---------o--------
A “HATA”, OU DAMA-DA-NOITE,
UMA PLANTA COM 60 ANOS
por Francisco Souto Neto
Foi por volta do começo da década de
60, quando minha mãe costumava viajar a Campo Grande para visitar sua mãe,
irmãos e sobrinhos, que ela retornou com a muda de uma planta muito
interessante, chamada dama-da-noite.
Em 1959 tinha sido feito um filme em
Hollywood cujo tema foi justamente essa flor. O título original do filme é “Green
Mansions” e no Brasil chamou-se “A Flor que não morreu”, estrelado
por Audrey Hepburn e Tony Perkins, e dirigido por Mel Ferrer. A apresentação do
filme se faz num voo na Amazônia, sobre a floresta, e com música de
Villa-Lobos.
A flor do tema do filme e que ali se
chama “hata”, vive apenas uma noite, exatamente como ocorre na vida real: ela
começa a abrir quando anoitece e atinge seu esplendor à meia-noite, mostrando
um pistilo de extraordinária beleza e exalando um perfume que se espalha por
dezenas de metros. Lá pelas três horas da madrugada começa a fenecer e pela
manhã está morta.
No filme, a belíssima Audrey Hepburn simboliza a própria flor. A personagem de Audrey nasce à meia-noite, encontra o amor em Tony Perkins e após uma noite de magia, morre ao amanhecer. Palavras do filme: “A hata! Vive durante apenas uma lua e depois desaparece... Mas não morre; desabrocha novamente, no mesmo instante, em outra parte da floresta. Quando ela some, não há motivo para tristeza; existe ainda, não muito longe”.
A figura de Audrey neste filme é
etérea, virginal, e para acentuar essas características, foi anunciado pela
imprensa da época, lembro-me bem, que seu vestido branco e sem costuras foi criado
especialmente para o filme com finíssimas fibras de vidro.
A muda que minha mãe trouxe para nós
demorou algo como uns três anos para a primeira floração que passou a ocorrer
sempre no auge do verão. Entre dezembro e março sempre nascia uma flor. Minha
mãe então a colhia e a levava ao porta-retrato com foto de meu pai, que ela
mantinha sobre o seu criado-mudo. Durante vários anos nascia uma “hata” no
verão e eu acreditava que essa planta desse sempre somente uma flor anual.
No ano de 1974 eu fiz uma filmagem da
abertura da flor, com minha filmadora Super8. Naquele tempo, há quase meio
século, filmagens eram de certa maneira raras porque poucas pessoas compravam
filmadoras porque eram então muito caras. No meu filme inaugural, isto é, na
primeira vez em que filmei em Super8 – que era filme mudo – eu incluí a
abertura da flor em cena rápida (hoje diz-se “time-lapse”). No link abaixo,
para não perder tempo, sugiro ao leitor que vá diretamente aos 5 MINUTOS E MEIO
da filmagem, que é o começo da abertura da flor. Aos 7 MINUTOS termina a cena,
com minha mãe levando a flor, que colheu, ao retrato de meu pai:
https://www.youtube.com/watch?v=--SCxkM_FDo
Uma das primeiras fotografias que
tirei da "hata" aberta, é a que se vê abaixo, com minha mãe admirando a flor.
A fotografia acima está com manchas
de deterioração pela passagem do tempo. Afinal, foi tirada há exatos 50 anos. A
fotografia é de 1972 e estamos em 2022.
Quando minha mãe diversificou a
planta em outros vasos e pô-los em lugares mais estratégicos (próximos da
claridade, mas não expostos ao sol), começaram a brotar de três a seis ou mais
flores por verão.
Minha prima Lúcia Helena, que reside
em Paulínia, tem na varanda de sua casa alguns pés da ¨hata”, ou dama-da-noite, plantados em vasos, onde no verão nascem dezenas de flores, num
maravilhoso espetáculo que chega a surpreender.
Em março de 2016 fiz uma filmagem das
várias atas que nasceram nos quatro vasos que eu tinha na sacada de meu antigo
apartamento. O filme começa com uma visita que recebi de meu amigo Rubens, que
morava no mesmo prédio num apartamento alguns andares acima do meu, com seu
cachorro Tibério. A filmagem das "hatas" propriamente ditas começa aos 4 MINUTOS
do seguinte filme:
https://www.youtube.com/watch?v=Nj28Rq35VUQ&t=525s
As duas fotografias abaixo, de 2016,
mostram que num único vaso nasceram nove botões. Foi uma das maiores floradas,
pois eram quatro os vasos. Na terceira fotografia vê-se Tibério, buldogue
francês do meu amigo Rubens, quando os botões estavam abrindo.
Ao mudar-me para meu atual domicílio,
em tinha a hata em quatro vasos e podei a planta em todos eles. Como aqui eu não tenho sacada, mantive apenas
um vaso e doei os três outros.
Com um único vaso atualmente na área
de serviço inundada de luz porque conta com um janelão de dois metros e meio de
comprimento por 1,70 de altura, a planta (a mesma que já está com mais de 60
anos) gostou do lugar e brotou vigorosamente. Ela começa como uma planta baixa,
mas a certa altura do seu desenvolvimento, lançou um pendão que pode crescer
até mais de um metro e meia de altura e
dali nascem vários ramos. No verão passado nasceram duas hatas ao mesmo tempo.
Através do Facebook ofereci fazer mudas
da planta para dez pessoas. Duas dessas pessoas amigas que me pediram mudas não
estão no Facebook, e as oito seguintes estão naquela rede social, e na ordem em
que manifestaram interesse são elas:
1º - Mary Schaffer
2º - Roberto Carlos Micka
3º - Fernanda Soares Sanzovo
4º - Fernanda Castro
5º - Maria Coutinho
6º - Anita Zippin
7º - Rosangela Lazarottoh
8º - Eliana Zilber Vivekananda
Conforme recomendações, fiz as mudas
no fim do outono. Imagino que elas brotarão no verão. À medida em que os brotos
se firmarem, irei comunicando às 10 pessoas amigas que terão o privilégio de
cuidar de uma planta que já está há mais de 60 anos em minha casa e de, chegada
a época, poder sentir o perfume inebriante da flor e conhecer a sua beleza diáfana.
À medida em que cada muda vingar,
irei convidando os amigos a virem buscar a planta, ocasião em que tomaremos um
cappuccino para comemorar.
Com meus abraços a todos.
-o-
UM ADENDO ACRESCENTADO EM 20.3.2023:
Em março de 2023, quando nasceu um botão da "hata", eu transferi o vaso da área de serviço, onde ele se encontrava há anos, para a sala. A planta situou-se numa posição mais favorável por causa da luminosidade, e ao mesmo tempo no canto do ambiente que recebe menos sol direto (tal como a "hata" gosta). Assim a "hata" desabrochou, aspergindo seu notável perfume por todo o ambiente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário