===ooOoo===
2 de setembro de 2023:
80 ANOS ESTA NOITE
PARTE 35
Recordando
o ano 2012
===ooOoo===
O ANO 2012
===ooOoo===
Entre as fotos 128 e 129 fiz uma curta explanação sobre o canal internacional THE HISTORY CHANNEL que lançou no Brasil uma série para a televisão intitulada DETETIVES DA HISTÓRIA. Essa produção resolveu investigar a procedência de um elefante taxidermizado nos tempos do Brasil Imperial, que era uma importante peça do acervo do Museu Imperial do Rio de Janeiro. Nas pesquisas, os técnicos descobriram a existência do primeiro jardim zoológico do Brasil, de propriedade do Visconde de Souto. Investigando na internet o nome do Visconde de Souto, encontraram a informação de que Francisco Souto Neto e Lúcia Helena Souto Martini, trinetos do referido Visconde, estavam já há alguns anos escrevendo a biografia do mesmo. Então mais pesquisas fizeram e descobriram que eu e minha prima residíamos, respectivamente, em Curitiba e Paulínia. Como consequência, localizaram-nos e entrevistaram-nos, e assim nós entramos na fascinante saga pesquisada pelos DETETIVES DA HISTÓRIA, a série muitíssimo bem apresentada por André Guerreiro e Renata Imbriani.
Deixei ali o endereço do YouTube onde está um resumo deste capítulo, chamado O ELEFANTE SEM IDENTIDADE, com apenas 22 minutos, o suficiente para que o espectador se encante com a história e assista à nossa entrevista.
===ooOoo===
RECORTES
===ooOoo===
FOTO 1
Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 10 – Edição 90 – Janeiro 2012
Francisco
Souto Neto
Na manhã de 16 de dezembro de
2011, os vereadores de Curitiba aprovaram um aumento de 28% no salário a ser
pago aos edis municipais a partir da próxima legislatura, aprovada também a
inclusão de um 13º salário em seus vencimentos. No dia anterior fora
apresentada proposta de aumento do subsídio com base na inflação de 2011, que
foi de 6%, porém maioria dos vereadores rejeitou a idéia, aprovando os
polêmicos 28%.
No dia 15, o programa RPCTV 1ª
Edição, apresentado por Jasson Goulart e Tahys Beleze, fez uma enquete
perguntando se os telespectadores eram a favor ou contra esse aumento de 28%.
Goulart observou: “É bom lembrar que maioria desses vereadores será candidata à
reeleição”, completado por Beleze: “E isto num ano marcado por várias denúncias
envolvendo a Câmara, o presidente afastado do cargo depois de fazer negócios
com a própria mulher, usando dinheiro público. Você acha que esse aumento [de
28%] nos salários é mesmo justo?”. Goulart reforçou: “Seria bom que a Câmara
Municipal de Curitiba começasse a dar o bom exemplo, lembrando uma vez mais que
a maioria desses vereadores deve ser candidata à reeleição; portanto, eles já
estão pensando lá na frente”.
Neste ínterim, Dulcinéia Novaes
entrevistava Sabino Pícolo, atual presidente da Câmara Municipal. “A voz do
povo é a voz de Deus”, citou Dulcinéia, para em seguida dizer ao presidente que
naquele momento 96% da população opinava contra o aumento de 28% para os
vereadores. Pícolo tentou justificar, declarando que não se tratava de um
aumento, mas de “um subsídio” de votação também obrigatória para ministros de
Estado, secretários de Estado e municipais. Dulcinéia interveio: “Independente
do termo, subsídio ou aumento, para a população em geral isto representa um
reajuste, um aumento”. Ela está certa. E se os trabalhadores do Brasil, que não
podem decidir o percentual dos seus reajustes anuais, receberam 6% de aumento,
e os aposentados que auferem valores um pouco mais altos perceberão apenas 3%,
é óbvio que esse “subsídio” de 28% para os vereadores soa como um acinte a
todos os seus eleitores. Causa profunda indignação assistir pela bendita
televisão aos nossos representantes defendendo os seus aumentos sem se
importarem com a opinião daqueles que lá os colocaram através do voto.
Certo ou errado, a lei concede
aos que estão no poder, o privilégio de decidir quanto ao reajuste dos seus
próprios ganhos. Portanto, o aumento é legal. Porém, sob o prisma da ética,
provoca espanto e decepção. Até mesmo os competentes jornalistas do referido
programa deixaram transparecer um tanto da sua indignação. E quem não se
indignou? Talvez aqueles 4% restantes que, se não forem parentes dos edis, ou
pessoas ligadas aos mesmos, só poderiam estar brincando com a enquete. De fato,
a nossa Câmara Municipal perdeu a oportunidade de dar ao Brasil um exemplo de
austeridade.
São estes os nomes dos
vereadores que votaram A FAVOR DO AUMENTO e contra a maciça maioria da vontade
popular: Aladim Luciano, Aldemir Manfron, Beto Moraes, Dirceu Monteiro, Emerson
Prado, João Cláudio Derosso, João do Suco, Jorge Yamawaki, Juliano Borghetti,
Julieta Reis, Julião Sobota, Paulo Frote, Paulo Salamuni, padre Valdemir
Soares, Tito Zeglin, Zé Maria e Zezinho do Sabará. O presidente (Sabino Picolo)
não vota, mas manifestou-se solidário ao aumento de 28%.
Vereadores que NÃO APARECERAM
para votar (os que estão “em cima do muro”, nas palavras de Taís Belesse):
Celso Torquato, Caíque Ferrante, Felipe Braga Côrtes, Nely Almeida, professor
Galdino, Renata Bueno.
Foram CONTRA O
AUMENTO de 28%: Algaci Túlio, Denílson Pires, Dona Lourdes, Francisco
Garcez, Jair Cezar, Jonny Stica, Jairo Marcelino, Noêmia Rocha, Pedro Paulo,
Professora Janete, Roberto Hinça, Serginho do Posto, Tiuco Kuzmsa. Está de
parabéns esta minoria de treze vereadores, assim como estão também os bravos
jornalistas Jasson Goulart, Thays Beleze e Dulcinéia Novaes.
(Francisco Souto Neto – Janeiro
2012)
FOTO 2
Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 10 – Edição 91 – Fevereiro 2012
Francisco
Souto Neto
A revista Veja de 18 de janeiro
de 2012 publicou na página 53 a seguinte declaração do deputado federal Paulo Salim
Maluf (PP-SP): “Hoje temos um governador com G maiúsculo sob o aspecto da ética
e da eficiência administrativa”, referindo-se ao governador paulista Geraldo
Alckmin.
Ora, mas Paulo Maluf falando em
ética? A carreira desse senhor foi marcada por seguidas acusações de crimes
contra o sistema financeiro, de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de
quadrilha. No ano de 2005 ele e seu filho foram presos no Brasil, e ele é
atualmente procurado pela Interpol em 181 países, em razão de mandado expedido pela
promotoria da cidade de Nova York, nos Estados Unidos da América, que o acusa
de movimentar ilicitamente milhões de dólares no sistema financeiro. Se ele
pisar em qualquer desses países, será imediatamente preso. No Brasil sua prisão
durou apenas 40 dias, porque aqui, todos sabemos, as leis são muito frouxas e
parece que, para nosso infortúnio, os políticos não estão interessados em
torná-las mais severas.
Mais estranho é que nas últimas
eleições, no final de 2010, apesar de seu pedido de registro de candidatura ter
sido indeferido devido à Lei da Ficha Limpa, Paulo Maluf pôde ser diplomado e
assim assumiu o cargo. A politicagem brasileira resolveu que a Lei da Ficha
Limpa será válida somente nas próximas eleições. Também foi “perdoado” aquele
repugnante crime da deputada Jaqueline Roriz, flagrada e filmada ao receber
propina de pivô do “mensalão do DEM”. Ela se safou rindo e comemorando a
vitória (da corrupção). Não perdeu o cargo, tampouco renunciou, e continua
instalada no seu gabinete. Curioso é que esses políticos sempre aparecem
sorrindo nessas situações, em vez de tentarem esconder o rosto.
Ainda pior do que tudo isso, é
o eleitor que através do voto leva criminosos ao poder. Parece que quanto mais
corruptos são os candidatos, ou os já eleitos, mais são eles envoltos por seus
pegajosos bajuladores que gostam de lhes dar tapinhas nas costas. É por isso
que existe o ditado antiquíssimo e sempre atual: “Cada povo tem o governo que
merece”.
Para completar o circo
brasileiro, Ricardo Boechat, na sua seção da revista ISTOÉ de 19.2.2012,
revelou, ipsis literis: “O acordo entre Paulo Maluf e Geraldo
Alckmin em São Paulo, envolvendo as eleições municipais de outubro, tem
validade de dois anos. O deputado federal apoiará quem o PSDB indicar para
concorrer à prefeitura paulista. Em troca levou o comando da Companhia de
Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo. Em 2014, Maluf
tentará se reeleger, aos 83 anos, para um último mandato político. Fechado
agora, o acerto será anunciado em abril”.
Inacreditável a que ponto
possam chegar os conchavos políticos, e a quanto alcança a falta de ética
nesses loteamentos pelo poder. É nauseante. Homem honesto se dá com homem
honesto, criminoso com criminoso.
Se existe profissão bonita, é a
do palhaço de cara pintada, o do circo da nosso infância, do palhaço que leva
alegria às tardes das crianças internadas nos hospitais do câncer, do palhaço
que ensina a leveza de espírito em suas brincadeiras ingênuas e felizes. Os
políticos-palhaços, ao contrário, só causam constrangimentos ao país. Se vêem
uma câmera fotográfica, eles abrem um sorriso cristalizado. Estivéssemos nós em
países muito civilizados, como o Japão, os políticos-palhaços praticariam o
suicídio, derrocados pela vergonha, isto porque lá eles têm brios; eles têm
consciência da própria dignidade, ou da falta dela.
(Francisco Souto Neto –
Fevereiro 2012)
FOTO 3
Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 10 – Edição 92 – Março 2012
Francisco
Souto Neto
No ano passado, observando o
crescimento da violência em Curitiba, o avanço do tráfico de drogas, e a
ausência de policiamento nas ruas, escrevi numa das minhas crônicas: “O que
estão as autoridades esperando para começar a tomar providências? Que Curitiba
se torne uma nova Rio de Janeiro?”. Infelizmente, minha previsão tornou-se
realidade: foi noticiado pelo G1-PR (Rede Globo), com base em dados do
Ministério da Justiça, que em 2011 Curitiba era a sexta capital mais violenta
do Brasil, com 556 assassinatos para cada grupo de 100 mil habitantes. Já está
pior do que São Paulo e Rio de Janeiro, e é a capital mais violenta da Região
Sul. Fora da Região Nordeste, apenas Curitiba e Vitória figuram no ranking das
“seis mais”.
Entretanto, vejo surgir uma luz
no fim do túnel. No mês passado, num entardecer de domingo, quando as ruas
estavam silenciosas pela ausência de pedestres e veículos, fui andar um pouco
com meu chihuahua. Quando passava pela Rua Mauá, notei que vinham em minha
direção, pela mesma calçada, quatro jovens com um quê de suspeitos.
Disfarçadamente atravessei a rua com o meu cão. Eles prosseguiram seu caminho.
Porém, apenas alguns passos adiante, uma viatura policial virou a esquina em
alta velocidade, o que provocou nos rapazes um início de pânico. Ágeis, os
policiais estacionaram em diagonal, e saltaram do veículo gritando palavras de
ordem. Os quatro jovens levantaram os braços e encostaram os rostos no muro
enquanto eram meticulosamente revistados. A cena foi longa, mas não esperei
pelo seu desfecho. Senti um certo alívio. Foi confortador comprovar que as ruas
do Alto da Glória estavam policiadas.
Logo depois, no dia 1º do
corrente, assistindo ao programa Paraná TV 1ª edição, os jornalistas Jasson
Goulart e Taís Belesse entrevistaram o comandante geral da Polícia Militar do
Paraná, coronel Roberson Bondaruk, a respeito de quatro vilas do bairro
Uberaba, onde a população vinha sendo vítima de invasões e muitos assaltos,
alguns seguidos de morte. A Polícia Militar efetuou naquela área uma gigantesca
operação de repressão, quando foram abordadas mais de 2.300 pessoas e 1.700
veículos vistoriados. Não foi, entretanto, apenas uma ação esporádica. A
exemplo da “polícia pacificadora” que vem atuando nas favelas do Rio de
Janeiro, essa ação será permanente e se estenderá por outros bairros carentes,
depois por toda Curitiba e região metropolitana, e mais tarde pelo interior do
Estado.
Segundo o coronel Bondaruk,
cada policial receberá um determinado número de domicílios como seu posto de
trabalho, e terá que fazer visitas sistemáticas, conhecer os moradores e
tornar-se conhecido pelos mesmos. Na fase inicial, haverá dois módulos
policiais móveis no bairro Uberaba, mas logo depois se tornarão fixos, para que
sejam referências como pontos de segurança. Neste ano de 2012 serão instalados
doze módulos.
Os novos policiais estão sendo
treinados, e os antigos reciclados, sobre direitos humanos, a respeito do uso
não letal de armamentos, e também estão aprendendo a técnica das mobilizações
comunitárias. Deseja-se mudar a cultura policial e sua imagem e forma de
atuação, estimulando os homens da lei a interagirem com a comunidade. O
objetivo é criar um vínculo de cooperação e confiança. Como estímulo aos
policiais, para afastá-los da corrupção e desvios de conduta, há promessas do
governo para melhorar substancialmente os seus salários. Além disso, o telefone
181 já está recebendo todo tipo de denúncias, até mesmo contra policiais.
Em termos de segurança pública,
esta é uma das notícias mais auspiciosas dos últimos anos, e vamos torcer para
que todos os desideratos sejam alcançados com pleno êxito. Curitiba merece
voltar a ser uma cidade segura e exemplar para o Brasil e para o mundo.
(Francisco Souto Neto – Março
2012)
FOTO 4
Crônicas
de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal Centro Cívico – Ano 10 – Edição 93 (Especial) –
Março 2012
Parabéns Curitiba! (Edição comemorativa ao
aniversário da capital)
por Rafael Greca de Macedo, Luciano Ducci e
Francisco Souto Neto
Rafael Greca (Ex-prefeito,
“Rafael de Curitiba”)
Curitiba,
cidade linda e amorosa, glória de heróis fundadores, sonho ver-te mais forte do
que tuas atuais dificuldades. Meu berço, minha casa, meu caminho.
Nestes
teus 319 anos, além da Luz dos Pinhais, sonho em tua honra, uma noite de
Pedreira reaberta. Feérica serenata luminosa, dois milhões de corações
apaixonados, os aqui nascidos, os que aqui escolhemos viver, cantando a alegria
de sermos curitibanos.
Reservo-te,
o melhor de mim, pronto para nova luta em tua defesa. Paixão por Curitiba.
Luciano Ducci (Prefeito
de Curitiba)
A
nossa Curitiba de 319 anos vive um momento especial de sua história.
A
cidade de todos os povos, de todas as religiões, cosmopolita e acolhedora, é a
Curitiba que chama cada vez mais a atenção, mundo afora, pelo seu
desenvolvimento e, sobretudo, suas políticas sociais. Curitiba tem boas razões
para ser admirada, mesmo num mundo globalizado, especialmente por seu espírito
de cidadania, que nos faz participativos e exigentes, o amor ao verde, o
incentivo às diferentes manifestações culturais.
Em
nosso trabalho, o compromisso da nossa gente é com o presente e o futuro da
cidade.
Francisco Souto Neto (Jornalista e Advogado)
Não
perca o caminho e não erre o rumo nestes tempos difíceis, querida Curitiba.
Suas ruas estão pequenas para a invasão de tantos veículos! Seu dia-a-dia foi
tomado por motoristas que desrespeitam o sinal vermelho, e por habitantes que
não sabem mantê-la limpa.
Exija
mudanças, a começar pela construção do metrô e a presença ostensiva da polícia.
Afaste-se dos corruptos, políticos ou não, e alie-se somente às pessoas de bem.
Só assim poderá alcançar seu glorioso destino. Feliz 319º aniversário!
-o-
FOTO 5
Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 10 – Edição 94 – Abril/Maio 2012
Francisco
Souto Neto
Os brasileiros há anos clamam
por leis mais severas, neste país onde estas são vergonhosamente frouxas, onde
nenhum prisioneiro cumpre integralmente a pena a que tenha sido condenado, onde
políticos, como Paulo Maluf – procurado pela Interpol em quase 200 países –
vivem em liberdade e podem ser eleitos para representar o povo no Congresso
Nacional, onde os infratores costumam gabar-se de suas faltas e tratar os
policiais e a própria legislação com escárnio, onde adolescentes, mesmo quando
perpetram os mais repulsivos crimes, são protegidos pela lei que isenta os
menores de dezoito anos de responsabilidade penal.
As emissoras de televisão
mostram diariamente menores que afrontam senhoras e idosos, furtando com violência
seus pertences nas ruas dos grandes centros urbanos, estimulados pela certeza
de que não serão alcançados pelo rigor da lei, mas protegidos por serem menores
de idade. Isto precisa mudar e os maiores de 15 anos têm que responder pelos
seus atos. O Brasil necessita acordar para este problema, e a sociedade deve
pressionar os políticos e outras autoridades, exigindo-lhes as necessárias
mudanças. O anteprojeto do novo Código Penal está em estudos e em discussão.
Espera-se que ele não decepcione e que torne as leis brasileiras muito mais
severas.
Enquanto segmentos batalham
para que os motoristas relapsos sejam coibidos por leis mais pesadas, em
Brasília no mês passado, março de 2012, o Supremo Tribunal de Justiça frustrou
todos esses anseios, decidindo que somente o “bafômetro” e
exame de sangue comprovam embriaguez ao volante. Por outro lado, o infrator tem
o direito (direito?!) de recusar-se a fazer os exames que comprovariam essa
embriaguez. Assim, mesmo que não consiga articular palavras de tão bêbado,
mesmo que seu hálito seja de puro álcool, e mesmo que nem consiga andar de tão
alcoolizado, ele não será preso. Ficará em liberdade para reincidir na
infração. Isso é absolutamente ridículo. A simples recusa de um motorista a se
submeter à prova do “bafômetro” deveria pressupor uma confissão de culpa.
Fernando Calmon, jornalista de
O Estado de Minas, resume a questão com objetividade: “Sinais notórios de
embriaguez (hálito forte, confusão mental, desequilíbrio espacial, fala
prejudicada, olhos avermelhados) deveriam levar o motorista, no mínimo, a
dormir uma noite na cadeia e, depois de processado, cumprir pena em regime
fechado. (…) O Congresso Nacional movimenta-se para reformular a lei e já se
fala em tolerância zero, a exemplo do que ocorre no Japão, Suécia e Noruega,
onde não é admitida nenhuma concentração de álcool no sangue, uma verdadeira
Lei Seca. Testemunhas durante as blitzes seriam suficientes. Mas o motorista
poderia solicitar o uso do bafômetro, desta vez como prova de defesa e não de autoacusação”.
Aqueles que desejam que nosso
país seja regido por leis severas, não devem assistir passivamente aos debates
que estão ocorrendo. Devem manifestar-se, exteriorizando sua insatisfação e o
anseio por mudanças. Comentem com amigos, colegas, comuniquem-se com seus
conhecidos políticos e posicionem-se, antes que seja tarde demais para a sua
própria segurança e a de seus familiares.
(Francisco Souto Neto – Abril
2012)
FOTO 6
Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 10 – Edição 95 – Junho 2012
Francisco
Souto Neto
Tive muita sorte de nascer de
pais inteligentes e liberais. Homem de grande cultura e humanista nato, Arary
Souto nunca levantou a mão para agredir um filho, e de sua boca jamais ouvi um
palavrão. Também da minha mãe não me lembro de receber nem sequer um único
tapa, embora muitas vezes bem o merecesse. Entre suas amigas mais chegadas da
década de 50, tais como Lia, Mimi e Lourdes Rocha, conversando e rindo na sala
de visitas, todas elas diziam palavrões, mas que não iam muito além de palavras
com o mesmo peso transgressor de, por exemplo, a prosaica expressão “bunda”,
época em que era socialmente correto usar o termo “traseiro” para essa parte da
anatomia. Entretanto, delas jamais ouvi aqueles palavrões realmente
pornográficos, muito menos as obscenidades que eu costumava escutar no recreio
da escola. Em casa, quando eu perguntava o significado disto ou daquilo, meus
pais esclareciam, mas me recomendavam não pronunciar tais palavras na frente de
outras pessoas, embora nunca me proibissem fazê-lo. Era uma questão de livre
arbítrio… ou de boa educação. O fato é que cresci sem me habituar a dizer
palavrões em colóquios com amigos, embora não me importe, obviamente, se numa
roda de conversa haja adeptos do palavreado chulo.
Há alguns meses, porém, tive
uma experiência muito desagradável. Enquanto descia por um elevador quase
lotado de um prédio comercial, num dos andares entraram duas moças bem
vestidas, que conversavam trivialidades em voz alta, mas recheadas de palavras
“de fazer corar frade de pedra”. Uma senhora ao meu lado olhou-me de soslaio,
envergonhada do que ouvia, e baixou o olhar. Tive vontade de repreender as
moças para que se abstivessem de palavreado grosseiro na presença de pessoas
que não conheciam, mas considerei que eu correria o risco de ouvir delas
pesados desaforos. O problema é que, se levado a extremos, serei capaz de
romper a represa e soltar todos os palavrões que conheço. Mas isto eu não faria
a elas, e na presença das demais pessoas respeitáveis que estavam no mesmo
elevador. Fiquei apenas refletindo sobre a falta de educação de alguns jovens.
Que modelo de conduta teriam aquelas moças recebido dos pais?
No teatro e no cinema os
diálogos podem ser vulgares, se necessários à trama… e que deliciosamente
chulos eram Plínio Marcos e Nelson Rodrigues, que divertida era Dercy Gonçalves
no palco, e que magnificamente obsceno é Zé Celso Martinez Corrêa. Amigos em
ambiente próprio, na casa de um deles ou delas, também podem usar as palavras
que desejarem. Em lugares públicos, porém, há regras que devem ser observadas
entre os que conversam em voz alta.
Através da rede social
Facebook, casualmente acompanhei a discussão de um homem a quem eu não
conhecia, mas que era amigo de certa minha conhecida, desentendimento este
havido entre ele e uma mulher das suas relações. Ele reclamou que ela usava de
palavras pornográficas que estavam sendo exibidas na página-mural dele, ela
retrucou com palavrões ainda piores… e foi por aí afora. Um autêntico bate-boca
virtual.
Na realidade, redes sociais não
são o endereço correto para baixarias vocabulares, exceto se os praticantes
estiverem num grupo fechado. Palavras obscenas depõem contra quem delas faz uso
em público e mancham a sua imagem. Entre os mais jovens, e é pior para eles, as
redes sociais estão sendo “monitoradas” pelos seus chefes ou patrões. E os
pretendentes a empregos, mesmo aqueles que sejam aprovados em concursos, não
sabem que o Facebook e seus similares são como o famigerado “Big Brother”? Seus
usuários estão em permanente observação. Se eu fosse um empregador, e no
Facebook de um pretendente ao cargo eu encontrasse palavreados obscenos, ele ou
ela não serviria para trabalhar comigo. Assim no Facebook, assim na vida.
(Francisco Souto Neto – Junho
2012)
FOTO 7
Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 10 – Edição 98 – Outubro 2012
Francisco
Souto Neto
Somos diariamente bombardeados
pela imprensa escrita e televisionada com notícias de crimes cada vez mais
bárbaros praticados por menores de dezoito anos. Por mais repulsivos e
hediondos que sejam os delitos resultando nas mortes de crianças, gestantes,
idosos e toda classe de pessoas inocentes, esses jovens criminosos sabem que
jamais serão punidos com rigor, porque estão protegidos pelo obsoleto Código
Penal de 1940. Naquela época, as favelas cariocas eram “românticas”, o
“malandro do morro” uma figura folclórica e simpática que mal conhecia a
maconha, cuja infração mais grave talvez fosse passar o “conto do vigário”. Não
existiam sequestros de pessoas, os muros das casas eram baixos e crianças
brincavam livremente na rua. A crueldade da violência urbana ainda não fora
inventada.
É hipócrita o conceito de que
os menores de dezoito anos do século XXI não têm discernimento, tal como
legisla o velho Código Penal. Eu tive dez anos, quinze anos, e nessas idades eu
sabia muito bem o que era o certo e o errado, o lícito e o ilícito. Os códigos
penais dos países chamados desenvolvidos apresentam um rigor muito mais
realista nessa questão. Em Portugal, por exemplo, a maioridade penal está
fixada aos 16 anos. Nos países escandinavos, aos 15 anos. Na Itália, aos 14. E
na França, aos 13 anos. Mas não paramos aí, pois na Inglaterra as crianças de
10 anos já respondem pelos seus crimes. E em diversos estados norte-americanos
a maioridade penal varia entre os 6 e os 12 anos. Nem preciso mencionar os
casos amplamente comentados na imprensa a respeito da prisão por 15 ou 20 anos
de crianças que cometeram crimes horríveis naqueles países. O bizarro que
ocorre no Brasil, país de leis frouxas, onde criminosos são soltos por falta de
vagas nas prisões ou por uma miríade de outros motivos, é um escárnio, é uma
ofensa, é um tapa na cara de todos nós.
O novo Código Penal está sendo
discutido no Senado. Sua proposta é por modernizá-lo, e também por maior rigor
na aplicação das penas. Nesse contexto, porém, surgiu um estranho paradoxo, que
é o das religiões contrárias ao novo código.
Historicamente, a Igreja
Católica sempre se opôs a novas ideias e à ciência, e não me refiro a Galileu
Galilei, nem à Santa Inquisição que, na Idade Média, mandou
milhões de inocentes para a fogueira. Quem não se lembra, pouco tempo atrás, da
TFP berrando nas esquinas contra o divórcio? Agora a Igreja se associa a
correntes evangélicas com o propósito de obstar o novo Código Penal. A edição
2236 da revista IstoÉ, de 14 de setembro de 2012, sob o título de “A bancada
evangélica faz oposição ferrenha a propostas contempladas no novo Código
Penal”, diz: “A proposta do novo Código Penal (…) trouxe ao cenário
político a possibilidade de, finalmente, o País punir crimes praticados na
internet, enriquecimento ilícito e uso da máquina pública para eleger
candidatos. Propostas inovadoras como estas (…) correm forte risco, no entanto,
de serem barradas por uma guerra de poder entre os parlamentares. Bancadas de
vários tipos se articulam nos bastidores contra artigos do projeto que
consideram danosos aos próprios interesses e aos setores que representam. A
bancada evangélica é a principal opositora ao projeto. Ao travarem uma luta
contra o avanço da discussão sobre o aborto e a eutanásia, além do
enquadramento da homofobia como crime, congressistas evangélicos ameaçam
impedir a votação da reforma do código”.
Ora, o Brasil é um país laico.
Católicos e evangélicos deveriam restringir-se aos rebanhos dentro dos
respectivos templos, sem querer impor seus princípios religiosos a todos os
outros milhões de brasileiros seguidores do hinduísmo, judaísmo, ateísmo,
budismo, islamismo, sikhismo, espiritismo, taoísmo, e também da umbanda,
candomblé e outros.
Parafraseando Alberto Caeiro,
heterônimo do glorioso Fernando Pessoa, “eu sou de uma religião universal que
só os homens não têm”. E acrescento um velho ditado popular: “Cada macaco no
seu galho”. Pelas mentalidades mais arejadas e pelo bem do Brasil, avante, novo
Código Penal!
(Francisco Souto Neto –
Outubro 2012)
FOTO 8
Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 10 – Edição 95 (?) – Setembro 2012
Francisco
Souto Neto
Aramis Millarch residia na Av.
Visconde do Rio Branco, entre a Carlos de Carvalho e a Vicente Machado, num
sobrado muito amplo – com uma parte que lhe servia também de escritório – entre
32 mil discos, 5 mil livros e os arquivos de 50 mil artigos publicados em cerca
de 20 jornais. Quando ele me convidou à sua casa pela primeira vez,
apresentou-me sorrindo a seus amigos que lá se encontravam, dizendo algo de que
não me esqueci: “Este moço é o Souto Neto, que quando não concorda com alguma
coisa, ele escreve, reclama e publica”.
Eu tinha estado há pouco nos
Estados Unidos, onde comprara uma coleção de Bessie Smith em cinco longplays.
Sabendo disso, Aramis pediu-os emprestados, para gravá-los. Falou-me: “Posso
não ouvi-los imediatamente mas, tendo as gravações, poderei delas dispor a
qualquer momento, quando desejar”. Depois levou-me à sala principal da
residência, onde encontrei sua esposa Marilene. As paredes eram cobertas de
obras de arte, do piso ao teto. A peça que mais me impressionou foi um desenho
de Djanira, que naquela mesma sala ela fizera com a mão já trêmula pela doença,
com dedicatória ao casal.
Eu era assessor da diretoria do
Banestado, e Aramis Millarch acompanhava com entusiasmo o meu trabalho em prol
da cultura. Através da sua coluna diária Tabloide, no jornal O Estado do
Paraná, Aramis representou um enorme apoio às minhas atividades profissionais,
pois seus comentários repercutiam favoravelmente na presidência da instituição
onde eu trabalhava. Anos depois iniciei uma campanha no Rio de Janeiro, pela
moralização do histórico Cemitério do Catumbi, onde estão inumados os meus
trisavós, o visconde e a viscondessa de Souto. Na ocasião recebi apoio
principalmente do Jornal do Brasil. Referida necrópole vinha sendo tomada pelo
matagal e, por outro lado, era invadida pela favela vizinha que já levantara
barracos sobre alguns túmulos. Aramis, ao tomar conhecimento desses eventos
através do próprio Jornal do Brasil, telefonou-me para conhecer mais detalhes,
e por várias vezes escreveu e publicou sobre o assunto, endossando e
fortalecendo as minhas denúncias.
Assim era o Aramis: através do
Tabloide, ele transitava por todas as direções, acompanhando o que ocorria em
Curitiba e no país, abrindo discussões sobre os mais variados temas e
abrangendo todos os segmentos do conhecimento. Apoiava com entusiasmo os assuntos
culturais, e combatia com igual veemência, desde os tropeços éticos, às mais
sérias irregularidades praticadas pelos políticos municipais e estaduais. Acima
de tudo, foi ele o mais importante animador cultural da história do Paraná.
Seus assuntos de predileção eram o cinema e a música.
Aramis Millarch faleceu aos 49
anos deixando uma lacuna na vida cultural de Curitiba, e na de seus amigos. A
partir de 2006 todo o seu precioso acervo começou a ser digitalizado, sobretudo
as 572 entrevistas que fez com personalidades das mais importantes no mundo
cultural brasileiro. Paralelamente, seu filho Francisco Millarch começou a
perpetuar seus artigos publicados entre 1957 e 1992, maior parte da coluna
Tabloide, num blog que recebeu o nome de “Tabloide Digital”. Graças
a essa ideia, o pensamento de Aramis, e praticamente tudo o que ele escreveu,
está agora ao alcance de pesquisadores de qualquer ponto do planeta. É como se
Aramis Millarch continuasse entre nós.
Por isso é auspiciosa a
iniciativa da professora Cassiana Lacerda, da UFPR, e divulgada por Aroldo Murá
G. Haygert em sua coluna do jornal I&C em 17.7.2012, que propõe uma
mobilização no sentido de que o Conservatório de MPB da Fundação Cultural de
Curitiba receba o nome de “Conservatório de MPB Aramis Millarch”. Isto é o
mínimo que se poderia fazer pela memória de quem tanto fez por Curitiba, pelo
Paraná, e pela própria Fundação Cultural.
(Francisco Souto Neto –
Setembro 2012)
FOTO 9
Crônicas
de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal Centro Cívico – Ano 10 – Edição 99 – Outubro/Novembro 2012
Francisco Souto Neto
O falecimento de Adalice Araújo provocou em nós, seus amigos, primeiro o impacto da perda e a sensação de uma conversa interrompida bruscamente, seguidos do estupor causado pela ausência.
Nossas
famílias tinham antigos laços de amizade. O pai de Adalice, Adalberto Carvalho
de Araújo, e meu pai, Arary Souto, eram pares de diretoria do Jornal do Paraná,
em Ponta Grossa. Adalberto era o diretor superintendente e Arary diretor de
redação. Quando Adalice completou 21 anos, Arary Souto escreveu no mesmo
inconfundível estilo dos seus editoriais, e publicou na edição de 18.9.1952, o
seguinte: “Srtª Adalice Maria de Araújo – A data de hoje
assinala o transcurso de mais um aniversário natalício da senhorita Adalice
Maria de Araújo, filha dileta do sr. Adalberto Carvalho de Araújo, estimado
superintendente do JORNAL DO PARANÁ e conceituado industrial e fazendeiro
princesino, e de sua exmª esposa, srª Inece Gambassi de Araújo, representantes
de tradicional família paranaense. A distinta aniversariante, que terminou, com
brilhantismo, o curso do Colégio Sion, está atualmente cursando a Escola de
Belas Artes, onde vem se destacando, mercê de seu acentuado dote artístico e
fina inteligência unida à lhaneza de trato e bondade de coração, o que lhe
granjeou a estima e admiração de todas as suas colegas e de seu vastíssimo
círculo de amizades. Ao registrarmos tão grato acontecimento, apresentamos à
senhorita Adalice Maria de Araújo, os nossos parabéns e sinceros votos de
perenes felicidades, extensivos aos seus ditosos familiares”.
Depois
Adalice Araújo viajou à Itália para aprofundar-se no estudo da Arte. Sua
trajetória de vida é por todos conhecida: casou-se com o milanês Erminio
Gianatti, de quem anos depois se separou, e teve um único filho, Marco
Francesco Gianatti, morto tragicamente em 2003, aos 40 anos. Ela foi a mais
importante crítica de arte deste Estado, e durante muitos anos dedicou-se a
escrever o Dicionário das Artes Plásticas do Paraná, programado para ter 2.400
páginas, a mais completa obra dedicada à arte paranaense. Conseguiu lançar
apenas o primeiro dos quatro volumes, após ter sofrido furto nos seus arquivos,
e misteriosas tentativas por se desestabilizar seu projeto cultural, no qual
gastou um milhão de reais, sem nenhum apoio do poder público.
Em
minha residência, na companhia de nossa amiga Heliana Grudzien, além de lembrar
o coleguismo dos nossos respectivos pais, Adalice fez impressionantes
revelações a respeito de telas falsificadas de expressionistas franceses
exibidas no acervo do Museu de Arte de São Paulo como autênticas.
Sempre
comentou-se que Adalice Araújo era muito solidária aos amigos, principalmente
ao valorizar a justiça. Tive essa confirmação de maneira inesperada. Aconteceu
assim: um nosso amigo lançou um livro comentando as últimas décadas das artes
plásticas no Paraná [“40 anos de amistoso envolvimento com a Arte”]. Enquanto
ainda escrevia o livro, ele me pediu informações sobre a história do Salão
Banestado de Artistas Inéditos. Fui até ele e lhe narrei todo o histórico do
evento que criei e conduzi durante quase nove anos. Quando o livro foi editado,
adquiri-o. No capítulo sobre referido Salão, não havia nenhuma referência ao
meu nome. Senti-me desapontado, mas depois não mais pensei no episódio, e
acreditei que ninguém perceberia a falha do autor. Passado um tempo,
talvez alguns meses, eu e Adalice nos falávamos ao telefone, quando ela mais
uma vez me surpreendeu: disse-me que tinha lido o livro do nosso amigo, e que a
“injustiça” da “omissão” ao meu nome seria por ela corrigida no seu Dicionário.
Ultimamente
comunicávamo-nos por e-mail. Eu há pouco encontrara na minha biblioteca
(originalmente do meu pai) um exemplar do livro “Cântico para o Século XX”, de
1952, de Adalto G. de Araújo, irmão de Adalice. O livro está autografado pelo
autor. Na edição de 23.3.1952 do Jornal do Paraná, Arary Souto publicara um
elogio ao poeta e ao livro. Contei isso a Adalice. Ela me respondeu que
gostaria muito de conversar comigo pessoalmente sobre o livro do seu saudoso
irmão. Ficamos de marcar uma data para eu ir ao seu apartamento na Praça da
Ucrânia. Decidi-me a presenteá-la com o livro, porque o exemplar ficaria melhor
com ela do que comigo.
Mas
de repente a musa se cala e o Paraná entristece porque se faz para sempre um
doloroso silêncio.
(Francisco Souto Neto – Outubro 2012)
-o-
OBSERVAÇÃO:
No link abaixo, fotografias para lembrar um
dos memoráveis encontros com Adalice Araújo e Heliana Grudzien:
http://viagenseopinioes.blogspot.com.br/2011/09/francisco-souto-neto-cairo-cidade.html
-o-
FOTO 10
Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 10 – Edição 100 – Novembro/Dezembro 2012
Francisco
Souto Neto
José Gil de Almeida fundou o
Jornal Centro Cívico no primeiro semestre de 2002. Eu o conheci na década de
70, quando trabalhávamos no Banco do Estado do Paraná S.A., o Banestado. Eu era
assessor de diretor, em Curitiba, e ele estava ligado à gerência regional de
Maringá. Naquela época Gil criou um jornal regional para o Banestado, que se
chamava Integração, publicação esta que se tornou mais interessante do que o
jornal oficial do banco em Curitiba. Alguns anos depois, quando Gil já se
encontrava residindo na capital, inaugurou o Opção Cultural, um tabloide underground de
ótimo conteúdo, que teve grande êxito. Com sua experiência cada vez mais
lapidada de jornalista e escritor, fundou dois jornais que continuam existindo
com sucesso: o Jornal Água Verde em 1990 e a Folha do Batel no ano 2000. Em
2002 José Gil de Almeida fez nascer o Jornal Centro Cívico.
Posso dizer que sempre fui
colaborador das publicações de José Gil. Minha preferência era por escrever
memórias de viagens. No Jornal Centro Cívico, todavia, passei a dar prioridade
aos assuntos políticos, embora sem desistir dos relatos das viagens que eu
fazia principalmente ao Continente Europeu.
Em 2006 o jornal foi vendido
para Elaine Cristina Bento Prada, época em que o periódico começava a ser
impresso quase todo a cores, e não apenas a capa e a contracapa. Elaine
prosseguiu aperfeiçoando a publicação. Essa presença feminina abrandou com
naturalidade a linha editorial do Centro Cívico, com menos foco sobre a
política internacional, e maior direcionamento ao nosso Estado e regiões da
capital. Recebi a visita de Elaine Prada antes de circular o primeiro número
sob sua direção, convidando-me para assinar um coluna fixa, mensal, de
crônicas. Gostei da ideia e aceitei o desafio.
O jornal continuou em ascensão,
e Elaine muitas vezes vinha pessoalmente à minha casa trazendo-me exemplares,
quando conversávamos sobre seus planos editoriais enquanto tomávamos um
cafezinho passado na hora.
Para melhor atender a várias
outras atividades de trabalho, Elaine Prada começou a pensar em vender o
jornal. Num primeiro momento, tive um ímpeto em fazer uma proposição pela
compra, movido pelo meu apego ao periódico; porém, acabei por julgar que não
deveria interromper a minha aposentadoria, a exemplo do meu saudoso tio
Jurandyr Souto, que certa vez afirmou: “Quando eu me aposentar, será para
sempre”. Recuei. Logo depois o jornal foi comprado por Maurício Grabowski. Não
poderia ter ido para melhores mãos.
Movido pelo ímpeto do jovem
jornalista, com ampla visão empresarial, o Jornal Centro Cívico ganhou novas
linhas e um formato maior, com conteúdo dinâmico e variado, agora apresentado
inteiramente a cores. Além disso, passou a ser digitalizado, com endereço
na web, e é desta maneira que a imprensa deixa de ser local ou
regional, para abarcar o mundo. Antes, os leitores de Jornal Centro Cívico
restringiam-se a alguns bairros da capital do Paraná; agora a publicação pode
ser alcançada de qualquer parte do planeta, de todos os continentes, de todos
os recantos do globo onde alguém tenha um computador para se conectar à publicação.
O Jornal Centro Cívico circula
pelos centros do poder do Paraná, pelos palácios dos governos estadual e
municipal, denunciando, elogiando, apontando caminhos, sugerindo, e assim
influenciando os leitores em todos os escalões. É um jornal não apenas informativo,
mas também formador de opinião, que em dez anos de existência realizou
importante função cívica, e que continua em ascensão, aspirando por uma
Curitiba e um Paraná cada vez melhores.
Meus parabéns, com votos de que
estes dez anos de sucesso se multipliquem por muitas e muitas décadas.
(Francisco Souto Neto –
Novembro 2012)
FOTO 11
Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 10 – Edição 101 – Dezembro 2012
Francisco
Souto Neto
Quem não recebe em seu
endereço de e-mail aqueles anúncios oferecendo os mais diversos produtos e
variados serviços, que entopem a sua caixa de mensagens, ou que preenchem a
pasta de “spam” a uma velocidade de dezenas – e até centenas – de remessas
diárias?
Além disso, que dizer das
mensagens que chegam em nome de seus amigos e parentes, mas que na verdade são
armadilhas dos “hackers” para infestar o seu computador com os mais variados
vírus, que lhe roubam as senhas, invadem a conta bancária ou simplesmente
destroem os seus arquivos?
Segundo o professor do
Departamento de Computação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) Tiago
Agostinho de Almeida, existem quatro origens para o envio de “spam”. A primeira
delas é a coleta de endereços de e-mail em páginas da internet. Um determinado
programa cria, autonomamente, um banco de informações coletadas em redes
sociais, “blogs” e portais. Outra alternativa utilizada pelos “spammers” são as
correntes de e-mail, aquelas repassadas voluntariamente pelos seus amigos que
lhe pedem para também divulgar, produzindo igualmente um levantamento de
endereços virtuais. O pesquisador ressalta ainda que muitas das mensagens
indesejadas ocorrem porque o usuário cadastra a própria conta em páginas “on
line”. Por fim, a forma mais perigosa é o envio de “spams” com vírus, que
transformam os computadores em verdadeiros zumbis. Sem que os usuários das
máquinas tenham conhecimento, mensagens indesejadas são repassadas aos seus
contatos.
Um dos grandes propagadores
dessa praga é o hábito de alguns, desavisados, de enviar mensagens coletivas
com os endereços em aberto, através do “cc” (com cópia) sem perceberem que o
recomendado é usar o sistema “cco” (com cópia oculta). “Mas estou mandando meu
comunicado apenas para parentes e amigos, e não existe nenhum ‘hacker’ entre
eles”, já ouvi alguém justificar. O que não sabem é que muitos hackers têm
aparelhos sofisticados que podem rastrear e-mails contendo cópias abertas, e
não ocultas, e a partir daí esses criminosos simplesmente usam a seu bel-prazer
esses “inocentes” endereços de e-mail que lhes são entregues “de bandeja”. É
então que você, leitor, recebe um e-mail de um querido parente, dizendo: “Tirei
umas fotos engraçadas aqui em casa, no domingo. Abra e veja”. Ou o e-mail de
outro conhecido, ou desconhecido, dizendo: “Fotos da Fulana de Tal pelada”. É
só clicar para abrir a foto e em seguida precisar chamar o seu técnico, às
pressas, para tentar salvar o que ainda reste dos seus arquivos… ou do seu
saldo na conta corrente.
Quem não souber o que é “cópia
oculta”, ou como valer-se deste método, basta indagar ao Google: “o que é cópia
oculta?”, e terá inúmeras respostas explicando como proceder, e também
discorrendo sobre as inconveniências e perigos do uso da “cópia aberta”. Quem
compreender que ao usar as “cópias abertas” está pondo em risco a segurança e
até o patrimônio de suas mais prezadas amizades e queridos familiares,
certamente mudará seu hábito e passará a proteger as pessoas que lhe são caras.
É sempre válido dar um “toque”
às pessoas do seu círculo de amizade que ainda não se aperceberam desse perigo.
Faz lembrar um prezado amigo que tenho, que mandava aquelas coisas
chatas (e me desculpe a sinceridade), pseudo-filosóficas, a mais ou
menos uns cem endereços em aberto, dentre eles o de um ex-governador e de mais
ou menos meia dúzia de homens públicos muito conhecidos. Coitados (e coitado de
mim por também figurar naquela relação de “cópias abertas”), porque se não
forem os “hackers” invasores e malfeitores, serão as casas Pernambucanas, o
Banco Santander e todos os Diabos-a-Quatro oferecendo seus produtos que vão de
televisores a preços de banana ao Viagra de poder infalível.
Conscientizem-se: não mandem
e-mails com cópias abertas, nem aos seus mais detestáveis inimigos, nem à sua
vovozinha.
(Francisco Souto Neto –
Dezembro 2012)
VISCONDE DE SOUTO, FAZENDA BELA VISTA E CAPELA
MAYRINK, por Francisco Souto Neto e Lúcia Helena Souto Martini.
Livro: REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO
R.IHGB,
Rio de Janeiro, a. 173, n. 455, pp 11-300, abr./jun. 2012
FOTO 12
Por: Francisco Souto Neto e Lúcia Helena Souto Martini
Páginas: 73 a 89
Observação:
A publicação chama-se
"Revista..." mas é, efetivamente, um livro, tanto na forma quanto no
conteúdo. Circulando regularmente desde 1839 (portanto, com quase 174 anos),
ainda época do 1º Reinado, é uma das mais longevas publicações do mundo
ocidental. O artigo de Francisco Souto Neto e Lúcia Helena, é parte do
livro Visconde de Souto - Ascensão e "Quebra" no Rio de
Janeiro Imperial, ainda inédito. Adiante, vai a cópia fiel do
texto publicado e, depois do mesmo, serão encontradas as páginas de 73 a 89 da
própria "Revista".
*
Título:
VISCONDE DE SOUTO, FAZENDA BELA VISTA
E CAPELA MAYRINK
Autores:
Francisco Souto Neto
Lúcia Helena Souto Martini
Resumo
Narra episódios da biografia de António José Alves Souto,
visconde de Souto (1813-1880), primeiro banqueiro privado no Brasil.
Descreve a Fazenda Bela (ou Boa) Vista, comprada pelo visconde de Souto do
espólio do conde de Gestas. Registra a história da construção de uma capela
em 1850, a mando do visconde, hoje conhecida como Capela Mayrink,
nome do seu último proprietário. Conta a trajetória da capela através dos
séculos XIX, XX e XXI, passando por sua desfiguração e decadência, e pela
restauração e preservação nos dias atuais.
Palavras-chave: Visconde de Souto ; Fazenda Bela Vista ; Fazenda Boa
Vista; Capela Mayrink; Floresta da Tijuca; Quebra do Souto
Abstract
António José
Alves Souto, viscount of Souto, born in Portugal, was the first private banker
in Brazil. At the Tijuca he owned a farm, “Bela Vista”, sometimes called
“Boa Vista”, where he ordered the construction of a little chapel, now a days
known as “Capela Mairynk”, beeing Mairynk the family name of its last owner.
Key-words: Viscount of Souto; Capela Mayrink; Fazenda Bela Vista;
Fazenda Boa Vista; Tijuca; bankrupt
*
VISCONDE DE SOUTO, FAZENDA BELA VISTA
E CAPELA MAYRINK
O português António José Alves Souto, visconde
de Souto (Porto 1813 – Rio de Janeiro 1880), foi o primeiro banqueiro particular de que
se tem notícia no Brasil. Residia no bairro carioca de São Cristóvão, na
"Chácara do Souto", localizada na Rua do Campo Alegre (hoje
Ibituruna). Num dos extremos da propriedade mantinha um jardim zoológico, cuja
entrada se fazia pela Rua Nova do Imperador (agora Mariz e Barros) por um
caminho que ganhou o nome de Rua do Souto (atualmente Senador Furtado). Sua
casa bancária, A. J. A. Souto & Cia., popularmente conhecida como Casa
Souto, que rivalizava com o Banco do Brasil em carteira de depósitos,
localizava-se na Rua Direita (hoje Primeiro de Março). Diversos autores afirmam
que a Casa Souto foi a primeira casa bancária do país. Um deles é Pedro Calmon,
na sua consistente obra em sete volumes, História do Brasil, que
registra: "[...] Souto, Dovey & Benjamin, depois denominada Alves Souto
& Cia., foi a primeira casa bancária do Rio de Janeiro, lembraria ‘O
Futuro’ de 15 de novembro de 1862". (CALMON, 1963, v. 5, ed. 2, p. 1731).
FOTO 13
Adolfo Morales de
los Rios Filho, no livro Rio de Janeiro imperial, ao referir-se aos
bancos e casas bancárias criados durante o Segundo Reinado, escreveu:
Bastante importante
foi o estabelecimento bancário denominado "Casa Souto", que girava
sob a razão de A. J. Alves Souto & Cia. Fora fundada em 1834, pelo
português Antônio Alves Souto, e estava instalada na Rua Direita. Subsistiu até
1864. (MORALES DE LOS RIOS FILHO, 1941, p. 206).
A Casa Souto foi fundada em 1833, não em 1834, e nessa época não era ainda
conhecida pelo seu nome popular. 1834 foi o ano em que, por sugestão de Joseph
Maxwell, Souto associou-se a Dovey, criando a empresa Souto & Dovey. No ano
seguinte, com a entrada de Benjamin na sociedade, constituiu-se a Souto, Dovey
& Benjamin, na qual, como na anterior, Souto era majoritário. A essa época,
embora ainda corretor e não banqueiro, Souto começou a realizar operações
bancárias, mas só em 1838, com a saída de Dovey e Benjamin da sociedade, o
escritório passou a ser conhecido como "casa bancária Souto", que
serviria de modelo a todas as outras casas congêneres prestes a nascer.
De 1838 a 1858 a Casa Souto funcionou como "um banco de um homem só".
Machado de Assis, afirmou em A Semana de 25 de junho de 1894,
citado por Gustavo Franco no livro A Economia em Machado de Assis – O
Olhar Oblíquo do Acionista:
Conheci um
banqueiro... Era no tempo em que um homem só, ou com outro, podia ser banqueiro,
sem incomodar acionistas, sem gastar papel com estatutos, sem dividendos, sem
assembléias. Simples Rothschilds. Era banqueiro e voou na tormenta de 1864.
(FRANCO, 2008, p. 165).
Ao falir em 10 de setembro de 1864, episódio historicamente conhecido como
"Quebra do Souto" ou "Crise do Souto", arrastou outros
bancos e cerca de cem empresas. Segundo Ney O. R. de Carvalho...
...o visconde de
Souto foi o protagonista central da mais grave crise econômica do império. A
falência de sua casa bancária, com perto de 10.000 credores e passivo
equivalente à metade da dívida interna bruta da época, foi um terremoto
econômico que abalou seriamente a praça do Rio de Janeiro. (CARVALHO, 1995, p.
54).
A mando de dom Pedro II, uma comissão de inquérito foi instituída para apontar
as causas da Quebra do Souto, tendo sido o visconde inocentado em 1865 e
formalmente reabilitado em 1869. Sua falência foi um fato tão inesperado que
Arthur Azevedo escreveu: "Supor naquele tempo que o Souto quebrasse era o
mesmo que acreditar na quebra do Pão de Açúcar". (AZEVEDO, 1974, p.
113-114).
Desde sua falência, o visconde de Souto foi citado, em maior ou menor
profundidade, em cerca de seiscentos livros, quer como personagem do seu tempo,
quer como protagonista da Quebra do Souto. Dentre as centenas de autores dessas
obras, vale mencionar Afonso Arinos, Arthur Azevedo, barão do Rio Branco,
Carlos Drummond de Andrade, Carlos Manes Bandeira, Eduardo Bueno, Gilberto
Freire, José de Alencar, Lima Barreto, Luís Viana Filho, Machado de Assis,
Manuel Bandeira, Ney O. R. Carvalho, Pedro Calmon, Raymundo Faoro, Ruy Barbosa,
Sérgio Buarque de Holanda, Teófilo Ottoni, Victor Viana, visconde de Mauá,
Werneck Sodré, Wilson Martins.
No ano de 1850, então rico e poderoso, o comendador, depois visconde de Souto,
comprou uma fazenda de café no Alto da Boa Vista, local hoje ocupado pela
Floresta da Tijuca. Já se tratava de uma propriedade histórica que pertencera a
Aymar Marie Jacques Gestas, o conde de Gestas (França 1786 – Niterói 1837).
Antes de Gestas, essas terras eram parte da sesmaria de Salvador Correia de Sá
e que, por sucessão, passaram em 1568 aos viscondes de Asseca, família em que
permaneceram por cerca de dois séculos e meio.
Affonso d’Escragnolle Taunay, no livro História do café no Brasil,
revela:
Gestas saíra da
França na primeira infância levado por uma tia, também emigrada, para fugir à
guilhotina: a condessa de Roquefeuil. Vieram ambos para o Rio de Janeiro onde
D. João VI os acolheu com grande simpatia e ficaram no Brasil até a morte. O
conde de Gestas e sua tia foram os primeiros fazendeiros de café na Tijuca e
ali tiveram assaz grandes lavouras. (TAUNAY, v. 5, t. III, 1939, p. 84).
O livro O Sol do Brasil, de Lília Moritz Schwarcz, confirma as
visitas de dom João VI à Fazenda Bela Vista: "Acima da Cascatinha, o conde
de Gestas – um amigo de Taunay – plantava café e frutas. Sua residência bem
cuidada recebia frequentes visitas de D. João, que parecia gostar da
região". (SCHWARCZ, 2008, p. 267). O historiador Carlos Manes Bandeira, na
obra Parque Nacional da Tijuca, conta que anos depois também dom
Pedro I passou a frequentar a Fazenda Bela Vista:
[...] O conde [de
Gestas] mandou vir da Normandia vacas-leiteiras e mudas de fruteiras, produziu
manteiga e cremes frescos (produtos extremamente raros no país), inclusive o
creme de chantilly. Plantou e colheu magníficos morangos, vindos dos morangais
de Plogastel (França), aclimatou macieiras, pereiras e vinhas, também de
Plogastel. [...] O imperador d. Pedro I e a imperatriz d.ª Leopoldina eram
amigos do conde e frequentavam o seu sítio, motivo pelo qual o conde mandou
colocar um alto mastro sobre um morro lateral à Pedra do Conde, onde fazia
subir a bandeira Imperial Brasileira todas as vezes em que os imperadores ali
chegavam. O local ficou conhecido como "Alto da Bandeira" ou
"Morro da Bandeira", como permanece até hoje. [...]. (BANDEIRA, 1994,
p. 68).
Em 13 de maio de 1823, Gestas casara-se com Alexandrine Françoise Maria du Plessis
Parscault, marquesa de L’Espéroux, que se tornou condessa de Gestas pelo
casamento. No dia 17 de abril de 1824, ano em que comprou a ilha do Viana,
nasceu o filho Pèdre-Marie-Aymar, o futuro segundo conde de Gestas e marquês de
L’Espéroux. Os imperadores foram seus padrinhos de batismo.
No ano de 1830, o conde de Gestas pediu demissão do seu cargo de cônsul geral
da França no Rio de Janeiro com o propósito de se dedicar inteiramente à
Fazenda Bela Vista. Entretanto, contrariando seus próprios planos, passou a
interessar-se muito mais pela ilha do Viana, onde mandou erguer armazéns,
oficinas e estaleiros para a construção de pequenas embarcações. Erigiu também
ali uma residência para si e sua família. Em 27 de setembro de 1835 morreu a
tia, condessa de Roquefeuil. Desgostoso, o conde de Gestas fechou a casa-sede
da Fazenda Bela Vista e foi residir definitivamente na Ilha do Viana com a
esposa e o filho.
Em 28 de julho de 1837, Gestas morreu afogado num naufrágio quando rumava para
a ilha onde residia. A Fazenda Bela Vista, às vezes também chamada de "Boa
Vista", foi leiloada por Frederico Guilherme, mas não há registros de quem
a tenha arrematado. O documento seguinte é datado de 1850 e comprova ter
António José Alves Souto adquirido essa mesma propriedade, mas nele não consta
o nome de algum intermediário entre Gestas e Souto.
Há outros autores que, face à ausência de documentos mais específicos, afirmam
que a fazenda (ou fazendola, chácara, ou sítio – conforme denominações usadas
pelos historiadores), após alguns anos de tramitação do inventário, teria
passado do espólio de Gestas diretamente ao Souto.
Em 1850 a residência estava bastante deteriorada, mas Souto mandou restaurá-la
para ali passar os domingos com a família.
[...] A propriedade
compunha-se de casa de vivenda; casa assobradada para pretos; moinho d´água
para moer trigo; casa para preparação do café com estufa; máquina de descascar,
com jogo de seis pilões, movido por água; uma plantação de 30.000 pés de
cafeeiros, para cima, porém que necessitam de trato; pomar, pessegueiros,
amoreiras e macieiras. (FERREZ, 1972, p. 49).
Desde a vinda de dom João VI com a corte portuguesa em 1808, o Rio de Janeiro
passara a expandir-se. As matas circundantes começaram a ser devastadas, e as
árvores derrubadas para servir de lenha e carvão. A flora das encostas das
montanhas também foi destruída para o plantio de café. Com isso ocorreu um
sério comprometimento das nascentes dos rios. Preocupado com a falta d’água que
afetava a capital imperial, em 1861 dom Pedro II mandou reflorestar toda a
região desmatada, pondo fim às plantações de café e dando origem à hoje
conhecida Floresta da Tijuca, a maior floresta do mundo em área urbana. Foi a
primeira reconstituição da cobertura vegetal com espécies nativas de que se tem
notícia no Brasil, uma louvável atitude para um tempo em que a palavra
"ecologia" ainda não havia sido criada.
A erradicação da cafeicultura e o reflorestamento da região não representariam
grande prejuízo para o Souto, cuja principal fonte de renda era a casa bancária
de sua propriedade, a Casa Souto. A Fazenda Bela Vista passou a ser então uma
propriedade para lazer e entretenimento da família do visconde e seus amigos.
Manes Bandeira empreendeu estudos a respeito das dimensões da Bela Vista,
afirmando, com base num mapa estampado em Pioneiros da cultura do café
na era da independência (FERREZ, 1972, p. 56-57), que a área da
fazenda do conde de Gestas era de 11 alqueires fluminenses e 5/8, as mesmas
medidas das terras compradas décadas depois pelo conselheiro Mayrink, o último
proprietário. Segundo Manes Bandeira, isso prova tratar-se da mesma fazenda que
passou, sem alterações nas suas dimensões, pelo visconde de Souto, conde de
Bonfim, barão de Mesquita e Francisca Elisa de Mesquita (BANDEIRA, 1994, p.
67). A Fazenda Bela Vista estendia-se desde acima da queda da Cascatinha da
Tijuca até o monte hoje conhecido como Pedra do Conde, situado ao norte, e
expandia-se pelo lado oeste até a construção denominada "o Barracão",
agora sede administrativa do Parque Nacional da Tijuca.
O mapa referido por Manes Bandeira e Ferrez, mostrando o Alto da Tijuca e
arredores, cujo título é Mappa do sitio do Sr. Souto, pertence ao
acervo do Arquivo Nacional. Desenhado e assinado por J. A. R. Pereira, Rio de
Janeiro, 1855, dezoito anos após a morte de Gestas, mostra que a Estrada do
Imperador se bifurcava em "Caminho para a caza de
Souto" e "Caminho para a caza de Taunay".
Somente em 1888 a propriedade foi vendida ao conselheiro Mayrink, o que vem a
comprovar que as palavras "Terrenos pertencentes ao conselheiro Francisco
de Paula Mairinck [sic]" escritas no mapa sobre a área da Fazenda Bela
Vista, foram acrescentadas cerca de 40 anos depois da feitura do documento.
A famosa queda d’água conhecida como Cascatinha da Tijuca, pertencia ao Sítio
da Cascatinha, da família Taunay. O topo da cascata, entretanto, era parte da
Fazenda Bela Vista, propriedade do visconde de Souto.
Os nomes de alguns pontos da topografia da atual Floresta da Tijuca foram
alterados no decorrer das décadas e dos séculos. A Pedra do Conde, por exemplo,
recebeu tal nome porque estava dentro da propriedade do conde de Gestas. De
1850 a 1864, passou a ser conhecida como Pedra do Souto. Alberto de Sousa Costa,
em Amor 1º, o cruel: romance d’uma "carioca", de
1926 (repetido por Jacinto do Prado Coelho em O Rio de Janeiro na
literatura portuguesa, de 1965), cita a Pedra do Souto ao descrever a
Tijuca da metade do século XIX, quando era uma serra onde se plantavam árvores
frutíferas e café, e começava a sofrer os efeitos do desmatamento, da erosão e
do assoreamento, antes de a região ser transformada em floresta para a proteção
das nascentes:
Os fundos quietos,
com suas densas massas de arvoredo – mangueiras, coqueiros, palmeiras,
bananeiras, laranjeiras, todas as espécies misturadas, todas as formas
confundidas – tornaram-se vastos pântanos sombrios onde a vida mergulha e se
afoga. A meio das vertentes – a do morro "do Meireles", a da "Pedra
Grande", a do "Pico da Tijuca", a da "Pedra do Souto"
– troncos e ramagens são turbas de filhos do pecado fugindo às águas negras do
dilúvio. (COSTA, 1926, p. 32-33; COELHO, 1965, p. 223-224).
Ao que tudo indica, depois que o Souto vendeu a fazenda para o conde de Bonfim,
o morro voltou a chamar-se Pedra do Conde, como nos tempos do conde de Gestas,
e assim permanece.
Embora a Chácara do Souto, em São Cristóvão, residência principal da família,
contasse com uma capela, o visconde resolveu mandar construir outro pequeno
templo nas terras da Fazenda Bela Vista, consagrando-o a Nossa Senhora de
Belém, da qual era devoto. Erguido ao lado do casarão, que não mais existe, o
oratório é hoje conhecido como Capela Mayrink.
FOTO 14
.
No livro Parque Nacional da Tijuca, Carlos Manes Bandeira dá mais
detalhes a respeito da Fazenda Bela Vista e da Capela Mayrink:
[...] Em 1864 o
visconde foi à falência com sua casa bancária, vendendo a propriedade para José
Francisco Mesquita (barão, visconde, conde e marquês de Bonfim). O local então
passou a ser conhecido como "Alto do Mesquita", indo do topo da
Cascatinha até à cancela de Midosi, um pouco acima do "O Barracão",
no final da Estrada do Imperador. Com o falecimento do conde de Bonfim, herdou
a fazenda Jerônimo José de Mesquita, barão de Mesquita, que a administrou até
1886, quando faleceu, deixando a propriedade para sua filha Francisca Elisa de
Mesquita. Em 1888 Francisca a vendeu ao conselheiro Francisco de Paula Mayrink,
que fez uma ampla reforma na propriedade e na capela. [...] Em 1897 a
Secretaria de Agricultura do Distrito Federal, através do termo lavrado em 18
de maio de 1897, adquiriu a propriedade para nela instalar uma captação de
água. Foi a última desapropriação. (BANDEIRA, 1994, p. 104).
O autor prossegue, referindo-se à trilha que levava da Estrada Velha à casa e
capela do Souto: "Começa na curva superior da Estrada do Imperador, a
cavaleiro do Largo da Cascatinha, e sobe até quase em frente à Capela do
Mayrink, sobre o leito da Antiga Estrada aberta pelo visconde de Souto".
(1994, p. 137).
A história da capela da Floresta da Tijuca vem sendo contada em livros, jornais
e revistas. O livro Vida e obra do conselheiro Mayrink, escrito por
seu neto, Mayrink Lessa, dá ricos pormenores a respeito da capelinha: "Não
havia no Rio de Janeiro um mini-templo mais encantador. O imperador e a
imperatriz muitas vezes iam ali para respirar o ar da mata e fazer orações. A
casa grande criou fama em toda a cidade" (LESSA, 1975, p. 204). Desde
Gestas e do visconde de Souto até ao conselheiro Mayrink, ficaram os registros
de que a fazenda foi sistematicamente visitada por três gerações de soberanos
no Brasil: dom João VI, dom Pedro I e dom Pedro II.
É Lessa quem continua explicando:
Como disse, foi
construída por Alves Souto em 1851, junto ao casarão da chácara da floresta que
um ano antes comprara. Mas a sua verdadeira história só começa em 1860 com um batizado
famoso que a escritora D.ª Therezinha L. de Oliveira, em artigo publicado em
"O Globo", no ano de 1970, atribui a frei João do Amor Divino Caneca.
Não deve ser o famoso frei Caneca da História, herói da Confederação do
Equador, morto em 1825, muitos anos antes portanto. Além disso, chamava-se este
Joaquim e não João. Em 1864, por falência do Souto, passou, como foi dito, a
pertencer seguidamente a várias pessoas da família Mesquita. [...] Em 1888 foi
vendida a propriedade completa ao conselheiro Mayrink, cujas vistas se voltaram
logo para a capelinha [...] (LESSA, 1975, p. 206).
Souto construiu a capela em 1850, e não em 1851, e o religioso mencionado era
Frei João do Amor Divino Costa, nascido João Eustáquio da Costa em 1830, e não
Frei João do Amor Divino Caneca. Franciscano, teve importante atuação no meio
eclesiástico, e faleceu em 1909. Segundo anotação em diário de José António
Alves Souto, o quarto filho do visconde, foi capelão também do oratório
particular na Chácara do Souto.
Não raro, autores escrevem, erroneamente, que a Capela Mayrink teria pertencido
aos primeiros donos da propriedade, os viscondes de Asseca e o conde de Gestas,
como se lê em Tijuca de rua em rua, publicado em 2004:
A pequena Capela
Mayrink, do começo do século XIX, depois de passar por vários proprietários
como o visconde de Asseca, o conde de Gestas, o visconde Alves de Souto e o
conde de Bonfim, recebeu o nome do último proprietário, o conselheiro Francisco
Paula Mayrink. (ROSE; AGUIAR. 2004, p. 28).
É sabido e documentado que a capela em questão não foi construída no começo do
século XIX, e não "passou" pelo visconde de Souto, mas foi mandada
por ele erigir. O ano de 1860 vinha equivocadamente inscrito ao centro da estrela
branca de oito pontas que existe no frontão do oratório. Na verdade o Souto
mandara construir a capela em 1850, ao mesmo tempo que executava a reforma do
casarão ali existente. A data incorreta permaneceu inscrita no frontão até os
primeiros anos do século XXI, quando foi corrigida por iniciativa da museóloga
Ana Cristina Pereira Vieira, Coordenadora de Cultura do Parque Nacional da
Tijuca.
Um problema para a História do Brasil é o das informações distorcidas
divulgadas em livros antigos, os quais serviram de base às pesquisas feitas nas
décadas posteriores, sendo equivocadamente perpetuadas em novos livros. Tal é o
caso da obra A floresta da Tijuca, escrita por Raymundo Ottoni de
Castro Maya, diretor do parque florestal no biênio 1943-1944, quando naquele
lugar ocorreram restaurações de sítios, casas e caminhos, sob a administração
do prefeito Henrique Dodsworth. Em que pese a dedicada atuação de Castro Maya e
a sensibilidade demonstrada no texto do seu livro e nas belas fotografias de
Humberto e José Moraes Franceschi que o ilustram, causa espanto constatar que o
diretor da Floresta desconhecia a história da Capela Mayrink, ainda que tenha
ilustrado seu livro com uma fotografia do exterior e três do interior do
oratório. Castro Maya atribui a construção do pequeno templo à baronesa de
Rouhan, que ele grafa "Rouan":
[...] O antigo
sítio da Cascatinha foi todo remodelado. [...] Faz-se um romance em torno da
Capela de Mayrink, que é relativamente recente: provavelmente da segunda metade
do século XIX, construída no sítio da Baronesa de Rouan que mais tarde veio a
pertencer ao Conselheiro Mayrink. (MAYA, 1967, p. 30).
A baronesa de Rouhan, citada por Castro Maya, era casada com o almirante de
Beaurepaire. O casal comprou, por volta de 1810, uma área fronteira à propriedade
de Gestas, na colina à
esquerda da Fazenda Bela Vista, a qual, após a morte do almirante, foi vendida
em duas partes pela baronesa viúva: o "Sítio do
Almirante" e o "Sítio do Francisco". Em prol da verdade histórica e da exatidão dos fatos, é oportuno
reafirmar que a Fazenda Bela Vista foi propriedade, respectivamente, do conde
de Gestas, visconde de Souto, conde de Bonfim, barão de Mesquita, Francisca
Elisa de Mesquita e conselheiro Mayrink. Jamais pertenceu à baronesa de Rouhan,
e o Souto foi quem mandou construir a capela.
O livro História das ruas do Rio de Janeiro, de 1954, tem 350
páginas. Anos depois, em 1965, quando o autor Brasil Gerson ampliou a sua obra
para 580 páginas, alterou ligeiramente o título da nova edição para História
das ruas do Rio, sem o "de Janeiro". Tornaram-se,
portanto, dois livros diferentes. Na edição ampliada Gerson mencionou a
"capela do Mayrink" sem aludir ao visconde de Souto. Num raro exemplo
de elegância, rigor e respeito à História, ao lançar em 1970 O ouro, o
café e o Rio, acrescentou-lhe um apêndice, justificando-se:
Difícil que seria
agora mais uma edição da "História das ruas do Rio", que, com o
"sertão" e os subúrbios chegou a 580 páginas, que se aproveite esta
oportunidade para algumas correções e acréscimos nela necessários,
especialmente sobre a Tijuca e o Andaraí. [...] E antes que seja tarde: a
capela tida como do Mayrink (vide pag. 453) já existia em 1860, segundo
pesquisa recente do "Guia Rex", na chácara que fora inicialmente do
visconde Antônio Alves Souto, que não figurava na relação dos titulares do
Império brasileiro. (GERSON, 1970, p. 147 e 153).
A propósito, o visconde de Souto realmente não figurava – e não figura – na
relação dos titulares do império, pelo fato de ter sido visconde pelo reino de
Portugal e não pelo império do Brasil. Pelo mesmo motivo, o Almanak Laemmert
deixou de mencioná-lo durante as décadas em que publicou os nomes dos
titulares, bem como na relação "Grandes do Império", onde aparecem em
ordem alfabética todos os marqueses, condes, viscondes e barões agraciados com
tais títulos pelo soberano do Brasil.
Mayrink Lessa conta o episódio da decoração da capela por Portinari na primeira
metade do século XX:
Moradores da
região, mediante nova subscrição, encomendaram ao grande artista Portinari
painéis religiosos do próprio punho para o interior do templo. Resultaram daí
as quatro telas que no recinto se encontram. Em 16 de julho de 1944, o cardeal
D. Jaime de Barros Câmara, celebrou ali missa solene, inaugurando oficialmente
o mini-santuário. As quatro telas de Portinari são: Nossa Senhora do Carmo e o
Menino; São Simão Stock; São João Batista da Cruz, na parte superior do altar e
uma visão do purgatório na parte inferior. Tirados de modelos vivos, levou o
pintor à tela a figura de sua irmã Inês, como Nossa Senhora; seu filho, como o
Menino Jesus; seu irmão, como São João da Cruz, o grande místico; e seu pai
como São Simão Stock, a quem Nossa Senhora entregou o escapulário. (LESSA,
1975, p. 208).
Não são conhecidos registros do aspecto original da capela à época em que foi concebida
pelo visconde de Souto. Entretanto, um episódio ocorrido em 1985, pôs nas mãos
de Francisco Souto Neto, um dos autores deste artigo, precioso documento que
muito provavelmente é a mais antiga imagem da hoje denominada Capela Mayrink.
Naquele ano, no Rio de Janeiro, Souto Neto dirigiu-se ao Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, no Palácio Gustavo Capanema, para
tratar do andamento da proposição que fizera pelo tombamento do Cemitério São
Francisco de Paula, mais conhecido como Cemitério do Catumbi, onde estão
sepultados os viscondes de Souto, dentre outros grandes vultos do Segundo
Reinado. Na ocasião, o arquiteto Umberto Nápoli, que tratava do assunto durante
a gestão de Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, disse casualmente a Souto Neto que
nos arquivos havia uma gravura da casa
do visconde de Souto na Fazenda Bela Vista. Retirou-se por alguns minutos e ao
retornar trazia a cópia xerox possivelmente de uma litografia, que mostrava o
casarão. Ao lado, um pouco ao fundo e atrás do arvoredo, via-se a parte
superior da fachada de um oratório. Como a gravura priorizava a fachada da
casa, a identificação da capela ficou no terreno da suposição, embora tudo
indicasse tratar-se da hoje Capela Mayrink, o que seria comprovado anos mais tarde.
FOTO 15
Acervo IPHAN (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional).
Ao longo do tempo a capela vem sofrendo interferências na estrutura. Ao que
parece, o conde de Bonfim a reformou em 1865, logo que comprou a Fazenda Bela
Vista da massa falida do visconde de Souto. Também restaurou-a o conselheiro
Mayrink ao adquirir a propriedade em 1888. Depois da desapropriação feita pelo
governo da nascente república, o pequeno templo caiu no esquecimento. Na década
de 30 do século XX a construção estava próxima da ruína quando recebeu uma
reforma, concluída em 1938.
Em 1943 Raymundo Ottoni de Castro Maya assumiu
a administração da Floresta da Tijuca por um biênio, disposto a embelezar a
construção. Entretanto, e infelizmente, efetuou grandes e incorretas alterações
na capela, a seu bel-prazer e sem nenhum rigor histórico. Embora fosse um
mecenas dedicado, praticou descaracterizações na Capela Mayrink e fez
reconstruções inadequadas em outros prédios da floresta. Para servir como
sacristia, mandou construir um anexo na lateral do oratório, dando-lhe a forma
de um "L" invertido. As janelas em semicírculo foram retiradas e o
templo recebeu outras, redondas.
FOTO 16
.
Apesar desses equívocos, Castro Maya também efetuou bem-vindas inovações, como
a aquisição de telas de Portinari para o altar. Para adornar os nichos da
fachada obteve duas estátuas de mármore, a Fé e a Caridade, e mandou construir
um campanário ao lado da capela. Burle Marx cuidou do paisagismo.
Entre 1960 e metade da década seguinte, a
capela declinou até ao completo abandono. Primeiro a pintura deteriorou-se e a
construção foi sendo aos poucos coberta por pichações, até ficar, em 1976, com
aspecto próximo ao de uma ruína.
FOTO 17
Foto acervo IPHAN (Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
.
Por providencial exigência do IPHAN, sua restauração foi iniciada em 1977, na administração
de Antônio Domingos Aldrighi. Contrariando os interesses da Cúria
Metropolitana, mas atendendo a fidelidade histórica quanto ao aspecto original
da construção, demoliu-se a sacristia, o porão incorretamente aterrado por
Castro Maya foi desobstruído para ventilação, e a capela voltou a receber
telhas como as originais. As janelas tornaram
ao seu antigo formato, segundo relato constante do catálogo assinado pela
coordenadora de cultura do Parque Nacional da Tijuca, Ana Cristina Pereira
Vieira. Das intervenções arquitetônicas de Castro Maya, conservou-se somente o
campanário.
Em 2004 a capela recebeu de Carlos Barros a doação de portas de vidro,
instaladas na parte externa da porta principal.
FOTO 18
Foto por gentileza de Rick Ipanema
(Ricardo Ramalho), janeiro 2010.
Ao mesmo tempo que efetuou a correção da data da construção da capela, Ana
Cristina Pereira Vieira encomendou ao escultor Baldinir Bezerra da Silva uma
imagem da primeira padroeira, Nossa Senhora de Belém, da devoção do visconde de
Souto, com 80 cm de altura por 45 cm de base. Agora figuram na capela as suas
três padroeiras históricas.
O pequeno templo, muito bem cuidado neste começo de século, faz jus àqueles que
o apontam como um dos mais belos e pitorescos das terras fluminenses. É uma
jóia arquitetural a surpreender pela delicada beleza e a encantar os visitantes
da Floresta da Tijuca, um precioso legado do visconde de Souto ao Rio de
Janeiro.
(Este artigo é parte do livro Visconde de Souto – Ascensão e
"Quebra" no Rio de Janeiro Imperial, ainda inédito, escrito
pelos autores deste texto, trinetos do visconde)
Referências:
AZEVEDO, Arthur;
MAGALHÃES JÚNIOR, Raimundo (org.). Contos ligeiros. Rio de
Janeiro: Bloch, 1974. p. 113, 114.
BANDEIRA, Carlos
Manes. Parque Nacional da Tijuca. São Paulo: Makron, 1994. p.
VIII, 68, 77, 78, 104, 137, 146.
CALMON,
Pedro. História do Brasil. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1963.
v. 5, ed. 2, p. 1731.
CARVALHO, Ney Oscar
Ribeiro de. Bolsa de Valores do Rio de Janeiro 150 anos: a história de
um mercado. Rio de Janeiro: MCR, 1995. p. 54.
COELHO, Jacinto do
Prado. O Rio de Janeiro na literatura portuguesa. Lisboa:
Comissão Nacional das Comemorações do IV Centenário do Rio de Janeiro, 1965. p.
224.
COSTA, Alberto de
Sousa. Amor 1.º, o cruel: romance d’uma "carioca".
Lisboa: Portugal-Brasil, 1926. p. 39.
FERREZ,
Gilberto. Pioneiros da cultura do café na era da independência: a
iconografia primitiva do café. Rio de Janeiro: IHGB, 1972. p. 48-49, 56-57, 69,
96.
FRANCO, Gustavo
Henrique Barroso. A economia em Machado de Assis: o olhar oblíquo do
acionista. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2008. p. 135, 165.
GERSON,
Brasil. O ouro, o café e o Rio. Rio de Janeiro: Brasiliana,
1970. p. 153.
LESSA, Francisco de
Paula Mayrink. Vida e obra do conselheiro Mayrink (completada
por uma genealogia da família). Rio de Janeiro: Pongetti, 1975. p. 130, 204,
206.
MAYA, Raymundo
Ottoni de Castro. A Floresta da Tijuca. Rio de Janeiro: Bloch,
1967. p. 30.
MORALES DE LOS RIOS
FILHO, Adolfo. O Rio de Janeiro Imperial. Rio de Janeiro: A
Noite, 1946. p. 256.
SCHWARCZ, Lília
Moritz. O Sol do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 2008. p.
267
TAUNAY, Affonso
D’Escragnolle. História do café no Brasil: v. 5, t. III. Rio
de Janeiro: Departamento Nacional do Café, 1939. p. 81-82, 84, 158, 460.
*
As páginas digitalizadas do
artigo acima poderão ser encontradas neste link:
https://fsoutoneto.blogspot.com/2012/11/em-construcao-livro-revista-do.html
===ooOoo===
FOTOGRAFIAS
CAIOBÁ
FOTO 21 – Vou ao outro lado da rua, na calçada do outro lado, e fotografo meu amigo Rubens numa das sacadas.
FOTO 22 – As sacadas enfeitadas. À esquerda, a sacada do meu quarto. À direita, a maior, que é da sala.
FOTO 24 – Como a Av. Atlântica fica com o trânsito de veículos impedido, o momento de carros se transfere para a nossa rua, que é paralela à Av. Atlântica.
FOTO 34 – Semanas depois retornamos a Caiobá, para aí comemorarmos o aniversário do Tibério, que na foto acima pode visto no colo do Rubens.
FOTO 40 – Comidas para as pessoas e para os pets, todos à mesa. Lá na cabeceira da mesa, o bolo de aniversário.
FOTO 44 – Pensando em comprar um apartamento ainda melhor, vamos conhecer dois à venda no Edifício Torre Alta.
FOTO 45 – Pensando em comprar um apartamento ainda melhor, vamos conhecer dois à venda no Edifício Torre Alta.
FOTO 46 – Pensando em comprar um apartamento ainda melhor, vamos conhecer dois à venda no Edifício Torre Alta.
FOTO 103 – Naquela metade da década de 40 o plástico estava recém-descoberto. O comum eram os brinquedinhos de galalite. Os primeiros carrinhos do novo material não eram chamados de “plástico”, mas de “matéria plástica”. As bonecas das meninas eram de pano, com a cabeça de porcelana pintada.
FOTO 104 – Os tucaninhos recebiam nomes de personagens, conforme o brinquedo. Aqui, por exemplo, poderiam ser eu e Carlos, amigo do Jardim da Infância, e uma tartaruga...
FOTO 105 – Fotos do telhado do meu prédio no Centro Cívico, mas voltadas para o lado do Alto da Glória.
FOTO 106 – Fotos do telhado do meu prédio no Centro Cívico, mas voltadas para o lado do Alto da Glória.
FOTO 107 – Fotos do telhado do meu prédio no Centro Cívico, mas voltadas para o lado do Alto da Glória.
CURITIBA
FOTO 123 – É claro que o uso de “colar elizabetano” (próprio para ser usado com cães e gatos após cirurgias nos olhos) é uma BRINCADEIRA MINHA. Isto é, a cirurgia de catarata foi verdadeira, mas o uso de “colar elizabetano” foi só para rir com parentes e amigos!
Eu e Lúcia Helena
na série Detetives da História
A série de
televisão “DETETIVES DA HISTÓRIA”, do canal internacional THE HISTORY CHANNEL, num
dos seus episódios teve como tema um elefante taxidermizado (empalhado) do
acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Nas pesquisas sobre essa peça, os
Detetives da História descobriram que no Rio de Janeiro imperial existiu um
zoológico, o primeiro do Brasil, que poderia ser a origem do elefante “sem
identidade” do referido Museu. O zoológico pertenceu a um milionário
excêntrico, o Visconde de Souto. A pergunta da série foi: “Esse elefante teria
pertencido ao Visconde de Souto?” Nas suas pesquisas em busca de respostas, os
Detetives da História descobriram na internet os nomes de dois descendentes do
Visconde: Francisco Souto Neto e Lúcia Helena Souto Martini. Descobriram porque
já estava comentado na internet que eu e minha prima estávamos escrevendo a
biografia de nosso trisavô, o Visconde de Souto.
Assim, os Detetives
da História me descobriam em Curitiba e Lúcia Helena em Paulínia. Ficaram então
de vir a Curitiba para entrevistar-nos. Porém, antes da data marcada, por uma
questão de logística, informaram-nos que a entrevista seria realizada em
Paulínia e não em Curitiba. Deste modo, em vez de Lúcia Helena vir a Curitiba,
eu fui a Paulínia. E foi ótimo, porque pude rever minha querida tia Jacyra,
irmã de meu pai e mãe de Lúcia Helena. E assim fomos entrevistados e o
resultado disso transformou-se em um capítulo da série DETETIVES DA HISTÓRIA.
Esse capítulo chamou-se “O ELEFANTE SEM IDENTIDADE”.
Meses depois, o
produtor Daniel Lion teve a imensa gentileza de me enviar o DVD (com os
maravilhosos e queridos Renata Imbriani e André Guerreiro Lopes na capa)
contendo o episódio "O elefante do museu" ["O elefante sem
identidade"] do programa "Detetives da História", do qual minha
prima Lúcia Helena Souto Martini e eu tivemos a alegria de participar. Os “Detetives
da História” são Renata Imbriani e André Guerreiro. O DVD é uma linda lembrança
para guardar para sempre.
Eu fiz uma cópia
resumida do episódio, com apenas 22 minutos, mas que dá uma ideia mais ou menos
completa da história. Abaixo, é só clicar e assistir ao interessantíssimo
filme:
https://www.youtube.com/watch?v=OL2LLQOhjUo&t=1186s
As fotos a seguir
foram tiradas na casa de minha tia Jacyra, onde a equipe da televisão nos
entrevistou.
PAULÍNIA, SP
FOTO 139 – A equipe era formada por uns 10 técnicos, mais os dois entrevistadores “detetives”: André Guerreiro e Renata Imbriani.
FOTO 143 – Renata Imbriani, a Detetive da História. No momento em que escrevo estas legendas (em dezembro de 2023), Renata Imbriani, que é atriz, faz parte do elenco da “novela das 9” da Rede Globo que está passando no momento, “Terra e Paixão”.
CURITIBA
FOTO 167 – Momentos de Paco Ramirez.
FOTO 168 – Momentos de Paco Ramirez.
FOTO 169 – Momentos de Paco Ramirez.
FOTO 170 – Momentos de Paco Ramirez.
FOTO 171 – Momentos de Paco Ramirez.
FOTO 172 – Momentos de Paco Ramirez.
FOTO 173 – Momentos de Paco Ramirez.
FOTO 174 – Momentos de Paco Ramirez.
FOTO 175 – Momentos de Paco Ramirez.
CAIOBÁ
O réveillon
===ooOoo===
OBSERVAÇÃO:
QUEM QUISER ASSISTIR A FILMES FEITOS EM CAIOBÁ POR OCASIÃO DESSES PASSEIOS, É SÓ ENTRAR NO CANAL DE FRANCISCO SOUTO NETO NO YOUTUBE E BUSCAR O ASSUNTO. SÃO CERCA DE 500 FILMES DESDE OS TEMPOS DOS SUPER-8 MUDOS, AOS VHS E, FINALMENTE, AOS DVD, INCLUINDO MUITOS FILMES FEITOS EM PASSEIOS À EUROPA.
FIM DO ANO 2012
===ooOoo===
2 de setembro de 2023:
80 ANOS ESTA NOITE
CONTINUA NA
PARTE 36
O ano 2013
===ooOoo===
===ooOoo===
Nenhum comentário:
Postar um comentário