domingo, 2 de outubro de 2022

A “HATA”, OU DAMA DA MEIA-NOITE, UMA PLANTA COM 60 ANOS, por Francisco Souto Neto.

 

  

Comendador Francisco Souto Neto

 

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A “HATA”, OU DAMA-DA-NOITE,

UMA PLANTA COM 60 ANOS


por  Francisco Souto Neto

 

Foi por volta do começo da década de 60, quando minha mãe costumava viajar a Campo Grande para visitar sua mãe, irmãos e sobrinhos, que ela retornou com a muda de uma planta muito interessante, chamada dama-da-noite.

Em 1959 tinha sido feito um filme em Hollywood cujo tema foi justamente essa flor. O título original do filme é “Green Mansions” e no Brasil chamou-se “A Flor que não morreu”, estrelado por Audrey Hepburn e Tony Perkins, e dirigido por Mel Ferrer. A apresentação do filme se faz num voo na Amazônia, sobre a floresta, e com música de Villa-Lobos.


O filme “A flor que não morreu”.

A flor do tema do filme e que ali se chama “hata”, vive apenas uma noite, exatamente como ocorre na vida real: ela começa a abrir quando anoitece e atinge seu esplendor à meia-noite, mostrando um pistilo de extraordinária beleza e exalando um perfume que se espalha por dezenas de metros. Lá pelas três horas da madrugada começa a fenecer e pela manhã está morta.

No filme, a belíssima Audrey Hepburn simboliza a própria flor. A personagem de Audrey nasce à meia-noite, encontra o amor em Tony Perkins e após uma noite de magia, morre ao amanhecer. Palavras do filme: “A hata! Vive durante apenas uma lua e depois desaparece... Mas não morre; desabrocha novamente, no mesmo instante, em outra parte da floresta. Quando ela some, não há motivo para tristeza; existe ainda, não muito longe”.


Tony Perkins encontra a “hata”.


Audrey Hepburn que no filme é a "hata" em forma de mulher.

Tony e Audrey andando pela selva amazônica no filme “A flor que não morreu”. 

A figura de Audrey neste filme é etérea, virginal, e para acentuar essas características, foi anunciado pela imprensa da época, lembro-me bem, que seu vestido branco e sem costuras foi criado especialmente para o filme com finíssimas fibras de vidro.

A muda que minha mãe trouxe para nós demorou algo como uns três anos para a primeira floração que passou a ocorrer sempre no auge do verão. Entre dezembro e março sempre nascia uma flor. Minha mãe então a colhia e a levava ao porta-retrato com foto de meu pai, que ela mantinha sobre o seu criado-mudo. Durante vários anos nascia uma “hata” no verão e eu acreditava que essa planta desse sempre somente uma flor anual.

No ano de 1974 eu fiz uma filmagem da abertura da flor, com minha filmadora Super8. Naquele tempo, há quase meio século, filmagens eram de certa maneira raras porque poucas pessoas compravam filmadoras porque eram então muito caras. No meu filme inaugural, isto é, na primeira vez em que filmei em Super8 – que era filme mudo – eu incluí a abertura da flor em cena rápida (hoje diz-se “time-lapse”). No link abaixo, para não perder tempo, sugiro ao leitor que vá diretamente aos 5 MINUTOS E MEIO da filmagem, que é o começo da abertura da flor. Aos 7 MINUTOS termina a cena, com minha mãe levando a flor, que colheu, ao retrato de meu pai:

https://www.youtube.com/watch?v=--SCxkM_FDo

Uma das primeiras fotografias que tirei da "hata" aberta, é a que se vê abaixo, com minha mãe admirando a flor.



A fotografia acima está com manchas de deterioração pela passagem do tempo. Afinal, foi tirada há exatos 50 anos. A fotografia é de 1972 e estamos em 2022.

Quando minha mãe diversificou a planta em outros vasos e pô-los em lugares mais estratégicos (próximos da claridade, mas não expostos ao sol), começaram a brotar de três a seis ou mais flores por verão.

Minha prima Lúcia Helena, que reside em Paulínia, tem na varanda de sua casa alguns pés da ¨hata”, ou dama-da-noite, plantados em vasos, onde no verão nascem dezenas de flores, num maravilhoso espetáculo que chega a surpreender.

Em março de 2016 fiz uma filmagem das várias atas que nasceram nos quatro vasos que eu tinha na sacada de meu antigo apartamento. O filme começa com uma visita que recebi de meu amigo Rubens, que morava no mesmo prédio num apartamento alguns andares acima do meu, com seu cachorro Tibério. A filmagem das "hatas" propriamente ditas começa aos 4 MINUTOS do seguinte filme:

https://www.youtube.com/watch?v=Nj28Rq35VUQ&t=525s

As duas fotografias abaixo, de 2016, mostram que num único vaso nasceram nove botões. Foi uma das maiores floradas, pois eram quatro os vasos. Na terceira fotografia vê-se Tibério, buldogue francês do meu amigo Rubens, quando os botões estavam abrindo.


Em 2016, na sacada, nove botões abrindo em apenas um dos quatro vasos.

Os botões prestes a abrirem-se.

Tibério e a abertura das hatas em 2016.

Ao mudar-me para meu atual domicílio, em tinha a hata em quatro vasos e podei a planta em todos eles.  Como aqui eu não tenho sacada, mantive apenas um vaso e doei os três outros.

Com um único vaso atualmente na área de serviço inundada de luz porque conta com um janelão de dois metros e meio de comprimento por 1,70 de altura, a planta (a mesma que já está com mais de 60 anos) gostou do lugar e brotou vigorosamente. Ela começa como uma planta baixa, mas a certa altura do seu desenvolvimento, lançou um pendão que pode crescer até  mais de um metro e meia de altura e dali nascem vários ramos. No verão passado nasceram duas hatas ao mesmo tempo.


Os primeiros dois botões da planta em meu novo domicílio, nos últimos dias de janeiro de 2022.

Os botões desenvolvem-se rapidamente.

Abrem-se duas flores nos primeiros dias de fevereiro de 2022.

Através do Facebook ofereci fazer mudas da planta para dez pessoas. Duas dessas pessoas amigas que me pediram mudas não estão no Facebook, e as oito seguintes estão naquela rede social, e na ordem em que manifestaram interesse são elas:

1º - Mary Schaffer

2º - Roberto Carlos Micka

3º - Fernanda Soares Sanzovo

4º - Fernanda Castro

5º - Maria Coutinho

6º - Anita Zippin

7º - Rosangela Lazarottoh

8º - Eliana Zilber Vivekananda

Conforme recomendações, fiz as mudas no fim do outono. Imagino que elas brotarão no verão. À medida em que os brotos se firmarem, irei comunicando às 10 pessoas amigas que terão o privilégio de cuidar de uma planta que já está há mais de 60 anos em minha casa e de, chegada a época, poder sentir o perfume inebriante da flor e conhecer a sua beleza diáfana.


A atual localização da planta. À esquerda, fora do alcance da câmera fotográfica, há um janelão com dois metros e meio de comprimento por um metro de setenta de altura, por onde entra muita claridade. Ao fundo está o quarto de empregada com armário vermelho (que serve de despensa) e atrás da Deusa do Fogo (que doei à minha sobrinha Marion) está o banheiro de empregada.


Meu dedo indica um dos dois novos brotos na planta-mãe.


Meu dedo indica um dos dois novos brotos na planta-mãe.


Mais uma foto da beleza da planta-mãe, com oito das dez mudas em formação sobre o balcão da área de serviço.

Quatro das mudas em formação...

...e mais quatro mudas que serão entregues aos amigos ali indicados, logo que surjam os brotos da nova planta.

 

À medida em que cada muda vingar, irei convidando os amigos a virem buscar a planta, ocasião em que tomaremos um cappuccino para comemorar.

Com meus abraços a todos.

 

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UM ADENDO ACRESCENTADO EM 20.3.2023:


Em março de 2023, quando nasceu um botão da "hata", eu transferi o vaso da área de serviço, onde ele se encontrava há anos, para a sala. A planta situou-se numa posição mais favorável por causa da luminosidade, e ao mesmo tempo no canto do ambiente que recebe menos sol direto (tal como a "hata" gosta). Assim a "hata" desabrochou, aspergindo seu notável perfume por todo o ambiente. 



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