 
3ª de 16 FOTOS.

Papai numa foto 3x4 de 1958.

 

4ª de 16 FOTOS.

Papai lendo.


 
5ª de 16 FOTOS:

Mamãe na sala de jantar.


6ª de 16 FOTOS.

Meu irmão Olímpio, 10 anos mais velho, dava lindas festas naquela grande sala, às vezes à luz de velas, e minha mãe servia quitutes enquanto os casais dançavam, vigiados pelos olhos atentos do meu pai... Na foto, meu irmão naquela sala, ouvindo um disco de Jane Froman.


 7ª de 16 FOTOS.

Minha irmã Ivone em casa.


 
8ª de 16 FOTOS.

Ivone em casa.

 

9ª de 16 FOTOS.

Eu aos 16 anos, entrando em casa. Naquele tempo, garotos como eu já usavam terno e gravata... com colete. O lindo casarão que aparece ao fundo, do outro lado da rua, pertenceu ao Sr. Antônio Vendrami.


10ª de 16 FOTOS.

Eu no barzinho que tínhamos num canto da sala.


11ª de 16 FOTOS.

Em 1986 estive em Ponta Grossa, e naquela ocasião fui fotografar a casa onde morei, no nº 571 da Rua Augusto Ribas. Por aquele portão acessava-se a escadaria, bem alta, que levava ao 1º andar, onde morávamos. Apesar da altura, tínhamos lá um lindo e grande quintal com jardim, horta, e até um galinheiro ao fundo. Naquele quintal vivia o nosso cachorro Cacique, que dormia numa casa ao lado do galinheiro. A Sweet dormia dentro de casa. As portas na calçada eram da entrada dos nossos vizinhos, a família Pereira Jorge. Depois desta família, mudou-se para ali o casal Jayme Strozzi e nossa velha amiga Lourdes Rocha Strozzi. O pedaço do prédio que aparece à esquerda, pintado de azul pálido, era a Câmara Municipal (e antes dela tinha sido a sede do Clube Thalia).



12ª de 16 FOTOS.

A escada que levava à minha casa, no 1º andar. Após a escadaria, uma passarela conduzia à entrada da sala. Na parte em que a casa ficava mais estreita (que não aparece nestas fotos), havia mais duas portas. Uma, da copa para o quintal. E outra de uma saleta, que ficava entre a cozinha e o quarto e banheiro de empregada, dando mais para o fundo do quintal.


13ª de 16 FOTOS.

Apenas dois anos depois, em 1986, retornei a Ponta Grossa, agora a trabalho (eu era Assessor para Assuntos de Cultura da diretoria do Banestado) e fui rever a "minha" casa... Tristeza, tristeza, ela estava em demolição. A escada encontrava-se assim:


14ª de 16 FOTOS.

Com grande dificuldade subi equilibrando-me sobre os tijolos que escondiam os degraus e fui me despedir da casa amada. Este era o corredor de entrada à casa, vendo-se do outro lado da rua, aquela que pertenceu ao Sr. Vendrami.


15ª de 16 FOTOS.

A casa era muito extensa. Aqui, vê-se à esquerda ainda um pouco da grama do quintal. Para tirar esta foto, fiquei onde estava o quarto de empregada, e atrás de mim o banheiro de empregada. Havia uma saleta entre a cozinha e o quarto de empregada, que usávamos como uma despensa, com armários. O batente da porta, a única estrutura da casa que ainda estava em pé, era de uma das duas portas que levavam ao quintal. Esse batente, isolado e em pé no meio ao caos, não lembra o misterioso monólito do filme “2001 – Uma Odisseia no Espaço”?


16ª de 16 FOTOS (última).

Foto aérea que mostra o telhado da minha casa na Rua Augusto Ribas e o quintal, entre a XV de Novembro (em cuja esquina vê-se o Edifício e Cine-Teatro Ópera) e a Marechal Deodoro (onde era a casa do General e o casarão que é agora Centro Europeu). À esquerda da minha residência, é a casa de Dª Sinhazinha Ribas. Deste ângulo parecem juntas, mas eram separadas por uma distância razoavelmente grande. A construção da esquina à direita, era a Câmara Municipal, que anteriormente tinha sido a sede do Clube Thalia. A casinha no fundo do meu quintal, que assinalei em amarelo, era metade um quarto de despejo, e outra metade a casa do nosso cachorrão Cacique. (P.S.: No quarteirão abaixo da Rua XV está o enorme Cine Ópera. Assinalei ali, em cor laranja, a entrada para a Rádio Central do Paraná, da qual meu pai era diretor. De casa até à Rádio eram apenas uns 100 metros).

 

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Francisco Souto Neto em 2020 (ao início da pandemia)


Francisco Souto Neto em janeiro de 2021 (10º mês da pandemia)

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