segunda-feira, 10 de outubro de 2022

PROFESSORA MARIA DA GRAÇA (GRACí) AGUIAR ARMELLINI (depois GRACÍ TRÉNY), UMA DAS MAIS IMPORTANTES FIGURAS DA MINHA VIDA por Francisco Souto Neto

 

Maria da Graça (Grací) Aguiar Armellini em 1962, fotografada por Francisco Souto Neto.

 

 

Comendador Francisco Souto Neto

 

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PROFESSORA MARIA DA GRAÇA (GRACí) AGUIAR ARMELLINI (depois GRACÍ TRÉNY), UMA DAS MAIS IMPORTANTES FIGURAS DA MINHA VIDA

por  Francisco Souto Neto


 O aprendizado


No fim da década de 50, em Ponta Grossa, minha irmã Ivone namorou um rapaz chamado Hilson Rocha, filho de um dos mais importantes alfaiates da cidade, que tinha sua loja na Rua XV de Novembro, distante um ou dois quarteirões da casa onde residíamos à Rua Augusto Ribas nº 571. Hilson tinha uma tia chamada Maria da Graça Aguiar Armellini, conhecida como Grací Armellini (1921-2003), que era professora de Francês de minha irmã. Mesmo após terminar o namoro com Hilson, Ivone continuou a tratá-la por “Tia Grací”, o que fez por toda vida.

Em 1960, no 1º ano do Curso Científico, que tinha duração de três anos e que era a ponte para o exame vestibular que levava à Universidade, eu descobri muito contente que a minha professora de Literatura Francesa seria Dª Grací Armellini. De uma família de intelectuais nascidos em Belém do Pará, Dª Grací era irmã de Armando Cardoso de Aguiar, professor de Geografia, que participava da diretoria de várias instituições ligadas à Cultura como, por exemplo, do Grupo Ponta-grossense de Amadores da Astronomia, do qual meu pai, Arary Souto, era também um dos diretores.

Eu já gostava muito de Francês que era matéria obrigatória durante os quatro anos do ginásio. Os adolescentes daquela época gostavam de ser ou parecer intelectuais, e eu não era exceção, e talvez por isso me interessasse demais a Literatura Francesa. Tornei-me então, nos três anos em que esta matéria era parte do currículo, um dos melhores alunos da classe.


Meus livros da 1ª e 2ª séries do Curso de Francês, correspondentes a 1960 e 1961. Há um livro da 3ª série, que cursei em 1962, porém não o encontrei nos armários onde também tenho guardados centenas ou milhares de livros diversos.

Anotação no livro da 2ª série. Vê-se que na intimidade eu chamava Dª Grací de “Tante Grací” (Tia Grací), tal como fazia minha irmã.

A capa de meu caderno de Francês e Literatura Francesa.

Algumas lições ficaram para sempre em minha memória. Por exemplo, a frase mnemônica para que nós, alunos, nos lembrássemos dos cinco autores mais importantes do Classicismo francês: Racine, Bruyère, Boileau, La Fontaine e Moilère: La racine de la bruyère boit l’eau de la Fontaine Molière” (“A raiz da urze bebe água na Fonte Molière).


“La racine de la bruyère boit l’eau de la Fontaine Molière”, como se lê à margem da página do caderno.

Dona Grací dava um tema como tarefa para que os alunos desenvolvessem em casa, e os corrigia, como aqui, onde avaliou minha redação de onze páginas. Em francês escreveu: “Você fez um trabalho muito bom. Eu o felicito. GArmellini. 11/4/61”.

Meu trabalho em francês sobre o Classicismo e as correções de Dª Grací com caneta vermelha. Sim, ela levava os cadernos de todos os seus alunos para casa, corrigia-os e na aula seguinte comentava-os.

Trecho final de meu trabalho sobre os Salões Literários, Madame de Rambouillet e Richelieu.


A lição nunca esquecida sobre Os Dois Infinitos do filósofo Pascal.

 


-----  Os Salões Literários na Paris do século XVII e Madame de Rambouillet  -----

 

Aprendi que ao tempo de Blaise Pascal apareceram em Paris os famosos “Salões Literários”, e o primeiro foi o de Catherine de Rambouillet (Catherine de Vivonne, marquesa de Rambouillet ou simplesmente Madame de Rambouillet) foi uma influente anfitriã, pioneira dos Salões Literários e figura central no movimento denominado “preciosismo”na França.


O Salão Literário de Madame de Rambouillet.

Essa marquesa recebia os convidados em uma das espaçosas dependências de seu palacete, o chamado “La Chambre Bleue” (“O Salão Azul”). Ela esperava pelos convidados deitada elegantemente em um divã. Havia música. Quando chegavam todos, alguns declamavam, outros cantavam, e muitos discutiam assuntos de importância, sobretudo aquilo que envolvesse cultura. Era, enfim, o intercâmbio das sociedades humanas. Um desses convivas foi Richelieu, que fundou a Academia Francesa em 1635. Mas depois que Richelieu tornou-se bispo e, apesar de muito culto, tornou-se maléfico, os Salões Literários foram complôs contra ele.


-----  Dª Graci e o seu “salão literário” pessoal  -----


À medida em que nós, alunos, nos familiarizávamos com a professora, descobrimos que ela, além de sua admirável cultura, punha à disposição dos alunos sua maravilhosa biblioteca pessoal. Podíamos ir à sua casa quando quiséssemos, e sua porta estava sempre aberta. Aberta não só no sentido simbólico, mas fisicamente aberta.

Naquela época poucas pessoas tinham telefone em casa, por isso ia-se à casa de amigos e os recebíamos sem avisar previamente e sem qualquer cerimônia. A qualquer hora eu ía à casa de Dona Graci, que morava Rua Coronel Dulcídio nº 702, em um terreno grande, ao lado do Edifício Marieta, onde hoje existe a Faculdade CENSUPEG. Se ela ou seu marido, Sr. Arthur, não estivesse em casa, estavam os seus três filhos ou pelo menos um deles, que eram as adolescentes Célia e Lúcia, e o menino Tuca. Entrávamos, pegávamos livros de sua biblioteca, sentávamo-nos e ficávamos lendo. Quando chegava Dª Grací, discutíamos com ela o conteúdo do livro eventual. Ela e seus familiares tinham um refinado e eclético gosto por música, talvez com alguma preferência pelo jazz. Some-se a isso, que Lúcia tocava piano magnificamente e preparava-se para ser concertista.

Foi naquela sala onde Dª Grací pôs na vitrola um disco que ela havia comprado no dia anterior. Eu ouvi a música e fiquei impressionado com a força que a cantora demonstrava naquela interpretação! E que letra vigorosa, que denúncia! Peguei a capa do disco e li o nome da música: “Carcará”. A cantora era uma jovem desconhecida chamada Maria Bethânia. Dona Grací observava-me e perguntou-me de um jeito que era mais para uma afirmação: “Forte, não é?”.

Em 1964 houve um golpe contra o governo de João Goulart e os militares assumiram o poder. Meu pai tinha falecido no ano anterior, e eu desejava uma boa opinião sobre o assunto. Quem poderia entender de política tão bem quanto entenderia meu pai? Busquei resposta na sala de Dª Grací. Perguntei a ela: “A senhora acha isso bom?”. E ela: “Ah, Neto, não e não. Os militares não vão devolver o poder durante muitos anos! Vai-se a democracia!”. O tempo provou-me que Dª Grací estava certa.

O pensamento de Dª Grací era saudavelmente libertário. Ela não era ligada a religiões, mas a um forte sentido de ética, sempre correto e íntegro. Conhecia muito bem os filósofos e os explicava. Isto lhe permitia uma universalidade no seu pensar e raciocínio, e uma melhor compreensão do mundo. Tudo isso ela passava para os seus alunos, inspirando-lhes uma consciência cósmica.

Por esse e outros motivos, eu comparava a sala de Dª Graci ao “Chambre Bleue” da Madame de Rambouillet. De fato, a professora recebia e orientava os alunos que, passadas décadas, se revelariam, muitos deles, importantes intelectuais da cidade de Ponta Grossa.

Era natural que eu me tornasse amigo dos filhos de Dª Graci. Primeiro, fui amigo das meninas Lúcia e Célia. Anos depois elas casaram-se e passaram a assinar Maria Lúcia Lopes e Célia Laginski (no Facebook sou amigo de uma neta de Célia, Ana Luisa Severo).


As filhas de Dª Graci, Célia e Lúcia, visitando-me. Fomos fotografados no quintal da minha casa da Rua Augusto Ribas.

Uma ocasião conversando com Lúcia, disse-lhe que gostaria de ouvi-la tocar “Ante el Escorial”, de Ernesto Lecuona. Quando retornei à sua casa alguns dias depois, ela comprara a partitura, já havia treinado e... ouvi-a tocar virtuosamente, com o rigor da perfeição.


https://www.youtube.com/watch?v=I1EdESLgxow


Tuca (Arthur Armellini Júnior), o caçula, era ainda um menino, mas mesmo assim estava sempre presente ouvindo as discussões sobre literatura, música, arquitetura, teatro, cinema, poesia, política... e também participava e opinava, apesar de sua tenra idade. Era uma família incrivelmente intelectualizada, ligada à cultura. Logo que se tornou adolescente, Tuca passou ao rol dos meus grandes amigos e também ía à minha casa sempre que desejava. Minha irmã, que tratava a sua antiga professora como “Tia Graci”, recebia seus filhos com intimidade, como se fossem nossos primos.

Meu pai adoeceu gravemente em 1962. Naquela ocasião recebemos a visita do casal Dª Grací e seu marido Sr. Arthur, e na ocasião tirei as fotografias que vemos abaixo:


O casal Arthur Armellini e Grací Armellini.

As fotografias à noite, quando sem flash, eram tiradas “com pose” de alguns segundos, quando os fotografados não podiam mover-se. Nesta foto estamos: meu amigo João Vargas d’Oliveira Júnior (que se moveu durante a fotografia), eu Francisco Souto Neto, minha mãe Edith Barbosa Souto e Grací Armellini.

Coloquei na vitrona um long-play da cantora norte-americana Julie London, uma das minhas prediletas, para que Dª Grací a ouvisse. Ela ouviu, gostou e também tornou-se fã.

-----  Dª Grací e seus filhos  -----


Em 1962 concluí o Curso Científico quando meu pai já estava muito doente e veio a falecer no ano seguinte. Em 1963, 1964 e 1965, sob o trauma do falecimento de meu pai, deixamos o belo casarão da Rua Augusto Ribas onde vivíamos e nos mudamos para um apartamento na Rua Paula Xavier, entre XV de Novembro e Dr. Colares. Eu parei de estudar. Meu pai desejava que eu me formasse em Medicina, mas eu me interessava mais por Arquitetura. Agora sem meu pai, e trabalhando, eu teria que prestar exame vestibular para uma das poucas Faculdades de ensino superior disponíveis em Ponta Grossa. Como eu trabalhava pela manhã e à tarde, as opções para curso superior noturno eram poucas. Entre Economia e Direito, optei pela segunda. Minha mãe procurava estimular-me a prosseguir, comprando caras apostilas para que eu me preparasse. Continuei frequentando Dª Grací que também me estimulava a prosseguir. No fim do ano de 1965 entrei num “cursinho” de preparação para o vestibular.

O professor de Português chamava-se Lóris Sidenko. No primeiro dia de aula, ele submeteu a turma a uma redação com o tema de “Por quê quero estudar Direito”. Na aula seguinte ele trouxe todas as redações corrigidas e disse que leria aquela que considerara a melhor de todas. Para minha surpresa, Lóris leu a minha redação como a melhor que, além de escrita sem erros, tinha começo, meio e fim.  

No vestibular para Direito, fui um dos primeiros classificados.

O caçula de Dª Grací, o Tuca, tornou-se adulto. Agora maduros, os três filhos de minha antiga professora aprofundaram a amizade comigo.


-----  Brigitte Bardot e Julie London  -----


No meu aniversário de 1964, então com 21 anos de idade, Dª Grací presenteou-me com um disco longplay de Brigitte Bardot, de quem eu era fã como atriz. Encantei-me com a voz de Brigitte. Dª Grací anotou a letra das principais canções e daí traduziu-as.


Capa do disco de Brigitte Bardot, presente de Dª Grací.


Contracapa do disco.



Noutra oportunidade, dei a Dª Grací um longplay de Julie London, que foi o primeiro de uma coleção que ela formou com vários outros discos da cantora norte-americana.

 

-----  Tuca  -----

 

Não me recordo em que ano faleceu o Sr. Arthur deixando Dª Grací viúva, mas com os filhos já adultos.

Foi na segunda metade dos anos 50 ou no começo da década de 60 que apareceram os primeiros filmes fotográficos a cores. Chegaram os filmes às lojas fotográficas, porém não havia no Brasil algum laboratório que revelasse esses filmes e fizesse cópias. Então o país mais próximo que realizava esse trabalho era o Panamá, na América Central. Portanto a solução após tirar as fotografias, era enviar o filme para um determinado endereço do Panamá. Depois de uns dois meses chegavam os negativos coloridos revelados e as cópias das fotos. Ver tais fotos era uma verdadeira festa... uma festa alegre e cara!

O primeiro laboratório no Brasil para fotos a cores foi a FOTÓPTICA em São Paulo. Agora era possível receber em casa as fotografias coloridas em apenas algumas semanas.

Em Ponta Grossa, o Foto Carlos foi o primeiro a fazer esse serviço. E foi lá que o Tuca (Arthur Armellini Júnior), o caçula de Dª Grací, começou a trabalhar. Eu levava meus filmes ao Foto Carlos e sabia que as fotografias reveladas e copiadas pelo Tuca teriam um acabamento de primeira qualidade.

Certa ocasião eu havia feito revelação e cópia de um filme no Foto Carlos, fui até lá no prazo habitual, paguei e apreciei o resultado das fotografias. Depois de uns dois ou três dias o Tuca apareceu em minha casa, levando-me uma surpresa. Abri o enorme envelope e fiquei admirado com o presente: Tuca pegara uma única fotografia minha, fizera várias revelações com cores e tons diferentes da mesma foto, que pregou sobre um papelão vermelho, entremeadas de um poema a mim dedicado. Achei divertidíssimo, muito criativo e tenho esse trabalho até hoje, que mostro abaixo:


O papelão vermelho é dobrado em “sanfona”.

O início do poema.

O final do poema.

O papelão vermelho aberto completamente.


O Tuca casou-se com uma linda loura, Lynette, e o casal teve um filho, o Régis Eduardo Armellini.

Anos depois, em 1977, Tuca era piloto e certa ocasião, na companhia de seu filho Régis aos 7 anos de idade, convidou a mim e ao meu amigo Rubens Faria Gonçalves para fazermos um voo sobre Curitiba.

Antes de levantarmos voo fiz as seguintes fotografias:


Tuca (Arthur Armellini Júnior) na porta do avião.

Fotografo Tuca no seu assento de piloto.


Filmei o voo sobre Curitiba com minha câmera Super8, que era um filme mudo em celuloide, antes da existência do VHS e muito anterior ao DVD, que posteriormente sonorizei. Eis o filme:

https://www.youtube.com/watch?v=mzaawFvafCo&t=2s

 

-----  Lúcia pianista e Erik Satie  -----


Maria Lúcia Armellini (Maria Lúcia Lopes após o casamento) surpreendeu-me certa ocasião, quando ela era ainda solteira, ocasião em que eu já residia em Curitiba. O episódio deve ter sido lá por volta do fim da década de 70. Ocorreu o seguinte:

Eu estava andando pela Rua XV de Novembro, que é uma via de pedestres, em companhia de meu amigo Rubens Faria Gonçalves, mais ou menos na altura da antiga Livraria Ghignone. Nós ouvimos alguns acordes de piano que eram teclados num ritmo suabilíssimo, belo e repetitivo. Notamos que o som vinha de um alto-falante instalado à altura de um poste de iluminação pública.

Aquela música tinha uma estranha beleza e era quase hipnotizante em seu teclar repetitivo. Para descobrirmos de onde proviria o som, resolvemos seguir os fios que de espaços em espaços mostravam-se ligados a alto-falantes amarrados em postes. Isso mesmo, o propósito era de que a melodia estivesse presente em toda a Rua XV de Novembro, a antiga Rua das Flores, para que fosse ouvida pelos pedestres.

Seguimos de alto-falante em alto-falante até que chegamos à Praça Osório. Em pleno calçadão de pedestres, o fio descia do poste em direção a uma barraca que estava ali armada. E percebemos que ali se encontrava um piano sendo tocado por uma pianista, e era daquele teclado que se originava o som em toda a extensão da rua. E a pianista, para minha enorme surpresa, era minha amiga Lúcia Armellini, filha de Dª Grací. Ali ficamos eu e Rubens observando e ouvindo durante algum tempo até que, repentinamente, entrou naquela área coberta uma outra moça que se aproximou de Lúcia e ali, sem que a música se detivesse nem por um segundo sequer, Lúcia levantou-se e cedeu lugar à sua sucessora. As mãos de uma sucederam-se às da outra sem um segundo sequer de interrupção.

Cumprimentamo-nos efusivamente e Lúcia explicou-nos do que se tratava. Disse que o nome daquela peça musical era Vexations, o autor chamava-se Erik Satie (pronuncia-se “êrríc satí”) e que tinha que ser tocada durante 12 horas ininterruptamente. Como ninguém conseguiria tocar durante tanto tempo, os pianistas voluntários iam substituindo-se segundo uma escala anteriormente montada. Lúcia estava justamente encerrando sua participação e ali assumia outra pianista que ficaria tocando durante mais uma ou duas horas (não me recordo qual o tempo), quando então outro pianista chegaria para prosseguir sem interromper a execução.

Graças a isso tomamos conhecimento de Erik Satie. Comprei discos longplay e anos depois CDs com várias peças do grande erudito moderno.



-----  Les Vexations  -----


Muito recentemente, na noite de 24 para 25 de novembro de 2020, o pianista Francesco Tristano realizou uma ação maratonista ao interpretar ao longo de 12 horas ininterruptas (de 20:15h a 8:15h) a peça “VEXATIONS” de Erik Satie no palco do Grande Teatro do Liceu em Barcelona, Espanha (Catalunha). É um fato extraordinário que um único pianista toque durante 12 horas, pior ainda usando máscara devido à pandemia de covid e sem plateia para aplaudi-lo e dar-lhe ânimo para ir até ao final da peça. O link abaixo é deste fato extraordinário e é, provavelmente, o mais longo filme disponível no YouTube! Vale a pena ouvir pelo menos alguns minutos de Vexations:

https://www.youtube.com/watch?v=uXXY6-TWhvY

 

-----  Célia  -----

 


Célia Armellini casando-se com João Francisco Laginski.

 

Célia casou-se com João Francisco Laginski (já falecido) e teve dois filhos: Luciane e João Flávio. O garoto faleceu jovem, para tristeza de todos nós. Luciane casou-se com Dalvino José Severo e sua filha Ana Luisa Severo é minha amiga no Facebook e amiga pessoal de minha sobrinha Rossana Souto da Rosa.

Célia Laginski continua morando em Ponta Grossa.


Francisco Souto Neto entre  Célia e Lúcia na década de 80.

 

-----  As Maisons Satie em Honfleur  -----

 

Anos depois eu e Rubens viajamos a Honfleur, na França, onde nasceu Erik Satie em 1886, e fomos às Maisons Satie, ou Museé Satie (Casa ou Museu Satie), um dos locais mais fantásticos daquela cidade da Normandia, ao norte do território francês.

Nós filmamos nossa visita ao Museu de Satie. Ao entrarmos no museu deparamo-nos com a gigantesca Pera Alada, que se antecede a incríveis ambientes. As sobreposições de figuras vistas neste filme realmente ocorriam assim como parecem, sem montagens, graças à projeções de imagens e luzes nas paredes, tetos e pisos, tudo ao som quase mágico da música genial compositor:

https://www.youtube.com/watch?v=KwMK2bhl8wM&t=142s

Ao encerrar, devo lembrar que anos mais tarde minha amiga Lúcia tornou-se a 1ª pianista do Teatro Municipal de São Paulo. Atualmente, viúva, reside em São José dos Pinhais.

 

-----  Monsieur Maxime Trény  -----

 

Monsieur Trény, francês, era um “globe trotter”. “Monsieur” significa “Senhor” e pronuncia-se “messiê”. Ainda jovem ele foi para os Estados Unidos, atravessou o país e deteve-se em Los Angeles, lá pela década de 30. Aventurou-se em Hollywood e fez figuração em alguns filmes, principalmente os de “cowboy”. Mais tarde mudou-se para o México, onde viveu algum tempo com mulher “dramática” e apaixonada. Depois disso, Trény atravessou a América Central e resolveu descer à América do Sul, contatando os habitantes de pequenas cidades pelo lado do Pacífico. Arrumou uma espécie de carroça, que era mais para uma carruagem puxada por cavalos. Ali colecionou livros, objetos artísticos de indígenas e reuniu discos folclóricos de vários países e suas regiões. Em seu rico acervo havia principalmente vestígios arqueológicos da civilizações pré-colombianas. Finalmente chegou ao Brasil e deteve-se em Ponta Grossa.

Trény era já um senhor idoso, com uma cultura admirável. Falava vários idiomas. Foi quando ele e Dª Grací, viúva há anos, conheceram-se. Aconteceu amor à primeira vista. Alguns meses depois casaram-se oficialmente e ela passou a assinar Maria da Graça (ou Grací) Trény.

Durante alguns anos viveram em Ponta Grossa, mas por recomendação médica, mudaram-se para Matinhos, onde o clima seria melhor para Monsieur Trény.

Viviam numa casa cercada de árvores e flores, um lugar encantador. Na primeira vez em que lá estive com minha mãe em visita ao casal, fiz um filme mudo, em Super8, que denominei “Les Trény”. Eis o filme de 1977, em cuja introdução eu inseri temas que correspondiam ao mundo cultural de cada um deles, Maxime e Grací: 


https://www.youtube.com/watch?v=wRkoMCrjyfc&t=4s


O idioma francês tinha caído do currículo escolar, de modo que em Matinhos Dª Grací passou a lecionar o idioma Português na escola local.

Em 1982 eu e minha mãe voltamos a visitar o casal Trény em Matinhos, quando então filmei “Les Trény Parte II”, naquela época ainda em filme mudo em celulóide:


https://www.youtube.com/watch?v=ewkyiKfXew4&t=7s


As décadas passaram-se depressa demais. Dª Graci enviuvou pela segunda vez. Voltou para Curitiba e passou a residir na Rua Acácio Corrêa. Seu neto Régis Eduardo Armellini, filho de Tuca, passou a residir com Dª Grací. E juntos vieram visitar-me diversas vezes.

As fotografias abaixo atestam o quanto Dª Grací acompanhou-me em meus eventos culturais e sociais enquanto viveu. As fotografias refletem o fato de que a querida Dª Grací foi uma das pessoas mais importantes de minha vida.


----- Fotos com Dª Grací, filhos e netos -----


“São Bernardo”, livro que ganho de presente de Dª Grací em 1977.


Dedicatória de Dª Graci no livro “São Bernardo”.


Contracapa de São Bernardo.

Fotografia de 1977, quando vsitei o casal Trény e Grací em sua casa de Matinhos.

Recebo a visita de Tuca em 1977.

Eu e Tuca em 1977.

Em 1982 Dª Grací Trény foi à inauguração da Rua Arary Souto em Curitiba. Na foto: Francisco Souto Neto, Ivone Souto da Rosa, vereador Everaldo Silva, Edith Barbosa Souto, Jaime Lerner e um deputado.

Na inauguração da Rua Arary Souto, Grací Trény e minha mãe Edith Barbosa Souto.

Na inauguração da Rua Arary Souto: Grací Trény, Edith Barbosa Souto e vereador Everaldo Silva.

Grací Trény, Edith Barbosa Souto e Ivone Souto da Rosa.
Em 1982, eu e minha mãe viajamos a Matinhos e pela segunda vez visitamos o casal Maxime e Grací Trény naquela cidade litorânea. Trény naquela cidade litorânea.

Em 1982, eu e minha mãe viajamos a Matinhos e pela segunda vez visitamos o casal Maxime e Grací Trény naquela cidade litorânea. Trény naquela cidade litorânea.

O casal Trény.

Edith Barbosa Souto e o casal Trény.

Francisco Souto Neto com o casal Trény.

Edith Barbosa Souto e o casal Trény.

Aniversário de Francisco Souto Neto em Curitiba em 1983: Francisco Souto Neto, Antônio Dönatz da Silva e Tuca (Arthur Armellini Jr).

Lynette, a bela esposa de Tuca, no aniversário de Francisco Souto Neto em 1983.

Aniversário de Francisco Souto Neto em Curitiba em 1983: Lynette Armellini, Leide Petrin e Edith Barbosa Souto.

Na inauguração do III Salão Banestado em 1986, Dª Graci comparece para me prestigiar. Na foto: Raquel, Grací Trény, Terezinha Macedo, Edith Barbosa Souto e Francisco Souto Neto.

Em 1986 a família de Dª Grací compareceu à Fundação Cultural de Curitiba para a inauguração de uma exposição de Rubens Faria Gonçalves. Na foto: Célia Laginski, João Flávio Laginski, Lúcia Lopes, Grací Trény, Rubens Faria Gonçalves, João Francisco Laginski, Luciane Severo.

Em 1986 a família de Dª Grací compareceu à Fundação Cultural de Curitiba para a inauguração de uma exposição de Rubens Faria Gonçalves. Na foto: Grací Trény com seu neto João Flávio Laginski, Lúcia Lopes, Francisco Souto Neto, Edith Barbosa Souto e Luciane Severo.

Em 1987, Grací Trény comparece ao IV Salão Banestado. Na foto: Francisco Souto Neto, Grací Trény e Rubens Faria Gonçalves. A fotografia apresentou um defeito, mas mesmo assim estou mantendo-a.

Em 1987, Grací Trény na inauguração do Museu Banestado. Na foto: Dione Mara Souto da Rosa, Francisco Souto Neto, Edith Barbosa Souto e Grací Trény.

A fotografia acima foi publicada em jornal no dia 26 de julho de 1988, quando foi inaugurado o Jardinete Homero Silva, em homenagem a um meu tio. Dona Grací estava presente. Na fotografia, a caneta vermelha mostra Dona Grací ao lado de minha sobrinha Dione Mara Souto da Rosa. A caneta verde aponta para mim (de costas), que tenho minha mãe à minha direita e à esquerda o prefeito Roberto Requião fala ao microfone.

Junto à placa de bronze com o nome de meu tio Homero Silva: Dione Mara Souto da Rosa, atrás dela Tarcísio Mazurek. Em seguida: Edith Barbosa Soujto, Grací Trény, Octacilio Ribeiro da Silva, Luiz Carlos Betenheuser, pessoa não identificável a pedido da própria, e o prefeito Roberto Requião.

As amigas Grací Trény e minha mãe Edith Barbosa Souto. Vê-se ao fundo, de costas, três homens descendo a rua; o que vai ao meio é o prefeito Requião. Ele residia naquela mesma rua, a uns 40 metros do local onde está fotografado.

Em 1991, o VIII Salão Banestado. Na foto: Francisco Souto Neto e Grací Trény.

Em 1991, o VIII Salão Banestado. Na foto: Francisco Souto Neto, Grací Trény, Rubens Faria Gonçalves e seu pai Sr. Alfredo Faria.

Em 1994, Grací Trény e seu neto Régis Eduardo Armellini visitam Edith Barbosa Souto e Francisco Souto Neto.

Edith Souto, Régis Armellini e Grací Trény em 1994.

Régis Eduardo Armellini, filho de Tuca e neto de Grací Trény em 1994.

No Natal de 1998, Grací Trény e Régis Armellini visitam Francisco Souto Neto.

No Natal de 1998, Grací Trény e Régis Armellini visitam Francisco Souto Neto.

Em 1999, Grací Trény com Arthur Armellini Jr. e Lynette visitam Francisco Souto Neto.

Em 1999, Grací Trény com Arthur Armellini Jr. e Lynette visitam Francisco Souto Neto.

Em 2001, Grací trény com seu neto Régis e namorada visitam Francisco Souto Neto.

Em 2001, Grací Trény com Francisco Souto Neto.

Em 2001, Francisco Souto Neto fotografa pela última vez sua amiga Grací Trény.

 

Em 2003, Tuca conversando enquanto Paco fareja no chão.

 

Em 2003, Francisco Souto Neto em seu 60º aniversário (segurando o Paco Ramirez) recebe o Tuca (Arthur Armellini Júnior).

No Natal de 2006, Régis Armellini, filho do Tuca e neto de Grací Trény, visita Francisco Souto Neto.

No Natal de 2006, Régis Armellini, filho do Tuca e neto de Grací Trény, visita Francisco Souto Neto.

No Natal de 2006, Régis Armellini, filho do Tuca e neto de Grací Trény, visita Francisco Souto Neto.

Em 2004, Régis Armellini e Lúcia Lopes visitam Francisco Souto Neto.

Em 2006, Francisco Souto Neto recebe Régis Eduardo Armellini acompanhado de sua linda esposa Geruza.

Dª Grací já não está mais entre nós. Mas vive em minhas lembranças como uma das mais importantes pessoas da minha vida. 

E assim o legado da amizade entre Francisco Souto Neto e Grací Trény vai atravessando gerações.

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HOMENAGEM À QUERIDA FAMÍLIA ARMELLINI

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