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2 de setembro de 2023:
80 ANOS ESTA NOITE
PARTE 34
Recordando
o ano 2011
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O ANO 2011
O
Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, sob a presidência de minha
prima Cybelle de Ipanema e com sua filha Rogéria de Ipanema na diretoria,
publicou um artigo na Revista do IHGRJ nº 18, ano 18, edição de 2011, escrito
em coautoria por mim e minha prima Lúcia Helena Souto Martini, denominado “A
CHÁCARA DO SOUTO E SEU JARDIM ZOOLÓGICO”, que foi uma espécie de avant-première
de um trecho da biografia que estávamos então escrevendo de nosso trisavô, o
Visconde de Souto.
Cybelle convidou a mim e Lúcia Helena para, na sede do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - IHGB, proferirmos uma palestra sobre tudo o que até ali tínhamos pesquisado a respeito de nosso trisavô. Viajamos juntos ao Rio e nossa palestra foi um sucesso.
O
IHGRJ põe suas edições na internet, mas resolvi colocar neste blog o nosso
artigo para facilitar aos meus leitores que se interessarem por conhecer um
pouco da biografia do meu trisavô, uma das personalidades mais importantes do
Segundo Reinado no Rio de Janeiro. Ver abaixo, a partir da FOTO 28.
O
Jornal Centro Cívico foi comprado por Maurício Grabowski. Além das crônicas que
publiquei em minha coluna nesse jornal, divulguei também um artigo sobre um dos
locais mais lúgubres da Roma Antiga, que me impressionou profundamente quando
lá estive, o Cárcere Mamertino, que será encontrado a partir da FOTO 11.
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RECORTES
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FOTO 1 – Crônicas de FRANCISCO SOUTO
NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 9 – Edição 80 – Fevereiro 2011
Na Assembleia Legislativa do Paraná, uma luz no fim do túnel
Francisco
Souto Neto
No ano passado indignamo-nos
com os escândalos na Assembleia Legislativa do Paraná. A corrupção campeava em
níveis assustadores. Contrataram-se centenas de “funcionários fantasmas”,
descobriu-se gigantesco desvio de dinheiro público, e atos improbos do
Legislativo ocultavam-se em diários secretos, avulsos e não numerados, que
acabaram caindo no conhecimento geral. As irregularidades foram execradas na
imprensa escrita, falada e televisionada do país, e a nossa Assembleia
Legislativa apontada como a mais corrupta do Brasil. Vexame e vergonha para o
Estado do Paraná!
Os últimos meses de 2010
correram em turbilhão, e o ano encerrou a enlameada legislatura com os ladrões
do povo em liberdade. Acompanhamos o resultado do pleito nos níveis estadual e
federal, surpreendendo-nos com a eleição de alguns paspalhos e, pior, a
reeleição de vários corruptos. Vimos, decepcionados, que a “Lei da Ficha Limpa”
conseguiu ser burlada em Brasília, através de artimanhas e conchavos políticos.
Quanta decepção neste país de leis frouxas!
Mas de repente a cena muda no
Paraná! No mês corrente, animamo-nos com notícias que são os primeiros passos
rumo à ética e à moralização da Assembleia Legislativa: seu novo presidente,
deputado estadual Valdir Rossoni, do PSDB, declarou que irá determinar o
desconto dos vencimentos dos deputados que, sem razão que o justifique,
faltarem às sessões plenárias.
A essa notícia auspiciosa,
soma-se outra, que vem estimulando aplausos: o presidente Rossoni está
empenhado na remoção das grades de metal que cercam inteiramente a Praça Nossa
Senhora da Salete, para liberar aquele espaço à população. Essas horríveis
grades foram impostas há mais de dez anos por decisão do falecido deputado
Aníbal Khury. Algumas vezes eu e outros colegas da imprensa nos posicionamos
contrários à referida cerca, ao longo da qual, para piorar, plantaram-se as
agressivas “coroas-de-cristo”, que com seus espinhos ameaçadores, vazando para
as calçadas estreitas, chegaram a ferir uma deficiente visual na perna,
denúncia que eu mesmo levei a público na crônica “Na Assembleia Legislativa,
uma cerca que machuca”, publicada neste mesmo jornal em agosto de 2007.
Os jardins do Centro Cívico
foram projetados para que ficassem abertos à comunidade, e sem as barreiras que
ora os restringem e enfeiam. A colocação das grades fez parecer que os
parlamentares temiam a aproximação do público. Pelo menos até à legislatura passada,
grande parte daqueles “representantes do povo” tinham razões de sobejo para
temer demonstrações populares de repúdio. Até mesmo eu, apolítico que sou,
passei a militante da minha própria indignação.
Agora talvez estejamos vivendo
o começo de um novo tempo de moralização e transparência. A fiscalização da
assiduidade dos deputados às sessões plenárias e a retirada das grades do
Centro Cívico podem ser recebidas como sinais neste sentido. E vão duas
sugestões. A primeira, para após a retirada das cercas, que se ampliem as
calçadas ao lado e atrás do prédio da Assembleia, em uns dois metros, porque
estas são demasiado estreitas. A segunda, para quando um feriado cair na
terça-feira ou na quinta-feira, que sejam todos incitados a trabalhar na
segunda-feira anterior e na sexta-feira posterior aos feriados, começando pelos
próprios parlamentares e suas chefias.
Exigindo rigor e ética, o
presidente Valdir Rossoni verá sua boa estrela impulsioná-lo com ampliado
brilhantismo através do cenário político do Paraná e Brasil.
(Francisco Souto Neto –
Fevereiro 2011)
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FOTO 2 – Crônicas de FRANCISCO SOUTO
NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 9 – Edição 81 – Março e Abril 2011
A Prefeitura de Curitiba construirá grandes estacionamentos
subterrâneos
Francisco
Souto Neto
Evidentemente, a notícia do
título é ficção deste cronista. Que pena! Mas traduz, com certeza, aquilo
que os curitibanos gostariam que fosse realidade na capital do Paraná.
Nos últimos cinco anos
verificou-se um espantoso aumento de veículos circulando pela cidade. Ruas
antes pacatas estão hoje abarrotadas de carros estacionados. Congestionamentos
são frequentes onde, até há pouco tempo, os motoristas podiam dirigir com
tranquilidade. O motivo de tudo isso é óbvio: as ruas continuam sempre as
mesmas, enquanto anualmente são nelas despejadas dezenas de milhares de novos
automóveis. Mudam-se as direções do trânsito em várias ruas, outras tornam-se
vias de mão única, mas essas medidas são paliativas.
Os serviços chamados de “valet”
vão aparecendo em pontos críticos, para facilitar o problema da falta de locais
para estacionar. Em frente ao novo anexo do Palácio da Justiça, por exemplo, há
um desses postos. Ali o motorista entrega o seu carro, que será levado por um
funcionário daquele serviço a algum estacionamento distante centenas de metros,
onde ficará até que o proprietário retorne para reavê-lo.
Os administradores da cidade de
Curitiba, uma das mais importantes metrópoles do Brasil, parecem pensar sempre
pequeno. Em países desenvolvidos, a administração pública constroi enormes
estacionamentos, em vários andares, abaixo das praças. Estas, arborizadas ao
nível das ruas, ocultam esses espaços nos quais os carros, aos milhares, ficam
estacionados sem entupir, nem poluir visualmente as margens das calçadas. [O
que seria de Roma, não fossem os imensos estacionamentos subterrâneos que
abrigam os carros e ônibus daqueles que vão visitar o Vaticano?]
Quando o Palácio Iguaçu, ainda
no Governo Requião, foi desocupado para uma extensa e necessária reforma,
sugeri que a sua frente fosse transformada num grande jardim, e o
estacionamento de veículos transferido para uma garagem subterrânea. Não seria
maravilhoso se o palácio do governo tivesse um jardim verde, com flores
coloridas, em vez da habitual enorme quantidade de carros estacionados ao sol,
lado a lado, enfeiando o lugar? Mas os responsáveis pelas reformas chegaram a
soluções obsoletas e continuam cristalizados em seu pensar antiquado e pequeno.
Também o Palácio da Justiça,
que mantém aquelas desagradáveis grades que privaram o transeunte de andar pelo
jardim comunitário, poderia não só retirar as grades – assim devolvendo os
espaços verdes ao pedestre – como também tornar subterrâneo o estacionamento,
deste modo ampliando os jardins na fachada do prédio.
Nesta mesma linha de
pensamento, a Prefeitura Municipal deveria ter a coragem de iniciar os estudos
para criar estacionamentos sob as praças, a começar pelos jardins do Centro
Cívico. O investimento seria oneroso, sem dúvida. Porém no futuro os lucros
dali provenientes poderiam a médio prazo recuperar o capital investido. O mais
importante é que os motoristas não teriam que dar tantas voltas na busca por um
lugar onde estacionar, e infernizar ainda mais o trânsito da capital. As ruas
ficariam livres desses choferes desesperados que deixam seus veículos em
lugares indevidos e que, como consequência, são guinchados e multados.
Estacionamentos sob praças é
uma medida civilizada, habitual nas boas cidades do planeta, mas muito
ignoradas neste sonolento Brasil. Porém, se todos iniciarmos uma onda de
pressões sobre a administração pública, com apoio da grande imprensa e dos
cidadãos influentes da comunidade, talvez possamos convencer os homens da
Prefeitura, da Câmara Municipal e da Assembleia Legislativa a intervir enquanto
é tempo.
(Francisco Souto Neto – Março
2011)
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FOTO 3 – Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o
Jornal Centro Cívico
Jornal Centro Cívico – Ano 9 – Edição 82 – Maio 2011
Francisco Souto Neto
Um
bom e raro exemplo vem de Brasília, do deputado federal José Antônio Reguffe
(PDT-DF) que, proporcionalmente, foi o mais bem votado do Brasil. Em caráter
irrevogável, ele abriu mão dos salários extras que recebem todos os
parlamentares, ou seja, 14º e 15º salários, reduziu o número de assessores a
que teria direito, de vinte e cinco para apenas nove, e diminuiu sua cota de
gabinete em mais de 80%. O valor mensal a que teria direito, de R$23.030,00 baixou
para R$4.600,00. Recusou o auxílio de verbas indenizatórias, auxílio-moradia e
cota de passagens aéreas. Sozinho, nos seus quatro anos de mandato, terá
economizado aos cofres públicos dezenas de milhões de reais, segundo dados
divulgados na imprensa e na internet. Um belo exemplo de lisura, honestidade e
ética.
Estranhamente,
esse parlamentar está sendo visto com desconfiança por alguns setores, estes
certamente tão habituados às falcatruas de políticos que, ao se depararem com
as ações limpas de um parlamentar, agem como se este fosse “suspeito”, como se
normal fosse o procedimento delituoso dos ladrões do dinheiro público. Ações
nobres de políticos devem ser enaltecidas, e execradas as que protegem
políticos sujos.
Em
contraponto ao bom exemplo desse parlamentar de Brasília, políticos paranaenses
fizeram o contrário. No Paraná, Pará, Acre, Amazonas, Sergipe, Rio Grande do
Sul, Piauí e Paraíba, os ex-governadores e suas viúvas recebem pensões
vitalícias, uma verdadeira aberração jurídica, para não dizer imoralidade.
Enquanto um cidadão comum trabalha até à velhice, pagando alto para fazer jus à
sua parca aposentadoria, aqueles que estiveram em cargo de governador, não
importa por quantos dias nem qual seja a sua idade, recebem pensões milionárias
pelo resto da vida. Felizmente o Conselho Federal da OAB fez chegar ao Supremo
Tribunal Federal mais uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4575)
questionando tais pagamentos. O Governador Beto Richa (PSDB-PR), que considera
ilegais essas pensões, decretou o fim das mesmas. O ex-governador Roberto
Requião (PMDB-PR) – pasmem! – que tem um excelente salário como senador da
República, conseguiu liminar e voltou a receber a pensão de ex-governador, que
soma, só ela, R$24.117,62 mensais. Outros ex-governadores, também inconformados
em se desgrudar das tetas do governo, estão fazendo o mesmo. Li nos jornais que
até Pedro Simon (PMDB-RS) e Álvaro Dias (PSDB-PR) estão lutando por suas
pensões. Que decepção!
A
Assembleia Legislativa do Paraná poderia ter aprovado a proposta que daria fim
às próximas aposentadorias vitalícias dos “nossos” ex-governadores e suas
futuras viúvas. Seriam necessários trinta e seis parlamentares votando pela
extinção das tais pensões, mas apenas vinte e quatro deles votaram conforme as
nossas expectativas. Infelizmente doze votaram a favor da permanência das
abjetas aposentadorias e treze se abstiveram. Abster-se é “ficar em cima do
muro”, apático e sem opinião. Ou seja, esses vinte e cinco deputados acham
normal aquilo que o restante do povo considera imoral.
Entre
no link e veja quem votou a favor das mordomias para os ex-governadores, e quem
votou contra:
Um
amigo me disse: “Se souber de algum grupo que esteja se organizando para
protestar lá na porta da Assembleia, avise-me pois quero muito estar junto,
ajudando a fazer o merecido barulho”. Não sei de algum grupo. Se alguém souber,
por favor avise-me, que também quero fazer parte. Estou deixando de ser
apolítico!
(Francisco Souto Neto – Maio 2011)
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FOTO 4 – Crônicas de FRANCISCO SOUTO
NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 9 – Edição 83 – Junho 2011
A retirada das grades dos jardins do Centro Cívico
Francisco
Souto Neto
Até meados dos anos 90 não
existiam grades nas praças que compõem o Centro Cívico de Curitiba, nem ao
redor dos seus edifícios públicos. O “enclausuramento” desses prédios começou
pela Assembleia Legislativa, por triste deliberação do seu presidente àquela
época, o falecido deputado Aníbal Khury. O infeliz exemplo alastrou-se
rapidamente, seguido pelo Palácio Iguaçu, pelo prédio do Tribunal do Júri e
pelo Palácio da Justiça. Como não bastasse, também os espaços da Praça Nossa
Senhora da Salete e da Praça Rio Iguaçu foram isolados por cercas de metal,
desta maneira opondo obstáculos às pessoas, enfeiando a cidade e poluindo
visualmente a paisagem.
Agora toda a área está voltando
a ser uma esplanada, tal como previa o projeto original para o Centro Cívico. O
atual presidente da Assembleia Legislativa, o prefeito e também o governador do
Estado manifestaram-se favoráveis à retirada das grades, e assim o processo
teve início. Apesar disso, a Assembleia, embora tenha liberado o espaço da
praça, ainda mantém seus edifícios isolados pelas cercas que não existiam antes
de Aníbal Khury. Nas palavras do governador Beto Richa, “a praça é um local do
povo, destinado às manifestações populares. Não é possível que esse espaço
público fique cercado. Estamos fazendo um governo pautado pelo diálogo, e a
retirada das grades também simboliza o reconhecimento ao direito que todos têm
de voz e liberdade”. O Palácio da Justiça também conserva erguidas as grades,
contrastando com os espaços abertos ao seu redor. Comenta-se, porém, que já há
correntes intelectuais, dentro do próprio palácio, influindo para que aquele
pedaço da praça seja igualmente liberado.
Este é o momento adequado para
que a Prefeitura Municipal ponha em prática alguns dos já antigos projetos que
previam a revitalização dos jardins da área, ou apresente novas e bem-vindas
soluções. Árvores foram ali plantadas recentemente, mas os jardins propriamente
ditos carecem de uma grande renovação. Os espaços precisam ser redesenhados e
faltam canteiros de flores.
Num determinado lugar sob a
sombra das árvores, ao lado do Tribunal do Júri e da lateral da Prefeitura, há
alguns antigos instrumentos para que as pessoas se exercitem, que foram ali
colocados há uns vinte anos, ou mais. Poderiam ser agora substituídos pelos
modernos aparelhos que compõem as “academias ao ar livre para a terceira idade”
que têm sido instaladas em diversos bairros e parques. Seriam muito
estimulantes e benéficas para os idosos que residem nas imediações da
Prefeitura e que teriam fácil acesso ao local, graças à inexistência, agora,
das grades. Cabem mais sugestões: aquela enorme e cara estrutura metálica
colocada quase em frente ao Palácio das Araucárias, entre este e a ciclovia
paralela ao Rio Belém, com o propósito de servir de estacionamento para
bicicletas, está abandonada e deteriora-se. Vale recuperá-la e dar-lhe uma
finalidade útil e imediata.
Oxalá a revitalização dos
jardins do Centro Cívico prospere com bem-vindas novidades.
(Francisco Souto Neto – Junho
2011)
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FOTO 5 – Crônicas de FRANCISCO SOUTO
NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 9 – Edição 83 – Junho 2011
Redes sociais são usadas para atrapalhar as blitzes da polícia
Francisco
Souto Neto
Costumo assistir ao telejornal
“Paraná TV 1ª edição”, da RPC – Rede Paranaense de Televisão. Seus
apresentadores às vezes alternam-se, mas via de regra são os excelentes Mira
Graçano e Erivelton (ou Herivelto) Oliveira que o comandam no horário do
almoço.
Esses jornalistas e seus
eventuais substitutos, somados à equipe do programa, realizam um trabalho
admirável. Onde a administração pública apresente falhas, ou quaisquer que
sejam os problemas que signifiquem desconforto ou perigo à comunidade, o
“Paraná TV” está presente para denunciar e exigir providências, desta maneira
pressionando os responsáveis para que tomem as medidas necessárias. Além disso,
o telejornal ouve as partes envolvidas e acompanha o saneamento dos problemas
apontados, cobrando publicamente os casos de omissão ou pendentes. Assim, o
Paraná TV presta um serviço comunitário de incomensurável importância.
Recentemente, em 19 de setembro
último, Erivelton e Mira noticiaram que naquele dia quase seiscentos policiais
militares e guardas municipais realizaram trinta blitzes em pontos estratégicos
desta capital. Vale observar que o propósito da polícia ao promover blitzes, é
o de encontrar casos de embriaguês ao volante, verificar se os veículos estão
em condições de trafegar em segurança, e se os documentos dos motoristas estão
válidos e em ordem. Noutras ocasiões, tentam identificar ladrões e criminosos.
Portanto, blitzes são sempre muito bem-vindas a todos, exceto, obviamente, aos
infratores e meliantes.
Mas naquele dia, logo que as
blitzes começaram a ser feitas, muitos indivíduos entraram nas redes sociais e,
naqueles espaços que são abertos à visualização de qualquer pessoa, avisaram a
parentes e amigos que a polícia estava instalada em determinadas ruas, citando
o local exato dos eventos, e dizendo-lhes que ficassem atentos e procurassem
caminhos alternativos.
Essas notícias vazadas pelas
redes sociais e multiplicadas em impressionante velocidade, aparentemente
alertam parentes e amigos, mas também infratores e criminosos, justo aqueles
que provocam desastres no trânsito, e põem em risco as vidas de inocentes.
Porém, sob os aspectos ético e moral, pretender safar parentes ou amigos de uma
justa punição é ser conivente na infração e no crime. A jornalista Mira colocou
muito bem a questão: “Se as pessoas estão querendo mais segurança e mais
policiais nas ruas, por que então tentam furar o bloqueio e alertar os
infratores?”.
Referidos jornalistas
propuseram uma enquête ao “Portal de voz RPCTV” com o seguinte tema: “É correto
divulgar pela internet os locais onde a polícia está fazendo blitzes?”. O
resultado dos telefonemas é surpreendente e decepcionante: 75% das pessoas não
acham correta essa divulgação dos locais através da internet, mas 25% acham que
sim, que é correto avisar que a polícia está agindo em determinados lugares.
Esses 25% representam uma percentagem muito alta, de uma entre quatro pessoas,
que temem a fiscalização. Se temem é porque, certamente, devem carregar algum
tipo de culpa. Afinal, quem não deve, não teme. Eu, que respeito os limites de
velocidade no trânsito e que obedeço a lei, sou favorável à existência dos
radares e da aplicação de multa aos infratores. Do mesmo modo, aplaudo as
blitzes, que deveriam ser apoiadas por todas as pessoas de bem.
(Francisco Souto Neto – Outubro 2011)
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FOTO 6 – Crônicas de FRANCISCO SOUTO
NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 9 – Edição 84 – Junho/Julho 2011
As novas calçadas de Curitiba
Francisco
Souto Neto
Há muitos anos, andando pelo
centro da cidade, pisei num pequeno buraco no petit-paver e
levei um tombo. No momento senti enorme dor no pé, mas me levantei e, embora
mancando, cheguei ao meu carro num estacionamento a poucos metros. Comecei a
dirigir rumo à minha residência. À medida em que avançava, a dor no pé direito
foi aumentando enormemente. Quando já estava perto de casa descobri, em pânico,
que qualquer tentativa de apertar os pedais do acelerador e do freio provocava
uma dor absolutamente insuportável. A solução foi recorrer ao pé esquerdo não
apenas para a embreagem, como também para o acelerador. E passei a usar o freio
de mão nos momentos em que devia parar nos semáforos, porque o pé não suportava
o contato com o pedal. Cada vez que puxava esse freio manual, o veículo
produzia um alto ruído. Dirigindo com o máximo cuidado possível, cheguei à
minha garagem em segurança. Desci do carro, porém não conseguia me mover
pulando em somente um pé. A solução foi entrar engatinhando no hall do
edifício, para surpresa e horror da zeladora. Claro, eu estava com o pé
fraturado. Detalhe estranho e curioso: quando entrei em casa, olhei ao espelho
que cobre uma parede inteira da sala. São enormes lâminas de cristal de um
metro de largura cada uma delas, pela altura total da parede. Uma dessas
lâminas estava partida ao meio, quase horizontalmente, mas mantinha-se no lugar
graças aos parafusos que a sustentavam… Espelho e pé quebrados ao mesmo tempo.
Desde então, declarei guerra às
calçadas de Curitiba. Fiz várias publicações sobre o assunto. Irregulares e
cheias de buracos, transformam-se em rampas em frente à entrada de algumas
garagens, quando na verdade, e por força de lei, o desnível teria que ser
dentro da propriedade e não na calçada. Mas gerações e gerações de prefeitos se
sucederam e a situação nunca foi corrigida. Estranhamente, é muito raro que a
imprensa se refira a tais anomalias, exceção feita à revista Paraná em Páginas
que, durante muitos anos, denunciou o problema e pediu providências, mas ao que
parece a prefeitura nunca deu muita importância a isso.
Recentemente notei que as
pedras mal buriladas e o petit-paver esburacado ou ondulado
dos passeios curitibanos estão sendo substituídos por umas placas de concreto
chamadas paver. Não se trata do petit-paver (pronuncia-se
“petipavê) francês – cuja técnica é de origem portuguesa –, e sim do “paver”
(com pronúncia em inglês, “pêiver”), que resulta numa área plana, civilizada,
sobre a qual está sendo possível caminhar sem riscos. Mas há um motivo: as
calçadas de Curitiba terão que ser transitáveis por causa das condições
exigidas para que a cidade possa sediar a Copa do Mundo. Até que enfim as
autoridades viram-se obrigadas e tornar decentes esses passeios; contudo, é uma
vergonha que os mesmos estejam sendo arrumados apenas para cumprir a exigência da
Copa do Mundo, quando deveriam ter sido transitáveis desde sempre. Seja como
for, pelo menos teremos agora calçamento correto, e até com ajardinamentos. A
novidade já está chegando ao Centro Cívico. Antes tarde do que nunca!
(Francisco Souto Neto – Julho
2011)
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FOTO 7 – Crônicas de FRANCISCO SOUTO
NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 9 – Edição 85 – Agosto 2011
Barulho excessivo no Centro Cívico
Francisco
Souto Neto
Correu um abaixo-assinado entre
os moradores e comerciantes do Centro Cívico, pedindo às autoridades
providências quanto ao ruído excessivo nos finais de semana, provocado por atos
públicos diversos.
Há duas questões a considerar:
a realização dos eventos e a questão do ruído. Em verdade, desde que a História
nos tem legado seus registros, é o centro administrativo das cidades que acolhe
as manifestações cívicas oficiais, religiosas e culturais, isto é, populares.
Já na Roma dos Césares, esses atos ocorriam no Foro Romano, que era o coração
da vida política, marcado pelo Arco de Sétimo Severo, localizado entre a Cúria,
que abrigava as sessões do Senado, e a Rostra, a tribuna dos oradores.
Na penúltima reforma da área em
frente ao Palácio Iguaçu, talvez há uns quinze anos, construiu-se uma tribuna,
infelizmente desprovida de beleza, onde foram colocados três altos mastros com
bandeiras, frente à qual há um espelho d’água, ou talvez seja uma bem-vinda
fonte, embora com acabamento e detalhes um tanto grosseiros. Seja como for,
referida tribuna evidencia os propósitos para os quais aquele local foi
concebido: as manifestações cívicas.
O problema em questão reside
inteiramente no abuso do som, e não nas manifestações populares propriamente
ditas. Principalmente durante os atos públicos de religiões, o som em altura
excessiva se inicia com os testes na noite anterior. No dia do evento, como se
quisessem ser ouvidos pela cidade inteira, os religiosos fazem uma
impressionante gritaria através dos seus microfones. Ouvem-se gritos misturados
aos cânticos e orações.
O último evento ali ocorrido,
realizado pela própria prefeitura, foi uma maratona, algo obviamente elogiável
e que merece todo o apoio, até mesmo por tratar-se de um estímulo ao exercício
físico e, por extensão, um assunto de saúde pública. Entretanto, o som
altíssimo começou a ser ouvido às seis horas da manhã. Quem reside a um
quilômetro, ou mais, da Praça Nossa Senhora da Salete, acordou-se assustado e
compreensivelmente irritado. Pessoas que passem a semana trabalhando, desejam
ver respeitado o seu direito de descanso aos domingos.
Não conheço o teor do
abaixo-assinado, do qual tomei conhecimento apenas através de uma reportagem
muito interessante realizada pela TV Iguaçu. Foi entrevistado um casal que
reside nas proximidades do Shopping Center Mueller, de cuja janela avistam-se
os jardins do Centro Cívico e a fachada do palácio do governo. Apesar da
distância, o som dos alto-falantes alcançavam o apartamento do casal a ponto de
incomodar. Fico imaginando que as pessoas que participam de tais eventos, ali bem
próximas aos aparelhos de som, possam até mesmo sofrer danos em seus aparelhos
auditivos.
Creio que tudo se resolverá
desde que a prefeitura estabeleça um limite para o volume do som, e que este
seja ligado somente entre as nove e as vinte e duas horas. Assim, as mais
diversas manifestações serão bem-vindas e poderão se desenvolver livremente: a
colorida passeata gay, os esforçados maratonistas, o cântico e as preces dos
religiosos, e outras.
(Francisco Souto Neto –
Agosto 2011)
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FOTO 8 – Crônicas de FRANCISCO SOUTO
NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 9 – Edição 86 – Agosto/Setembro 2011
Lula e Dilma face à corrupção
Francisco
Souto Neto
Sem interesse direto em
política e, portanto, isento de paixões político-partidárias, posso observar
imparcial e objetivamente os embates que estão ocorrendo em Brasília. Além
disso, sou cauteloso ao ler aquilo que é divulgado pela imprensa. Leio duas
revistas semanais: a Veja, que segue uma linha de nítida oposição ao governo, e
a Istoé, simpatizante da situação. Jornais também leio procurando observar as
opiniões dos dois lados de uma mesma questão. Este é um exercício intelectual
que favorece ao discernimento e à capacidade de identificar as mensagens
subliminares e tendenciosas de muitos dos veículos de comunicação. Parece-me
salutar que tenhamos o trânsito do pensamento para todos os lados, aberto a
diversas possibilidades.
Durante o governo Lula, um fato
que sempre me irritou profundamente foi a ingerência do então presidente nas
questões que envolviam a corrupção, com toda a sua equipe mobilizada em varrer
os escândalos para debaixo do tapete. Quanto mais alguns políticos eram
acusados de corruptos e antiéticos, mais o presidente os defendia e os
“blindava” – para usar uma palavra então em voga. Numa conversa com amigos
simpatizantes do PT, que sempre considerei éticos, me ocorreu criticar os
corruptos, e deles ouvi a justificativa: “Mas a corrupção já existia desde os
tempos do Fernando Henrique, só que não era tão comentada”, como se isso fosse
natural e aceito por todos. Na minha visão, não é porque os antecessores foram
corruptos, que os sucessores terão que seguir a mesma trilha da sordidez.
Quando começou o governo Dilma
Rousseff, fiquei muito preocupado com um tropeção inicial dado pela presidenta.
Foi amplamente noticiado pela imprensa nacional que o deputado e então futuro
ministro do Turismo indicado por Sarney, Pedro Novais, com 80 anos, tinha
pedido à Câmara dos Deputados o ressarcimento por despesas R$2.156,00 que teve
no Motel Caribe, a 20 quilômetros de São Luís (MA). Essa notícia é datada de 22
de dezembro de 2010, de O Estado de São Paulo. Eu esperava que Dilma Rousseff
substituísse o nome do candidato a ministro, mas isto não aconteceu, e ela lhe
deu posse, o que me decepcionou.
Entretanto, tudo o que vem
ocorrendo em Brasília nos últimos meses, demonstra claramente que a presidenta
adotou uma posição diametralmente oposta à corrupção, decidida a combatê-la e
refutá-la. Já presenciamos a queda de quatro ministros, e a prisão de seus
numerosos auxiliares diretos, envolvidos com atos espúrios. Neste contexto,
causa espanto e revolta ver os maus políticos ocupados em defender os seus
pares envolvidos nas falcatruas, tentando livrá-los das acusações, para isso
acossando a presidenta do país, no afã de demovê-la do propósito de afastar e
punir esses criminosos. Mas temos presenciado, com muito gosto, o
recrudescimento de Dilma Rousseff, que se mantém posicionada contra corruptos e
corruptores. Além disso, ao empossar o novo Ministro da Agricultura,
recomendou-lhe substituir os políticos da sua pasta por técnicos. Mais outro
mérito da presidenta: todos os ministros que deixaram o cargo, foram aqueles
impostos pelo governo Lula, e dele herdados. A hora é de apoiar e aplaudir a
decidida ação da presidenta contra a corrupção.
E antes que me esqueça:
“presidenta”, como feminino de “presidente”, é palavra dicionarizada há
décadas, e palavra dicionarizada é palavra correta. Qualquer discussão sobre este
tema será pífia. Neste caso específico, castiço é falar ou escrever
“presidente” ou “presidenta” como preferir, sem medo de errar.
(Francisco Souto Neto – Setembro 2011)
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FOTO 9 – Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal Centro Cívico – Ano 9 – Edição 88 – Novembro 2011
Francisco Souto Neto
Vivi
minha infância em Ponta Grossa, onde meu pai (Arary Souto – 1908-1963) foi o
diretor de redação do diário Jornal do Paraná entre as décadas de 40 e 50, e
depois inaugurou e dirigiu a Rádio Central do Paraná até ao seu falecimento em
1963. Por volta de 1950, veículos de tração animal, as carroças, ainda
trafegavam pelas ruas daquela cidade de topografia bastante
acidentada. Presenciei meu pai intervir nos casos em que vimos cavalos
perderem as forças ao puxar pesados fardos naquelas ladeiras. Arary Souto
conversava amistosamente com os donos dos animais, convencendo-os a poupar os
equinos para não perdê-los drasticamente. Como diretor do jornal, publicou na
edição de 29.12.1949 o editorial que transcrevo abaixo, naquele tempo em que
ainda não existiam por aqui as sociedades protetoras dos animais:
“POR
UMA SOCIEDADE PROTETORA DOS ANIMAIS (Arary Souto) – A reportagem dos jornais,
continuamente, no traz notícias de desumanos tratos em relação aos animais. De
harmonia com o espírito da época, tais práticas tendem a recrudescer a ponto de
talvez ser necessária a interferência dos poderes públicos, já que ninguém
parece querer tomar a iniciativa de pôr cobro às mesmas. Aliás, nas sociedades
bem organizadas e evoluídas, compete quase que exclusivamente aos particulares
a defesa dos seres irracionais que conosco convivem. São as célebres Sociedades
de Proteção aos Animais. Abrangem todas as nobres ações que os corações bem
formados realizam, visando defender a integridade física desses animais
domésticos, amparando-os quando considerados já ‘fora de serviço’, ou, de
qualquer modo, instruindo os seus donos para dispensar-lhes melhor trato.
Assim, raras, sumamente raras, se tornam as infrações ao código de semelhante
superioridade de formação, já pela natural tendência de certos temperamentos,
geralmente voltados à difusão das boas coisas e ações, já pelo receio lógico e
inocultável que se apodera dos possíveis infratores, a acovardar-se frente à
lei e ao bom senso.
Isso
acontece nas sociedades bem nascidas, nos grupos humanos em que a natureza vale
alguma coisa, tomada em si. O amor aos animais que nos servem é, lá, tanto decorrência
dessa compreensão panteísta das maravilhas do universo que nos rodeia, como uma
prova de gratidão do ser humano para com os seus ‘instrumentos animados’.
Demonstra, assim, possuir uma nítida intuição da presença do amor divino em
todas as criaturas, da sublime onipotência criadora em todos os seres.
Pois
é exatamente essa falta de compreensão que escasseia a nós, os brasileiros do
imenso ‘hinterland’ e, mesmo, das
cidades enormes. Maltratamos, destruímos, seviciamos, pelo só prazer de
fazê-lo, quais autênticos vândalos em pleno desenfreio das vontades sádicas.
Assim, tudo aniquilamos. Voz só conhecemos a do rebenque, a estalar-nos no
indigno e desumano dorso, que não nos atemoriza a da consciência.
Este, sem retoques, o quadro da
nossa deficiência de afetividade em relação a tudo e a todos, mormente os
animais. Entretanto, já é tempo de aprendermos algo mais condizente com nossa
condição de humanos, feitos à semelhança de Deus.
Fundemos
associações que ponham a salvo os pobres animais: que punam severamente os que
lhes infligem maus tratos; que, enfim, nos civilizem aos olhos dos demais
povos”.
Arary
Souto lançou essa idéia visionária décadas antes de se instalarem entre nós as
primeiras sociedades de proteção aos animais. Em Curitiba, surgiu somente em
1972. Fica, pois, o registro da visão pioneira e universalizada, e também do
humanismo, que sempre nortearam as ações do jornalista, meu saudoso pai.
(Francisco Souto Neto – Novembro 2011)
OBSERVAÇÃO:
Uma das publicações originais de Arary Souto poderá ser
vista e lida no seguinte link:
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FOTO 10 – Crônicas de FRANCISCO SOUTO
NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 10 – Edição 89 – Dezembro 2011
Do avião à aeronave, da aeromoça à comissária de bordo, do
banquete à barra de cereal
Francisco
Souto Neto
No mês passado viajei do Rio de
Janeiro a Curitiba pela Webjet. Não foi a primeira vez que voei por essa
empresa aérea, pois dois anos antes, em 2009, eu fizera o mesmo percurso a
bordo de uma das suas aeronaves. Desta vez, entretanto, notei uma grande
novidade: ao embarcar, recebi um colorido cardápio. E ali estavam fotos de
guloseimas que poderiam ser servidas a bordo, e seus respectivos preços. Por
exemplo, o Combo Especial – Monte o seu. Bebida não alcoólica +
chocolate (Charge) + sanduíche leve ou completo: R$18,00. Combo Especial com
cerveja: R$19,00. Mas também há pequenas opções, como café (R$3,00),
capuccino (R$4,00), suco de frutas (R$5,00) água sem gás (R$3,00). Isso mesmo:
agora até a água é cobrada.
Durante o vôo, outra surpresa:
comecei a procurar pelo botão para reclinar a poltrona, mas sem sucesso. Ao
passar o comissário de bordo, perguntei-lhe como reclinar meu assento. E ele,
um pouco encabulado, respondeu: “Desculpe, mas nesta aeronave as poltronas são
todas fixas; não reclinam”. Eu não gostei de conhecer essa novidade, mas depois
fiquei a imaginar que se a poltrona à minha frente reclinasse um pouquinho,
imprensaria os meus joelhos. Neste ínterim, um zumbido altíssimo, não sei se
proveniente das turbinas, acompanhado de violenta vibração, deram-me um susto
tão intenso que me senti gelar. Ruído e vibração duraram somente alguns
segundos, e então o vôo prosseguiu suave e plácido. Foi um tempo para
reflexões. Fiquei me recordando de que até muito recentemente, davam aos
passageiros umas barrinhas de cereais e um refrigerante ou suco. Agora é
preciso pagar por tais ninharias.
Senti saudade das asas da
Panair do Brasil, da Real Aerovias, e dos vôos nas décadas de 50 e 60. Naquele
tempo os homens viajavam trajando terno e gravata, as mulheres com vestidos
vaporosos e sapatos de salto alto. As aeronaves eram
conhecidas por aviões, as comissárias de bordo chamavam-se aeromoças,
e ainda não existiam as barrinhas de cereais. As refeições serviam-se em
pratos, provavelmente não de porcelana, mas de louça. Talheres eram de metal, e
não de plástico. Mas o melhor estava nas refeições. As aeromoças vinham
empurrando pesados carros fumegantes pelo corredor central do avião. Com
conchas, elas serviam arroz e feijão. Havia ovo frito, bife, legumes, e muitas
outras delícias caseiras. Ofereciam água, sucos, refrigerantes, coquetéis, e
alguns tipos de vinho. Quanto às sobremesas, nem é bom lembrar.
Claro que nada disso era
gratuito, mas o preço das refeições estava embutido no valor da passagem, de
maneira que o viajante tinha a sensação de estar recebendo gentilezas durante
todo o vôo. Mesmo mais tarde, nos anos 80, nas viagens a longa distância, havia
algumas empresas extremamente generosas. Era o caso da Swissair, que não existe
mais. Em seu lugar há hoje a Swiss Air. Nos vôos para a Suíça, a antiga empresa
mantinha, durante toda a noite, pequenos e macios sanduíches de dois sabores,
deliciosos, à disposição de quem não conseguia dormir, acompanhados de água,
refrigerantes ou leite.
Voei a bordo dos coloridos
Boeings 707 da Braniff Internacional, e também no Caravelle, um dos jatos mais
belos que já cruzaram os céus do planeta, com suas asas livres, turbinas
traseiras, e janelas triangulares. Triângulos invertidos. Eram todos aviões de
classe única, mesmo nos vôos internacionais. Mais bonito do que o Caravelle, só
mesmo o Concorde.
Mas é melhor não reclamar
muito. Os vôos atuais, embora tenham perdido o charme, tornaram-se mais
acessíveis às classes sociais que antes viajavam de ônibus. O mesmo percurso
por avião pode ser hoje até mais barato do que aquele por terra. Ainda assim,
me entristece saber que minhas duas sobrinhas-netas, Marion Souto da Rosa Lemes
e Isabelle Edith Aguilar da Rosa, nunca conhecerão aqueles tempos mais
românticos, em que os passageiros ainda não eram as sardinhas em lata de agora.
(Francisco Souto Neto –
Dzeembro 2011)
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Francisco Souto Neto: LEMBRANÇAS DO CÁRCERE
MAMERTINO E SUA CRUZ INVERTIDA
Jornal Centro Cívico – Ano 9 – Agosto/Setembro 2011 – Nº 86
Jornalista
responsável: Maurício Grabowski
FOTO 11 - Capa:
FOTO 12 - Página 15:
LEMBRANÇAS DO CÁRCERE MAMERTINO E SUA CRUZ INVERTIDA
Francisco
Souto Neto
Segundo antigo ditado, uma vida inteira não é
suficiente para conhecer Roma. Depois de algumas viagens à Cidade Eterna, o
turista que já visitou as suas principais atrações sente aumentar uma
inquietação ao perceber que as particularidades da capital da Itália, ligadas a
uma história de quase 3000 anos, são incontáveis, e cada vez mais fascinantes.
Se alguém viajar acompanhado de familiar ou amigo, é sempre necessário planejar
com antecedência os locais que desejam conhecer, debater as opiniões de todos
os participantes, e estabelecer as prioridades.
No último passeio que fiz a Roma, que foi na companhia de Rubens Faria Gonçalves, tínhamos ambos o propósito de conhecer o Cárcere Mamertino, também denominado Cárcere Tuliano, uma prisão subterrânea que já existia no 1º século depois de Cristo. São Pedro e São Paulo estiveram ali aprisionados, além de enorme número de importantes personalidades de várias eras, tais como reis, governadores, senadores, ministros. Não se tratava de um lugar para prisioneiros comuns, mas para os de segurança máxima, isto é, os inimigos públicos. Eles eram condenados à morte dolorosa, geralmente por estrangulamento. Desse martírio só escapavam aqueles que, por sorte, morressem antes por causas naturais, isto é, de frio, fome ou doenças. No ano de 314 o Papa Silvestre dedicou a prisão a São Pedro em Cárcere (San Pietro in Carcere), nome da igreja que foi construída sobre aquele lúgubre local. No século XVI, a essa igreja foi sobreposta outra, denominada São José dos Carpinteiros (Chiesa di San Giuseppe dei Falegnami). A entrada dessa igreja está situada a uns quatro metros acima da rua, devido a obras realizadas na década de 30 do século XX, que baixaram o nível da praça em frente, para permitir o acesso direto ao Cárcere Mamertino.
Entrando no Cárcere Mamertino
A entrada para o Cárcere Mamertino se faz por uma escadaria que começa no atual nível da rua, exatamente sob a fachada das igrejas sobrepostas, que se aprofunda paralela à calçada, onde há quatro janelões, que à distância parecem enormes portas abertas, mas que estão protegidas por grades, para que os transeuntes não caiam no desvão. Descendo por essa escadaria, o visitante chega a um nível profundo, onde se encontra a chamada cela superior, abafada e sem janelas. Numa das paredes está fixada imensa placa de mármore gravada com os nomes dos prisioneiros mais famosos que ali encontraram a morte dolorosa. Ao lado do nome, consta a causa mortis e o ano da execução. Uns eram decapitados, outros estrangulados, outros morriam “de fome”, e assim por diante. A cela inferior da masmorra era alcançada através de um buraco no chão, em que colocavam uma escada de madeira para a descida dos prisioneiros, de onde somente sairiam, ou mortos, ou para serem executados. Dizia-se, já naqueles tempos remotos, que aquela escada de madeira era uma descida para os infernos. Atualmente há uma escada de pedra num canto que foi aberto para que os visitantes possam descer sem maiores riscos. Esse plano inferior da prisão, úmido, está ligado ao principal esgoto da cidade, que se chamava Cloaca Máxima. Às vezes, quando o prisioneiro era executado naquele local, costumavam jogar o corpo ao esgoto, ali ao lado.
Há uma fonte no chão. Como a iluminação local era
fraca, não conseguíamos ver o interior do buraco. Rubens Faria Gonçalves
testou-o com uma das mãos... e encontrou a água. Segundo a lenda, quando São
Pedro estava ali aprisionado, fez brotar aquela fonte, que antes não existia, e
com a sua água batizou 42 outros prisioneiros, e também os dois guardas do
cárcere, que se chamavam Processo e Martiniano. Esses guardas foram igualmente
condenados e supliciados. Outro milagre atribuído a São Pedro teria ocorrido no
momento que ele descia pela escada de madeira para aquela escuridão, quando foi
brutalmente empurrado por um dos guardas contra a parede. Quando o santo bateu
o rosto no obstáculo de pedra, esta teria amolecido, e parte do seu rosto ficou
ali impresso. Segundo a tradição cristã, houve mais um milagre por São Pedro:
as correntes que o prendiam, soltaram-se e caíram ao chão. Essas correntes
estão expostas numa das mais importantes igrejas de Roma, que se chama Igreja
de São Pedro Acorrentado (Chiesa di San Pietro ai Vincoli).
Nesse piso mais profundo há um altar, o que faz do
cárcere uma capela. A cruz desse altar está invertida, alusão a São Pedro, que
saiu dali para ser crucificado de ponta-cabeça. Ao lado do altar existe uma
coluna onde, segundo a lenda, estiveram acorrentados Pedro e Paulo. Não resta
dúvida de que a visão daquela cruz invertida causa grande impressão às
pessoas que visitam o pavoroso calabouço.
Saímos daquele espaço abafado e escuro. Subimos ao
piso superior da masmorra e dali outros degraus nos levaram para o nível da
rua. Encontramos a paisagem ensolarada, e uma brisa reconfortante nos trouxe de
volta à Roma atual. Partimos para novos passeios, porém com o pensamento ainda
aprisionado ao lugar horrendo que acabáramos de visitar.
-o-
UM RESUMO DE APENAS 4 MINUTOS, NUM FILME EM VHS DE 1999: NÓS NO CÁRCERE MAMERTINO, O CAÓTICO TRÂNSITO DE ROMA E NOSSO HOTEL: O MANFREDI, NA RUA MARGUTA (RUA ONDE MORARAM CELEBRIDADES, COMO FEDERICO FELLINI E SUA DOCE GIULIETTA MASINA):
https://www.youtube.com/watch?v=gLfgjMoQ_OY&t=40s
-o-
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A CHÁCARA DO SOUTO E SEU JARDIM ZOOLÓGICO por
Francisco Souto Neto e Lúcia Helena Souto Martini
A
CHÁCARA DO SOUTO E SEU JARDIM ZOOLÓGICO
Francisco
Souto Neto e Lúcia Helena Souto Martini
Edição:
R.IHGRJ (Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro).
Ano
18 – Número 18 - 2011
Diretoria
do IHGRJ (Biênio 2010-2011)
Presidente:
Cybelle Moreira de Ipanema
Vice-presidente:
Neusa Fernandes
1ª
Secretária: Rogéria Moreira de Ipanema
2ª
Secretária: Miridan Britto Falci
1º
Tesoureiro: Roberto Schmidt de Almeida
2º
Tesoureiro: Francisco de Vasconcellos
Capa
Rogéria
Moreira de Ipanema
artigo
conclui-se à página 188. A
transcrição
do artigo, na íntegra,
poderá
ser lida abaixo:
A
CHÁCARA DO SOUTO E SEU JARDIM ZOOLÓGICO
Francisco Souto Neto e Lúcia Helena Souto Martini
António
José Alves Souto, o visconde de Souto (Porto 1813 – Rio de Janeiro 1880) veio
para o Brasil aos 15 anos, onde se tornaria uma das mais importantes
personalidades do Segundo Reinado. Pioneiro das casas bancárias privadas no
país, foi fundador da Junta de Corretores, que originou a Bolsa de Valores do
Rio de Janeiro, e fez parte da primeira diretoria da Caixa Econômica
Federal, cujas reuniões iniciais aconteceram em sua casa. Também exerceu a
função de presidente da Beneficência Portuguesa. Foi nomeado banqueiro da Casa Imperial do
Brasil através do decreto nº 439, de 24.09.1857. O título “visconde de Souto”, entretanto, foi
criado por Luís I, rei de Portugal, através de decreto, em 12 de dezembro de 1862.
Pelo
casamento dos filhos, aparentou-se com as famílias de marquês de Olinda,
visconde de Pirassununga, conde de Ipanema e Euzébio de Queiroz.
Acervo da Beneficência Portuguesa - Rio de Janeiro.
Foto por gentileza de Ney O. R. Carvalho.
Um
episódio da História do Brasil, conhecido como “Quebra do Souto”, relata
a débâcle do banqueiro visconde de Souto, ocorrida exatamente
às dez horas da manhã de 10 de setembro de 1864. Essa falência não somente
interrompeu sua vertiginosa participação nos destinos do país, como abalou todo
o império: o passivo da casa bancária António José Alves Souto & Cia., ou
A. J. A. Souto & Cia., popularmente conhecida como Casa Souto, equivalia à
metade da dívida pública interna do Brasil.
Muitos
autores escreveram sobre o visconde de Souto nos aspectos de sua vida pessoal e
profissional, como banqueiro, benemérito dos desamparados, mecenas, ou ainda
como diretor de algumas entidades e fundador de outras, que continuam existindo
no século XXI. A maioria refere-se à importância da sua pioneira casa bancária
e ao trauma financeiro e econômico que representou a Quebra do Souto com
terríveis consequências sobre a economia do Segundo Reinado.
Tanto
a crise financeira provocada pela Quebra do Souto quanto
variadas menções à vida e aos
feitos do visconde, ficaram registradas na literatura, pela mão
de autores como Machado de Assis em “Quincas Borba” e “Hoje avental, amanhã
luva”, Lima Barreto em “Triste fim de Policarpo Quaresma”, José de Alencar em “Lucíola”
e “O que é o casamento?”, e Arthur Azevedo em “Paga ou morre!” e “Contos
ligeiros”. Desde meados do século XIX até à primeira década do século XXI foram
publicados mais de seiscentos livros contendo referências ao visconde de Souto
e à Quebra do Souto.
A
residência oficial do visconde, a “Chácara do Souto”, em São Cristóvão, na
Travessa do Campo Alegre (hoje Rua Ibituruna) nº 22, adquirida em meados da
década de 40 do século XIX, confinava com os terrenos da Quinta Imperial da Boa
Vista e também com os do Chalaça.
A
planta da cidade do Rio de Janeiro feita pelo visconde de Villiers de L’Île
Adam, gravada por J. H. Lonhard e publicada por G. Leuzinger em 1850, que
chegou ao conhecimento dos autores por intermédio do carioca residente na área
da antiga Chácara do Souto, o professor e pesquisador Marcelo Sant’Ana Lemos,
mostra que os terrenos da Quinta Imperial, pelo lado sul, alcançavam o norte e
noroeste da propriedade do visconde, separados apenas pela Rua Duque de Saxe,
hoje Av. General Canabarro. Na época, evidentemente, ainda não existia a
estrada de ferro nem as movimentadas e largas avenidas que agora cercam as
estações de trem e do metrô de São Cristóvão.
Em
1878, J. Cruvello Cavalcanti estabeleceu a nova numeração para a cidade do Rio
de Janeiro, mas o número 22 da Travessa do Campo Alegre não foi alterado na
ocasião. Entretanto, aquele número 22 do século XIX não é o mesmo do século
XXI; ele englobava ambas as extremidades da atual Rua Jiquibá – que naquele
tempo não existia –, colado ao atual n.º 108 da Rua Ibituruna, onde hoje está a
Universidade Veiga de Almeida, estendendo-se até à Rua Senador Furtado.
Por
volta de 1860 a chácara encontrava-se admiravelmente ampliada, porque
o visconde de Souto foi comprando diversas propriedades vizinhas, ao longo da
Travessa do Campo Alegre, desde as da Rua Duque de Saxe, até alcançar as da Rua
Nova do Imperador. Também comprou terrenos na rua paralela à Campo Alegre, que
era caminho para a entrada dos fundos da Chácara do Souto, e que mais tarde
recebeu o nome de Rua do Souto (atual Rua Senador Furtado). Vários documentos
atestam que a antiga Rua do Souto foi aberta dentro da Chácara do Souto. Esta
propriedade, portanto, estava delimitada pelas atuais ruas General Canabarro,
Ibituruna (acesso principal) e Mariz e Barros, mas desconhecemos as exatas
delimitações pelo seu nordeste, embora uma ponta da propriedade alcançasse a
Rua Almirante Baltazar, num local muito próximo de onde é hoje a pequena Rua
José Eugênio.
Detalhe
interessante é que a atual e estreita Rua Jiquibá foi aberta anos após a morte
do visconde de Souto, no espaço onde se originou a chácara e onde existiu a
mansão da família.
Alguns
escritores dão informações que coincidem com as de Marcelo Sant’Ana Lemos, como
Brasil Gerson em “História das ruas do Rio de Janeiro”:
Hoje a velha rua – outrora Duque de
Saxe ou General Canabarro de ponta a ponta – dividiu-se em duas, porque ao seu
trecho entre a ponte sobre a Central e a Rua São Cristóvão deu a Prefeitura o
nome de Almirante Baltazar (Carlos Baltazar da Silveira, ministro da Marinha de
Campos Sales), que antes figurava nas placas de uma rua da Glória, incorporada
à Rua do Russel. É na Almirante Baltazar atual que se encontra o Hospital de
São Francisco de Paula. [...] (GERSON, 1954, p. 330).
Inúmeros
historiadores, com pequenas variações de um para o outro, confirmam os limites
da Chácara do Souto no tocante ao lado noroeste da propriedade, a exemplo
de Armando de Magalhães Corrêa, no livro
“Terra Carioca: Fontes e Chafarizes”, depois repetido e ampliado por Araújo
Viana, e transcrito na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
n.º 343 (constante também da Revista Renascença, 1905, volume 4, edições
17-22), ao relatar uma procissão feita pela influente família de José Antônio
de Figueiredo Júnior, pai do conde de Figueiredo:
Essas festas eram célebres e
pitorescas (...) A banda de música, que fechava a procissão, pertencia ao
visconde de Souto, famoso banqueiro, que habitava a chácara de sua propriedade,
limitada pelas ruas do Campo Alegre, da Joana e do Souto, hoje Senador Furtado.
(CORRÊA, 1939, p. 121).
Naquele
tempo os rios Maracanã, Trapicheiro e Comprido quase se uniam na desembocadura,
formando um semi-estuário na região hoje aterrada, onde se localiza um
emaranhado de viadutos ao final da Avenida Presidente Vargas. Era mar o local
onde existe atualmente a Avenida Francisco Bicalho, tendo sido esta construída
ao longo de um canal artificial, sobre gigantescos aterros que afastaram para
muito longe as águas da baía.
Nessa
propriedade da Travessa (depois Rua) do Campo Alegre, o visconde de Souto
mandou erguer sua nova residência, grande e espaçosa, na qual poderia abrigar
confortavelmente toda a família, que não parava de aumentar.
Os
batismos e casamentos dos filhos realizavam-se na capela existente no terreno
da Chácara do Souto. Mas o visconde e a viscondessa de Souto ofereciam-na
também para batismos e bodas dos filhos de seus amigos mais chegados. A casa,
assim como os jardins decorados com grande bom gosto, eram bem apropriados às
recepções.
A
data em que a Rua do Souto foi aberta é controversa. O historiador Noronha
Santos afirma que isso teria ocorrido em 1875. Na verdade, ela já existia e era
citada oficialmente desde vinte anos antes, 1855, e essa constatação provém da
“Escritura de consentimento e cessão gratuita de terras que fazem o comendador
António José Alves Souto e sua mulher à Companhia da Estrada de Ferro D. Pedro
II”, lavrada no tabelião Francisco José Fialho no dia 2 de novembro de 1855.
Trata-se de uma doação que o visconde fez ao império, de uma faixa das terras
da Chácara do Souto, para que ali passassem os trilhos da primeira estrada de
ferro da capital do Brasil. Nas cláusulas primeira e segunda, a Rua do Souto é
mencionada nos seguintes termos, respectivamente: “Primeira: Desde a ponte até
à Rua do Souto, a Companhia outorgada conservará” [...]; Segunda: da Rua do
Souto até à da Joana, somente ocupará a dita Companhia outorgada, por enquanto
uma largura de sete braças [...]. (ARQUIVO NACIONAL, Fundo/Coleção
3.º Ofício de Notas do Rio de Janeiro / Notação: Livro 215, fl. 148v
e 149. / Microfilme 010.17-79). A ponte a que se refere a escritura, construída
sobre o Rio Maracanã, e que existia dentro da Chácara do Souto, estaria aproximadamente
no local onde agora confluem a Av. Maracanã, Av. Presidente Castelo Branco e
Rua Jiquibá.
Quatro
anos após o visconde de Souto ter doado essa ponta da sua chácara à Estrada de
Ferro, foi ali construída a Estação Imperial da Quinta da Boa Vista, que se
destinava ao uso exclusivo de dom Pedro II e sua família.
Cristóvão, Rio de Janeiro. Foto por gentileza de
Hélio
Suêvo Rodriguez, originalmente da coleção
Luiz
Octávio Oliveira.
deteriorando-se, ocupada por lavadores de carro.
Foto Francisco Souto Neto, agosto 2009.
Havia
muitas e belas chácaras em São Cristóvão, mas a do Souto era especial:
tinha um jardim zoológico, novidade absoluta no Brasil.
A
polêmica sobre qual teria sido o primeiro jardim zoológico brasileiro persiste
ainda hoje. Alega-se que não há documentação fidedigna a respeito, mas
documentos existem, e não deixam dúvidas: o primeiro jardim zoológico do Rio de
Janeiro, do Brasil e provavelmente da América do Sul, foi o do visconde de
Souto, que começou a ser formado na década de 1840 e por volta de 1850 já
estava plenamente desenvolvido. Ele importou e manteve, sempre às próprias
expensas, variados espécimes nativos e de outras regiões do planeta.
Muito
frequentemente o jardim zoológico do barão de Drummond (1825-1897), em
Vila Isabel, é citado como o primeiro que existiu no Rio de Janeiro, embora
tenha sido inaugurado em 1888. Drummond recebeu de dom Pedro II uma subvenção
anual de 10 contos de réis e a isenção de impostos na importação de animais.
Entretanto, já no ano seguinte à inauguração, foi proclamada a república e os
privilégios foram cortados. Em 1892 as dificuldades para manter o jardim
zoológico eram imensas, não sendo suficientes os recursos obtidos com a venda
de ingressos. Para solucionar o problema, Drummond criou uma loteria de
animais, que se perpetuou como o conhecido “jogo do bicho”.
Depoimento
irrefutável sobre o pioneirismo da coleção zoológica do Souto é o de Adolfo
Morales de los Rios Filho em “O Rio de Janeiro Imperial”:
Outros jardins de planície eram:
[...] o jardim do Souto, o riquíssimo negociante e banqueiro da Rua Direita,
situado no Andaraí –, no qual até existia uma grande coleção de animais da
terra e do estrangeiro e, por isso, considerado cronologicamente o primeiro dos
jardins zoológicos da cidade carioca [...]. (MORALES DE LOS RIOS FILHO, 1946,
p. 137).
O gravurista holandês Pieter Godfred
Bertichen (também citado como Pedro Godofredo Bertichen) radicou-se no Rio de
Janeiro em 1837 e faleceu em Petrópolis, no ano de 1866. Entre 1850 e 1856
dedicou-se a retratar aspectos da capital do império. Uma das suas
litografias, que tem o título de “Chácara do Souto”, mostra um trecho do jardim
zoológico. Bastaria esse registro iconográfico para comprovar o pioneirismo do
Souto, reafirmado pelo historiador Noronha Santos (1876-1954), autor da legenda
impressa no verso da gravura:
Que se tenha notícias, este foi o
primeiro jardim zoológico da cidade, criado por um particular, rico negociante
- Antônio José alves Souto, depois visconde de Souto. Ficava na Rua Nova do
Imperador (Mariz e Barros) em São Cristóvão. Seu proprietário possuía ali uma
das mais belas chácaras do Rio de Janeiro com lindo jardim, pomar e horta, e
onde formou uma coleção de animais do país para seu prazer e deleite dos amigos
e depois até do público. Souto era rico diretor de uma das mais importantes
casas bancárias da praça – Casa Souto – que, ao falir arrastou várias firmas
causando a célebre crise econômica de 1864. Faleceu em 13 de dezembro de 1870.
Nesta grande chácara, foi aberta, em 1875, a Rua do Souto, atual
Senador Furtado, que começava na Rua Nova do Imperador (Mariz e Barros) e terminava
na Rua Duque de Saxe (General Canabarro).
Noronha
Santos equivocou-se quanto às datas do falecimento do visconde, que ocorreu em
14 de fevereiro de 1880, e da abertura da Rua do Souto, que já existia em 1855,
conforme comprovado no início deste artigo.
Cópia digitalizada adquirida na Galeria Brasil, São
Paulo.
A
entrada da mansão da família ficava na Travessa do Campo Alegre n.º 22, mas a
entrada para o jardim zoológico fazia-se “pelos fundos”, isto é, pela Rua do
Souto, aberta entre os antigos números 32 e 34 da Rua Nova do Imperador, que
são hoje os números 204 e 240 da Rua Mariz e Barros.
O
visconde de Souto abria os portões da sua propriedade para que todas as classes
sociais, dos nobres aos escravos, entrassem gratuitamente. A coleção de animais
vivos teve importante função cultural, porque os fluminenses puderam, pela
primeira vez, conhecer muitos dos raros espécimes que só sabiam existir por
ouvir contar, ou da literatura, tais como o urso, o leão, o tigre e o elefante,
dentre outros. Em pouco tempo a Chácara do Souto tornou-se um dos locais de
lazer mais conhecidos da cidade.
Os
animais que morriam eram entregues a um taxidermista e levados ao Museu Nacional,
instituição que ficou devendo ao visconde de Souto o enriquecimento do acervo.
O livro “História, ciências, saúde – Manguinhos”, publicado pela Casa de
Oswaldo Cruz, é um dos que mencionam as doações feitas pelo Souto ao Museu
Nacional. (CASA DE OSWALDO CRUZ, 1993, p. 59). Na obra “O Rio de Janeiro: sua
história, monumentos, homens notáveis”, o autor, ao referir-se às doações de
animais empalhados ao Museu Nacional, enumera alguns deles:
Um peixe-boi; um tamanduá-bandeira,
ofertados por D. Pedro II; um leão, um gnu, um urso, uma cegonha, um galo da
rocha oferecidos pelo comendador Antônio José Alves Souto (XLVII), hoje
visconde de Souto; outro urso que pertenceu à domadora de feras Madame
de La Barrere; [...] dois jacarés, um de quatro e outro de oito palmos de
comprimento, mortos em janeiro de 1831, em um pântano que havia próximo da
Quinta da Boa Vista, por Pedro I, que veio ao Museu ordenar que fossem
preparados e montados convenientemente [...]. (AZEVEDO, 1877; 1969, p. 256).
A
Seção de Memória e Arquivo do Museu Nacional mantém os Relatórios
Institucionais com o registro das doações de animais taxidermizados que foram
efetuadas por António José Alves Souto, o visconde de Souto:
Em 1855, um grou real; em 1856, uma
pele de antílope gnu; em 1858, um orangotango e um urso preto; em 1859, duas
avestruzes, uma arara macau, um tamanduá-bandeira, uma cegonha e um grande leão
africano; em 1860, um jaburu moleque, um macaco africano, um urso, uma
colhereira; em 1861 um galo-da-serra e um lobo; em 1863, um “kakatoá” [cacatua]
africano. (MUSEU NACIONAL, Relatórios Institucionaia).
Nacional - Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro.
Foto Francisco Souto Neto, agosto de 2009.
O visconde de Souto, que já era muito conhecido e respeitado como banqueiro,
passou a ser por todos querido. Frequentemente, aos domingos, era visto
passeando pelo seu zoológico ao lado dos familiares e conversando com os
visitantes a respeito dos animais que ali mantinha. Sua popularidade tornou-se
notória, resistindo ao tempo e aos percalços.
Machado
de Assis, ao final da Cena VI da peça teatral “Hoje avental, amanhã luva”, dá
a seus personagens o seguinte diálogo:
Durval – Que é isso?
Rosinha – Uma carta da ama a uma sua
amiga. “Querida Amélia: o Sr. Durval é um homem interessante, rico, amável,
manso como um cordeiro, e submisso como o meu Cupido...”
Durval – A comparação é grotesca na
forma, mas exata no fundo. Continua, rapariga.
Rosinha (lendo) – “Acho-lhe contudo
alguns defeitos”.
Durval – Defeitos?
Rosinha – “Certas maneiras, certos
ridículos, pouco espírito, muito falatório, mas afinal um marido com todas as
virtudes necessárias...”
Durval – É demais!
Rosinha – “Quando eu conseguir isso,
peço-te que venhas vê-lo como um urso na Chácara do Souto”.
Durval – Um urso!
Rosinha (lendo) – “Esquecia-me de
dizer-te que o Sr. Durval usa de cabeleira” (fecha a carta)
Durval – Cabeleira! É uma calúnia!
Uma calúnia atroz! (levando a mão ao meio da cabeça, que está calva) Se eu
usasse de cabeleira...
Rosinha – Tinha cabelos, é claro.
Durval – (passeando com
agitação) Cabeleira! E depois fazer-me seu urso como um marido na Chácara
do Souto.
Rosinha (às gargalhadas) – Ah! ah! ah!
(vai-se pelo fundo). (ASSIS, 2009, p. 7-8).
São
muitos os escritores que desde a segunda metade do século XIX referem-se à
Chácara do Souto e seu jardim zoológico. Transcrevê-los resultaria
repetitivo. Porém, é muito curioso que teatrólogos também se ocupassem do tema
e misturassem personagens ficcionais com a realidade do visconde de Souto e seu
zoo. A peça “A Ninhada do meu sogro”, de Augusto de Castro, foi
representada pela primeira vez no dia 9 de
abril de 1863, no Ginásio Dramático do Rio de Janeiro. O livro contendo o texto
data de 1864, e dele foi extraído o seguinte:
Victorina (entrando) – Veja se está
direito! (Anda à roda). Faz tanta aflição nas pernas!
Cypriano – Deveras, ela vai conosco?
Botelho – Por quê não? (Cypriano
passa à esquerda).
Felícia (entram Joana e Pedro) – E
também Joana e Pedro... Querem ver a Corte; acho que têm razão.
Cypriano (a Álvaro, falando baixo) –
Vou arrastar pelas ruas da cidade esta capoeira de galinhas da serra!... Quando
passarmos pela porta dos Desmarais a rapaziada prega-me numa vaia de estrondo!...
Victorina – Onde vamos, Sr. Cypriano?
Cypriano – À Chácara do Souto, ver as
saracuras...
Felícia – Isso fica para depois.
Vejamos primeiro a célebre Rua do Ouvidor. (CASTRO, 1864, p. 161).
Nesta
mesma peça teatral, além de mencionar o jardim zoológico da Chácara do Souto,
mais adiante os personagens referem-se aos “vales do Souto”, evidenciando a
importância dos vales bancários emitidos pelo banqueiro, como se lê adiante:
Alberto – (desce) Álvaro, preciso de
alguns vales do Souto para começar amanhã os trabalhos da nossa grande
empresa... anda... dá-me-os!
Álvaro – Porém...
Alberto – Deixa-te de poréns! (tira a
carteira do bolso de Álvaro) Entre parentes não há cerimônias. (examinando os
vales) Vinte e um contos de réis... chega para começar!
Álvaro – Oh! é demais! Eu protesto...
Alberto – (guardando os vales) Tens
razão... paga primeiro e depois protesta.
Cypriano – Nada de alusões políticas!
Álvaro – Falta-me a paciência... por
fim.
Alberto – Qual! o mundo é um
cilindro... que gira... Agora estás tu por baixo e...
Todos – E nós por cima!
Álvaro – Está feito... Afinal, também
eu lucro! (CASTRO, 1864, p. 189-190).
Escritores
contemporâneos também mencionam a Chácara do Souto, como Ney O. R. Carvalho, na
obra “Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, 150 anos: a história de um mercado”:
“A chácara onde residia Alves Souto, na atual Rua Mariz e Barros, era ponto de
atração no Rio de Janeiro, pela excentricidade de ostentar um Jardim Zoológico
particular”. (CARVALHO, 1995, p. 55).
Os
jardins da vivenda dos Souto, no extremo oposto ao zoológico, foram descritos
por Adolfo Morales de los Rios Filho, no livro “Grandjean de Montigny e a
evolução da arte brasileira”, da Editora “A Noite”, revelando a visão que se
tinha à entrada da propriedade:
Souto, o rico negociante e banqueiro
da Rua Direita possuía, na Rua Nova da Imperatriz [sic], uma das mais belas
chácaras do Rio de Janeiro. Os jardins que ali mandara fazer, cheios de
roseiras, de plantas decorativas, de arvoredo, de palmeiras e cobertos de relvado,
tinham a seguir um rico pomar e uma extensa horta. Tudo cuidado com capricho e
gradativamente melhorado com espécimes e exemplares vindos, também, da Europa.
Os grandes haveres do conhecido homem de negócios, lhe permitiram, outrossim,
criar uma valiosa coleção zoológica, em que se destacavam raros exemplares de
animais do Brasil. Pode-se dizer que foi o primeiro jardim zoológico aqui
estabelecido. Em 1860, a chácara, já extraordinariamente
desenvolvida, constituía nos domingos e dias feriados um ponto de recreio para
as crianças, os adultos e os empregados e amigos de Souto. (MORALES DE LOS RIOS
FILHO, 1941, p. 206).
No
livro “Cartas de um roceiro”, editado em 1867, Faustino Xavier de Novais, poeta
e escritor famoso pelos textos satíricos e jocosos, faz referências aos
pássaros exóticos do visconde de Souto:
Agora, se dá licença, volto à
dissertação sobre a preguiça. “A Deus faz-se-lhe a corte de joelhos, aos
grandes da terra em pé, e ao diabo, deitado e estendido sobre um canapé, sem
fazer coisa alguma”. Assim queria eu ontem passar algumas horas da tarde,
fazendo a corte ao diabo no largo do Rocio; mas não pude fazer vasa, e fui
codilhado pelos parceiros que tinham feito jogo mais cedo, apoderando-se dos
bancos, que são poucos para o espaço do jardim. Deste modo, a preguiça que tem
a seu cargo aquela obra venceu a preguiça deste seu criado. Fui abrigar-me, na
falta de outro recurso, em uma daquelas guaritas que V. tem visto e admirado,
como eu. Não estava mal, isso é verdade; mas houve um gaiato que me desalojou,
por meio de uma invenção muito ofensiva à minha gravidade. Espalhou o boato de
que o Visconde de Souto tinha mandado da sua chácara para ali, como presente,
um grande pássaro da Índia. Aglomeraram-se em volta da gaiola todos os
admiradores dos grandes pássaros, e eu, envergonhado pela assuada, bati as asas
e fui-me, perdendo a ocasião de gozar a viração fresca, que me trazia aos
ouvidos os amenos cantos da musa do Café com leite, que não mete a viola no
saco nem a cacete. Em tudo isto só lucrei uma coisa. Fiquei sabendo que são
destinadas aquelas gaiolas para pássaros da Índia. A verdade, manda Deus que se
diga. Voltemos à preguiça. (NOVAIS, 1867, p. 324-325).
Já
neste século XXI, mesmo que raramente, o jardim zoológico do Souto é ainda
lembrado. A Revista de História da Biblioteca Nacional publicou a
reportagem “Um Programa Animal”, assinada por Felipe Magalhães, que escreveu no
3º parágrafo:
No século XIX, houve uma proliferação
de jardins zoológicos em todo o mundo. No Brasil, esta história começou em
1860, com a abertura do Jardim Zoológico do Souto, no Rio de Janeiro. Seu
proprietário, José Antonio Alves Souto [sic], era um rico negociante português.
(n.º 17, fev. 2007).
No
texto acima transcrito, o prenome do visconde está invertido. E equivocou-se o
autor quanto à data em que o jardim zoológico foi aberto. Sabe-se que isto
ocorreu quase duas décadas antes.
Parece
estranho que, tendo vivido em épocas diferentes e atuado em áreas tão diversas,
o visconde de Souto tenha entrado nas lembranças de dois dos mais importantes
poetas do Brasil, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, no livro que
escreveram em coautoria, “Rio de Janeiro em prosa & verso”, no qual
incluíram no capítulo “Tu passaste por este jardim” o relato a que denominaram
“O jardim zoológico do Souto”.
O
prefácio, escrito em 1965 e assinado conjuntamente por Bandeira e Drummond,
explica os motivos que os levaram a organizar o livro:
Este livro pretende ser menos
antologia do que reportagem sobre a grande pessoa viva que é o Rio de Janeiro –
reportagem de muitos autores, explorando muitos temas, em quatro séculos da
existência da cidade. [...] Especialistas de vário gênero assinalarão o IV
Centenário da muito leal, histórica (e gentil) cidade de São Sebastião, estudando
em profundidade aspectos culturais, técnicos e científicos de sua evolução. A
nós coube simplesmente montar esta série de flagrantes do Rio de hoje, de ontem
e dos primeiros tempos, colhidos pelo padre catequista, pelo viajante
estrangeiro, pelo sociólogo, pelos poetas, pelos cronistas do dia e da noite,
por todos a quem seduziu a idéia de dar testemunho do Rio, depois de lhes haver
seduzido o gosto de viver no Rio. (BANDEIRA; ANDRADE, 1965, p. xliv [sic]).
Os
poetas colecionaram textos originais, inéditos ou não, reunindo-os por temas:
humor, sentimento religioso e orgíaco, política, montes, águas, jardins,
bairros, ruas, casas memoráveis, assim como as impressões de autores sobre o
bonde, a barca, o estádio, a praia, o carnaval... Em meio a obras de muitos
escritores conhecidos, Bandeira e Drummond selecionaram também textos anônimos,
um dos quais refere-se ao visconde de Souto:
O Jardim Zoológico do Souto. /
(Anônimo). / A geração de hoje conhece de nome o Souto – pela notícia que tem da
quebra de sua casa bancária, em 1864, arrastando em seu desmoronamento outras
casas e bancos e levando a praça à grande crise comercial que tão profundamente
a abalou. / O Souto, José António Alves Souto [sic], foi um negociante
português que, aqui chegando menino, pelo seu trabalho assíduo e inteligente,
reuniu uma fortuna considerável e alcançou um crédito ilimitado. / Tão grande
era a confiança que nele se depositava que sua casa bancária, em seu tempo,
rivalizava, como carteira de depósito, com o Banco do Brasil, a mais importante
instituição bancária do país. / Depositário de uma soma avultadíssima de
haveres, mergulhado em inúmeros negócios a que a sua atividade não podia
atender a um tempo, a Casa Souto ruiu, ocasionando prejuízos consideráveis no comércio
do país e que se traduziram num verdadeiro cataclismo de que ainda hoje se fala
com pavor. / Possuidor de grande fortuna, Souto era um espírito liberal e
generoso. Tendo construído para sua habitação um belo palacete na Rua Barão de
Monte Alegre, em meio a um grande e bem tratado parque, aí organizou um jardim
zoológico, onde reuniu, à custa de muito trabalho e grandes despesas, muitas e
variadas espécies dos mais interessantes animais do globo. Até um elefante
existiu no jardim zoológico do Souto. / Organizado o parque, foi ele franqueado
ao público e, durante muito tempo, foi o ponto predileto de reunião e passeio
dos fluminenses nos domingos. / Sem as facilidades de locomoção que hoje
existem, era a pé, pelo extenso caminho do aterrado, que os caixeiros, que
recebiam dos patrões seis vinténs para se divertir nos domingos, iam passear à
Chácara do Souto, o que não lhes custava nada (1904). (BANDEIRA; ANDRADE, 1965,
p. 91-92).
Graças
às pesquisas e empenho de Edla Prado, supervisora do Setor de Periódicos
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, foi
descoberta a origem do texto preservado pelos poetas modernistas: está
na página 172 da Revista Renascença, ano 1, n.º 3, do ano de 1904,
pertencente ao acervo do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo. Ao final
do texto lê-se: “A estampa que hoje oferecemos aos nossos leitores é a
reprodução de uma interessante litografia de Rensburg, feita em 1862 e
representando um trecho do jardim zoológico do Souto”.
Cabem
aqui retificações. A primeira é que o texto não está assinado na respectiva
página, porém não é anônimo, como pensaram Bandeira e Drummond, mas da autoria
do redator da Revista Renascença, Carlos Magalhães de Azeredo. A segunda diz
respeito à litografia "Chácara do Souto", que
ilustra este artigo: o autor é Bertichen, e não
Rensburg. Este, Rensburg, é o nome da empresa que imprimiu a litografia. E
finalmente, o endereço residencial do visconde de Souto era Travessa (depois
Rua) do Campo Alegre, e não Barão de Monte Alegre.
Em
que pese o duplo equívoco, os três autores foram extraordinários ao
proporcionar, Azeredo, uma das mais belas lembranças do Souto e sua fascinante
coleção de animais raros, e Bandeira e Drummond, a valorização das mesmas, ao
transcrevê-las no seu livro.
Nessa
mesma obra os dois poetas abriram outro capítulo a que denominaram “Machado de
Assis pelas ruas do Rio”, com uma crônica escrita pelo historiador Noronha
Santos, na qual analisa e comenta os livros que Machado de Assis ambientou no
Rio de Janeiro. Ao referir-se a “Quincas Borba”, Noronha Santos menciona a
falência do Souto, porém erra o nome do visconde ao grafar “José Antônio Souto”
em vez de “António José Alves Souto”, conforme se lê:
Ainda em páginas de “Quincas Borba”,
vemos, febricitante de vida, com seu comércio importador e exportador, a Rua
Direita, hoje Primeiro de Março. Grande artéria de tráfego trepidante, onde se
faziam altos negócios, nela se estabeleceram, desde os tempos coloniais, as
oficinas, armazéns, depósito de mercadorias e a famosa Casa dos Contos. A crônica da cidade ali recorda o
estabelecimento bancário de José Antônio Souto, que ruiu fragorosamente,
reduzido à falência [...]. (BANDEIRA; ANDRADE, 1965, p. 524).
O
visconde de Souto também prestou apoio a um evento de cunho científico, o
mais importante realizado no Brasil do século XIX. Isto ocorreu quando o
zoólogo Manoel Ferreira Lagos, integrante da Comissão Científica de Exploração
estruturada em 1856 pelo imperador para pesquisar a vida animal de regiões
quase desconhecidas do território brasileiro, retornou ao Rio de Janeiro
trazendo 17.000 exemplares, dos quais, 12.000 insetos e 4.000 aves. Tudo isso
foi destinado ao acervo do Museu Nacional. Lagos trouxe também muitos animais
vivos que, obviamente, não poderiam ser acomodados num museu. O também zoólogo
Frederico Burlemaque, diretor do Museu Nacional, não teve dúvidas: dirigiu-se
ao então comendador Souto, pedindo-lhe que abrigasse os animais em sua chácara.
O relatório deste episódio, narrado por Lagos ao imperador d. Pedro II, datado
de 6 de dezembro de 1861, encontra-se transcrito no livro “História da Comissão
Científica de Exploração”, de Renato Braga:
Senhor! Obedeço à ordem de Vossa
Majestade Imperial, apresentando desde já um relatório sucinto dos trabalhos em
que me ocupei como membro da Comissão Científica encarregada de explorar o
interior de algumas Províncias do Império menos conhecidas. [...] Não poupei
esforços que deram em resultado nos Cariris, a reunião de mais de cem animais,
entre quadrúpedes, aves e répteis; e receando entregá-los a indivíduos que
deles pouco cuidassem, tencionava conduzi-los pessoalmente quando
regressássemos. Com bastante dor, à vista de tanto trabalho perdido como deram,
os vi ir morrendo sucessivamente durante a viagem e alguns mesmo depois de
chegarem à capital, de maneira que poucos restaram, os quais aqui por ordem do
governo imperial entreguei ao Sr. Dr. Frederico Leopoldo César Bulemarque,
diretor do Museu Nacional, donde foram passados, por falta de acomodação, para
a chácara do Sr. Comendador António José Alves Souto: este ilustre cavalheiro,
além de outros serviços prestados ao nosso País, não se tem poupado a incômodos
e despesas avultadas a fim de conservar vivos os mais notáveis animais, tanto
exóticos como indígenas, apesar dos mil embaraços com que luta para satisfazer
a sua louvável paixão, sem lhe arrefecer isso o ânimo, continua sempre com
ardor a prosseguir na carreira encetada. Franqueando à curiosidade pública o
seu jardim zoológico, o Sr. Comendador Souto não se esquece também de remeter
para o Museu Nacional os animais que morrem, e desta maneira vai lucrando
aquele estabelecimento público. (BRAGA, 1982, p. 314, 327-328).
Além
do apoio dado à Comissão Científica de Exploração, anos depois o visconde de
Souto se envolveria também com outra comissão científica, agora internacional,
que foi um dos eventos de maior magnitude do século XIX no campo da Ciência.
Esse registro é encontrado no livro “Historia de la
Comisión Científica del Pacífico”, editado na Espanha, que contém
o relato de uma expedição de altíssimo nível que entre os anos de 1862 e 1865,
partindo de Madri, atravessou os países latino-americanos, do Atlântico ao
Pacífico, tendo contado com o apoio da rainha da Espanha, d.ª Isabel II, da
Junta para Ampliação de Estudos e Investigações Científicas e do Museu Nacional
de Ciências Naturais, de Madrid. No Rio de Janeiro, os chefes da comissão
científica foram recebidos pelo visconde de Souto. No livro, editado pelo
referido museu, da autoria do frei Agustín Jesús Barreiro, respeitado
investigador naturalista espanhol, encontra-se uma das mais completas
referências ao jardim zoológico do Souto e a fascinante descrição da
diversidade de animais ali colecionados, alguns da fauna brasileira e outros
que jamais tinham sido vistos no Brasil e na América do Sul:
[...] informe acerca de una colección
de animales vivos, propriedad de un banquero apellidado Souto, y hasta se
ofreció a acompañarle en una visita que por fin realizaron ambos [Martínez y
Bourget] a la quinta [Chácara do Souto] en que se hallaba instalada dicha
colección. Constaba ésta de algunos leones, coati, hiena, íbis, onzas, jaguar,
urubu, el rey de éstos, jacú, occos, avestruz, faisanes, paca, leopardo, grulla
coronada, garzas, ciervos, gamos, gacelas, y un elefante. No deja de llamar la
atención el que un particular sostuviese a sus expensas todos estos animales
cuyo mantenimiento y cuidados debían importar una fuerte suma. (BARREIRO, 1926.
p. 93).
O
jardim zoológico foi fechado quando da
falência da Casa Souto, em 1864. O imperador dom Pedro II, de quem o visconde
de Souto era amigo, mandou instaurar uma comissão de inquérito para determinar
as causas da crise e suas responsabilidades, tendo sido o visconde de Souto
inocentado em 1866 e reabilitado formalmente pelo Conselho de Estado em 1869.
(Este
artigo é parte do livro Visconde de Souto – Ascensão e “Quebra” no Rio
de Janeiro Imperial, ainda inédito, de Francisco Souto Neto e Lúcia
Helena Souto Martini, trinetos do visconde)
Referências bibliográficas:
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de Janeiro: Letras e Artes, 1964. p. 43.
ASSIS, Machado de. Hoje
avental, amanhã luva. Manaus: Universidade da Amazônia: Educação à Distância,
2009. p. 7, 8.
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Paulo: Cultrix, 1967. p. 242.
AZEVEDO, Manuel Duarte Moreira
de. O Rio de Janeiro: sua história, monumentos, homens
notáveis, usos e curiosidades. Rio de Janeiro: Brasiliana, 1969. p.
75 nota.
BANDEIRA, Manuel; ANDRADE, Carlos
Drummond de. Rio de Janeiro em prosa & verso. Rio de
Janeiro: J. Olympio, 1965. p. 91, 92, 524.
BARREIRO, Agustín Jesús. Historia
de la Comisión Científica del Pacífico (1862-1865). Madrid:
Museu Nacional de Ciencias Naturales, 1926. p. 83, 93.
BARRETO, Lima. Triste fim de
Policarpo Quaresma. São Paulo: Brasiliense, 1977. p. 34.
BENTO, Antônio; ESTRELLA,
Cláudio. Museu da Caixa Econômica Federal. Rio de Janeiro:
Spala, 1981. p. 22, 23.
BRAGA, Renato. História da
Comissão Científica de Exploração. Fortaleza: Universidade do Ceará,
1962. p. 327-328.
BUENO, Eduardo. Caixa: uma
história brasileira. Rio de Janeiro: Buenas Ideias Metalivros, 2002. p. 23, 35.
CARVALHO, Ney Oscar Ribeiro de. Bolsa
de Valores do Rio de Janeiro 150 anos: a história de um mercado. Rio
de Janeiro: MCR, 1995. p. 38, 43, 54, 55.
CASTRO, Augusto de. A ninhada
do meu sogro: apoquentação em três atos. Harvard: Harvard
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CAVALCANTI, João Cruvello. Nova
numeração dos prédios da cidade do Rio de Janeiro: Coleção Memória do
Rio 6, v. II. Rio de Janeiro: Prefeitura, 1979. p. 692, 693, 1050.
CORRÊA, Armando de Magalhães. Terra
carioca: fontes e chafarizes. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1939.
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GERSON, Brasil. História das
ruas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Souza, 1954. p. 330.
MAGALHÃES, Felipe. Um programa
animal. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de
Janeiro: SABIN, a. 2, n. 17, p. 39, fev./2007.
MORALES DE LOS RIOS FILHO,
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NOVAIS, Faustino Xavier de. Cartas
de um roceiro. Rio de Janeiro: Perseverança, 1867. p. 325.
Resumo
Narra episódios da biografia
de António José Alves Souto, visconde de Souto (1813-1880), primeiro
banqueiro privado no Brasil. Descreve sua chácara, em São Cristóvão,
Rio de Janeiro, que confinava com a Quinta Imperial, e fatos ligados a essa
propriedade, como a doação de fragmento da chácara para passagem da
Estrada de Ferro D. Pedro II, no qual foi construída a Estação
Imperial, e o zôo franqueado à visitação pública. Registra que, ao falir
em 1864, no episódio conhecido como "Quebra do Souto", o jardim
zoológico foi extinto.
Palavras-chave: Visconde de Souto ;
jardim zoológico em São Cristóvão ; Quebra do Souto
Abstract
António José Alves Souto, viscount of Souto, born
in Portugal, was the first private banker in Brazil. His farm at São Cristóvão burrough, was
contiguous to the Quinta Imperial. The viscount donated a little part of his
holding to the D. Pedro II Railway, in which was built the Imperial Station.
The viscount owned a live animals collection in his property, open to the
people for free. In 1864 the viscount bankrupted, and the zoo was extinct.
Key-words: Viscount of Souto ; zoological garden ;
bankrupt
===ooOoo===
Nesta
seleção de fotografias, há demasiadas imagens de cães. Isso mesmo, uma
enormidade de fotografias de cachorros. Afinal, para mim tudo bem, porque
considero essas criaturas uns verdadeiros anjos que vieram ao mundo para nos
fazer mais felizes. E não exagero ao afirmar que, embora não seja regra, costumo gostar
mais de cachorros do que de gente. Isto posto, sinto-me justificado.
===ooOoo===
CAIOBÁ
CURITIBA
ANIVERSÁRIO DA ROSSANA EM MINHA CASA
A VISITA DA APARECIDA (foto 64 a 136)
FOTO 77 – Algo bem curioso: sempre que o Tibério chegava à minha casa, o Paco ia aos seus pratos de comida como se temesse que o Tibério comesse tudo. Enquanto o Paco comia, o Tibério respeitava a distância para não incomodar o Paco, olhando- atentamente, até que este parasse de comer. Então o Paco afastava-se e o Tibério ir comer um pouco de ração, tomava uns goles de leite e de água. Convivência pacífica.
ANIVERSÁRIO DO PACO
FOTO 140 – Rose, saudosa irmã do Rubens, vem com o marido Papa a Curitiba e nós os levamos ao litoral paranaense para passarem uma tarde em Caiobá. Acima, na sacada de “Los Perros”.
CURITIBA
CAIOBÁ
CURITIBA
FOTO 180– A visita de minha prima Marisa Emílio Bugni.
FOTO 181– A visita de minha prima Marisa Emílio Bugni.
FOTO 188 – Os retratos em óleo sobre tela de meu avô Francisco Souto Júnior e de meu pai Arary Souto.
FOTO 189 – No Dia das Bruxas, duas lindas bruxinhas minhas vizinhas: Sofia e Helena, filhas de Flávio Maurício Marques e Kátia.
RIO DE JANEIRO
com Lúcia Helena Souto Martini
Eu e minha prima Lúcia Helena Souto Martini, que reside em
Paulínia, viajamos ao Rio de Janeiro a convite de nossa prima Cybelle de
Ipanema (que presidia o Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro) para proferirmos uma palestra no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
sobre nosso artigo publicado na Revista do IHGRJ a respeito da biografia de
nosso trisavô, o Visconde de Souto. Da FOTO 192 a 234, algumas das fotografias
tiradas na ocasião.
FOTO 192 – Fotografia da janela do meu apartamento do hotel onde ficamos eu e Lúcia Helena hospedados.
FOTO 193 – No dia em que chegamos ao Rio, jantamos com nosso primo José Roberto Ponce Grumbach (descendente do Visconde de Souto e do Marquês de Olinda), sua esposa Sílvia Maria Pinheiro Grumbach e um dos filhos do casal.
Embora eu e Lúcia Helena já tivéssemos visitado o interior da chamada Casa da
Glória há poucos anos, que foi uma das propriedades do Visconde de Souto,
retornamos ao Outeiro da Glória para fotografarmos os arredores, os muros e
portões da mansão.
CURITIBA
FOTO 240 – Em casa, com Tibério e Paco.
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OBSERVAÇÃO:
QUEM QUISER ASSISTIR A FILMES QUE FIZ NO RIO DE JANEIRO POR OCASIÃO DESSES ASSUNTOS QUE ENVOLVEM A MEMÓRIA DO VISCONDE DE SOUTO, É SÓ ENTRAR NO CANAL DE FRANCISCO SOUTO NETO NO YOUTUBE E BUSCAR O TEMA. SÃO CERCA DE 500 FILMES DESDE OS TEMPOS DOS SUPER-8 MUDOS, AOS VHS E, FINALMENTE, AOS DVD, INCLUINDO MUITOS FILMES FEITOS EM PASSEIOS À EUROPA.
FIM DO ANO 2011
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2 de setembro de 2023:
80 ANOS ESTA NOITE
CONTINUA NA
PARTE 35
O ano 2012
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