domingo, 17 de dezembro de 2023

FRANCISCO SOUTO NETO no ano 2008 (PARTE 31).

 


 
Francisco Souto Neto aos 65 anos em 2008 com o chihuahua Paco no outono curitibano.

 

Francisco Souto Neto em 2015.

 

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2 de setembro de 2023:

80 ANOS ESTA NOITE

PARTE  31

Recordando

o ano 2008

 



 

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FRANCISCO SOUTO NETO no ano de 2008 através de antigas publicações em páginas de jornais e revistas, e de algumas fotografias.     

 

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O ANO 2008

 

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Prossegui escrevendo crônicas para o Jornal Centro Cívico, de Elaine Bento, o que fiz através de vários anos seguintes. Era uma tarefa que me agradava, porque sentia-me útil principalmente ao abordar assuntos que interessavam ao bairro onde eu residia, mas também por participar mais ativamente dos destinos da capital do Paraná.

Também continuei escrevendo para a revista Mary in Foco, dos meus amigos Mary Schaffer e Marco Antônio Felipak. Aqui eu gostava muito de escrever principalmente sobre memórias de viagens. A revista tinha excelente diagramação e conteúdo, era elegante e refinada, e vinha em papel couché.

Em 2008 escrevi prefácios para dois livros: um de José Gil de Almeida, sobre a história do cineclubismo em Curitiba, e o outro do artista plástico Valdeci Piasson, sobre sua obra, numa luxuosa edição trilíngue.

Meu chihuahua Paco Ramirez ocupava-me prazerosamente. A amizade do meu cachorro com o buldogue francês Tibério intensificou-se, pois seu dono, Rubens Faria Gonçalves, passou a residir num apartamento andares acima do meu, na Rua Marechal Hermes. E por termos muitos amigos em comum, essa proximidade foi favorável a uma maior interação social com nossos respectivos amigos.

Minha irmã Ivone mudou-se para a mesma rua, num prédio em frente ao Museu Oscar Niemeyer, distante apenas dois quarteirões do meu domicílio, justamente onde residia um sobrinho de Rubens Gonçalves, Denis Luup, casado com Tatiane (Tati) Luup. Minha irmã residia com sua neta Marion Souto da Rosa Lemes, porque a mãe de Marion, advogada no Procon Rossana Souto da Rosa, foi transferida para Ponta Grossa, sua cidade natal. Assim, com sua avó em Curitiba, Marion pôde continuar matriculada no colégio na capital sem interrupção de seus estudos.

Aos 65 anos, aposentado desde 1991, fisiologicamente considerado “idoso”, mas com disposição e aparência de bem menos idade, continuei levando uma vida tranquila e feliz.

Ao final deste blog, após os recortes de jornais, as páginas de revistas e os prefácios de livros assinados por mim, estão as fotografias que mais marcaram o ano de 2008... principalmente as de cachorros.

Francisco Souto Neto

 

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FOTO 1 - Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico

Jornal Centro Cívico – Ano 5 – Edição 48 – Janeiro 2008 

Cuidado, perigo, atenção: bicicleta na contramão!

Francisco Souto Neto

 

O ciclismo é uma atividade admirável que deveria ser cada vez mais estimulada… e respeitada. Não apenas como esporte, mas também como utilidade no percurso para o trabalho. Nos países europeus, a bicicleta é usada no dia-a-dia de pessoas de todas as faixas etárias e de ambos os sexos, com a maior naturalidade. Senhoras idosas vão à padaria de bicicleta, assim como estudantes rumam à escola. Na Dinamarca, muito recentemente, o rei pedalava pelas ruas da capital, dispensando o automóvel.

Tive a sorte de presenciar um fato notável na cidade austríaca de Salzburg, onde, casualmente, vi as pessoas que chegavam à ópera. Uns poucos vinham de automóvel, mas a maioria de bicicleta. Filmei, para depois mostrar aos amigos, uma linda moça que chegou de vestido longo e saltos altos (e de fato não sei como isto não lhe representava um problema), com a bolsa a tiracolo, pedalando suavemente seu meio de transporte, que estacionou num grande terreno em frente à Casa da Ópera, onde já se encontravam centenas de bicicletas. Atravessou a rua e, ali mesmo na calçada, na porta da casa de espetáculos, recebeu uma taça de champanha, bebericou uns goles e entrou sozinha no prédio.

No Brasil a bicicleta não é bem vista. Nenhum executivo, nenhuma secretária, nenhum universitário quer ser observado ao chegar pedalando no seu endereço de destino. Puro preconceito. Por outro lado, há um fator negativo: aqueles que comumente utilizam tal meio de transporte, são em geral pessoas muito simples… e sem nenhuma noção de que, tanto ao volante de um automóvel quanto no guidão da bicicleta, há regras a serem cumpridas. Um erro constante é o trânsito de ciclistas na contramão e nas calçadas. No calçadão da Rua das Flores (XV de Novembro), passam ziguezagueando entre as pessoas, sem uma única autoridade para orientá-los ou reprimi-los, retirando-os da área destinada a caminhantes. Um pedestre que pretenda atravessar as vias de escoamento rápido, nas quais o trânsito flui inteiramente na mesma direção, por certo não olhará ao lado contrário. De repente, em flagrante contramão, pode aparecer uma bicicleta causando sérios problemas, pois um atropelamento desses é às vezes até pior do que aquele produzido por automóvel.

E não é só: alguns meninos carregam de uma só vez, na bicicleta, até quatro garrafões de água mineral, de 20 quilos cada, que somam muito mais do que seu próprio peso. Numa freada súbita, como um garoto 60 quilos conseguirá conter 140 quilos (os seus 60 somados aos 80 da água)? E onde estão as autoridades para coibir a ação criminosa dos seus patrões?

Uma campanha de orientação aos ciclistas deveria ser promovida urgentemente pela prefeitura, através da imprensa escrita e televisionada, e a Câmara Municipal poderia propor uma lei que obrigue as bicicletas ao emplacamento anual, como já ocorreu no passado, e acontece ainda em algumas municipalidades, com um respectivo código de conduta que seja tão elucidativo quanto punitivo.

O ciclista precisa observar regras severas; tem que conhecê-las e cumpri-las. Afinal, esses ciclistas são os motoristas do futuro. Se vierem a dirigir como pedalam, o caos das nossas ruas será multiplicado. Acostumá-los ao rigor da disciplina representaria um benefício coletivo.

Francisco Souto Neto (Janeiro 2008).

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FOTO 2 - Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico

Jornal Centro Cívico – Ano 5 – Edição 49 – Fevereiro 2008

Ônibus e ausência de disciplina

Francisco Souto Neto

 

Tenho usado o transporte coletivo de Curitiba algumas vezes, mas nessas ocasiões quase sempre volto aborrecido para casa.

No Exterior, mais notadamente no Hemisfério Norte ocidental, se alguém no interior de um ônibus, bonde ou metrô, cruzar a perna e acidentalmente tocar a ponta do seu sapato na do vizinho, o pedido de desculpas é uma regra à qual ninguém se omite. Um leve roçar de braços faz com que os dois atingidos, ainda que ambos sejam homens, peçam perdão mutuamente, mesmo sem saber de quem foi a culpa. É assim se faz em países civilizados.

É lamentável o que presenciamos no Brasil e Curitiba não é exceção. Se num esbarrão, uma das pessoas for atirada contra a parede, a outra será capaz de seguir seu caminho como se nada tivesse acontecido e sem sequer olhar para trás. Eu já vi isso ocorrer.

No interior dos ônibus curitibanos impera a falta de educação. Os assentos para idosos, com avisos pregados às respectivas janelas, não passam de manchas aos olhos dos que não sabem ou não querem ver ou ler. Para piorar a situação, esses avisos são tímidos e estão descorados. Ademais, grupos amontoam-se nas portas, mesmo que pretendam descer a muitas estações ou paradas adiante. E quando abrem-se as portas dos “vermelhões” ou “ligeirinhos”, todos querem entrar e sair ao mesmo tempo.

No metrô de Paris, presenciei um fato desagradável: na plataforma de embarque, duas senhoras conversavam animadamente à minha frente. Percebi pelo sotaque, que eram cariocas. Chegou o trem e ao abrir-se a porta, elas iam entrando contra o fluxo que desembarcava, quando foram grosseiramente empurradas para trás por outra senhora, esta francesa, que descia e que exclamou em seu próprio idioma: “Primeiro, os que saem!”. As brasileiras mostraram-se constrangidas e uma queixou-me à outra: “Ela me empurrou com toda força!”. Sem dúvida, a francesa foi grosseira e mal-educada, mas as brasileiras é que estavam erradas em terra alheia.

Em Paris, primeiro passam os que querem desembarcar e só depois entram os novos passageiros. Porém, em outros lugares o costume é diferente: os passageiros entram e saem ao mesmo tempo, mas sempre pelo seu lado direito. Assim, o fluxo torna-se mais lógico e fácil.

As autoridades paranaenses, aquelas que desejam que Curitiba seja uma cidade “de primeiro mundo”, deveriam iniciar uma campanha para educar os passageiros dos ônibus. Se a tendência do curitibano for, como parece ser, o embarque e desembarque ao mesmo tempo, seria necessário orientá-lo através de faixas afixadas permanentemente sobre as portas dos ônibus e das estações-tubo, dizendo: “ENTREM E SAIAM SEMPRE PELO SEU LADO DIREITO”. Outra faixa, também sobre as portas no interior dos ônibus, deveria ensinar: “ESPAÇO RESERVADO ÀQUELES QUE DESCERÃO NA PRÓXIMA ESTAÇÃO”. A voz gravada que anuncia o nome das estações, deveria também fazer essas observações e em volume audível.

Ora, se até nas escadas e esteiras rolantes os curitibanos não sabem que devem colocar-se sempre no seu lado direito, deixando o esquerdo para aqueles que têm mais pressa, como saberão que não estão se portando convenientemente nos ônibus? Para isso, é preciso que sejam orientados. Que sejam educados.

E é à prefeitura que cabe orientar e educar os usuários do transporte coletivo. Não só através de faixas afixadas permanentemente nos ônibus e estações-tubo, e da voz que anuncia a próxima parada, mas também pela televisão e em “horário nobre”.

Por quê não se iniciar uma campanha que explique que os lugares assinalados “para deficientes, idosos e senhoras grávidas” têm que ser respeitados? E tal como o comandante de uma aeronave ou o capitão de um navio, o motorista do ônibus deveria ser treinado para impor o cumprimento da lei, quando necessário ou solicitado.

Os usuários do transporte coletivo merecem receber orientação firme e decidida da prefeitura para poderem servir como exemplo de civilidade a todo o país.

(Francisco Souto Neto – Fevereiro 2008)

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FOTO 3 - Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico

Jornal Centro Cívico – Ano 5 – Edição 50 – Março 2008

Fone 156, Prefeitura, Diretran… e morosidade!

Francisco Souto Neto

 

Os cidadãos não deveriam ser tão tolerantes em relação aos infratores de trânsito. Automóveis estacionados sobre calçadas, sobre guias rebaixadas, sob placas de “proibido estacionar”, são infrações que vemos ocorrer em Curitiba o tempo todo e por toda parte. O Centro Cívico, infelizmente, não é exceção. Mas os transeuntes fazem “vista grossa”, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.

Não, não é natural. E o correto é fazermos a denúncia ao órgão competente, para que os infratores, multados, aprendam a lição e não voltem a transgredir.

Entretanto, essas denúncias não podem ser formuladas com tanta facilidade. Primeiro é preciso ligar para o número 156 da Prefeitura, para ouvir as “opções” a serem tecladas e, finalmente, ouvir a gravação: “Neste momento, todos os nossos atendentes estão ocupados. Você será atendido em aproximadamente ‘tantos’ minutos”.

A demora para o atendimento tem sido, em regra, de três a nove minutos. Após o registro do ocorrido, o atendimento fornece-nos o número de protocolo da reclamação. Até aqui, tudo relativamente suportável. O problema vem em seguida: o tempo para que os fiscais da Diretran cheguem ao local. Da última vez em que fiz uma reclamação ao encontrar um carro estacionado sobre uma terça parte da entrada da garagem do prédio onde resido, a demora no atendimento do telefone 156 somada ao registro da reclamação, foi de 12 minutos. Daí à chegada dos fiscais da Diretran, foram mais 39 minutos, totalizando 51 minutos, tempo suficiente para que o infrator voltasse ao seu veículo e partisse sem ser importunado e multado.

Alguns dias depois, recebi um telefonema da Prefeitura, informando-me dos resultados da minha reclamação. Citando os horários das ocorrências, o funcionário disse-me que a Diretran não havia encontrado nenhuma irregularidade. É claro que não encontrou nada irregular, após tardar quase uma hora para alcançar o local da infração. Eu simplesmente perdi a paciência, chamei os serviços de incompetentes e bati o telefone.

Assim, tudo torna-se patético: eu perco o meu tempo para reclamar de um mau motorista que não será punido, o motorista continuará estacionando em lugares proibidos sem ser molestado e a Diretran continuará gastando o tempo dos seus homens e a gasolina do veículo, pagos pelos nossos impostos, na sua busca por infratores-fantasmas, que acabam não existindo para os fiscais, em função da morosidade dos órgãos públicos. O pior é que fazem com que minha pressão arterial se eleve, eu perca a paciência e aja com falta de educação.

A “justificativa” de que há “outros” casos a serem atendidos antes daquele em questão, não resolve absolutamente nada. Desde modo, os atrasos em cadeia farão com que a fiscalização continue chegando sempre atrasada. Não nos interessam desculpas e justificativas; queremos apenas serviços eficientes e rápidos.

A culpa, obviamente, não é do atendente do número 156, tampouco dos fiscais da Diretran. É do poder público, que não oferece o número necessário de fiscais e veículos para atender a demanda das infrações. Culpa também dos cidadãos que, acomodados com essa situação, não se movem para reclamar a quem de direito.

Para que se moralize a questão, os cidadãos terão que se conscientizar de que precisam posicionar-se, reclamar, insistir, escrever aos jornais, denunciar à televisão e às rádios e demonstrar insatisfação. Quando justa e correta, a reclamação, seja qual for o motivo, é um exercício de cidadania.

(Francisco Souto Neto – Março 2008)

 

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FOTO 4 - Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico

Jornal Centro Cívico – Ano 5 – Edição 51 – Abril 2008

Sinais luminosos para pedestres

Francisco Souto Neto

 

Um dos cruzamentos mais movimentados do Centro Cívico é o da esquina da Av. Cândido de Abreu com Rua Lysímaco Ferreira da Costa, a “via rápida” que vem de Santa Cândida. A Cândido de Abreu, como se sabe, além da pista central com duas mãos, tem ainda as vias laterais que funcionam quase como se fossem ruas autônomas. Tal cruzamento localiza-se ao lado da Prefeitura Municipal.

Estranhamente, aquele movimentado lugar nunca teve sinal luminoso para pedestres. Se vivêssemos num país onde todos os motoristas conhecessem e obedecessem as mais básicas normas de trânsito, os semáforos para veículos poderiam ser suficientes para assegurar a segurança aos pedestres. Mas não é o que ocorre. Se alguém está atravessando a rua e o semáforo abre para os veículos, é comum que os carros comecem a avançar sobre o pedestre, e este, ou corre para trás, ou fica ilhado no meio da pista, na esperança de que algum motorista bem educado se detenha e permita-lhe completar a travessia.

Não deixa de ser curioso o fato de que nem sequer os funcionários da Prefeitura tenham pressionado os setores competentes para que se coloque ali a necessária sinalização. Basta observar o que se passa com os pedestres no local: aqueles que se aproximam da fila de carros parados no semáforo vermelho, não se atrevem a atravessar, temendo que o sinal mude ao início ou durante a sua travessia. Se ali existisse um sinal para pedestres, este os alertaria para que pudessem transpor a rua com segurança.

Não é só no Centro Cívico que esse paradoxo ocorre. Para mencionar um único exemplo dessa mesma situação no centro da cidade, veja-se o cruzamento da Rua Carlos de Carvalho com a Visconde do Rio Branco: pedestres inseguros e temerosos ficam estacados nas esquinas, à frente dos carros parados no semáforo vermelho, com os motores rugindo, ameaçando “arrancar” a qualquer momento. Ninguém se atreve a atravessar. Neste caso, os pedestres só se sentem seguros para efetuar a travessia, no momento exato em que os veículos são detidos pelo sinal vermelho, porque, supostamente, poderão ter tempo para chegar ao outro lado da rua antes que a cor verde libere os impacientes motoristas.

Em diversos pontos do Centro Cívico e em outros inumeráveis de toda a capital, encontram-se problemas parecidos. A Prefeitura talvez não aja, porque os cidadãos não sabem reclamar ou sugerir, e assim a situação permanece imutável por anos.

Eu gostaria de rogar aos técnicos para que observem, das janelas do prédio da Prefeitura, o problema que ocorre na sua esquina. Notem que os veículos continuam avançando quando o semáforo já se mostra no vermelho, no mesmo momento em que estão em pleno impulso os carros liberados pelo sinal verde. Os pobres pedestres atravessam correndo entre a calçada da Prefeitura e a do Banco Itaú. Sem dúvida, uma situação insuportável, principalmente para crianças desacompanhadas e idosos.

Se os técnicos da Prefeitura prestarem atenção aos problemas que ocorrem sob seus olhos e colocarem ali a necessária sinalização luminosa, estarão dando um belo e seguro passo a favor dos pedestres.

(Francisco Souto Neto – Abril 2008)

 

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FOTO 5 - Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico

Jornal Centro Cívico – Ano 5 – Edição 52 – Maio 2008

Outono fulgurante, beleza fugaz

Francisco Souto Neto

 

O outono do Hemisfério Norte, que todos conhecemos de fotografias e do cinema, instigou minha imaginação desde criança.

No começo da década de 60, quando meu irmão e sua esposa se mudaram para Nova York, recebi deles várias fotografias do seu primeiro outono norte-americano. Essas fotos mostravam as folhas das árvores que iam do amarelo dourado ao vermelho intenso, criando na paisagem uma perfeita ilusão de chamas, de fogaréu, de silencioso e mágico incêndio.

Desde então, com o passar dos anos, sempre desejei viajar rumo ao outono do Hemisfério Norte, para ver de frente tamanha beleza. Porém, como essa estação do ano está associada às chuvas, acabei invariavelmente optando por viajar entre a primavera e o verão, períodos mais associados às floradas que cingem os campos europeus de miríades de cores e tons. Entretanto, eu não precisaria ir tão longe para isso, porque a capital do Paraná passou a nos proporcionar outonos fulgurantes.

Há algumas décadas, eram os plátanos do Passeio Público que davam o espetáculo das folhas secas e amareladas. Graças à sensibilidade de algum anônimo, mas muito competente e inspirado funcionário da prefeitura, que resolveu plantar liquidâmbares nas praças públicas, podemos hoje desfrutar aqui mesmo das belezas outonais, sem precisarmos atravessar o mundo. O liquidâmbar é uma platanácea, isto é, da família dos plátanos, porém de folhas mais delicadas, que no outono ganham tons muito mais intensos.

Atrás do Tribunal de Contas, do outro lado da Rua Deputado Mário de Barros, é possível apreciar e fotografar as referidas platanáceas. Mas também o Banco do Brasil, na Av. Cândido de Abreu, há anos plantou esses espécimes nos seus jardins, os quais, no momento em que redijo esta crônica, mostram-se nada menos do que deslumbrantes.

Porém é preciso estar muito atento a esse pequeno lapso de tempo que em tais árvores se torna fulgurante. Há poucos dias, as folhas estavam todas verdes. Agora, resplandecem ao sol nos tons do amarelo dourado ao vermelho. Mas bastará um vento para que as cores outonais sejam varridas da paisagem. O espetáculo dura não mais do que alguns dias. Ao circular esta crônica, certamente os galhos dos liquidâmbares já estarão nus e tristes.

Não há como não refletir: a vida das folhas douradas é muito rápida; elas existem por um breve momento para a contemplação humana e logo desaparecem. São fugazes como a nossa própria existência. Porém, ao contrário de nós, que desaparecemos ao findar nosso período terrestre, as folhas voltarão para cingir-se de ouro e púrpura ao longo de incontáveis novos outonos.

(Francisco Souto Neto – Maio 2008)

 

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FOTO 6 - Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico

Jornal Centro Cívico – Ano 5 – Edição 53 – Junho 2008

Fiação elétrica aérea, ou as “árvores-forquilha”

Francisco Souto Neto

 

Não há quem não tenha observado o que ocorre às árvores plantadas sob a fiação elétrica que pende entre dois postes. A planta começa amparada por estacas, depois ganha força, o tronco encorpa, robustece, e a copa arredonda-se e expande.

Tudo vai bem até que os galhos começam a roçar os fios elétricos. Não tarda muito para que cheguem os “forquilheiros”, que é como denomino os funcionários especializados em cortar os galhos que alcançam a fiação. De tempos em tempos, à medida em que a árvore continua crescendo, os galhos prosseguem sendo cortados. Então, a planta se expande apenas para os lados opostos aos fios, resultando mutilada. Ela passa a se assemelhar a uma forquilha gigante recoberta de folhas. É a triste “árvore-forquilha” curitibana.

É certo que os galhos das árvores não devem avançar não apenas sobre a fiação elétrica, mas sobre todos os outros gêneros de fios que se estiram de poste em poste. O que é errado são os fios aéreos. Deveriam ser subterrâneos, como ocorre nas boas cidades do mundo. Cidades bem cuidadas enterram os fios, escondem-nos, e não os penduram. Em Curitiba tem havido algumas tentativas de estabelecerem-se ruas de aspecto limpo, sem a poluição visual causada pela fiação pendente. Por exemplo, a Avenida Cândido de Abreu. E as ruas onde foram instalados os “corredores” para os ônibus expressos.

Porém, não sei se por falta de interesse, ou se por ignorância mesmo, os fios invasores começam a aparecer, sempre meio timidamente. Depois, vão tomando força e engrossando o caldo. E a fiscalização não vê ou já se esqueceu do que seria melhor para a cidade.

Tomando a Av. João Gualberto como exemplo, ela é transpassada de fiação aérea por todos os lados. Uma olhada no emaranhado de fios entre os números 1731 e 1740 dará mostra daquilo que é indesejável é antiestético.

A Cândido de Abreu, que liga o centro da cidade ao Palácio Iguaçu, foi concebida para ser um cartão postal de Curitiba. Mas ela não escapa à teia metálica, às vezes revestida de borracha. E os fios que a cruzam não provêm apenas dos postes das ruas transversais.

Há assuntos prioritários a serem debatidos pelos próximos candidatos à prefeitura da Capital do Paraná. Segurança e saúde pública serão, sem sombra de dúvida e com justa razão, expoentes nos debates. Entretanto, os futuros candidatos deveriam ser inquiridos também a respeito de um programa para subterrar os fios da rede pública, assim como os de telefones.

Em geral, quando se trata de obras subterrâneas, os prefeitos fogem ao tema. Preferem obras que fiquem expostas aos olhos dos eleitores, que possam ser vistas e até tocadas. Entretanto, estou certo de que ganhará muitos simpatizantes aquele que se preocupar em “limpar” o visual da urbe.

Cidades que ainda não aprenderam a ocultar a horrenda fiação sob a terra, e que precisam transformar árvores frondosas em “árvores-forquilha”, ainda estão muito distantes do status que os administradores públicos tanto perseguem, o de “cidade de primeiro mundo”.

(Francisco Souto Neto – Junho 2008)

 

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FOTO 7 - Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico

Jornal Centro Cívico – Ano 6 – Edição 54-55 – Agosto 2008

A gentileza de Zeca Baleiro e a má educação

Francisco Souto Neto

 

    O cantor e compositor Zeca Baleiro, na seção “Última Palavra” da revista ISTOÉ de 9 de julho de 2008, escreveu uma crônica que tem a “gentileza” como tema. Tão interessante e sensível é o texto, que vou me dar a liberdade de transcrevê-lo em seu trecho inicial:

“Há alguns meses, estava eu numa lanchonete quando vi, do outro lado de uma pesada porta de vidro, um casal se aproximando com bandejas nas mãos. Vendo a sua dificuldade em abrir a porta com as mãos ocupadas, e vendo que ninguém ali no recinto esboçara qualquer atitude, saí da mesa em que estava sentado confortavelmente e puxei a porta para que os dois passassem. Passaram. E eu fiquei esperando um agradecimento qualquer, por tímido que fosse. Mas que nada!… Tempos depois, na recepção de um hotel, abri a porta para uma senhora que carregava sua mala com certo sacrifício e, de novo, nem um mísero ‘obrigado’ ouvi.

   Não que eu tenha feito tais favores com a intenção de ser laureado, com condecoração em praça pública, chave da cidade, comenda, quermesse e festa de sambódromo, mas penso que é muito alentador ouvir agradecimentos quando se presta um favor a alguém. Instaura-se uma atmosfera de ‘amistosidade’ que, ainda que por um momento, nos dá a esperança de viver num mundo mais gentil, menos bárbaro”.

A crônica de Zeca Baleiro serve, além do alerta, para demonstrar que o fenômeno que eu chamaria de falta de educação está grassando por toda parte. Muitas vezes, quando estou dirigindo meu carro, detenho-me para dar a vez ao pedestre, convidando-o a atravessar com o gesto de “passe, por favor”, ainda que a preferência fosse minha. O que nessas ocasiões vejo atravessar à minha frente é um rosto petrificado, como se meu gesto lhe tivesse sido indiferente. O mesmo ocorre quando dou a vez a outro motorista, que geralmente passa sem sequer esboçar um agradecimento.

Vamos além, para situações mais singelas. Por exemplo, ao empurrar um carrinho de compras dentro de um supermercado. Sempre que ocorre uma pequena batida entre os carrinhos, que é coisa corriqueira, da minha parte não me interessa saber se a culpa foi minha ou do outro e, imediatamente, peço desculpas pelo incidente. Na semana passada, durante as compras, meu carrinho e o de uma senhora colidiram. Pedi-lhe desculpas antes mesmo de perceber que a culpa fora inteiramente dela. Como resposta, ela passou por mim como se eu fosse invisível. Repeti: “Desculpe, senhora”. Nenhum efeito. Mais por curiosidade do que por qualquer outro motivo, articulei pela terceira vez a mesma frase, desta feita com uma pausa tão maior quanto maior a intensidade da voz. Só então, houve uma reação: “Tá”, disse ela. Estranha resposta!

O que ocorre é que a boa educação, aquela que aprendemos dos nossos pais, caiu em desuso. Os atuais genitores não mais ensinam seus filhos a dar  aquelas necessárias respostas às pessoas: “De nada, senhor!”. Essas crianças crescem, casam-se e – pobres dos seus futuros filhos! – ignorarão para sempre os mais básicos princípios da boa educação.

E quando cumprimentamos alguém – “bom dia!” –  que nos responde com apenas um gesto de cabeça? E as pessoas que cruzam as filas sem pedir licença para passar pela sua frente? Isto não é uma “questão cultural”, mas um retrocesso. Uma regressão evolutiva. Óbvia falta de educação. As pessoas não estão mais sabendo responder a um agradecimento, nem a um pedido de desculpas e também não sabem tomar essa iniciativa. Nesse triste ritmo de involução, imagino que em pouco tempo começarão a guinchar. É lastimável!

(Francisco Souto Neto – Agosto 2008)

 

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FOTO 8 - Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico

Jornal Centro Cívico – Ano 6 – Edição 56– Setembro 2008

Os candidatos à prefeitura e a questão do metrô curitibano

Francisco Souto Neto

 

O transporte coletivo de Curitiba, inovador na sua concepção na década de 70, tornou-se obsoleto. As canaletas para os ônibus expressos, criadas pela competente equipe de urbanismo de Jaime Lerner na sua primeira gestão como prefeito municipal, tornaram-se um modelo para outras grandes cidades. Entretanto, no correr das décadas, em que pese a posterior criação das estações-tubo e a introdução dos cada vez mais numerosos ônibus biarticulados, o sistema derivou para a atual situação, que é de total desconforto para os usuários.

Nas eleições de 1971 e 1979, Jaime Lerner foi nomeado prefeito de Curitiba. Era o tempo dos “prefeitos biônicos”, escolhidos pelo sistema “indireto”, vigente durante a ditadura. No entanto, ele foi um administrador competente e muito aplaudido. Com o fim da ditadura e o advento da redemocratização, elegeram-no prefeito por sufrágio popular em 1989. Data de então, um fato que ficou marcado na memória de muitos: Lerner anunciou a construção do que chamou de “bonde moderno”, que funcionaria como um pré-metrô de superfície, subterrâneo na parte mais central da cidade. Esse modelo de “pré-metrô” fora utilizado com sucesso em outros lugares, como em Bruxelas, na Bélgica.  O seu projeto chegou a ilustrar a capa do carnê do IPTU. Na ocasião fiz um texto elogioso ao projeto, que foi publicado no livro “Cartas a Curitiba”, obra literária idealizada e organizada pela jornalista Iza Zilli. Porém, tal projeto nunca passou de “capa de IPTU”, quando foi motivo de fugaz entusiasmo para escritores crédulos, como era eu naquela época.

O prefeito Cássio Taniguchi fez algo muito parecido: ao final do primeiro mandato, também ilustrou a capa do IPTU com o seu projeto para a construção do metrô. Esse novo projeto-fantasma, estranhamente, não atravessaria o centro da capital: as composições férreas apenas tocariam o centro, quase resvalando, à altura do local onde hoje está instalado o Shopping Estação. A desculpa pública, ao final do novo mandato, foi a de que não se obtiveram os recursos necessários para o início das obras.

Inquestionável é que Curitiba precisa, urgentemente, de um sistema de metrô, antes que o atual modelo de transporte coletivo entre em colapso. Neste contexto, é espantoso ouvir de candidatos ao cargo de prefeito, que a construção do metrô não é uma prioridade para seus programas de governo.

Por outro lado, os mais fortes candidatos mostram-se comprometidos com a construção de um sistema metroviário. A propósito, o atual prefeito Beto Richa, trouxe o assunto à baila em meados da sua atual gestão. Quanto isto veio a público, o ex-prefeito Lerner concedeu uma extensa entrevista à Gazeta do Povo, afirmando que “não será construído o metrô de Curitiba” e que tudo não passava de manobra eleitoreira. Confesso que me senti muito curioso para saber como seria o desfecho do caso. O fato é que nesta gestão, a construção do metrô realmente não foi iniciada, o que demonstra que o velho ex-prefeito urbanista parece entender muito bem do que é prometer e não cumprir. Por outro lado, a prefeitura reapresenta agora o seu projeto de metrô no “horário político”, como sendo um dos pontos mais importantes do seu programa. Ótimo!

Ótimo, e não quero raciocinar de maneira negativa, no sentido de acreditar que, mais uma vez, mentem aqueles que ora prometem. Mas uma atitude faz-se necessária aos cidadãos que não querem se sentir mais uma vez enganados: precisamos todos adquirir o hábito de cobrar aos políticos as suas promessas de campanha, logo ao início das suas gestões.

E ao final da legislatura, aplaudiremos publicamente a quem cumpre aquilo que promete. Ou nos uniremos, jornalistas e demais cidadãos, na denúncia de mais uma lamentável balela eleitoreira.

(Francisco Souto Neto – Setembro 2008)


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FOTO 9 - Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico

Jornal Centro Cívico – Ano 6 – Edição 57– Novembro 2008

Cães abandonados e semi-domiciliados

Francisco Souto Neto

 

   Curitiba deu um belo exemplo no ano de 2005, quando a prática da captura e sacrifício dos cães de rua foi abolida pela prefeitura. Em vez disso, as autoridades passaram a preocupar-se com campanhas educacionais que objetivam despertar a responsabilidade dos donos.

É muito frequente a existência de pessoas que compram ou aceitam cães que, à medida em que crescem, passam a representar-lhes um estorvo. Nos meses de férias escolares aumenta assustadoramente o número de animais abandonados, porque seus donos querem viajar e a solução mais fácil para eles é abandonar a criatura à sua própria sorte. São indivíduos do mais baixo nível moral, que a seus filhos dão um repugnante exemplo de falta de respeito aos animais e à própria vida.

Em outra escala encontram-se os donos desleixados. Seus cães são classificados como “semi-domiciliados”. Segundo a Sociedade Protetora dos Animais, há em Curitiba perto de meio milhão de cães, 50% deles com donos conscientes e supostamente cuidadosos, 47% semi-domiciliados e 3% de rua. Os cães semi-domiciliados têm casa, cama e provavelmente comida, mas seus donos deixam-nos livres pelas ruas. Têm aspecto regular, às vezes usam coleira, mas reviram lixo e circulam e se reproduzem livremente.

Há pouco tempo percebi que o poodle que eu costumo ver no jardim – cerca de dois metros acima do nível da calçada – de uma casa da Rua Mauá, perambulava pela rua transversal, revirando lixo. Chamei-o sem resultado, até que o animal tomou o caminho da sua casa. Segui-o em passos rápidos, talvez para ele ameaçadores, até que o vi entrar pelo portão ao lado da garagem e subir por uma pequena escada que leva ao nível do jardim. O portão estava aberto. Procurei fechá-lo, mas o trinco era estragado. Então, apenas puxei o portão para impedir que o cão voltasse a sair.

Dias depois, vi outra vez o cãozinho na rua, próximo ao seu domicílio. Desta feita, coincidiu que uma jovem senhora saiu pelo portão, chamando o animal pelo nome. Aproveitei a oportunidade para conversar com a dona do cão. Perguntei-lhe se ela não temia que seu “pet” fosse atropelado ao atravessar a rua, ou que fosse furtado. Com sorriso amarelo, disse-me que o portão estava com o trinco estragado e que as pessoas que residem “nos fundos” não costumavam fechá-lo. “Que esquisito: eu, um estranho, é que estou preocupado com a segurança do seu cachorro!”, disse eu à jovem senhora. E fui embora, bastante irritado com uma pessoa a quem falta a responsabilidade de consertar o simples trinco do portão, o que impediria seu cão se classificar como um semi-domiciliado. Eis um exemplo de desapego ao próprio bicho de estimação.

Por outro lado, tenho observado exemplos edificantes. Com frequência, alguns “pet shops” se reúnem nas chamadas “Feiras do Cachorro Usado”. Os donos dessas empresas recolhem os cães de rua, levam-nos aos veterinários, aplicam-lhes as necessárias vacinas, dão-lhes banho e, geralmente às tardes de sábados, realizam as feiras para encontrar lares que queiram adotar esses animais, que são desde filhotes a cães já de focinhos brancos, todos carentes do afeto de um novo dono.

Ademais, há cidadãos que pela internet divulgam fotos de cães abandonados, já socorridos por pessoas caridosas, em busca de quem queira adotá-los. Luciane, uma advogada de lindos olhos azuis, é neste sentido o mais edificante exemplo que eu poderia mencionar do meu círculo de amigos. E também Renate e Labibe, estas através do Orkut, sempre preocupadas em encontrar um lar decente para cães abandonados.

Citando uma frase Leonardo da Vinci para reflexão: “Chegará o dia em que o homem conhecerá o íntimo dos animais. Nesse dia, um crime contra um animal será considerado um crime contra a própria humanidade”.

(Francisco Souto Neto – Novembro 2008)

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FOTO 9-A - Jornal Centro Cívico: VISCONDE DE SOUTO - ASCENSÃO E "QUEBRA" NO RIO DE JANEIRO IMPERIAL

Jornal Centro Cívico – Ano 6 – Novembro 2008 – Nº 57 - Editora Responsável: Elaine C. Bento Prada.

Capa:

Páginas 8 e 9:


Detalhe:


Jornal Centro Cívico: VISCONDE DE SOUTO – ASCENSÃO E “QUEBRA” NO RIO DE JANEIRO IMPERIAL.

Francisco Souto Neto

Desde o ano de 2006, eu e minha prima Lúcia Helena Souto Martini, que reside em Paulínia, SP, estamos pesquisando e escrevendo a biografia do banqueiro António José Alves Souto, o Visconde de Souto, nosso trisavô.

A importância do Visconde de Souto

O biografado nasceu em 1813, na cidade do Porto, Portugal, e veio para o Rio de Janeiro em 1829, aos 15 anos. Cinco anos depois estabeleceu-se por conta própria, criando a casa bancária A. J. A. Souto & Cia, conhecida como Casa Souto, precursora dos bancos privados no país. Pelo decreto nº 439, de 24.9.1857, o Souto passou a ser oficialmente o banqueiro da Casa Imperial do Brasil. Ele foi presidente da Beneficência Portuguesa e fundador da Junta de Corretores que deu origem à Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Fez parte da primeira diretoria da Caixa Econômica. Era Comendador da Ordem da Rosa até que, em 1862, recebeu o título de Visconde, concedido pelo rei de Portugal, D. Luís I. Em sua chácara no bairro carioca de São Cristóvão, criou o primeiro jardim zoológico do Brasil, que franqueava à visitação pública. Em 1860, na Fazenda Bela Vista, onde plantava café, o Visconde de Souto mandou construir um oratório, hoje conhecido por “Capela Mayrink”, nome do seu último proprietário.


Capela Mayrink, mandada construir pelo Visconde de Souto na sua Fazenda Bela Vista. Foto Sílvia Maria Pinheiro Grumbach.


          Pelo casamento dos filhos, aparentou-se com as famílias de Marquês de Olinda (Regente e Primeiro-Ministro do Brasil Imperial), Visconde de Pirassununga, Conde de Ipanema e Euzébio de Queiroz (Senador e Ministro do Império).


O Visconde de Souto, OST de A. R. Duarte, 1890. Acervo da Beneficência Portuguesa - Rio de Janeiro. Foto por gentileza de Ney O. R. Carvalho.

A Chácara do Souto, residência oficial do Visconde, confinava com a Quinta Imperial da Boa Vista. Documentos da época atestam que o Imperador frequentava a Chácara do Souto para jogar xadrez com seu anfitrião e amigo.

 

Dona Maria Jacintha de Freitas Souto, a Viscondessa de Souto. OST de A. R. Duarte, 1875. Acervo do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.

            Em 1864 a Casa Souto foi à falência, gerando a maior crise da história financeira do país, conhecida como "Quebra do Souto”. Segundo Ney O. R. Carvalho, na página 54 do livro “Bolsa de Valores do Rio de Janeiro – 150 anos – A História de um Mercado”, com base em outros autores e documentos de posse do Arquivo Nacional, conta que o passivo da Casa Souto equivalia à metade da dívida pública interna do Brasil. A partir do gravíssimo episódio da Quebra do Souto, surgiu o sistema financeiro como hoje o conhecemos, com a separação da emissão de papel-moeda da de notas à vista, ambas então feitas pelo Banco do Brasil. Por ordem do Imperador, foi instaurada uma comissão de inquérito para apontar os culpados pela crise. A conclusão veio em 1866, inocentando o Visconde de Souto. Ele havia saldado quase todas as dívidas, às custas do seu enorme patrimônio pessoal. Reconquistou a confiança pública e continuou trabalhando como corretor de fundos até sua morte, em 1880, aos 66 anos.

 

Autores e livros já publicados

 

            Muitos escritores referem-se ao Visconde de Souto como personalidade de seu tempo, e à “Quebra do Souto”, em livros que são marcos da Literatura Brasileira. Citam-no autores como Machado de Assis, José de Alencar, Lima Barreto, Visconde de Mauá, Barão do Rio Branco, Afonso Arinos, Ruy Barbosa, Nelson Werneck Sodré, Wilson Martins, Pedro Calmon, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda, Eduardo Bueno e muitos outros. Mais de 300 livros de inumeráveis autores mencionam o Visconde de Souto e a Quebra do Souto em português, inglês, francês, espanhol, alemão e holandês. Na Bibliografia do livro que estamos escrevendo, essas mais de 300 obras [consultadas até 2008, data deste artigo] vão relacionadas por ordem alfabética dos autores, seguidas do título de cada livro, nome da editora e ano da publicação, com a indicação dos números das respectivas páginas onde o Visconde é mencionado. As mais importantes revistas do Século XIX, Archivo Pittoresco e Semana Illustrada, e jornais de várias épocas, fazem referências ao Comendador e Visconde de Souto.

 

O Visconde de Souto. Fotografia sem data. Acervo do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.

 

            Os poetas modernistas Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, no livro que escreveram em coautoria, “Rio de Janeiro em Prosa & Verso”, lançado pela José Olympio Editora no ano de 1965, preservam a memória do Visconde de Souto no capítulo “Tu passaste por este jardim”, sob o título “O Jardim Zoológico do Souto”, transcrevendo o seguinte, nas páginas 91 e 92:

            “A geração de hoje conhece de nome o Souto – pela notícia que tem da quebra de sua casa bancária, em 1864, arrastando em seu desmoronamento outras casas e bancos e levando a praça à grande crise comercial que tão profundamente a abalou.

O Souto, António José Alves Souto, foi um negociante português que, aqui chegando menino, pelo seu trabalho assíduo e inteligente, reuniu uma fortuna considerável e alcançou um crédito ilimitado.

Tão grande era a confiança que nele se depositava que sua casa bancária, em seu tempo, rivalizava, como carteira de depósito, com o Banco do Brasil, a mais importante instituição bancária do país.

Depositário de uma soma avultadíssima de haveres, mergulhado em inúmeros negócios a que a sua atividade não podia atender a um tempo, a Casa Souto ruiu, ocasionando prejuízos consideráveis no comércio do país e que se traduziram num verdadeiro cataclismo de que ainda hoje se fala com pavor.

Possuidor de grande fortuna, Souto era um espírito liberal e generoso. Tendo construído para sua habitação um belo palacete na Rua Barão de Monte Alegre, em meio a um grande e bem tratado parque, aí organizou um jardim zoológico, onde reuniu, à custa de muito trabalho e grandes despesas, muitas e variadas espécies dos mais interessantes animais do globo. Até um elefante existiu no jardim zoológico do Souto.

Organizado o parque, foi ele franqueado ao público e, durante muito tempo, foi o ponto predileto de reunião e passeio dos fluminenses nos domingos.

Sem as facilidades de locomoção que hoje existem, era a pé, pelo extenso caminho do aterrado, que os caixeiros, que recebiam dos patrões seis vinténs para se divertir nos domingos, iam passear à Chácara do Souto, o que não lhes custava nada”.

            Escritores contemporâneos continuam mencionando o banqueiro português. Eduardo Bueno, no livro “Caixa – Uma História Brasileira”, edição de 2002, narra como o Visconde de Souto ofereceu os salões da sua mansão para que a diretoria recém-empossada da Caixa Econômica, da qual ele fazia parte, tivesse onde realizar as primeiras reuniões:

            “A Caixa Econômica tem suas dívidas para com o Comendador Alves Souto: além de ceder os aposentos de sua residência para cerca de dez reuniões do Conselho, foi ele quem providenciou a mobília da sala da Câmara dos Deputados, no prédio da Cadeia Velha (onde atualmente se ergue o Palácio Tiradentes), na Rua da Misericórdia, onde ficara decidido que a Caixa, na falta de local mais apropriado, iniciaria suas atividades”.

            Lilia Moritz Schwarcz e Lúcia Garcia, no livro “Registros Escravos”, lançado em 2006, revela na página 215 um raro episódio de “generosidade pública”: o Visconde de Souto várias vezes comprou escravos para imediatamente alforriá-los, isto é, para dar-lhes a liberdade por puro humanitarismo.

A Quebra do Souto

            A notícia da Quebra do Souto chegou aos jornais portugueses a bordo do vapor Guienne. De Lisboa foi transmitida a Londres por cabo submarino, tendo o jornal “The Times” divulgado a notícia na página 10 da edição de 17.10.1864 e dias seguintes. Jornais de Nova York (Estados Unidos), Wellington (Nova Zelândia), e Sidney (Austrália) também noticiaram a Quebra do Souto.

            No Brasil, não faltaram anedotas envolvendo a crise. Uma delas, que encontramos em jornais da época e em alguns livros, dizia que a Casa Souto ruíra com tamanha repercussão, que através de todo o Império, da corte aos remotos sertões, até os papagaios não paravam de gritar e repetir: “O Souto quebrou! O Souto quebrou!”...

Documentos históricos

Ao escrevermos “Visconde de Souto – Ascensão e ‘Quebra’ no Rio de Janeiro Imperial”, decidimos manter incólume a linha da realidade. Tudo o que estamos relatando tem base documental. E esta não vem apenas das centenas de livros pesquisados, mas sobretudo de documentos arquivados em instituições como: Arquivo Nacional, Biblioteca Nacional, Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, Cúria Metropolitana, IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IHGB – Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e outros.

Além de resgatar a figura do Visconde de Souto, o livro será um guia para melhor entender a economia brasileira da metade do Século XIX, explicando o mecanismo que fez nascer as primeiras casas bancárias no Brasil. A obra será prefaciada por Dalmiro da Motta Buys de Barros, ex-presidente do Colégio Brasileiro de Genealogia.

Além da cota que caberá aos patrocinadores do livro, que ainda não temos, este será distribuído gratuitamente a universidades, bibliotecas e pesquisadores de todo o país e alguns no Exterior.

Curitiba, agosto de 2008.

Legendas originais: 1ª foto – Visconde de Souto (acervo da Beneficência Portuguesa – Rio de Janeiro). 2ª e 3ª fotos: – Os autores Francisco Souto Neto e Lúcia Helena Souto Martini.


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FOTO 9-B - Francisco Souto Neto - DUBAI: OUSADIA, DESLUMBRE E DELÍRIO

 

Jornal Água Verde (Curitiba) – Ano 18 – Dezembro 2008 – Nº 331 – Diretor-presidente: José Gil de Almeida.

Capa:


Página 13:

DUBAI – OUSADIA, DESLUMBRE E DELÍRIO

Francisco Souto Neto

Emirados Árabes Unidos é o nome de um pequeno país debruçado sobre o Golfo Pérsico. Sete emirados formam a nação, cujo território, com apenas 83.600 km² (menor do que a área do Estado brasileiro de Santa Catarina) é um deserto semi-árido, abrandado por alguns oásis. Com uma produção de petróleo insignificante em proporção à dos seus ricos vizinhos, era um país inexpressivo em termos de turismo até muito recentemente.

Projetos ousados

Entretanto, em meados da década de 1980, o xeque (“sheik” em inglês) de Dubai, Mohammed bin Rashid Al Maktoun, concebeu um ambicioso plano para transformar aquela inexpressiva cidade na mais ousada do mundo, em termos de avanços tecnológicos e arquiteturais, de modo a tornar-se pólo de atração turística mundial. E em apenas vinte anos, concretizou projetos absolutamente surpreendentes. O primeiro deles, foi acrescentar área ao território, criando arquipélagos artificiais, como o Palm Islands, em forma de palmeira, para abrigar elegantes vivendas e enormes hotéis. Dois outros arquipélagos muito maiores estão em construção, bem como um quarto conjunto de ilhas com a forma do mapa-múndi, tão grandes que são avistadas do espaço sideral.

A avenida principal cingiu-se de edifícios futuristas que ultrapassam os 60 andares. Até há pouco tempo, o Hotel Burj Al-Arab era o símbolo de Dubai, erguido no mar, com 321 metros de altura, evocando a vela de um barco. Porém, desde 2005 está sendo construindo outro edifício, o Burj Dubai, que em 2009 será inaugurado como o prédio mais notável e mais alto do mundo.

O Burj Dubai

No site oficial do Burj Dubai, consta que no dia 19 de outubro de 2008 o prédio alcançava a altura de 730 metros. Para que se tenha uma idéia comparativa, basta dizer que o Pão de Açúcar tem 396 metros e o Corcovado 710. Portanto, mesmo ainda inacabado, o Burj Dubai já é mais alto do que o pico que ostenta o Cristo Redentor. Quando concluído, o prédio deverá ter 818 metros.

O desenho do Burj Dubai foi feito por Skidmore, Owings e Merrill, os mesmos arquitetos da Sears Towers (no momento o mais alto prédio dos Estados Unidos, em Chicago, com 108 andares e 442 metros de altura) e da futura Freedom Tower de Nova York. Quando concluído, o Burj Dubai será decorado pelo italiano Giorgio Armani, cujo hotel – o Hotel Armani – se instalará nos seus primeiros 37 andares. Do 45º andar ao 108º, haverá aproximadamente 700 apartamentos privados. Os pisos restantes do total provável de 180 andares serão, supõe-se, ocupados por escritórios.

Ao redor do andar térreo do Burj Dubai, constrói-se uma área vastíssima que englobará 30 mil residências, nove hotéis e dezenove torres residenciais com cerca de 40 andares cada.

O Edifício Burj Dubai mantém um site com notícias quase diárias do progresso da sua construção, desde que essa foi iniciada no ano de 2005, e que pode ser consultado em http://www.burjdubaiskyscraper.com/

O que impressiona nos Emirados Árabes Unidos é a pujança e o desejo de crescer e de se superar. Para criar-se um belíssimo e eficiente sistema metroviário (já em construção avançada) bastou ao xeque estalar um dedo. As composições do metrô de Dubai foram concebidas com linhas aerodinâmicas e suas estações lembram naves espaciais da ficção científica. Bem a propósito, não há nada no mundo que se assemelhe tanto aos desenhos das metrópoles imaginadas pelo criador de Flash Gordon, quanto a cidade de Dubai. Em termos de vontade política, essa cidade deveria servir de exemplo aos políticos brasileiros, tão habituados a prometer em tempo de eleições a realização de “grandes” obras (na verdade bem modestas, em relação ao que se vê realizado no mundo) e nada cumprir.

Agora anuncia-se em Dubai a construção de um prédio que superará o Burj Dubai. Será o “Tall Tower Aka Al-Burj”, que terá mais de um quilômetro de altura, mais de 200 andares e será inaugurado em 2020. Dubai é ousadia, é deslumbre, é um delírio arquitetônico.  

 

Legendas originais: Foto 1 – O arquipélago artificial Palm Islands. Foto 2 – Burj Dubai, ainda em construção, mas já o mais alto edifício do mundo. Foto 3 – Aka Al-Burj, próximo projeto de Dubai: mais de 200 andares, mais de um quilômetro de altura.

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OBSERVAÇÃO ACRESCENTADA EM 14.10.2011 POR FRANCISCO SOUTO NETO NO SEU BLOG ORIGINAL:

Ao ser inaugurado em 4 de janeiro de 2010, com 828 metros de altura, o nome do prédio foi alterado para Burj Khalifa.

Burj Khalifa em 2011, o edifício mais alto do mundo.

 

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A REVISTA MARY IN FOCO:

 

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FOTOS 10, 11, 12.  Le Mont-Saint-Michel: a cidadela medieval, marés brutais e areias movediças

 

Arte e Memórias de Viagens

 

Francisco Souto Neto na Revista MARY IN FOCO nº 14 – Janeiro 2008 (p. 44-45), de Mary Schaffer e Marco Antônio Felipak

 

 

QUEM DESEJAR LER O TEXTO NA ÍNTEGRA, É APENAS CLICAR NO LINK ABAIXO:

https://fsoutoneto.blogspot.com/2011/07/le-mont-saint-michel-cidadela-medieval.html

 

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FOTOS 13, 14, 15.  Contrastes da moda: gravata, Amsterdã e outras histórias

Arte e Memórias de Viagens

 

Francisco Souto Neto na Revista MARY IN FOCO nº 15 – Fevereiro 2008 (p. 64-65), de Mary Schaffer e Marco Antônio Felipak

 

QUEM DESEJAR LER O TEXTO NA ÍNTEGRA, É APENAS CLICAR NO LINK ABAIXO: 

https://fsoutoneto.blogspot.com/2011/07/contrastes-da-moda-gravata-amsterda-e.html

 

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FOTOS 16, 17, 18, 19.  Visconde de Souto - Ascensão e "Quebra" no Rio de Janeiro Imperial

 

Arte e Memórias de Viagens

 

Francisco Souto Neto na Revista MARY IN FOCO nº 16 – Março 2008 (p. 46-48), de Mary Schaffer e Marco Antônio Felipak

 

QUEM DESEJAR LER O TEXTO NA ÍNTEGRA, É APENAS CLICAR NO LINK ABAIXO:

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FOTOS 20, 21, 22.  Atribulações, suspense e beleza: viagem à Rússia

 

Arte e Memórias de Viagens

 

Francisco Souto Neto na Revista MARY IN FOCO nº 17 – Abril 2008 (p. 64-65), de Mary Schaffer e Marco Antônio Felipak

 

QUEM DESEJAR LER O TEXTO NA ÍNTEGRA, É APENAS CLICAR NO LINK ABAIXO:

https://fsoutoneto.blogspot.com/2011/07/atribulacoes-suspense-e-beleza-viagem.html

 

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FOTOS 23, 24, 25.  Rodolpho H. Ramina - Um artista plástico em ascensão

 

Arte e Memórias de Viagens

 

Francisco Souto Neto na Revista MARY IN FOCO nº 18 – Maio 2008 (p. 64-65), de Mary Schaffer e Marco Antônio Felipak

 

QUEM DESEJAR LER O TEXTO NA ÍNTEGRA, É APENAS CLICAR NO LINK ABAIXO:

https://fsoutoneto.blogspot.com/2011/07/rodolpho-h-ramina-um-artista-plastico.html

  

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FOTOS 26, 27, 28, 29, 30Palacete Leão, tesouro arquitetônico de Curitiba

Arte e Memórias de Viagens

 

Francisco Souto Neto na Revista MARY IN FOCO nº 18 – Maio 2008 (p. 66-68), de Mary Schaffer e Marco Antônio Felipak

 

QUEM DESEJAR LER O TEXTO NA ÍNTEGRA, É APENAS CLICAR NO LINK ABAIXO:

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MEUS PREFÁCIOS A DOIS LIVROS EM 2008

 

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Livro A HISTÓRIA DO MOVIMENTO CINECLUBISTA PARANAENSE

 

José Gil de Almeida

Prefácio: Francisco Souto Neto

Edição 2008 (Curitiba, PR)

 

FOTO 31:  Capa:

Capa

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FOTO 32: Abertura:
Página 3:  Abertura

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FOTO 33: 
Francisco Souto Neto, autor do prefácio.

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FOTO 34:  Prefácio:
Página 5:  Prefácio. 

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FOTO 35: 
Página 6:  Prefácio.

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FOTO 36: 
Página 7:  Prefácio.

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FOTO 37: 
Página 8: Prefácio.


   Prefácio

 

   A leitura de “A História do Movimento Cineclubista Paranaense”, de José Gil de Almeida, é um passeio, às vezes surpreendente e dramático, outras vezes hilariante, através do passado recente de pessoas que moveram o universo cinematográfico paranaense para o lado da originalidade e da ousadia, num tempo em que imperava neste país a censura, instrumento da ditadura e da repressão para impedir o avanço do pensamento e da liberdade de expressão.

   Embora eu nunca tenha participado ativamente no Movimento Cineclubista, jamais estive alheio às dificuldades enfrentadas pelos cineclubistas nos seus movimentos contra a censura oficial e a favor dum cinema mais verdadeiro, reflexivo e social. Muito do que estava acontecendo, eu sabia através do meu muito bem informado amigo José Gil, autor deste livro. Ele, a propósito, um dos mais atuantes cineclubistas do país, foi presidente do Cineclube de Maringá de 1981 a 1984, Coordenador Estadual da Federação Paranaense de Cineclubes de 1985 a 1990, tendo em 1986 ocupado, simultaneamente, a presidência do Conselho Nacional de Cineclubes.

   As novas gerações não imaginam o que representou a censura para o cinema e, por extensão, a todos os segmentos da cultura: literatura, teatro, música. A própria imprensa estava amordaçada pelo rígido controle do governo central. Isto me fez lembrar de um curioso episódio que poderá elucidar, bem claramente, como a censura agia em cada país conforme a visão muito pessoal dos seus respectivos governos e que, além de autoritária e castradora, era extremamente burra! Vou me referir especificamente ao filme “Roma de Fellini”, uma obra-prima da cinematografia, ganhadora de muitos prêmios e hoje um dos ícones do cinema de arte.  

   Roma de Fellini

   Quando o filme passou nas telas brasileiras, fui assistir. Eu tinha conhecimento de que havia um trecho censurado, mas era impossível saber que assunto ou que cenas tinham sido sonegadas ao espectador brasileiro. Logo depois disso, fiz um passeio a Buenos Aires em companhia de um amigo, Rubens Faria Gonçalves. Lá, na capital portenha, vimos que o filme “Roma de Fellini” estava em cartaz. E entramos no cinema, na esperança de assistir ao filme completo. Em certo momento da projeção, durante o sono e sonho de uma personagem, inicia-se um desfile de modas no Vaticano. Surgem, na passarela, noviças com hábitos de cetim negro, seguidas de outras freiras que desfilam com seus chapéus cujas abas, ao compasso da música de Nino Rota, movem-se como asas de gaivotas. Sacristãos mostram trajes cheios de rendas e festivos modelos de batinas. Depois, aparecem bispos e cardeais usando adornos eclesiásticos com espelhos, ouro e plumas, e com iluminação própria. Para encerrar o desfile, desce sobre a passarela um gigantesco portal de ouro e então surge o próprio papa – o ator era um sósia de Paulo VI, o papa então reinante – envolto em tamanho esplendor que ofusca a platéia em delírio...

   A sequência do desfile é o ponto mais engraçado e, ao mesmo tempo, estranhamente belo, do filme. Como a Igreja Católica era muito forte no Brasil, exigiu ao governo que a suprimisse totalmente, vetando, deste modo, o direito do espectador a conhecer a obra completa do genial diretor italiano.

   Mas então percebemos que ali no cinema de Buenos Aires, o que faltava era uma outra sequência inteira do filme que tínhamos visto no Brasil: a dos homens que, durante a II Guerra Mundial, dirigem-se ao prostíbulo de Roma, onde estão se expondo as prostitutas quase sempre feias e bizarras de rosto, bem à maneira que o diretor Fellini faz em praticamente todos os filmes, para que o espectador se divirta sobretudo em observar as “máscaras” humanas. Só algumas das prostitutas mostram os seios, mas jamais aparece qualquer nudez abaixo da cintura. Hoje, se o filme voltar aos cinemas, certamente não escandalizará nem mesmo a adolescentes. Ocorre que, naquela época, a prostituição era proibida na Argentina, e por este motivo o governo de lá censurou todo aquele trecho do filme, e manteve intacta a parte do desfile do Vaticano, simplesmente porque, naquele país, a Igreja não era tão forte e, para os censores argentinos, qualquer referência à prostituição era o que arrepiava de horror.

   Então, no Brasil a censura cortou o trecho do desfile no Vaticano. Na Argentina, o corte ocorreu no divertido capítulo das prostitutas. Para ver como o que era mau ou bom para a censura dum país, não era o mesmo para a censura do outro... Em ambos os casos, saiu perdendo a cultura de ambos os países, e os cinéfilos em especial.

   Je Vous Salut Marie

  José Gil, ao longo de todo o livro, demonstra bem claramente a sua luta e a dos cineclubistas contra a censura. E, com meu amigo disposto a divulgar no Brasil as obras na íntegra, apesar da proibição do governo, certa ocasião vivenciei com ele e com outros amigos um interessante episódio. Ocorreu o seguinte:

   O filme “Je Vous Salut Marie”, de Jean-Luc Goddard, premiado e elogiado diretor francês, estava causando polêmica em todo o mundo e teve sua exibição proibida no Brasil por pressão da Igreja Católica. Era o mês de maio de 1986. José Gil, na ocasião assessor parlamentar, obteve uma cópia em VHS do filme proibido e me sugeriu que o exibíssemos a um grupo de cinéfilos e intelectuais. Achando ótima a idéia de realizarmos uma “desobediência civil”, ofereci a espaçosa sala do meu apartamento para o evento e convidei um pequeno grupo de amigos. Estiveram presentes, além da minha mãe Edith Barbosa Souto que a todos recebeu com um gostoso cafezinho e alguns petiscos, os seguintes: o referido José Gil, então o mais atuante cineclubista do Paraná; a professora de Literatura Francesa Maria da Graça (Graci) Trény; Marilene Martins dos Santos, que era a assessora do então prefeito Roberto Requião; o psicólogo, educador, artista plástico e cinéfilo Rubens Faria Gonçalves; Aramis Millarch (cinéfilo, autor da coluna diária Tablóide, do jornal O Estado do Paraná, o mais importante animador cultural do Estado) e sua esposa Marilene Millarch (que logo depois veio a ser a diretoria da Biblioteca Pública do Paraná); o professor Robert Jan Bowles e sua esposa Regina Romano Bowles, também professora, ambos intelectuais, e alguns outros. Jaime Lerner, naquele ano sem cargo político, grande cinéfilo, foi convidado mas não compareceu.

   Vale abrir parênteses para lembrar que eu era grande admirador do então ex-prefeito, pelo belo trabalho que ele realizara em prol da capital do Paraná, e até tínhamos algumas fotografias, juntos, tiradas em diferentes eventos e publicadas pela imprensa local. Só muitos anos depois me decepcionei com Lerner, quando ele, então governador, colocou homens da sua confiança na diretoria do Banestado, o banco oficial do Paraná, que num escandaloso episódio de roubos e corrupção, levou a grande instituição à bancarrota. Minha aversão pelo político se multiplicou quando, contrariando suas próprias declarações de campanha política de que não venderia o banco, quando eleito vendeu-o e por preço vil ao Banco Itaú, episódio transformado em grande escândalo nacional, que acabou com seus planos de chegar à presidência da república, corroendo-lhe a confiança do povo e comprometendo o seu próprio futuro político.

   Voltando a “Je Vous Salut Marie”, ambientando a história bíblica no mundo atual, o filme mostrava Maria como uma jovem estudante que jogava basquete e trabalhava na empresa do seu pai. José era motorista de táxi. E o anjo Gabriel, um amigo que procurava convencer José a aceitar a gravidez de Maria. Nada de extraordinário, uma película que a censura imposta pela Igreja Católica nos países onde tinha influência, fez o tiro sair pela culatra, tornando o filme um sucesso ao qual todos queriam assistir.

    Naquela noite, fizemos duas sessões. Aramis Millarch estava exultante por termos praticado a “desobediência civil”. E José Gil cumpria o seu papel cineclubista de divulgar obras cinematográficas, de arte ou não, mas que representassem liberdade de expressão, em resposta à censura que desejava calar, cegar e tornar surdos a todos os brasileiros.

   É nas páginas seguintes que o autor rememora fatos que merecem, realmente, registro histórico e que muito contribuíram para que os políticos, pressionados, fossem a pouco e pouco reconduzindo o Brasil à democratização que todos nós tanto aspirávamos.

Francisco Souto Neto

Advogado, Jornalista, Crítico de Arte

 

OBSERVAÇÃO INSERIDA NESTE BLOG EM 2023:

 

No capítulo “Inauguração da sede”, na página 48, José Gil relaciona alguns dos presentes ao coquetel (eu estava entre eles) e o episódio das taças de vinho com sangue escorrendo. Refere-se também ao fim da Galeria Schaffer, que era um dos pontos de encontro mais importantes do mundo cultural curitibano, além de sediar um cinema de arte da Fundação Cultural de Curitiba.

Curitiba, 6 de dezembro de 2023.

Francisco Souto Neto

FOTO 38: 

1987 – Inauguração da sede

Página 48

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FOTO 39: 

Página 49

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FOTO 40: 

Página 50

 

1987 – Inauguração da sede da Federação Paranaense de Cineclubes.

     A Federação Paranaense de Cineclubes foi, com certeza, a segunda ou terceira federação de cineclubes no Brasil a contar com sede. Através do apoio do então Secretário Municipal de Cultura e presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Carlos Frederico Marés de Souza Filho, foi alugada (com valor simbólico) uma sala para os cineclubistas na Galeria Schaffer, em plena Rua XV de Novembro. O local servia de ponto de encontro dos cineclubistas e de exposição permanente de fotografias e cartazes de cinema – a parede era de vidro transparente. A Galeria era importante referência cultural, até ser fechada pelo corrupto governo de Jaime Lerner.

     O coquetel de inauguração foi realizado no dia 12 de junho de 1987 com a presença do então Secretário Municipal de Cultura e presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Carlos Marés; Francisco Alves dos Santos, cineasta e diretor da Cinemateca de Curitiba; o Cônsul Geral da Polônia; o diretor do Museu da Imagem e do Som, Francisco Bettega; Francisco Souto Neto, assessor da diretoria do Banestado; Chádia Regina Al Masri, da Associação Sanaúd; Ozualdo Candeias, cineasta paulista; cineastas paranaenses Werner e Wully Schulmann, Palito e Altenir Silva; Paulão, ator; Cido, Geraldo, Hélio e Miriam da Cinemateca; jornalista Ruy Barrozo; Gil Vicente, representante da Federação de Cineclubes do Rio de Janeiro; Paulo Stocker, da Comissão de Cineclubes de Santa Catarina; Cássio Pirkel do Cineclube de Foz do Iguaçu; José Lanes Marques do Cineclube de Goioerê; Ladir Galli do Cineclube de Medianeira; Paulo Granero do Cineclube do DANC; Anete Kowalski do Cineclube de Cascavel; José Gil do Cineclube de Maringá; Carvalho do Cineclube dos Funcionários da Assembleia Legislativa; Edson Vulcanis do Cineclube Sindicato do Delírio da UFPR; Alberto César, artista plástico e cineclubista de Maqringá; Vádis do Cineclube de Medianeira; Antônio Carlos da Conceição Marques do Cineclube de Goioerê.

     O coquetel corria animado ao som de Carmina Burana de Carl Orff, até que alguns convidados estranharam as taças de vinho com sangue escorrendo. Descobriram que um dos punks que estava servindo as bebidas estava tão drogado que não percebeu um corte na mão ao abrir uma garrafa de  vinho, e assim todos os copos que ele servia vinham com algumas gotas de sangue humano escorrendo pela taça. O improvisado garçom foi substituído e a festa continuou.

     Uma das músicas mais tocadas pelos cineclubistas da época era a canção de Marco Mueller, tocada pela Banda Replicantes, “Saudade da minha garota”:

 

Sábado todo

Eu chorei de mágoas

Minha garota

Foi pra Manágua

Lutar na Revolução.

 

Todo mundo vai embora

Todo mundo tem sua hora

 

Ela me deixou

Me trocou por um sandinista

Especialista em granada

De mão...

 

     A Galeria Schaffer, em plena Rua XV de Novembro, sempre foi um local de valorização cultural da cidade, abrigando entidades culturais de defesa da cidadania. Na administração de Maurício Fruet e Roberto Requião, o espaço era democrático e estava a serviço da comunidade, por esse motivo o então presidente da Fundação Cultural de Curitiba e Secretário Municipal de Cultura, Carlos Frederico Marés de Souza Filho, decidiu atender a reivindicação dos cineclubistas e ceder uma sala para a sede da Federação Paranaense de Cineclubes. O local serviu para manifestações culturais importantes como exposição de artes plásticas, palestras e debates sobre cinema e cineclubismo.

     Alguns anos depois, na administração Jaime Lerner, a Galeria Schaffer foi entregue à iniciativa privada e os movimentos culturais que se abrigavam naquele local foram desalojados. A tradicional Galeria Schaffer, de glorioso passado na vida cultural da cidade, foi transformada em shopping center decadente.

 

FOTO 41: Índice

Índice

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FOTO 42: Sobre o autor

Sobre o autor. Obras do autor.

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FOTO 43:  Contracapa

 

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Livro PIASSON

Prefácio: Francisco Souto Neto

Edição 2008 (Curitiba, PR)

 

 

FOTO 44:  Capa:

Capa. 

 

FOTO 45:  Valdeci Piasson, o artista plástico:

O artista plástico Valdeci Piasson.

 

FOTO 46:  Prefácio

Página 4: Prefácio em Português.

 

FOTO 47: 

Página 5: Prefácio em Português.

 

     Transcorria o ano de 1992 quando recebi um telefonema da jornalista Mary Schaffer, sugerindo-me que procurasse conhecer um novo artista plástico que começava a expor, chamado Piasson, que ela acreditava ser interessante e talentoso. Foi assim, estimulado pela sugestão da minha amiga e colega de jornalismo, que pela primeira vez tomei contato com a obra de Valdeci Piasson, naquele ano em que o jovem concluía seus estudos na EMBAP – Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Visitei a exposição, analisei detidamente os trabalhos expostos e publiquei as minhas impressões na coluna Expressão & Arte, que mantive durante mais de dez anos no Jornal Indústria & Comércio, e também nas revistas Charme e Success.

     Piasson desenvolvia nas telas o mais puro abstracionismo. No entanto, pareceu-me claro que as idéias das composições advinham de referências figurativas, somando-se à sensação de que as pinceladas sugeriam intenso movimento, uma espécie de inquietude que levava o espectador a interessante experiência visual. Era como se a obra quisesse alçar vôo para sair do plano meramente material, e a inquietação desse plano físico da pintura fosse um contraponto às sutilezas do mundo pessoal e espiritual do artista. Estava aí a chave para o início do entendimento do magnetismo que a arte de Piasson parecia exercer sobre as pessoas.

     Essas pinturas passaram a ser mais significativas para mim quando tomei conhecimento de que Piasson criava – e continua criando – a sua própria tinta, tal qual faziam os grandes mestres dos séculos passados. Ele se valia de materiais orgânicos, como carvão, minério, areia, fragmentos de rocha, diferentes tons de terra e pigmentos retirados da própria pedra.

     Além disso, as formas das telas ou dos suportes usados por Piasson fugiam completamente ao convencional. Tal suporte, quando retangular, podia assemelhar-se a imensas réguas alinhadas tanto horizontal quanto verticalmente, formando dípticos ou trípticos harmoniosos e plenos de luminosas cores. Contudo, a inovação maior provinha da adoção de suportes irregulares que, vale enfatizar, faziam parte integrante da obra, ora com bordas curvas, assemelhando-se a leques, ora pontiagudas, ou em muitos outros formatos não convencionais, levando, invariavelmente, à sensação de flutuar. No começo dos anos 90, raros artistas adotavam esses formatos pouco conhecidos que chegavam a surpreender aos mais conservadores e aos avessos à inovação na criação artística.

     Perdi contato com Piasson na metade da década de 90. Só depois vim a saber que o artista mudara-se para Londres com o objetivo de aprofundar-se no estudo de novas técnicas de pintura. E ele estava justamente numa das cidades mais ricas do mundo, dotada de preciosíssimos museus e galerias de arte!

     Durante o tempo da sua experiência britânica, Piasson chegou a expor suas pinturas num espaço cultural de Covent Garden, um dos mais maravilhosos lugares de Londres, com cafés ao ar livre, sofisticadas lojas, artistas de rua e magníficos mercados. Concedeu entrevista à Rádio BBC de Londres e ao Jornal Latin America, também da capital britânica. O mais importante foi que, durante sua experiência londrina, Piasson participou de cursos de aperfeiçoamento da sua arte.

     De volta ao Brasil continuou pintando e, mais que isto, tornou-se professor, ministrando cursos de técnicas e efeitos em pintura decorativa. Recentemente, ao visitar a escola e atelier de Piasson, pude conhecer sua obra atual. Constatei então que o artista plástico persiste fiel ao seu princípio – o abstracionismo – que prossegue por ele praticado sobre suportes não convencionais. Ocasionalmente ele faz algumas experiências figurativas e demonstra domínio da anatomia humana, mas é a abstração que se mantém como o substrato da sua obra.

     O que mais se sobressai nesta última fase é a variedade de tons que passam até mesmo por prateados e brancos quase evanescentes, e também, o fato de Piasson valer-se de técnicas mistas com experimentos de resinas e composições diversas com fragmentos de madeira, rocha, metal, materiais marinhos e outros elementos orgânicos, cujos resultados têm sido muito interessantes, porque dotam a obra, às vezes, de um caráter de intensa dramaticidade.

     No período – final dos anos 90 – em que Piasson residiu no litoral de Santa Catarina, passou a incorporar ainda mais a sua obra com materiais orgânicos que, ao longo do tempo, “quase sem perceber, quase distraidamente” como diz o próprio artista, foi colecionando: conchas, pedaços de madeira desprendidos de embarcações e polidos pelo mar, pedras... Aprofundando-se em tais experimentos, ele obteve novos e surpreendentes resultados.

     As últimas telas do artista revelam maturidade no trato do abstracionismo, tanto na composição quanto em algumas inovações, como, por exemplo, no emprego de tintas metálicas.

     Ainda há pouco, rememorando as telas feitas no início da sua carreira, eu mencionei que elas pareciam querer alçar vôo. Surpreendentemente, seus trabalhos atuais estão agora, em grande parte, suspensos no espaço. É que Piasson os está realizando de tal maneira que eles podem ficar pendurados do teto, como móbiles, literalmente flutuando. Penduradas do teto, mas à distância de um palmo da parede, essas obras à primeira vista parecem afixadas, mas qualquer leve brisa que atravesse o ambiente fazendo-as oscilar apenas milímetros, cria uma sensação espacial de inquietante fascínio e sugere a ligação da matéria com o espírito.

     Um dos quadros, por exemplo, chama-se “No limite da dimensão”. Outros, que evocam vôos e flutuações, integram a “Fase Alada” do artista. Somando-se isto às formas ousadas dos suportes, Piasson alcança plenamente os seus objetivos.

     Esses mesmos trabalhos que flutuam, foram projetados para ser instalados também no chão, proporcionando assim uma releitura de infinitas possibilidades.

     Outro detalhe muito interessante da fase atual é o lado ecológico da criação do artista, que denuncia a degradação da Natureza, preocupação esta que é um reflexo da sua chácara agro-ecológica na área metropolitana de Curitiba. Uma das madeiras afixadas numa tela está parcialmente carbonizada, e isto denuncia as queimadas ilegais das matas. Com o carvão do próprio fragmento carbonizado, ele desenhou sobre a tela branca, criando um trabalho de rara beleza.

     Atualmente a pintura de Valdeci Piasson prossegue, dentro do seu inequívoco intimismo, representando um elo entre a matéria e o espírito. Ele aponta, como desde o princípio e agora com maior intensidade, para uma das muitas trilhas que assomam no horizonte destes novos tempos, que é aquela que poderá se tornar uma das mais marcantes e profícuas da sua geração.

Francisco Souto Neto

FRANCISCO SOUTO NETO, advogado, jornalista e crítico de arte radicado em Curitiba, foi diretor do Instituto Saint’Hilaire da Defesa dos Sítios Históricos, conselheiro do Museu de Arte do Paraná, conselheiro do Sistema Paranaense de Museus (gestões René Dotti e Gilda Poli), diretor da Associação dos Amigos dos Museus de Curitiba: Museu de Arte Contemporânea, Museu Paranaense e Museu da Imagem e do Som, conselheiro do Programa de Cultura da Telepar, e Assessor da Diretoria, da Presidência e para Assuntos de Cultura do Banestado. Em 2006 e 2007, diretor segundo-secretário da API – Associação Paranaense de Imprensa (gestão Nilton Romanowski).

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FOTO 48: 

Francisco Souto Neto, autor do prefácio para o livro Piasson.

 

FOTO 49: 

Página 6: Prefácio em Inglês.


FOTO 50: 

Página 7: Prefácio em Inglês.

FOTO 51: 

Página 8: Prefácio em Espanhol.

FOTO 52:

Página 9: Prefácio em Espanhol.

 

Algumas obras de Piasson:

 

FOTO 53: 

Página 27

FOTO 54:

Página 33

FOTO 55: 

Página 49

FOTO 56: 

Página 53

FOTO 57: 

Página 61

FOTO 58: 

Página 87

FOTO 59: 

Valdeci Piasson trabalhando em sua obra. 

FOTO 60:  Ficha técnica do livro:

Página 111: Ficha técnica do livro Piasson.



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ALGUMAS FOTOGRAFIAS DE 2008:

 

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FOTO 61 – Na foto acima, o casal Esaú Pinheiro e Maria de Lourdes Moreira Pinheiro residentes em Itú, SP, , sendo ela irmã de minha cunhada Aparecida. Meu irmão Olímpio faleceu no ano anterior em Nova York e sua viúva (minha cunhada Aparecida) voltou para o Brasil e em Itú passou a residir com sua irmã e família, com os quais almocei e passei a tarde naquela cidade do interior paulista.

FOTO 62 – Eu e minha cunhada Aparecida em Itú.

FOTO 63 – Lourdes, Esaú e Aparecida.

FOTO 64 – À esquerda, Márcia (filha de Lourdes e Esaú), Maria de Lourdes e Maria Aparecida.

FOTO 65 – Na mesma tarde, fui visitar minha prima Maria Helena que reside na mesma cidade com sua mãe que é minha tia Jacy.

FOTO 66 – Minha querida tia Jacy, irmã de meu pai. Em seguida, retornei a Curitiba.

FOTO 67 – Recebo a visita de Edson Wunderlich e Jeanine Egg.

FOTO 68 – Recebo a visita de Edson Wunderlich e Jeanine Egg.

FOTO 69 – O Palacete Leão é um casarão histórico localizado bem perto de onde eu residia em 2008.

FOTO 70 – Detalhe de sacada do Palacete Leão.

FOTO 71 – Eu em uma das sacadas do Palacete Leão que, poucos anos depois, passaria a ser a sede da Academia de Letras José de Alencar – ALJA, na qual eu ocupo a cadeira patronímica nº 26 de Emiliano Perneta.

FOTO 72 – Detalhe do teto do hall de entrada do Palacete Leão.

FOTO 73 – Recebo a visita de minha colega e amiga Mercedes Pilati.

FOTO 74 – Mercedes segurando o Paco Ramirez.

FOTO 75 – Em seguida Mercedes Pilati toma o elevador e sobe ao andar onde reside meu amigo Rubens Faria Gonçalves, e tira uma fotografia segurando o Tibério Bouledogue.

FOTO 76 – Mercedes brincando com Tibério, que está esperando para pegar a bexiga azul.

FOTO 80 – Rubens leva o Tibério ao meu apartamento para ele brincar com o Paco.

FOTO 81 – Tibério e Paco.

FOTO 82 – Tibério observando as travessuras do Paco.

FOTO 83 – Mas o Paco parece estar com vontade de ficar deitado no sofá.

FOTO 84 – Entretanto ambos animam-se quando os chamamos para irem passear na rua.

FOTO 85 – Decirê, Ivone e Esther visitando o Rubens.

FOTO 86 – Esther, Ivone e Decirê no apartamento do Rubens.

FOTO 91 – Recebo as visitas de Rita, Rubens, Regina Deconti e Carlos Catito Grzybowski.

FOTO 92 – Rubens fotografa-me com Rita, Carlos e Regina.

FOTO 93 – Paco pedindo para brincar.

FOTO 94 – Rubens brinca com Paco Ramirez, observado por todos.


FOTO 96 – Passeio com Rubens ao Jardim Botânico para vermos as cerejeiras em flor.

FOTO 97 – Passeio com Rubens ao Jardim Botânico para vermos as cerejeiras em flor.
FOTO 98 – Passeio com Rubens ao Jardim Botânico para vermos as cerejeiras em flor.

FOTO 99 – Passeio com Rubens ao Jardim Botânico para vermos as cerejeiras em flor.

FOTO 100 – Passeio com Rubens ao Jardim Botânico.

FOTO 101 – Passeio com Rubens ao Jardim Botânico.

FOTO 102 – Passeio com Rubens ao Jardim Botânico.

FOTO 103 – Fotografados por Rubens, eu e Paco no fulgurante outono de 2008 nos jardins do Centro Cívico.

FOTO 104 – Fotografados por Rubens, eu e Paco no fulgurante outono de 2008 nos jardins do Centro Cívico.

FOTO 105 – Fotografados por Rubens, eu e Paco no fulgurante outono de 2008 nos jardins do Centro Cívico.

FOTO 106 – Fotografados por Rubens, eu e Paco no fulgurante outono de 2008 nos jardins do Centro Cívico.

FOTO 107 – Eu com o livro “A História do Movimento Cineclubista Paranaense” de José Gil de Almeida, que eu prefaciei.

 

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FIM DO ANO 2008

 

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2 de setembro de 2023:

80 ANOS ESTA NOITE

 

CONTINUA NA

PARTE  32

O ano 2009

 

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Francisco Souto Neto em 2023 aos 80 anos.

 

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