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2 de setembro de 2023:
80 ANOS ESTA NOITE
PARTE 36
Recordando
o ano 2013
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O ANO 2013
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O dia em que não apertei a mão do governador, o repúdio às ditaduras, a condenação de Lerner, o metrô curitibano morrendo antes de nascer, questões de semântica e o Visconde de Souto sendo trazido de volta à luz, são alguns temas das minhas crônicas publicadas em jornal.
Impactante no ano de 2013 foi descobrir que um irmão de meu avô paterno, fruto de seu primeiro casamento, morto ainda quando bebê, chamado Francisco José Alves Souto Filho, e sepultado em Petrópolis, é hoje conhecido como "o Anjinho de Petrópolis" e a ele são atribuidos milagres. Meu bisavô, viúvo, conheceu aquela que seria minha bisavó, e o sexto filho do casal recebeu o nome de Francisco Souto Júnior... Essa história está contada pelo jornal Tribuna de Petrópolis, que me entrevistou por telefone sobre o assunto. e que poderá ser conferido nas FOTOS de número 76 a 89.
No ano anterior eu e minha prima prima Lúcia Helena Souto Martini, concedemos uma entrevista à série do canal THE HISTORY CHANNEL denominada DETETIVES DA HISTÓRIA e neste 2013 este capítulo da série ("O elefante sem identidade") foi lançado na televisão. Embora eu já tenha tratado deste assunto na PARTE 35 destas minhas memórias, estou repetindo algumas fotografias já exibidas no ano passado, mas agora anexei outras fotos que tirei da tela do meu televisor no momento em que o episódio foi ao ar.
Além disso, na parte final publiquei inúmeras fotografias tiradas durante o ano, maciça maioria de cachorros. Para alguns amigos isso talvez pareça excessivo, mas quem desfruta do privilégio de ter animais de estimação em casa, melhor compreenderá a importância que os mesmos têm na vida de tutores idosos.
E o tempo? Este corre célere, rápido em excesso...
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FOTO 1
Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 10 – Edição 102 – Fevereiro 2013.
O dia em que não apertei a destra do governador
Francisco
Souto Neto
Estou transcrevendo para um
“blog” as minhas colunas “Expressão & Arte” de 1988 a 1998. Na última
edição do ano de 1994, datada de 27.12.1994, Lerner era o governador eleito, e
eu publiquei o seguinte: “No Paraná, rejubilemo-nos com o futuro governo Jaime
Lerner, desejando que o mesmo traga ao Estado um tempo profícuo de grandes
realizações e a valorização e ampliação do panorama da cultura”.
Minhas esperanças, contudo,
eram funestas e equivocadas. Até ali eu admirava o “administrador de cidades”
Jaime Lerner, que como prefeito tinha realizado uma obra respeitável na capital
do Paraná. Naquele ano de 1994, Lerner não era candidato ao governo do Estado,
enquanto os postulantes ao cargo já realizavam debates na televisão. No último
dia regulamentar, e bem próximo das eleições, Lerner candidatou-se,
surpreendendo a todos. A imprensa tratou o assunto como um “golpe” para
apresentar aos eleitores uma novidade de última hora, poupando ao candidato os
desgastes dos debates, pois ele não participou de nenhum destes. Mesmo assim,
vi com bons olhos essa candidatura, pois apreciava a obra do ex-prefeito, e
também cheguei a comentar em minhas colunas que Lerner era o único político que
eu via em teatros, exposições de artes plásticas e, sendo ele cinéfilo como eu,
nos cinemas da Fundação Cultural de Curitiba, assistindo a filmes da melhor
qualidade. Provas da minha antiga admiração por Lerner estão nos meus escritos
a seu favor, e nas muitas fotos que tivemos, lado a lado, publicadas na imprensa.
Entretanto Jaime Lerner foi
uma decepção total como governador. Suas gestões envolveram-se em denúncias de
corrupção. E contrariando as promessas de campanha política, embora declarasse
que o Banco do Estado do Paraná não seria privatizado em seu governo, ele o
privatizou. Portanto, mentiu com fins eleitoreiros. O Banco foi quebrado pelos
homens da sua confiança (pois diretores do Banestado eram cargos da confiança
do governador) e vendido “a preço de banana”, o que representou um prejuízo
brutal e inestimável para o Paraná. Obviamente minha opinião sobre Lerner mudou
radicalmente.
O riquíssimo acervo artístico
do Banestado ficou em poder do Banco Itaú. No primeiro instante, o Itaú aceitou
a ideia de ceder em comodato, ou seja, emprestar por
certo período, as obras de arte do Banestado ao governo do Paraná. Mas por
pressões, e eu apoiei a iniciativa, o Itaú acabou concordando em doar o acervo ao Estado.
Gentilmente a diretoria do
Banco Itaú convidou-me para a cerimônia da doação, que se realizou no Palácio
Iguaçu. Compareci, embora decidido a não cumprimentar o governador, procurando
me omitir sem ser grosseiro na “casa” do próprio Lerner, que era o palácio.
Cheguei cedo, e já estavam presentes no enorme salão muitos amigos meus. Num
canto, um conjunto de cordas começou a executar, magnificamente, o Bolero de
Ravel. A certo momento o governador entrou pela porta dos fundos, aquela que dá
na sala onde estão os retratos a óleo de todos os governadores. Ele atravessou
linearmente o imenso salão retangular, sendo cumprimentado por todos onde
passava. Neste momento, me afastei um pouco. Depois, durante a cerimônia da
doação, o governador fez um belo discurso, e às vezes os nossos olhares se
encontraram. A seguir, todos os convidados continuaram conversando em grupos.
Alguns começaram a se retirar, despedindo-se dos conhecidos e do governador,
que estava não muito longe da porta. Quando um dos meus amigos saía, chamei-o
pelo nome e disse-lhe que eu também estava indo embora; e assim, conversando
“distraidamente” com aquele meu amigo, eu me retirei e nos dirigimos para o
elevador.
Deste modo, sem ser
grosseiro, e discretamente, saí “à francesa”, sem apertar a destra do
anfitrião.
(Francisco
Souto Neto – Fevereiro 2013)
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FOTO 2
Crônicas de Francisco Souto Neto para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 10 – Edição 103 – Março de 2013
A Comissão de Direitos Humanos sob a presidência de Marco
Feliciano?!
Francisco
Souto Neto
Poucas vezes temos presenciado
tão intensa e persistente manifestação popular avessa aos atos do governo,
quanto contra a nomeação do deputado-pastor Marco Feliciano para a presidência
da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal. Essas mostras de repúdio que
estão nas redes sociais e que têm reunido milhares de pessoas em passeatas
através de inúmeras cidades brasileiras, divulgam que os protestos não são
contrários aos evangélicos, mas à pessoa de Marco Feliciano.
Os protestos têm fundamento. Já
há dois anos a revista Veja alertava na edição de 31.03.2011: “Deputado
liga negros a descendência amaldiçoada de Noé – Em microblog, parlamentar de SP
aumenta crise deflagrada por Jair Bolsanaro”. A matéria da Veja
revelava: “Parece que a moda de deputados esbravejando contra gays e
negros publicamente, iniciada por Jair Bolsanaro (PP-RJ), pegou. Pelo Twitter,
o pastor evangélico e deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) saiu em defesa
do colega acusado de racismo e homofobia nesta quinta-feira. Feliciano chamou
de ‘práticas promíscuas’ o relacionamento entre homossexuais e de ‘descendentes
amaldiçoados de Noé’ os africanos. A reação no microblog foi imediata e o
parlamentar ainda reclamou por ter sido criticado. De acordo com a teoria do
deputado evangélico, os ancestrais que povoaram a Etiópia, na África, são
descendentes de um neto amaldiçoado de Noé chamado Canaã e esse seria o motivo
das doenças e da miséria naquele continente, que originou a raça negra. Ao ser
recriminado por internautas, Feliciano justificou: ‘Africanos descendem de
ancestral amaldiçoado por Noé. Isso é fato’ (…).” Na sequência,
Feliciano afirmou ainda: “Sobre o continente africano repousa a
maldição do paganismo, ocultismo, misérias, doenças oriundas de lá: ebola,
aids”.
O infeliz Feliciano não se
mostra apenas desinformado, ignorante e racista. Basta entrar no YouTube e
ouvir da sua própria boca os disparates oriundos do fanatismo religioso, e
assistir a cenas indecorosas. A revista ISTOÉ 2261, de 20.03.2013, que se
encontra nas bancas quando escrevo este texto, traz a reportagem “A
sonegação de Feliciano”, e denuncia: “Documentos obtidos por ISTOÉ
mostram que o polêmico presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara
escondeu da Justiça Eleitoral ser dono de empresas, entre elas um consórcio de
imóveis que ele próprio induzia fiéis a comprar em seu programa gospel. A
omissão caracteriza quebra de decoro parlamentar e o preconceituoso deputado
pode até ser cassado. ‘Realize, em nome de Jesus, o sonho da casa própria. Com
apenas R$300,00 por mês você adquire um consórcio que dará uma carta de crédito
de R$30 mil’. Era com essa frase que o deputado-pastor Marco Feliciano (PSC-SP)
encerrava, até bem pouco tempo atrás, seu programa de pregações na tevê. Na
tela, o sermão teatral era substituído pelo apelo comercial, enquanto números
de telefone em seis capitais, inclusive Brasília, surgiam num canto da tevê com
o logotipo da empresa GMF Consórcios. Quando foi questionado por estar se
utilizando da fé alheia para acumular lucros, Feliciano saiu com a desculpa de
que ele fazia apenas a propaganda de um patrocinador do seu programa
televisivo. Agora se sabe que ele não falou a verdade. A GMF pertence ao
próprio pastor”. A reportagem, em três páginas, prossegue: “Afinal,
o que esperar de um líder religioso que prega a intolerância sexual e o
preconceito racial? Nada disso o impediu de assumir a presidência da Comissão
de Direitos Humanos da Câmara. Trata-se da maior aberração política dos tempos
recentes. E Feliciano ainda cometeu desvios graves de conduta, incompatíveis
com o exercício do mandato parlamentar”. A ISTOÉ faz várias outras
denúncias, comprovadas, que meu leitor encontrará na própria revista.
Basta de deformidades em
Brasília. Fora, Feliciano! E o mesmo aos políticos “fichas sujas”, como Paulo
Maluf e Renan Calheiros, dentre tantos outros que se agarram com unhas e dentes
às tetas do governo. Unamo-nos pela ética em nosso país onde os religiosos e os
sem religião sejam igualmente respeitados, bem como os brancos, negros e
amarelos, e as minorias. Exijamos uma assepsia profunda no Congresso Nacional,
pelo engrandecimento e fortalecimento dos Poderes Constituintes.
(Francisco Souto Neto – Março
de 2013)
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FOTO 3
Crônicas de Francisco Souto Neto para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 10 – Edição 104 – Abril de 2013
E há quem sinta saudade da ditadura
Francisco
Souto Neto
Temos presenciado situações
bizarras no Congresso Nacional. Renan Calheiros, que responde por peculato, foi
guindado à presidência do Senado. Corruptos do “mensalão”, José Genoino e João
Paulo Cunha, condenados pelo Supremo Tribunal Federal, passaram a integrar a
Comissão de Justiça da Câmara. Um pastor com pensamento e discurso nazista,
Marco Feliciano, é hoje presidente da Comissão de Direitos Humanos. E o
latifundiário e agro-empresário Blairo Maggi, que foi “premiado” em 2004 com o
famigerado troféu “Motosserra de ouro” do Greenpeace, recebeu a presidência da
Comissão do Meio Ambiente do Senado Federal. Poderia haver situações mais esdrúxulas
e homens mais inadequados nos cargos que ocupam?
Se essa anomalia ocorre, é por
conchavos de partidos políticos, e dos parlamentares que legislam não pela
vontade do povo, mas em benefício próprio. Fazem-se de surdos aos veementes
protestos que brotam a cada segundo de todos os cantos do Brasil, e zombam dos
que batalham para que eles sejam apeados do poder.
Esse estado de coisas tem
gerado outra anomalia, tão ou mais perigosa do que o acima relatado. Nas redes
sociais, que são poderoso meio de sugestões e pressões, estão surgindo apelos e
panfletos de saudosistas da ditadura militar, como se esta fosse o remédio para
sanar as irregularidades de um governo. Isso demonstra que a insensatez também
campeia à solta, e que cidadãos comuns estão com o pensamento à deriva.
Quem poderia ser hoje
simpatizante da ditadura? Ou os desmemoriados, ou os desinformados, ou os
ignorantes da História, ou quem esteve envolvido com o passado obscuro dos Anos
de Chumbo. Talvez sejam eles os mesmos que agora se mostram contrários aos
trabalhos da Comissão da Verdade, esta que vem trazendo à luz as revelações que
a História da segunda metade do século XX ocultou com mão de ferro.
É preciso lembrar que o golpe
militar de 1964 pôs em prática diversos Atos Institucionais, culminando com o
nefasto AI-5, que dissolveu o Congresso Brasileiro e suprimiu as liberdades
individuais, permitindo que o Exército e a polícia militar pudessem prender e
encarcerar qualquer cidadão considerado suspeito ou contrário à ditadura. A
repressão que se instalou no país considerou inimigas as associações civis
contrárias ao regime. A censura foi imposta à literatura, arte, cinema, teatro
e a todos os órgãos de comunicação. A tortura fez-se uma prática habitual. Os
dissidentes foram exilados ou mortos. Por volta de 1967, grupos esquerdistas
escolheram a luta armada como forma de reagir aos setores civis e militares que
implantaram a ditadura no país. O poder divulgava a notícia de que
“guerrilheiros tinham por objetivo aterrorizar o Brasil”, quando de fato lutavam
contra o autoritarismo da ditadura e pela liberdade de pensamento e expressão.
É muito extensa a lista de intelectuais, escritores, músicos, compositores,
professores, políticos e outros cidadãos de bem que foram perseguidos,
torturados, e amargaram o exílio, quando não assassinados. Dilma Rousseff,
dentre todos os que aderiram à luta armada contra a ditadura, é certamente o
nome mais notável, por ser hoje a suprema mandatária deste país.
Se em tempos de ditadura eu
publicasse os dois primeiros parágrafos desta crônica, seria preso, torturado,
e possivelmente não viveria para continuar escrevendo. Assim foi, assim são e
assim serão as ditaduras: sórdidas e imorais. Aqueles que lutaram contra a
tirania são os mesmos que abriram caminho para que nós jornalistas, na
restauração da democracia, pudéssemos voltar a nos expressar livremente.
Hoje não é mais admissível
qualquer tipo de exceção, de direita ou de esquerda, e a ditadura é a mais
abjeta e vergonhosa forma de governo que existe. Se não concordarmos com os
desmandos que vemos ocorrer no governo, como os mencionados ao início desta
crônica, temos que sair do comodismo para engrossar o caldo dos que se
posicionam e exigem mudanças… mas sempre dentro do estado democrático de
direito, este que supera o simples Estado de Direito e que defende, através das
leis, todas as garantias fundamentais baseadas no Princípio da Dignidade
Humana.
(Francisco Souto Neto – Abril
de 2013)
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Na mesma edição do Jornal Centro Cívico, Souto Neto publicou na página 10:
FOTO 4
Os jardins do Centro Cívico transformaram-se em matagal
Resido no Centro Cívico desde
1977, portanto há 36 anos, e jamais vinha visto algo tão triste quanto os seus
jardins, que foram originalmente projetados por Burle Marx, transformados neste
2013 em completo matagal. Qual a origem de tão gritante desleixo? Creio que
tudo começou com a retirada, pelo governador Beto Richa, dos subsídios ao
transporte coletivo, que tornavam as tarifas dos ônibus muito mais acessíveis
para a população, assim prejudicando enormemente os usuários. Isso aconteceu
porque o prefeito eleito nas recentes eleições, Gustavo Fruet, é de outro
partido político. Mas se o assunto dos jardins é responsabilidade da
prefeitura, por que as áreas que circundam o Palácio Iguaçu seriam
discriminadas? Seria uma represália da prefeitura pela indisposição com o
governador? Ou seriam problemas com a terceirização talvez insatisfatória dos
serviços de jardinagem? Seja o que for, isto não interessa ao cidadão que quer
atravessar os jardins e não o matagal do Centro Cívico.
O fato é que os canteiros de
flores desapareceram, devorados por ervas daninhas, e a grama transformou-se em
denso mato. As quatro fotos abaixo servirão para registrar essa inacreditável
negligência. A capital do Paraná não merece ser mostrada com aspecto tão
deprimente aos seus habitantes e visitantes. Os responsáveis que sintam
vergonha dessa situação, e cumpram o seu dever, antes que Curitiba apareça nas
revistas de circulação nacional como a capital mais descuidada do Brasil.
As fotografias que ilustram
este texto foram tiradas por mim no dia 17 de abril de 2013.
(ass.) Francisco Souto Neto,
morador da região do Centro Cívico.
Abaixo, legendas para as fotos:
FOTO 5
Foto 1 – Acima, o Largo Melvin Jones. À esquerda, a
Assembleia Legislativa. Entre as árvores, detalhe do Palácio Iguaçu.
FOTO 6
Foto 2 – Acima, o matagal ao redor do ponto de ônibus ao lado do
Palácio Iguaçu. Ao fundo, a Assembleia Legislativa.
FOTO 7
Foto 3 – Acima, a Praça Rio Iguaçu, ao lado do Palácio Iguaçu. Quase não se avista o painel de Rogério Dias ao fundo.
FOTO 8
Foto 4 – Acima, à esquerda, atrás da árvore, a
Assembleia Legislativa. Ao fundo, atrás do matagal, o Palácio das Araucárias.
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FOTO 9
Crônicas
de Francisco Souto Neto para o Jornal Centro Cívico
Jornal Centro Cívico – Ano 10 – Edição 105
– Junho de 2013
Francisco Souto Neto
No
ano de 2008, ao publicar uma crônica sobre cães deixados ao abandono, veiculei
uma informação incorreta que recebera a respeito da atuação dos pet
shops, em relação às feiras que têm por objetivo encontrar novos donos para
animais abandonados. Tenho uma amiga e vizinha, Marlene Castro, atuante
voluntária e protetora de animais carentes, que recentemente me prestou informações
precisas sobre o assunto.
Diz
Marlene Castro: “As empresas ou pets shops não recolhem animais abandonados,
nem cuidam deles dando vacina, banhos, nem levam ao veterinário. Também não
encaminham os animais para doações. Quem faz esse trabalho, normalmente são
pessoas comuns assim como eu e outras tantas, que não suportam ver descaso e
sofrimento. Frequentemente levamos esses animais para nossas casas, ou pagamos
hotel para acomodá-los até encontrar um dono para eles. Os protetores de
animais pagam para os pet shops as vacinas, os banhos e todos os cuidados
necessários para o bem estar dos animais. Alguns pets fazem descontos para os
protetores, mas como qualquer empresa cobram pelos serviços prestados. Tentando
castrar os gatos abandonados na Rua Mauá, pedimos ajuda a uma senhora ali
residente, porque na casa dela existem muitos gatos, que ela apenas deixa que
fiquem em sua casa mas não cuida deles, porém ela se recusa a ajudar. Soubemos
que muitos gatos já foram envenenados por seres humanos malvados, moradores
nessa rua. Na Rua Manoel dos Santos Barreto, Juvevê, numa casa desabitada que
pertence a Assembleia Legislativa, há muitos gatos procriando… Para as
castrações quem está nos apoiando é uma ONG chamada Focinhos. As pessoas não
imaginam como existem protetores de animais por aí, cada um fazendo o que pode,
o que é possível, as vezes o impossível também!”.
O
Projeto Focinhos é uma ONG sem fins lucrativos, fundada para diminuir o número
de animais abandonados nas ruas. Como outras similares, pretende reduzir o
problema da superpopulação de cães e gatos através de cirurgias de
esterilização, que é o meio mais eficiente e humanitário para o controle
populacional de animais. Tais cirurgias são realizadas com custos reduzidos
para quem deseja esterilizar seus cães e gatos, e que tenham renda familiar de
até R$2.000,00. O Projeto conta com a ajuda de veterinários voluntários, e para
arrecadar dinheiro para a compra do material cirúrgico, organizam quermesses
para a venda de produtos com sua marca, tais como camisetas, canecas e
adesivos. O objetivo final é o de proporcionar a cães e gatos qualidade de
vida, abrigo, comida, água, cuidados médicos e um lar com amor e carinho. Mas
esses voluntários vão muito além disso. Por exemplo: casualmente eu vi Marlene
Castro acompanhada de outra minha amiga, Tânia Maria Schaykoski, levando água e
ração para alguns cães que pareciam abandonados ou esquecidos atrás dos muros
de uma grande propriedade nas redondezas.
Outra
pessoa que tem se dedicado com admirável altruísmo a animais abandonados é
Adriana Granville Urban, filha de Marlene Sant’Anna, uma querida amiga desde a
minha infância. Adriana associou-se a Caroline Bueno, Taísa Motta e Ellen
Koenig, e juntas criaram a “Miau Au”, com um objetivo explicado por elas mesmas:
“Somos um grupo de pessoas que, dentro de nossas possibilidades, procura
proteger, garantir tratamento adequado, prover alimentação e contribuir para
que cães e gatos abandonados em Curitiba tenham um lar onde sejam respeitados e
tratados com o carinho que os animais merecem”. Elas resgatam animais em
risco, trabalham com a conscientização dos proprietários, e promovem castrações
quando possuem recursos geralmente oriundos de colaboradores mensais, e também
através de rifas e afins.
Essas
moças que idealizaram a “Miau Au” veicularam um cartaz através do Facebook que
diz: “ADOTE UM AMIGO: cães filhotes e adultos, castrados e vacinados. Todos os
sábados sem chuva, das 13 às 18 horas. Para adotar você precisa trazer seu RG,
comprovante de residência e contribuir com R$20,00. Endereço da
organização: caopanheirocuritiba.com.br Local: Pet Shop
Fofuras, Rua Marechal Hermes, 678, Centro Cívico (ao lado da rotatória).
Contato para o evento: vagas@caopanheirocuritiba.com.br ”.
A
essas amigas, a minha admiração e respeito pelo maravilhoso trabalho que
realizam com tamanho empenho e carinho.
(Francisco Souto Neto – Junho de 2013)
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FOTO 10
Crônicas
de Francisco Souto Neto para o Jornal Centro Cívico
Jornal Centro Cívico – Ano 10 – Edição 106 – Julho
de 2013
Francisco Souto Neto
Não
víamos em nosso país manifestações públicas e protestos tão veementes desde
1992, quando multidões de “caras pintadas” saíram às ruas exigindo o impeachment do
então presidente Fernando Collor de Mello. Foi um momento admirável da História
do Brasil, quando cidadãos de todos os quadrantes do nosso território
posicionaram-se contra a corrupção e os desmandos do governo.
Porém
o Brasil avançou por caminhos que foram se tornando cada vez mais tortuosos,
com a ampliação dos casos de políticos corruptos que, em sucessivos governos,
se gabam da sua própria impunidade (Paulo Maluf e Renan Calheiros são exemplos,
assim como os condenados do “mensalão” que continuam inexplicavelmente em
liberdade), isto somado à falta de investimentos em educação e saúde, ao
alarmante aumento da violência urbana, às leis frouxas que não punem
exemplarmente os condenados em julgamentos, e às dificuldades do trabalhador
que é obrigado a utilizar um transporte público de péssima qualidade através de
todo o país. Observando ao longo dos anos esse crescendo de situações cada vez
mais incômodas, muitas vezes refleti sobre o fato de os brasileiros manterem-se
acomodados, como se tudo isso fosse normal, aceitável e imutável.
Foi
então que aconteceu a gota d’água: o aumento de 20 centavos nas tarifas do
transporte público na capital de São Paulo principiou um extraordinário
movimento nacional de protesto. Na realidade, o Movimento Passe Livre teve
início no ano passado, e as posições contra o aumento das passagens do
transporte coletivo começaram em Porto Alegre e Goiânia em março de 2013.
Entretanto, a magnitude dos acontecimentos de São Paulo no atual mês de junho foi
espantosa; o movimento logo repetiu-se no Rio de Janeiro, e em menos de uma
semana espalhou-se pelas principais capitais e alcançou várias cidades
brasileiras.
No
começo, a violenta e indiscriminada repressão policial aos ativistas de São
Paulo causou espanto até na imprensa internacional, enquanto Geraldo Alkmin,
governador do Estado, declarava que o movimento era “político” e que a polícia
agira corretamente, taxando os manifestantes, genericamente, de baderneiros. Na
sequência dos fatos, com a descarada naturalidade comum a certos políticos,
mudou convenientemente o seu discurso, porque a maciça maioria desses
manifestantes era, desde o início, formada por jovens pacíficos que apenas
exerciam o seu direito de reclamar daquilo que nós, na imprensa, também
reclamamos e nos indignamos. As manifestações contrárias ao aumento das tarifas
ampliaram-se, embora sem perder o objetivo inicial, envolvendo o repúdio à
corrupção nos governos federal e estaduais, à PEC 37, e também para exigir as
diversas mudanças a que todos aspiramos.
As
lamentáveis depredações, principalmente no Rio de Janeiro, perpetradas por
pequenos grupos, não empanam a importância dos acontecimentos. A esmagadora
maioria da impressionante multidão de cerca de 100 mil pessoas, constituiu-se
de cidadãos de bem que saíram do comodismo para dizer o que querem do Brasil.
Quando a bandeira de algum partido político despontava no meio da multidão,
ouvia-se o grito uníssono de milhares de vozes, exigindo: “sem bandeira!”; se
encontravam resistência, entoavam “sem violência!”, e conduziam o intruso para
fora da manifestação.
Em
Curitiba, no dia 17 de junho, reuniram-se cerca de 10 mil pessoas que, em
ordem, marcharam pacificamente da Rua XV de Novembro em direção ao
Palácio Iguaçu, no Centro Cívico. É uma pena que sempre surjam grupos
infiltrados nas passeatas, dispostos a cometer atos de vandalismo e
depredações, o que ocorreu perto da meia-noite, quando alguns marginais
atacaram um portão do palácio do governo e picharam o mármore da fachada do prédio.
Porém, em seguida, vimos dezenas de outros autênticos manifestantes limpando
civicamente as pichações das paredes.
Os
baderneiros e depredadores, que espero que sejam identificados e processados,
não conseguiram manchar a beleza da manifestação de pessoas admiráveis que se
posicionam por um Brasil melhor e mais justo, e que representam o recado direto
aos políticos e a seus partidos, de que a paciência chegou ao limite. Deputados
e senadores lá estão para nos representar, não para defender seus próprios interesses.
Somos nós, os eleitores, que mandamos no Brasil.
(Francisco Souto Neto – Curitiba, 19 de Junho de
2013)
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FOTO 11
Crônicas
de Francisco Souto Neto para o Jornal Centro Cívico
Jornal Centro Cívico – Ano 11 – Edição 107
– Agosto de 2013
Francisco Souto Neto
Tenho seguidamente recebido por e-mail, e também vejo nas redes sociais, uma
mensagem que se propõe a corrigir o termo “presidenta”, mensagem esta que
classifico como cretina e sabotadora, cujas palavras iniciais, com erros de
concordância e outros vícios de linguagem, dizem, ipsis literis: “Uma
belíssima aula de português! Foi elaborado para acabar de vez com toda e
qualquer dúvida se tem [sic] presidente ou presidenta. A
presidenta foi estudanta? Existe a palavra presidenta? Que tal colocar um
‘basta’ no assunto?”. Adiante, a mensagem tenta ironizar: “A
candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta…”. A
tal “belíssima aula” está supostamente assinada por Miriam Rita Moro Mine,
professora de Engenharia na UFPR.
Antes de tudo, é preciso lembrar que o vocábulo presidenta está dicionarizado
há muitas décadas, e palavra dicionarizada é palavra correta. [O grande
Machado de Assis a usou pela primeira vez em 1880, ao publicar o
livro Memórias Póstumas de Brás Cubas]. Eu já usava
“presidenta”em textos que publiquei nos distantes anos 70, e é pífia qualquer
discussão sobre a sua existência. Tanto “presidente” quanto “presidenta” são
corretas e podem ser usadas no gênero feminino, a depender da vontade de quem
escreve ou fala. Por tais motivos, resolvi contatar a professora Miriam, para
dialogar sobre o seu equívoco. Buscando um meio de encontrá-la através da
internet, descobri a seguinte declaração divulgada pela própria professora:
“Nunca escrevi absolutamente nada sobre a existência ou não da palavra
‘presidenta’. Meu nome está sendo usado indevidamente como autora de um texto
que circula na internet e na imprensa. Sou professora da Universidade Federal
do Paraná – UFPR, Departamento de Hidráulica e Saneamento, graduada em
‘Engenharia Civil’ e com pós-graduação em cursos de ‘Engenharia’ (Mestrado e
Doutorado) e professora de cursos de ‘Engenharia’ na UFPR (ver meu Curriculum
Lattes – www.cnpq.br – plataforma lattes). Eu jamais escreveria um
texto que não fosse da minha área de atuação. Miriam Rita Moro Mine. Universidade
Federal do Paraná. Departamento de Hidráulica e Saneamento. Caixa postal 19011.
81531-990 Curitiba, PR”.
Ou seja, o verdadeiro autor da “aula” desapareceu e alguém, de maneira ladina e
criminosa, pôs o nome da referida professora no texto apócrifo, como se fosse
ela a sua autora. Por isso, antes de as pessoas divulgarem pela internet,
deveriam comprovar as fontes dessas notícias, para saber se são verdades ou
mentiras com o objetivo de enganar e confundir a opinião pública. Se a professora
Miriam for à polícia e registrar queixa, é provável que chegará ao autor do
crime, e assim poderá processá-lo. A tal “belíssima aula” é um fake com
o propósito de disseminar falsidades e confusões sobre o idioma pátrio, e
principalmente desqualificar a presidenta Dilma Rousseff.
Ao buscar na web um contato com a professora Miriam, encontrei
casualmente um texto inteligentíssimo sobre o assunto, da autoria de Igor
Santos, no seguinte endereço:
O texto de Igor Santos é necessariamente longo, com introdução igualmente
extensa, mas deve ser lido na íntegra. Sobre o assunto em
discussão, não há outra aula melhor, nem mais contundente e precisa. O autor
escreveu visivelmente irritado, e acrescento: benfazeja a sua irritação! Está
na medida exata em que eu, também aborrecido com aqueles que parecem acreditar
que a palavra “presidenta” foi inventada por Dilma Rousseff, venho sugerir que
não veiculem besteiras pela web sem antes checar as fontes.
Querem outro exemplo de “nonsense”? Ei-lo: já recebi no Facebook, de
seis diferentes e indignados amigos, a notícia que tem por título “Dilma
zomba do fim dos protestos no Brasil”. Ao transcrever esse título no
Google, busquei a fonte da “notícia” e encontrei-a no blog denominado
“Arrota1” que, após as opiniões dos leitores, se defende ao pé da página, para
evitar processos contra si, declarando: “Fique atento – O Arrota1 é um
portal de humor. Publicamos sátiras e notícias humorísticas fantasiosas,
fictícias, que não devem ser levadas a sério”.
Por favor! Comprovem a veracidade antes de compartilhar notícias falsas. Há
maneiras bem mais produtivas de colaborar na construção de um Brasil melhor.
(Francisco Souto Neto – Agosto de 2013)
OBSERVAÇÃO:
Esta crônica foi também publicada na Gazeta
de Santa Cândida, Curitiba, de Agosto de 2013, Edição nº 143.
Foi igualmente republicada no mesmo Jornal Centro Cívico de Abril de 2014, Edição nº 114.
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FOTO 12
Crônicas
de Francisco Souto Neto para o Jornal Centro Cívico
Jornal Centro Cívico – Ano 11 – Edição
108– Setembro de 2013
Francisco Souto Neto
Após
o golpe de Estado de 1964, os prefeitos das capitais não eram eleitos em
sufrágios populares, mas impostos ao povo pelo Poder Militar, isto é, pela
ditadura. Naqueles tempos de triste memória, dizia-se “manda quem pode, obedece
quem tem juízo”. Outro conceito que definia o pensamento dos que orquestravam o
regime de exceção era: “às favas com os escrúpulos da consciência”. Sob tal
panorama político Jaime Lerner foi nomeado prefeito para o seu primeiro mandato
(1971 a 1974) e também para o segundo (1979 a 1983). Entretanto, o novo
prefeito surpreendeu destacando-se não como político, mas como urbanista. Suas
mais notáveis inovações foram a transformação da Rua 15 de Novembro em via para
pedestres e a instalação de canaletas exclusivas para ônibus urbanos. Ele
também brilhou ao inaugurar três cinemas de arte na capital, administrados pela
Fundação Cultural de Curitiba. Graças aos acertos da sua administração, ele foi
pela primeira vez eleito democraticamente após o período da ditadura, para
cumprir o seu terceiro mandato de prefeito (1989 a 1993).
Durante
as três gestões, e também nos intervalos entre as mesmas, eu costumava ver com
muita frequência Jaime Lerner em teatros, cinemas de arte, nas aberturas de
exposições, em lançamentos de livros. Isso era admirável. Nós fomos
apresentados um ao outro em 1981, e no ano seguinte ele e minha mãe descerraram
a placa de inauguração da Rua Arary Souto em homenagem a meu pai. As palavras
finais do discurso de Jaime Lerner ficaram registradas numa gravação: “Arary
Souto levou na carne toda a Humanidade”. Dias depois, ao visitá-lo na
prefeitura para agradecer-lhe as atenções, tirei dele uma fotografia
significativa: de dentro do seu gabinete avistavam-se, através de ampla janela,
partes dos prédios do governo estadual no outro lado da praça, e eu lhe disse
que me parecia estar fotografando um futuro governador. Na foto seguinte, ele
fez um misterioso gesto que não entendi muito bem, com o braço esquerdo dobrado
sobre o peito, os dedos semicerrados.
De
fato, no ano seguinte, logo após o final do seu terceiro mandato como prefeito,
Lerner elegeu-se governador do Paraná (1994 a 1998), depois reeleito até 2002.
Se o prefeito foi inovador e aplaudido pelos projetos de urbanismo, o
governador fez-se total decepção. Ele cometeu erros grosseiros e muitos dos
homens da sua confiança revelaram-se corruptos e criminosos.
Jaime
Lerner tornou-se um desastre na História não apenas do Paraná, mas do Brasil,
causando enorme decepção a seus eleitores e ex-amigos. Passou a mentir com o
mesmo descaramento dos maus políticos. Por exemplo, disse em discurso gravado:
“No meu governo o Banestado não será privatizado”. Pois o banco oficial do
Paraná foi levado à falência por homens da sua confiança e privatizado a preço
vil, causando prejuízos devastadores aos paranaenses e ao Estado. Quem desejar
conhecer as acusações contra Lerner, contantes das mais de mil páginas da CPI
do Banestado, nunca é tarde para se escandalizar e se indignar com essas
revelações; basta colocar no Google “cpi banestado neivo beraldin” e, em
seguida, clicar em “Íntegra do Relatório” e em “Acervo Digital”. Lerner também
tentou privatizar a Copel, movendo céus e terras nesse propósito. A grita do
povo, porém, foi alta demais e Lerner recuou. Sua cínica declaração
televisionada foi “A nossa querida Copel não será privatizada”.
Isso mesmo: disse “querida” como se não desejasse esmagá-la, como fez ao
Banestado.
No
dia 15 de agosto de 2013 os jornais estamparam em primeira página a manchete:
“Ex-governador Jaime Lerner é condenado a devolver R$ 4,3 milhões ao Paraná”.
Foi ratificada a sentença da 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná
que, por improbidade administrativa, condenou Lerner à perda dos direitos
políticos e à referida multa aos cofres públicos. Mas condenações não são
novidade para ele: em 2011 uma decisão do STJ condenou Jaime Lerner a três anos
e seis meses de prisão, mais uma multa, pelo crime de dispensa ilegal de
licitação na construção de estradas no Paraná. Embora condenado, Lerner não
precisou cumprir a pena devido à prescrição do crime e por ter mais de 70 anos
na época. Lamentavelmente as leis brasileiras são muito frouxas. Confesso que
ao ver fotos atuais do ex-governador, já decrépito, chego a sentir dó, mas é
preciso não esmorecermos, porque quem deve – e ele deve demais ao Paraná e aos
paranaenses – tem que pagar, e isto todos nós esperamos da Justiça.
FOTO 13
Jaime Lerner fotografado por
Francisco Souto Neto em 1982
FOTO 14
Jaime Lerner em 1982 fotografado por
Francisco Souto Neto.
Francisco Souto Neto é jornalista e advogado, morador
da região e colaborador do jornal.
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FOTO 15
Crônicas de Francisco Souto Neto para o Jornal Centro Cívico
Jornal
Centro Cívico – Ano 11 – Edição 109 – Outubro de 2013
O choque com a ditadura e um pouco de uma história pessoal
Francisco
Souto Neto
Nos Anos de Chumbo (governo
Garrastazu Médici) eu há muito tempo trabalhava como escriturário no Banco do
Estado do Paraná em Ponta Grossa, sem perspectivas para um cargo comissionado.
Desde a morte de meu pai em 1963, eu e minha mãe levávamos uma vida modesta,
mas trazíamos importantes amizades dos tempos anteriores. Um desses amigos era
João Vargas de Oliveira, que tinha conhecimento de que aquela agência do banco
não oferecia possibilidade de ascensão profissional. Ele então comentou com
minha mãe que era amigo do presidente daquela instituição, Celso da Costa
Sabóia, por isso sabia que o banco tinha vagos alguns cargos em comissão no
interior do Paraná. Pouco tempo depois, chamaram-me à presidência do Banestado.
Viajei à capital. Entrando no imenso gabinete do presidente senti-me um tanto
intimidado ao atravessar uns doze metros do salão acarpetado, até chegar à
escrivaninha de Celso Sabóia, que me esperava sem levantar os olhos do papel
onde escrevia algo. Mandou-me sentar, dizendo-me que estava atendendo a uma
indicação de João Vargas. Entrevistou-me e, aparentemente satisfeito,
encaminhou-me a certo departamento, onde fui submetido a uma prova escrita. No
mesmo dia informaram-me que eu poderia assumir um cargo de tesoureiro na agência
de Toledo. Viajei àquela remota cidade para conhecer a agência e procurar casa
para locar. Após a cansativa viagem noturna de ônibus, cheguei sob muita chuva
à entrada da cidade. As estradas ainda não eram asfaltadas, e para alcançar o
núcleo urbano de Toledo, havia uma ladeira, onde o ônibus derrapou até
encalhar. Passageiros desceram na lama para empurrar o veículo. Foi horrível,
porém só saímos dali arrastados por um trator. Não gostei da cidade, nem da
agência, e retornei decepcionado. Telefonei ao Sr. Sabóia justificando-me e
agradecendo, mas faltou-me coragem de contar a minha recusa ao atencioso e
paternal Dr. João.
Permaneci durante mais uns dois
anos na agência de Ponta Grossa, enquanto me preparava para três concursos: do
Badep, do Instituto Rio Branco no Rio de Janeiro, e também do próprio
Banestado, para auditor ou inspetor. Foi marcada a primeira etapa do concurso
para o Badep em Curitiba. Na prova oral, o examinador fez-me perguntas das
áreas do conhecimento e da cultura, e de técnicas bancárias. Eu me saía muito
bem nas respostas. De repente o examinador baixou a voz e me perguntou
compassadamente: “O que você pensa sobre pessoas desaparecidas e mortas pelo
nosso regime político?”. Levei um choque! Eu sabia da repressão, da censura a
jornais, a cantores, escritores e artistas plásticos. Sabia das prisões
daqueles que ousavam criticar o governo, mas não de pessoas desaparecidas ou
mortas pela ditadura. Procurei mostrar segurança, respondendo mais ou menos: “O
estado de direito e o respeito à liberdade de pensamento devem prevalecer sobre
qualquer regime político”. Porém acrescentei, titubeante e inseguro: “Não temos
provas de que pessoas estejam desaparecidas, mortas… Ou… será?!”. O examinador
nada respondeu. Voltei para Ponta Grossa certo de que seria reprovado no exame
oral, mas foi a partir dali que abri os meus olhos para a realidade brasileira.
Comecei a conversar com amigos e pessoas mais velhas, que sempre olhavam para
os lados antes de responder, e diziam em voz baixa que sim, que havia tortura e
morte a muitos dos que discordavam do status quo, e que alguns
cidadãos “desapareciam”. Compreendi que as ditaduras eram mais imorais do que
eu supunha, e essa indignação trago até hoje. Por isto, em pleno ano de 2013,
sinto-me pasmo ao constatar que ainda há quem sinta saudade da ditadura.
Note-se que eu respeito tanto os militares, quanto os não militares e os representantes
de quaisquer outras profissões. Porém… ditadura militar eu
repudio, por motivos óbvios.
Voltando à minha história
pessoal, surpreendi-me ao saber que fui aprovado na primeira etapa do concurso
para o Badep. Houve então uma incrível coincidência: os concursos para a
segunda etapa do Badep, para o Itamaraty e para inspetor do Banestado, foram
todos marcados para o mesmo dia. Tive que optar, e assim escolhi
prestar o concurso para inspetor do Banestado. Dentre centenas de candidatos,
fiquei entre os primeiros classificados. Meses após, veio o convite de Paulo
Schultz Filho para assessorá-lo na Direção Geral, e depois passei a assessor da
diretoria, da vice-presidência e da presidência. Criei e consolidei o Programa
de Cultura do Banestado até aposentar-me em 1991.
(Francisco Souto Neto – Outubro
de 2013)
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FOTO 16
Na mesma edição, publicou-se na página 4:
Postes irregulares nos jardins do Centro Cívico
Os jardins do Centro Cívico,
originalmente projetados por Burle Marx, têm o privilégio de ostentar os
belíssimos “postes republicanos” para a sua iluminação. Esses postes recebem
fiação elétrica subterrânea, para que fios aéreos não existam onde estejam os
mesmos instalados.
Entretanto, postes grosseiros e
antiestéticos sempre foram colocados provisoriamente entre os “postes
republicanos” da Praça Nossa Senhora da Salete, às vésperas de ocasiões
especiais, tais como carnaval e outras festas populares. Contudo, imediatamente
após os eventos eram retirados e permaneciam somente os postes republicanos
plantados nos seus lugares, tal como deve ser.
Durante o ano em curso, porém,
os postes irregulares não foram mais retirados, alguns até com transformadores,
e lá permanecem poluindo visualmente o Centro Cívico não apenas com a sua
presença, mas também com a pesada fiação elétrica que não poderia existir ali.
As fotografias que ilustram este texto, são do dia 5 de outubro de 2013.
Não espero justificativa da
Prefeitura para o que é injustificável. O que espero, como cidadão, é que sejam
esses horríveis postes imediatamente retirados, de preferência para sempre, com
um pedido de desculpas da Prefeitura à comunidade, face ao flagrante desleixo.
Reclamação
do leitor Francisco Souto Neto – morador do Centro Cívico
Resposta Copel
Em relação à preocupação do
nosso leitor, a redação do jornal conversou com a assessoria de imprensa da
Copel, a qual informou que a instalação não é irregular. A rede foi instalada
temporariamente para eventos recentes no Centro Cívico e está prevista para ser
retirada ainda em outubro.
Resposta da Prefeitura
A Prefeitura de Curitiba foi
procurada para comentar. Mas não respondeu até o fechamento desta edição.
AS FOTOGRAFIAS DE FRANCISCO SOUTO NETO:
FOTO 17
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FOTO 22
Crônicas de Francisco Souto Neto para o Jornal Centro Cívico
Jornal Centro Cívico – Ano 11 –
Edição 110 – Novembro de 2013.
Finalmente será construído o metrô de Curitiba
Francisco
Souto Neto
Não há metrópole desenvolvida
sem que nela funcione um metrô. As capitais do mundo acordaram cedo para essa
realidade: Londres inaugurou seu sistema de trens metropolitanos em 1863,
Budapeste em 1896, Paris em 1900, Nova York em 1904 e a vizinha Buenos Aires em
1913. No Brasil houve um retrocesso: embora o presidente Juscelino Kubitschek
tenha acertado ao abrir rodovias para a integração do país e ao implantar a
indústria automobilística na segunda metade dos anos 50, errou grosseiramente
ao desprezar a manutenção e a ampliação do transporte municipal e
intermunicipal sobre trilhos, cuja falha foi seguida pelos sucessivos moradores
do Palácio da Alvorada.
O transporte público urbano
sobre trilhos é infinitamente mais confortável, eficiente e rápido do que os
ônibus. Em Curitiba, o metrô vem sendo prometido desde o prefeito Lerner, mas
tanto ele quanto os seus vários sucessores usaram tal projeto apenas com fins
eleitoreiros. O atual Gustavo Fruet será lembrado como o prefeito que cumpriu a
promessa de campanha, ao contrário dos seus antecessores. Se o leitor quiser
conhecer outros detalhes sobre aqueles faltosos prefeitos e as suas balelas
eleitoreiras a respeito do metrô, sugiro que coloquem no Google as palavras:
“Os candidatos à prefeitura e a questão do metrô” (é necessário colocar a frase
entre aspas, e sem desprezar os acentos gráficos) e assim encontrarão minha
crônica sobre o assunto, publicada em setembro de 2008 neste mesmo jornal. É
bom lembrar que Jaime Lerner prometeu a construção do que chamou de “bonde
moderno”, cujas linhas seriam subterrâneas entre o Passeio Público a antiga
estação ferroviária, onde está hoje o Shopping Estação. Segundo Lerner, o
“bonde moderno” funcionaria como um pré-metrô. Nos últimos anos, contraditório,
Lerner mostra-se estranhamente contrário ao projeto do metrô, e declarou
taxativamente à Gazeta do Povo: “O metrô de Curitiba não será construído”. A
verdade é que agora Lerner teme que sua criação, a das canaletas para ônibus
urbanos, perca importância face ao sistema muito mais eficiente que é o metrô.
Para quem estiver interessado, essas considerações, ampliadas, poderão ser
encontradas em outra crônica que publiquei em 2009, bastando buscar no Google
“Metrô de Curitiba: Richa versus Lerner” (a frase deverá ser colocada entre
aspas) cujo texto repercutiu no respeitado portal norte-americano
“Publictransit.com”, especializado em transporte público no planeta, o qual
verteu o texto para o Inglês e analisou-o sob o título “Columnist Francisco Souto Neto
attributes Lerner’s opposition to political rivalries”.
Dilma Rousseff veio a Curitiba
em 29 de outubro para anunciar investimentos de R$ 5,3 bilhões destinados ao
transporte coletivo da capital, com ênfase na primeira linha de metrô. Segundo
a prefeitura, em um primeiro momento, o metrô de Curitiba será implantado no
trecho entre os bairros CIC e Cabral, atendendo ao eixo norte-sul da cidade.
Estão previstas 14 estações nessa fase, que já tem a garantia de investimento
de R$ 4,56 bilhões, sendo R$ 1,8 bilhão a fundo perdido do Orçamento Geral da
União, R$ 700 milhões do Governo do Estado, R$ 700 milhões da Prefeitura
Municipal de Curitiba e R$ 1,36 bilhão da iniciativa privada, valor a ser pago
pelo vencedor da licitação da Parceria Público-Privada. Em seu discurso, a
presidenta enalteceu a agilidade de Gustavo Fruet e equipe ao apresentarem, em
poucos meses, o projeto do metrô com o objetivo de receber os recursos do Plano
Nacional de Mobilidade. Disse ela: “O prefeito fez um Procedimento de
Manifestação de Interesse (PMI) para elaborar o projeto. Isso significa que o
prefeito estava adiantado, que o prefeito tinha elementos, que a obra não só é
factível, como vai começar”.
A primeira fase entre a Cidade
Industrial e o Cabral estará concluída em 2019. A segunda fase estenderá a
linha até Santa Cândida. A estação Alto da Glória terá a imensurável
importância de estar muito próxima aos edifícios públicos do Centro Cívico, que
são o Tribunal de Justiça, Palácios Iguaçu e das Araucárias, Assembleia
Legislativa, Tribunal de Contas e Prefeitura, facilitando a locomoção de milhares
de funcionários e de cidadãos que acorrem a esses locais. Meus parabéns ao
prefeito Gustavo Fruet por sua determinação em dar o primeiro passo para a
concretização do tão necessário e esperado metrô de Curitiba. A História saberá
reverenciá-lo.
Francisco Souto Neto –
Novembro de 2013.
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FOTO 23
Crônicas
de Francisco Souto Neto para o Jornal Centro Cívico
Jornal Centro Cívico – Ano 11 – Edição 111 –
Dezembro de 2013.
Minha história e de Lúcia Helena no “The
History Channel”
Francisco Souto Neto
Eu e
minha prima Lúcia Helena Souto Martini trabalhamos por sete anos na biografia
do nosso trisavô Antônio José Alves Souto, o visconde de Souto. Fizemos viagens
ao Rio de Janeiro para pesquisarmos na Biblioteca Nacional, IHGB, Cúria
Metropolitana, Museu Histórico Nacional, Museu Nacional, IPHAN e outros. Após
consultas a mais de 600 livros, escrevemos a biografia que agora está
concluída. No momento encontramo-nos na expectativa da sua edição com os
recursos da Lei Rouanet, o que está sendo providenciado por Ricardo Trento, da
Unicultura de Curitiba.
Trechos
do livro foram publicados em forma de artigo na Revista do Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro sob o título “Visconde de Souto, Fazenda Bela Vista e Capela
Mayrink” (R.IHGB, ano 173, nº 455, abr./jun. 2012) e na Revista do Instituto
Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro (R. IHGRJ, Ano 18, número 18, 2011),
intitulado “A Chácara do Souto e seu Jardim Zoológico”.
A
biografia do visconde de Souto também chamou a atenção do programa “Detetives
da História”, segmento brasileiro do “The History Channel”. Como o
próprio programa se define, é uma série para a televisão que usa mistérios e
objetos achados por telespectadores como ponto de partida para um processo de
investigação. Apresentada por André Guerreiro Lopes e Renata Imbriani, a série
busca desvendar os mistérios escondidos por trás de pequenos tesouros
familiares.
O
visconde de Souto foi o primeiro banqueiro particular do Brasil, citado por
impressionante número de grandes autores nacionais, como Machado de Assis, José
de Alencar, Visconde de Mauá, Barão do Rio Branco, Afonso Arinos, Ruy Barbosa e
inúmeros outros. Muito rico, formou o primeiro jardim zoológico do país, que
era chamado de “ménagerie” ou “coleção de animais vivos”. Importou
espécimes de dois continentes, alguns nunca antes vistos no Brasil, tais como
ursos, leões e até elefantes. O visconde de Souto não cobrava ingressos ao seu
zoológico, que era um dos principais programas dos fluminenses aos domingos.
Quando um animal morria, o visconde mandava taxidermizá-lo e o doava ao Museu
Nacional. Na nossa visita ao museu, eu e minha prima Lúcia Helena encontramos o
registro de alguns animais doados pelo visconde de Souto até 1864. O registro
do elefante, porém, perdeu-se, e o animal taxidermizado está sem a
identificação do seu doador. Esse elefante foi o tema do episódio de “Detetives
da História”. Embora o Visconde de Souto tenha importado os dois primeiros
elefantes africanos da História do Brasil, e que comprovadamente doava ao Museu
Nacional os animais que morriam, André atestou que o elefante taxidermizado que
subsiste naquele museu não é proveniente da Chácara do Souto.
Em
princípio a equipe de televisão viria a Curitiba, e eu e Lúcia Helena seríamos
entrevistados na minha residência. Porém depois, atendendo a uma melhor
mobilidade da referida equipe, a entrevista foi transferida para a cidade de
Paulínia, residência da minha prima e sua mãe Jacyra Souto Martini. Viajei a
Paulínia, e no dia combinado chegou a enorme equipe do programa, composta de
aproximadamente doze pessoas. Da equipe de Daniel Lion, Laura Hasse, Ramique
Mello e Claudinha Lima, além dos entrevistadores acima mencionados fizeram
parte os técnicos Joanna Mamede, Marília Nogueira, Lula Cerri, Alzira Pereira,
Lucas Barrionovo, Ivanildo e muitos outros.
O 4º
episódio da série, do qual participamos, teve sua estreia nacional no dia 26 de
novembro de 2013. Em dezembro o episódio “O elefante sem identidade” será
reapresentado no The History Channel na terça-feira 24.12.2013
às 23:00, e na quarta 25.12.2013 (Natal) às 15:00 e às 18:15. Quem quiser rever
o episódio em 2014, poderá consultar a grade de programação de Detetives da
História.
Quero
agradecer, também em nome de Lúcia Helena, a toda a equipe do programa, não
apenas pela oportunidade de falarmos sobre o visconde de Souto, trazendo-o de
volta à luz, mas igualmente pela divulgação que fizeram do nosso futuro
livro “Visconde de Souto – Ascensão e ‘Quebra’ no Rio de Janeiro
Imperial”. Abraços nossos a todos aqueles maravilhosos profissionais.
(Francisco Souto Neto – Dezembro de 2013)
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ALGUMAS
FOTOGRAFIAS DO DIA DA GRAVAÇÃO DO PROGRAMA EM PAULÍNIA, SP, NO ANO ANTERIOR:
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FOTO
54, ACIMA – Entremeando as palavras de André, são
exibidas fotos de quadros a óleo do Visconde de Souto e Viscondessa de Souto.
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FIM
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MINHA PARTICIPAÇÃO EM LIVROS
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Livro LUAR
DE SANGUE, de Dione Mara Souto da Rosa
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Livro LUAR DE SANGUE
Dione Mara Souto da Rosa
Novo Século - São Paulo (2013)
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Capa:
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Agradecimentos
A Lia Helena Shaeffer Salvador, minha mestra - o meu agradecimento pelos ensinamentos no decorrer desse tempo de muito aprendizado.
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Página 13:
Prólogo
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Página 14:
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2ª orelha:
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2ª capa ou contracapa:
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MINHA PARTICIPAÇÃO EM CONCURSO DE
MEMÓRIAS
O
Jornal da AFAB de agosto de 2013 lançou um concurso de contos, “causos” e casos
ocorridos no ambiente do Banestado, com o título de MEMÓRIA PREMIADA. Seriam
concedidos aos três melhores trabalhos os seguintes prêmios: R$1.500,00 ao 1º
colocado, R$1.000,00 ao 2º colocado e R$500,00 ao 3º colocado.
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1ª prêmio a Amaury Ormianin por “VITO PRETO”;
2º prêmio a Francisco Souto Neto por “DURA VIDA DE INSPETOR”;
3º prêmio a Marivoni Zibetti por “LÁGRIMAS DE OURO”.
FOTO 73
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Acima, a entrega do prêmio a Francisco Souto Neto nas dependências da
diretoria da AFAB, estando presentes colegas da diretoria e da comissão julgadora.
A partir da esquerda: Natalino Sbrana (Diretor Financeiro), Fernando Prezutti
(Presidente), Paulino França do Nascimento Neto (Diretor de Eventos), Francisco
Souto Neto (com a outorga do 2º prêmio e o cheque no valor correspondente),
Newton Barbosa Almada da Silva (Diretor de Promoção Social) e Carlos Zatti
(membro da comissão julgadora).
-o-
Adiante,
as três participações de Francisco Souto Neto no concurso, e aquela que foi
premiada (DURA VIDA DE INSPETOR, pelo episódio “Andirá”):
1ª
participação:
(Classificada
em 2º lugar no concurso, pelo subtítulo “Andirá”)
DURA VIDA DE INSPETOR
Autor: Francisco Souto Neto
Concorreu com o pseudônimo de Paco Ramirez
No começo da década de 70, quando prestei concurso interno para inspetor
e tive a felicidade de ser um dos primeiros classificados, eu era funcionário
na agência do Banco do Estado do Paraná S. A., o Banestado, em Ponta Grossa,
distante cem quilômetros de Curitiba. Chamado a assumir o cargo, viajei à
capital para conhecer o chefe dos inspetores, Wilson Ganem, e participei do
Curso de Formação de Inspetores na “Casa da Júlia”, apelido carinhoso dado
pelos colegas à mansão localizada na Rua Júlia Wanderley, onde eram ministradas
as aulas.
Realizei as três primeiras inspeções na companhia de um colega mais
velho, que me ensinou a prática e a rotina de trabalho adequadas às nossas
funções. Depois disso, passei a viajar quase sempre sozinho. Com um destino
secreto determinado na sexta-feira anterior – secreto porque tínhamos que
chegar à agência de surpresa – pode-se dizer que meu trabalho se iniciava no
domingo. Após almoçar com minha família, eu arrumava a mala e a padronizada
pasta de executivo e viajava a Curitiba. Por volta da meia-noite tomava um
ônibus-leito para determinada cidade do interior do Estado, e lá, quando
necessário, adquiria outra passagem para alguma minúscula localidade onde se
encontrava a minha agência de destino.
Apenas as principais estradas do Paraná eram asfaltadas: de Curitiba a
Foz do Iguaçu, a Londrina, a Maringá e a Paranaguá. Salvo outras raras e
honrosas exceções, todas as demais rodovias eram de terra. Em tempos de seca,
amargávamos a poeira, as curvas e os solavancos; em tempos de chuva eram as
derrapagens e, não raro, o ônibus encalhado na lama.
Catanduvas
Ao iniciar quatro narrativas, gostaria de mencionar, na primeira delas,
um exemplo de pequena cidade paranaense do início da década de 70, que era
servida pelo Banestado. Tratava-se de Catanduvas. De topografia acidentada, a
localidade ainda não conhecia vias públicas pavimentadas. Ruas e passeio de
pedestres eram de terra contínua e batida. O único hotel da cidade resumia-se a
um casarão de madeira, cujo corredor central abrigava quartos em ambos os
lados. Ao fundo, localizavam-se as privadas e os banheiros coletivos.
A chegada de um inspetor era sempre uma surpresa desagradável para o
gerente. Trabalhei exaustivamente no primeiro dia de inspeção. À tardinha tomei
um banho no hotel e jantei num restaurante próximo, onde uma senhora afável
preparava alguma refeição decente. Retornando ao hotel, cansado, deitei-me e
apaguei a luz. De repente, um susto: na escuridão do quarto, vi brilharem
milhares de estrelas por todos os lados. Estrelas grandes, menores, com as
luminescências menos ou mais intensas. Seria um sonho? Como explicar o universo
iluminado ao redor de todo o quarto? Fascinado com o estranho mistério,
aproximei-me das luzinhas e descobri que elas estavam realmente nas paredes, de
alto a baixo. Eram... pequenos orifícios. Olhei através de um deles e vi o
quarto vizinho, onde era possível observar tudo o que o hóspede fazia. Num
lapso de segundo, um insight me fez compreender que as paredes
estavam sendo destruídas por cupins e que estes, em seu indiscreto e voraz
apetite, faziam desaparecer a privacidade dos quartos e, certamente, punham em
risco a integridade dos hóspedes que poderiam ser esmagados pelo colapso das
madeiras podres. Se a noite foi desagradável, a descrição das manhãs no hotel
não poderia ser feita por outro adjetivo mais adequado. É que na primeira
manhã, ainda escuro, começou um ruído que parecia um crescente tropel de
poderosa boiada. As estrelas e galáxias das paredes voltaram a iluminar-se, e o
universo brilhante mais uma vez se instalou ao redor da minha cama. Levantei-me
sem acender a luz e abri a porta para ver a causa do crescente ruído. O tropel
era das pessoas que iam e vinham na disputa pelos banheiros e perambulavam
procurando a sala do café da manhã.
Naquela cidade eu começava a trabalhar antes da chegada do gerente e dos
funcionários, e era o último a sair da agência, lá pelas dez horas da noite, de
modo a concluir o trabalho o mais rápido possível e poder retornar à
civilização. Aprendi também que, algumas vezes, era preciso ficar hospedado em
outra cidade próxima à agência de destino, e todas as manhãs e tardes fazer o
percurso de ida e volta, assim garantindo um pouco mais de conforto para a hora
do repouso noturno.
Joaquim Távora
Minha segunda narrativa envolve uma inspeção que fiz em Carlópolis. Para
chegar a essa localidade, as rotas dos ônibus intermunicipais eram bastante
complexas. Primeiro viajava-se de Curitiba a Londrina em ônibus-leito, e depois
em ônibus convencional até Joaquim Távora. Nesta cidade era preciso esperar
cerca de duas horas e meia, quando partiria outro ônibus rumo a Carlópolis.
Naquela ocasião não levei minha câmera fotográfica e me lamentei disso, porque
Joaquim Távora parecia um lugar parado no tempo, pacato e interessante, que bem
mereceria algumas fotografias. Enquanto não chegava a hora do meu embarque,
comecei a passear pela cidade. Famílias sentavam-se em cadeiras colocadas nas
calçadas, encostadas às suas residências, e ficavam olhando o movimento da rua
– melhor seria dizer “apreciando a calmaria da rua”. Quando eu
passava por essas pessoas e as olhava, elas baixavam os olhos imediatamente,
num estranho ato reflexo que talvez fosse de timidez. Observei os detalhes da
arquitetura da cidade, um tanto pobres mas não destituídos de beleza. Parei
várias vezes para olhar bucólicos quintais com galinhas. Entrei na catedral
para apreciar seu interior. Na praça central um homem estava sentado num dos
bancos, eu o cumprimentei e lhe fiz algumas perguntas sobre a cidade como, por
exemplo, onde se localizava a agência do Banestado. Apenas por curiosidade fui
até ao local indicado e observei que aquela agência de Joaquim Távora era uma
antiga construção térrea com as janelas do tipo “vitrô” voltadas à calçada. Por
um dos “vitrôs” olhei para dentro da agência, vi os funcionários trabalhando e
o ótimo movimento de clientes. Voltei à praça principal, agora totalmente
vazia, e sentei-me num dos bancos aguardando a hora de ir para a estação
rodoviária e embarcar para Carlópolis. Sonolento, fiquei a ouvir o chilreio dos
pássaros que suavemente interrompia o silêncio da cidade.
De repente meu mundo de calmaria foi violentamente abalado: um veículo
da polícia parou ruidosamente num lado da praça, de lá saltaram vários soldados
acompanhados de um cidadão (depois eu soube que se tratava de um advogado) que
correram ameaçadoramente em minha direção. Assustei-me, sem entender o que
se passava. Mandaram-me acompanhá-los. Espantado, perguntei o motivo e
disse-lhes que deviam estar me confundindo com outra pessoa. Responderam que
isso seria esclarecido na delegacia. Apresentei-me aos nervosos homens da lei
como advogado que sou, e inspetor do Banestado, sem sucesso. Meu bom senso me
recomendou acompanhá-los. Compreendi que eu estava detido por algum motivo
equivocado. Lembrei-me na hora do livro “O Processo”, de Franz Kafka, que conta
a história de um homem que é preso sem saber o motivo, é julgado e
condenado à morte... e morre sem saber qual a acusação que pesava contra ele.
Uma vez na delegacia, abriram minha valise e examinaram tudo, peça por
peça. Logo chegou o gerente da agência local do Banestado, cujo nome
infelizmente não me recordo, mas que foi muito atencioso, acreditando que eu
realmente não era quem os demais pensavam que fosse. Mais tarde eu soube que o
advogado que acompanhava os policiais foi quem fez a denúncia à polícia,
alegando que “um homem andava pela cidade em atitude suspeita, que conversou na
praça com um mau elemento e que esteve sondando casas e a agência do
Banestado”.
Sem um pedido de desculpas, liberaram-me a tempo de embarcar para
Carlópolis, mas posso adiantar que foi uma experiência muito traumática. Dias
depois, quando já estava em casa, comprei dois exemplares do referido livro de
Kafka; enviei um ao delegado de polícia, e outro ao advogadozinho,
pedindo-lhes que lessem e depois doassem o exemplar à biblioteca pública. Em
algum local, dentre milhares de documentações, tenho ainda anotados os nomes de
ambos. Como consequência do desagradável episódio, durante alguns anos tive a
sensação de ter passado por uma estranha cidade onde viviam dois – ou mais –
cidadãos primitivos, desconfiados e carentes de civilidade.
Toledo
Cheguei à cidade de Toledo, próxima a Cascavel, numa manhã de
segunda-feira. No sábado seguinte eu seria padrinho de casamento de João Vargas
d’Oliveira Júnior, um amigo de infância em Ponta Grossa. À medida em que os
meus trabalhos avançavam, comecei a descobrir irregularidades na documentação
da agência. Sentado à mesa que ocupei para trabalhar, eu fazia as anotações num
papel, que depois comporiam o relatório de inspeção, quando senti uma
respiração no meu pescoço. Levei um susto e dei um salto para o lado. Era o
gerente com a cabeça quase encaixada no meu ombro e os olhos grudados no que eu
anotava no papel. Repreendi-o, dizendo-lhe que ele receberia uma cópia do meu
relatório quando estivesse formalmente concluído. Entretanto, à medida em que
meu trabalho avançava, encontrei um problema que poderia se constituir na
“ponta de um iceberg”. Na sexta-feira resolvi não deixar a agência,
temendo que no sábado e domingo alguns documentos pudessem ser subtraídos.
Deste modo, trabalhei durante todo o fim de semana, deixando o posto apenas
para me alimentar e dormir. Ao final, as irregularidades não eram tão graves,
mas perdi o casamento do meu amigo por colocar, como realmente tinha que ser, o
interesse do Banestado à frente dos meus interesses pessoais.
Andirá
Eu e um colega que vou aqui chamar de “João”, fazíamos em conjunto a
inspeção na agência de Andirá. Terminamos nosso trabalho numa quinta-feira. Era
julho, mas os dias anteriores tinham sido quentes. Porém a temperatura caiu
verticalmente naquela data. Eu e João não estávamos com agasalhos suficientes.
Enquanto esperávamos pelo ônibus que antes nos levaria a Londrina, meu colega
dava longas corridas pela rodoviária aberta, indo e voltando, “para espantar o
frio”. Chegamos a Londrina quase congelando, e João me disse que, devido ao
frio, ao chegar a Curitiba ele iria dormir pelo resto da manhã para se
recuperar, e que só após o almoço, ou no fim da tarde, iria prestar contas com
o chefe dos inspetores. Acrescentou: “Em vez de você ficar ‘se matando’ em
viagem direta a Curitiba para prestar contas ainda de manhã, desça do ônibus em
Ponta Grossa, descanse na sua casa, almoce, e depois disso viaje para prestar
contas em Curitiba”. Gostei da ideia e resolvi que desembarcaria na
minha cidade para descansar pelo restante da manhã, almoçar em família, e
seguida embarcar para a Capital. Enquanto esperávamos pelo ônibus em Londrina,
encontramo-nos com um colega, que vou chamar de “Aparecido”, que terminara uma
inspeção numa cidade próxima. Portanto, embarcaríamos os três no mesmo veículo.
Ali na plataforma despedi-me dos colegas João e Aparecido, entrei no ônibus e
disse ao motorista que eu ficaria em Ponta Grossa na esquina da Rua Balduino
Taques com a XV de Novembro, a cem metros da minha residência. Minha poltrona
era a primeira no lado das individuais do ônibus-leito, e sobre ela coloquei no
bagageiro a minha valise e a pasta de executivo. João escolhera uma poltrona ao
fundo, e Aparecido ocupou o lugar atrás de onde eu estava. Iniciamos uma longa
e sofrida viagem. Várias vezes o motorista parou o ônibus na estrada e desceu
para ir raspar com uma faca o vidro dianteiro, porque ali se formavam cristais
de gelo que atrapalhavam a sua visão. Na janela ao lado da minha poltrona
também surgiram cristais gelados pelo lado de fora, que tomaram formas
arredondadas e sinuosas. A temperatura estava bem abaixo de zero.
Passamos por Ponta Grossa ainda noite, eu peguei a mala e a pasta
padronizada de inspetor, desembarquei e em apenas um minuto, tiritando de frio,
alcancei o edifício onde residia. Entrei silenciosamente, pois minha mãe dormia
em seu quarto com a porta fechada, esquentei um copo de leite e fui para o meu
quarto. Tão intenso era o sono que me deitei e adormeci quase instantaneamente.
Foi então que tive um estranho sonho. Sonhei que meu chefe, Wilson
Ganem, telefonava para minha casa. Minha mãe atendia ao telefone, vinha ao meu
quarto, e me dizia: “Seu chefe telefonou, pedindo que vá imediatamente para
Curitiba”. E no sonho eu respondia à minha mãe: “Diga-lhe que estou dormindo e
que chegarei somente à tarde”. Despertei no mesmo instante, lembrando-me com
clareza do sonho. Ainda não tinha amanhecido. Saí do meu quarto, fui ao da minha
mãe, abri cuidadosamente a porta e ouvi que ela ressonava. Voltei à cama e
adormeci.
De repente minha mãe abriu a porta e me falou exatamente assim: “Meu
filho, seu chefe acaba de telefonar, pedindo que você vá imediatamente a
Curitiba”. E eu, ainda tonto de sono, perguntei a ela: “Mas a senhora está me
dizendo isso pela segunda vez?”. Minha mãe respondeu: “É claro que estou lhe
dizendo isto pela primeira vez. Seu chefe acaba de telefonar e
me disse que você desembarcou aqui em Ponta Grossa com a pasta de seu colega
Aparecido, e que este ficou com a sua”. Eu não conseguia compreender. Perguntei
à minha mãe que horas eram. Respondeu-me: “São nove e meia”. Insisti se ela não
teria me dado o mesmo recado antes de amanhecer. Ela me respondeu rindo que eu
certamente tinha sonhado, pois recebera o recado uma só vez e naquele exato
momento.
O que se passou foi um fenômeno de premonição, tão estranho e raro, que
poderia interessar até mesmo aos estudiosos desses eventos. Ou seja, eu sonhei
antes do amanhecer com um telefonema que iria ocorrer de fato somente horas
depois, às nove e meia da manhã. Fiquei impressionadíssimo por ter sido eu o
objeto de um sonho premonitório. Devido a essa estranha experiência, eu iria
mudar meu conceito de mundo, com a convicção de que aquela máxima de
Shakespeare na tragédia Hamlet era extremamente verdadeira: “há mais mistérios
entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”.
Tomei um banho rapidíssimo, nem fiz a barba e chamei um táxi para que me
levasse a Curitiba – obviamente às minhas próprias expensas. Naquele tempo em
que não se conheciam as limitações de velocidade nas estradas, meu táxi “voou”
até à capital, onde cheguei observando os telhados brancos que resistiam ao
degelo. Era a grande nevada da década de 70. Fui diretamente ao setor de
Recursos Humanos do Banestado. O motorista de táxi esperou-me na porta,
enquanto subi e pedi o endereço do meu colega João, pois sentia necessidade de
contar-lhe o sucedido, e meu estranhíssimo sonho premonitório, antes mesmo de
nos encontrarmos com nosso chefe. João residia num bairro distante, e segui no
táxi vendo os vestígios da neve por toda parte. Chegando à casa do João, bati
palmas e sua esposa atendeu. Identifiquei-me e pedi para falar com ele. A
esposa me disse: “Mas o João ainda não chegou. Ele me telefonou dizendo que
sairia de Londrina hoje cedo, e que chegando à tarde irá diretamente para a
inspetoria”. Fiquei desconsertado, sem compreender imediatamente o que se
passava, pois João viajara comigo no mesmo ônibus e teria chegado a Curitiba ao
amanhecer. Em segundos compreendi: João não tinha ido para sua residência, mas
para a casa da amante, onde ficaria até à tarde. Que susto! Se eu tivesse dito
que viajamos juntos durante toda a noite, teria se desencadeado uma séria crise
familiar. Porém tivemos um final feliz. Fui à inspetoria, onde eu e Aparecido
destrocamos as pastas. Só reencontrei o João muitos anos depois, e
discretamente resolvi não tocar naquele assunto.
Dura vida dos inspetores. Pelo sucesso da nossa empresa, entretanto,
demos a ela o que de melhor tínhamos. O Banestado se foi para sempre, esmagado
pela ganância e desonestidade de alguns e pelos descaminhos da malfadada
política de privatizações em níveis estadual e federal pelo Governo FHC, que
tanto prejuízo e dor infringiram ao Paraná. Mas todos nós, os funcionários,
irmanados pelos nossos próprios ideais, realizamos com galhardia e sinceridade
as nossas tarefas, cujos resultados haverão de permanecer indeléveis através do
tempo, inscritos nas nossas memórias e corações.
- FIM -
-o-
2ª
participação:
O QUE FOI O PROGRAMA DE CULTURA DO BANESTADO
Autor: Francisco Souto Neto
Concorreu com o pseudônimo de Velho Companheiro
Após o longo
período da ditadura, quando os governadores eram impostos pelo Poder Militar
através das “eleições indiretas”, o primeiro eleito no Paraná em sufrágio
universal foi José Richa, que assumiu em 15 de março de 1986. Na composição da
nova diretoria do Banestado, ele levou Léo de Almeida Neves à presidência da
instituição, e indicou seu amigo Octacílio Ribeiro da Silva para o cargo de
diretor de Crédito Rural e Agroindustrial. Francisco Souto Neto, que já
era assessor daquela diretoria desde os tempos do Governo Jayme Canet Júnior,
foi mantido no cargo. Afortunadamente a Carteira Rural, criada por Paulo
Schultz Filho, tornara-se um exemplo de trabalho sério e disciplinado, que
servia de modelo para inúmeros outros bancos e era respeitada e enaltecida pelo
Banco Central do Brasil. Os antecessores de Octacílio Ribeiro naquela
diretoria, desde o Governo Canet (Mário Saporiti, Ivo Meirelles de Almeida e
Lourival Guebert), tinham sido muito sérios e capazes, e deixaram a diretoria
perfeitamente organizada, sem ingerências de políticos, num patamar altamente
elogioso.
Era natural que
os diretores do primeiro governo eleito pelo povo chegassem desconfiados,
imaginando que o Banestado poderia ser um covil de víboras. No primeiro contato
com o assessor da diretoria, Octacílio Ribeiro disse: “o senhor fica
até que a poeira assente”. Mandou convocar os chefes da Divisão e dos
Departamentos para uma reunião “em quinze minutos, sem atrasos”. Nessa reunião
o novo diretor esmurrava a mesa com tanta força, que cinzeiros e copos
trepidavam. Ele tinha certeza do seu poder e intimidava a todos. Ao assessor
Souto Neto falou: “eu sou muito exigente com a Língua Portuguesa”, ao que este
lhe respondeu: “Então nós nos daremos bem, pois eu também sou muito exigente
com o idioma pátrio”.
Com a passagem do
tempo, Octacílio Ribeiro percebeu que a Carteira Rural, como era chamada a sua
diretoria, funcionava com a precisão de um relógio suíço, e que todos ali
trabalhavam com responsabilidade e presteza. Anos depois o assessor comentou, e
isto ficou registrado na imprensa, que aos poucos ele foi descobrindo que por
trás do homem carrancudo e furioso existia outro ainda mais forte, dotado de
grande cultura e sensibilidade, e pressentiu que aquele diretor combativo
poderia apoiar a ideia de direcionar o banco para as causas da cultura com
argumentos capazes de convencer os seus demais pares de diretoria.
A primeira ideia
partiu de Adão Vilmar de Oliveira, que após a aposentadoria de Paulo Schultz
ocupava o cargo de chefe da Divisão de Crédito Rural, e de Elzi Zanotto Hohmann,
secretária da diretoria, sugerindo a Octacílio Ribeiro que realizasse uma
exposição revelando os artistas plásticos existentes entre os funcionários da
empresa. Francisco Souto Neto ampliou a ideia, propondo a criação de
um salão de arte que se repetisse anualmente, que seria realizado sem despesas
para o banco, porque era possível obter recursos oriundos não apenas da Lei de
Incentivo à Cultura, mas também do patrocínio de empresas que seriam
beneficiadas com a simples divulgação do evento através da imprensa. Sugeriu
ainda que o salão de artes plásticas aceitasse inscrições não apenas de
funcionários, mas também de correntistas do Banestado, que fossem artistas em
fase de desenvolvimento e que ainda não tivessem recebido prêmios em salões
oficiais ou de reconhecido nível, caracterizando-se como “artistas inéditos”.
Souto Neto pediu ao diretor Octacílio Ribeiro que obtivesse permissão da
diretoria para que Tadeu Petrin fosse autorizado a ajudá-lo na
criação do regulamento do certame, que teria o nome de “Exposição de artistas
amadores funcionários e clientes do Banestado”. Com a anuência dos demais
diretores, o presidente Léo de Almeida Neves autorizou a realização do certame.
Posteriormente, na distribuição dos certificados de participação, o nome do evento
foi alterado retroativamente para “1º Salão Banestado de Artistas Inéditos”, o
SBAI.
O Banestado não
tinha um espaço adequado para realizar o evento, por isso a mostra, em novembro
e dezembro de 1983, realizou-se no Senac, que cedeu ao Banestado a sala de
exposições da sua sede da Rua André de Barros, 750. A inauguração do
foi feita por José Brandt Silva, que ocupava o cargo de presidente deixado por
Léo de Almeida Neves. O sucesso foi retumbante e todos os jornais de Curitiba,
e alguns de Ponta Grossa, Londrina e Maringá, noticiaram o acontecimento, que
também repercutiu intensamente nas colunas sociais. Depois disso, na reunião de
diretoria com o presidente, todos mostraram-se surpresos com o elogioso marketing realizado
ao redor do nome do Banestado. E assim o SBAI continuou se repetindo todos os
anos, até 1999, às vésperas da privatização do Banestado, tendo descoberto e
projetado miríades de artistas plásticos, muitos dos quais depois tiveram
projeção nacional. Em dezesseis anos de retumbante sucesso, a imprensa fez,
literalmente, milhares de elogios ao Banestado, que se encontram hoje na
internet, digitalizados, uma fonte quase inesgotável de informações, onde nos
baseamos para o desenvolvimento deste texto.
No ano seguinte, 1985,
o II SBAI ocorreu na Galeria de Arte Banestado, criada por Christóvam
Soares Cavalcante, presidente da Banestado Crédito Imobiliário, no andar térreo
do prédio que pertencia àquela empresa conglomerada, sito à Rua Marechal
Deodoro, 333, mesmo edifício onde funcionava a presidência da BCI. Cavalcanti
convidou Vera Munhoz da Rocha Marques para gerir a nova galeria de
arte (no que foi ajudada por Clarissa Lagarrigue) que funcionava
orientada por um competente Conselho Administrativo. Vera Marques era uma
respeitada socialite que, a pouco e pouco, transformou a
Galeria Banestado num local de encontro de artistas e intelectuais. Grandes
nomes como Poty e Dalton Trevisan, dentre outros igualmente importantes, ali se
encontravam para ver as obras de quem estivesse expondo, e ficavam a discutir
novidades e tendências culturais.
A partir de 1985 o assessor de Octacílio Ribeiro criou a base para a
instalação do Programa de Cultura do Banestado. Uma vez mais a ideia foi
aprovada por todos os diretores, e Octacílio, por força de uma portaria,
recebeu a atribuição de Diretor para Assuntos de Cultura, paralela à de Diretor
de Crédito Rural e Agroindustrial.
O Programa de Cultura incorporou o Coral Banestado, que já existia numa
das empresas conglomeradas, regido por Amoz Camilo dos Santos, a quem deu
condições de se expandir e aperfeiçoar, e liberdade para apresentar-se em
eventos públicos e cívicos.
Constantino Viaro, diretor do Teatro Guaíra, tivera a ideia de dotar
cidades do interior do Paraná com teatros, através do seu ambicioso Projeto
Barracão. O Banestado apoiou o projeto, acolhendo a sugestão do Assessor para
Assuntos de Cultura, que impôs a condição de que aqueles espaços fossem
registrados com o nome de “Teatro Banestado”.
Em 1986 Francisco Souto Neto propôs a seu diretor a criação do
Museu Banestado. A ideia não era nova, pois outros colegas tinham tentado sem
sucesso criar um museu, mas colecionavam peças da história da instituição, tais
como móveis que foram usados na primeira agência do Banestado, livros das
primeiras atas das assembleias, e muitos objetos, documentos e fotografias.
Foram eles Emerson Casseb, Sérgio Figueiredo, José Carlos Carreira Pequeno,
Wilson Ganem e José Maria Antônio, dentre outros. O apoio de Aroldo dos
Santos Carneiro, diretor de Serviços Administrativos, foi também
fundamental para o coroamento do projeto. A Comissão de Implantação do Museu
Banestado, presidida por Francisco Souto Neto, completou-se com Paulo
Schultz Filho, Rosane Fontoura, Rodrigo Otávio Collere de Oliveira e
Silmara Krainer Vitta. Segundo o jornal Todos Nós nº 114, de
maio de 1987, o Museu Banestado foi inaugurado no dia 13 de fevereiro daquele
ano, e Rosane Fontoura tornou-se a primeira administradora. Estiveram
na inauguração o governador João Elízio Ferraz de Campos, David Carneiro, Celso
da Costa Sabóia, Léo de Almeida Neves, José Brandt Silva e muitas outras
personalidades.
O Assessor para Assuntos de Cultura do Banestado também editava um livro
por mês, de autor paranaense, que era lançado na Galeria de
Arte Banestado, assim mesclando a literatura com as artes plásticas. Tudo
ocorria sem ônus para o Banestado, que teve a sua imagem pública enaltecida
pelos mais importantes jornais, revistas e jornalistas da época. Autores como
Sílvio Back, Anita Zippin, Poty Lazzarotto, Alice Ruiz e
Helena Kolody ali lançaram livros, mas o Programa de Cultura apoiou
principalmente literatos ainda desconhecidos, sem livros editados até então,
mas dotados de grande talento e verve literária.
O Programa de Cultura do Banestado prestigiava todas as formas da arte:
artes plásticas, música, literatura, cinema, teatro. Ao final do governo Richa,
Álvaro Dias foi eleito governador. Octacílio Ribeiro, o único diretor do
governo anterior mantido no governo eleito, foi convidado para assumir a
presidência da Banestado Reflorestadora. Seu assessor Souto Neto acompanhou-o,
com a concordância de Álvaro Dias. Para a Secretaria de Estado da Cultura foi
convidado René Ariel Dotti. O Paraná iria entrar numa verdadeira “era de ouro”
com Dotti capitaneando a cultura do Estado. O Programa de Cultura do Banestado,
gerido por Francisco Souto Neto, continuou não apenas sem interrupção, mas
ampliou-se. Realizou-se o IV SBAI com sucesso crescente, porém em março de
1988, ao completar um ano o Governo Álvaro Dias, houve uma grande reformulação
política em vários níveis. Octacílio Ribeiro “caiu” do Banestado
e foi para uma diretoria regional do Banco do Brasil em Curitiba. Terminava
assim a parceria de cinco anos entre ele e Souto Neto.
Após três dias em meio à “tempestade”, Souto foi chamado pelo
vice-presidente do Banestado, Edisson Eleri Faust, que era também presidente da
Banestado Crédito Imobiliário, que o convidou a participar da sua assessoria,
não mais como assessor pessoal, nem técnico, mas exclusivamente como “Assessor
para Assuntos de Cultura”. Faust resolvera não ocupar o seu gabinete de
presidente da BCI no 7º andar do prédio sito à Av. Marechal Deodoro, 333 (em
cujo andar térreo funcionava a Galeria de Arte Banestado), mas apenas
o gabinete de vice-presidente do Banestado no Conglomerado Financeiro à Rua
Máximo João Kopp, no bairro de Santa Cândida. Ofereceu então ao Souto Neto o
seu gabinete no prédio da BCI, onde estavam locadas a secretária Flávia Moreira
Salles e a auxiliar Cecília Maria Palhares.
Faust conhecia o Programa de Cultura, pois costumava comparecer a
exposições e lançamentos de livros, e deu “carta branca” ao novo assessor para
ampliar suas próprias atribuições. A primeira proposição do assessor foi
uniformizar os regimentos internos das Galerias de Arte Banestado de Curitiba,
Ponta Grossa e Londrina, todas orientadas por conselheiros compostos de
personalidades ligadas à vida cultural de cada uma das cidades. Paralelamente,
pediu permissão para estudar as possibilidades de inaugurar novas galerias de
arte em Maringá e Cascavel.
Alguns meses depois, naquele mesmo ano, em meio a uma nova tempestade
política, “caiu” Edisson Faust da vice-presidência do Banestado. No fim mesmo
dia, Souto Neto foi chamado pelo presidente do Banestado, Carlos Antônio de
Almeida Ferreira, para integrar a sua assessoria. “Dr. Almeida”, como passou a
ser conhecido, formou uma “dobradinha cultural” com o Secretário de Estado René
Ariel Dotti e, nos três anos que se seguiram do Governo Álvaro Dias, o Paraná
conheceu um ímpeto cultural jamais antes visto e que nunca mais se
repetiria em tal intensidade. O assessor prosseguiu desenvolvendo o
Programa de Cultura do Banestado e instituiu um colegiado de experts como
componentes de uma “comissão para aquisição de obras de arte”, com o propósito
de depurar a compra de telas para as paredes de novas agências. O SBAI – Salão
Banestado de Artistas Inéditos chegou a ocupar o lugar do oficial Salão dos
Novos (da Secretaria de Estado da Cultura) nos anos em que este entrou em
recesso, e pelo seu alto padrão de excelência foi várias vezes comparado ao
Salão Paranaense, segundo registros da imprensa da época, agora digitalizados e
na internet.
Ao terminar o Governo Álvaro Dias, Heitor Wallace de Mello e Silva foi
indicado pelo novo governador, Roberto Requião, para assumir a presidência do
Banestado. Numa cerimônia realizada no Museu Banestado no princípio de 1991, o
novo presidente inaugurou o retrato do seu antecessor Dr. Almeida. Em seu
discurso, Souto Neto informou que se aposentaria dentro de três meses e pediu
ao novo presidente Dr. Heitor que mantivesse o Programa de Cultura do
Banestado, pela importância que tinha o mesmo no cenário paranaense.
Ao aposentar-se em junho de 1991, Francisco Souto Neto foi
sucedido por Tina Camargo, que ficou somente alguns meses no cargo, tendo sido
substituída por Maria Amélia Junginger como Assessora para Assuntos de Cultura.
Esta realizou um SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos e em 1992 aceitou
o convite do governador para dirigir o Museu de Arte Contemporânea, tendo sido
substituída como assessora por Vera Munhoz da Rocha Marques, que também
realizou um Salão Banestado. Contudo, o Programa de Cultura começava a desabar,
principalmente porque no ano seguinte o novo presidente do Banestado, Luiz
Antônio Fayet, suspendeu os Salões Banestado e pretendeu transformar
a Galeria de Arte num espaço para exposições apenas étnicas.
Felizmente a imprensa interveio, assim como alguns políticos, explicando a
Fayet a importância daquele espaço destinado às artes plásticas. Desgostosa com
os retrocessos, Vera Marques aposentou-se e Domício Pedroso ocupou seu lugar,
permanecendo no cargo também por pouco tempo. Mais uma mudança durante o
Governo Requião afastou Fayet da presidência do Banestado e colocou Domingos T.
Murta Ramalho em seu lugar. A esse tempo, a Galeria Banestado
transformou-se em Espaço Cultural Banestado, atendido por Clarissa
Lagarrigue.
No Governo Jaime Lerner assumiu o posto de responsável pelo novo Espaço
Cultural Taís Horbatiuk, que conseguiu realizar o XII e XIII Salões Banestado
de Artistas Inéditos e depois foi sucedida por Tânia Dallegrave Góes e Ana
Cristina Rank, que inauguraram com sucesso o XIV SBAI em dezembro de 1998.
Nesta derradeira edição, foram convidados para atuar como componentes da
comissão julgadora Dulce Osinski, Francisco Souto Neto, João Henrique
do Amaral, Lirdi Jorge e Nilza Procopiak.
Em 2000 o Banestado foi dolorosamente privatizado por Jaime Lerner, na
campanha de privatizações do presidente Fernando Henrique Cardoso. Terminava a
gloriosa caminhada do Banco do Estado do Paraná, que desde 1928 vinha ajudando
a desenvolver e construir o “Estado dos pinheirais”, e que nas décadas de 80 e
90 também impulsionou admiravelmente a cultura do Paraná no seu sentido mais
amplo.
As novas gerações já não sabem o que foi e o que significou o Banestado.
Mas a grandeza e a dedicação dos que trabalharam na empresa com amor e respeito
ficarão perpetuadas nos registros jornalísticos para as gerações futuras.
Todos, dos diretores aos contínuos, são legítimos representantes da instituição
que impulsionou o panorama industrial, agrícola e cultural do Paraná, ajudando
a prover o nosso Estado dos alicerces que possibilitaram elevá-lo ao estágio em
que ora se encontra, motivo de orgulho dos paranaenses e de admiração e
respeito de todos os brasileiros.
- FIM -
3ª
participação:
A HISTÓRIA DAS TELAS PERDIDAS DOS PRESIDENTES DO BANESTADO
Autor: Francisco Souto Neto
Concorreu com o pseudônimo de Le Lapin Agile
O Banco do Estado do Paraná S. A., depois popularizado como Banestado,
foi fundado em 1928 por Affonso Alves de Camargo, presidente do Estado do
Paraná, que era como se denominava o título do governo estadual na época. Para
presidir a nova instituição financeira, Affonso Camargo convidou o coronel
Pretextato Pena Forte Taborda Ribas. O banco começou a desenvolver-se, enquanto
se sucediam os presidentes, interventores federais de 1930 a 1947, e
a partir de 12 de março de 1947, os governadores do Estado do Paraná. Os
presidentes do Banestado foram sendo convidados conforme sopravam os ventos da
política. O segundo presidente da instituição foi o historiador David da Silva
Carneiro (de 1930 a 1932), seguido por Gustavo A. de Carvalho,
Bertholdo Hauer, Ivo Abreu de Leão, Rivadávia de Macedo, Arcésio Correia Lima,
Felizardo Gomes da Costa, e assim sucessivamente, num total de exatos 40
presidentes de 1928 até o ano 2000.
Na década de 40, oito presidentes do Banestado retratados por De
Bona – Não se sabe exatamente em que ano, mas durante a década de 40, alguém,
cujo nome lamentavelmente se perdeu no tempo, sugeriu ao então presidente do
banco que mandasse pintar retratos a óleo dos seus antecessores. A ideia foi
aprovada e os trabalhos encomendados ao mais importante retratista da época,
Theodoro De Bona. O interventor no Estado do Paraná era Manoel Ribas, que
apoiou a preservação da memória dos primeiros presidentes do Banestado e seus
sucessores.
De Bona estava com aproximadamente 40 anos e pintou magníficos retratos
que enriqueceram uma das paredes da presidência do Banestado.
O desaparecimento das telas – Até os primeiros anos da década
de 60, os oito retratos foram admirados por quem tinha o privilégio de entrar
naquele gabinete. Segundo alguns, numa das mudanças de governo, o novo
presidente da instituição bancária, decidido a modernizar o seu ambiente de
trabalho, teria mandado retirar os quadros da parede, e a partir de então as
pinturas não foram mais vistas. Outros afirmam que quando a presidência do
banco mudou-se do histórico prédio da Rua XV de Novembro para o moderno
edifício na Rua Monsenhor Celso nº 256, a alguns metros da Praça Carlos
Gomes, os quadros não foram para a nova sala ocupada pelo presidente. Seja como
for, diz o velho ditado “longe dos olhos, longe do coração”, e assim os
funcionários começaram a se esquecer das telas que estariam guardadas em algum
depósito.
Na ciranda da vida e da política, sucederam-se governadores e
alternaram-se diretores e presidentes do Banestado.
Década de 80, o jornal Todos Nós e as telas extraviadas – Exatamente na
metade da década de 80, o general João Figueiredo completava a transição entre
a ditadura militar e o início da redemocratização. No Paraná José Richa era o
primeiro governador eleito por sufrágio universal após o período dos
governadores escolhidos pelo Poder Militar. O jornal Todos Nós, de circulação
mensal, tornara-se o veículo da divulgação de assuntos envolvendo o Banestado e
seus funcionários.
Graças a muitos exemplares que guardei, principalmente da década de 80,
foi possível rastrear a história das telas de De Bona, que ficou preservada no
Todos Nós nº 111, ano XII, de setembro de 1986, página 10. Na ficha técnica da
edição, consta que a referida publicação tinha como coordenador Ricardo de
Quadros Cravo, gerente do departamento de marketing João
Máximo Salomão Netto, editor Tadeu Petrin, redatores Josiliano Mello
Murbach e Silmara Krainer Vitta, fotógrafo Roberto A. Von Der Osten e
diagramação do mesmo editor Tadeu Petrin. O título da matéria era “Museu
Banestado começa com De Bona”, numa narrativa feita por Francisco Souto
Neto, então assessor do Diretor de Crédito Rural e Agroindustrial, e presidente
da Comissão de Implantação do Museu Banestado. Segundo o Todos Nós, sabia-se da
existência de vários quadros de Theodoro de Bona que retratavam os primeiros
presidentes do Banestado, que deveriam estar esquecidos em algum local não
sabido da empresa. O Departamento de Patrimônio, que mantinha o controle e o
registro das obras de arte, pelo menos oficialmente desconhecia a existência
das telas. Rumores alertavam que as obras estiveram guardadas durante muito
tempo na casa de máquinas dos elevadores do edifício na Rua Monsenhor Celso
que, por muitos anos, abrigou a diretoria e alguns órgãos da Direção Geral do
Banestado. Possivelmente ao final de alguma gestão, ou talvez com a
transferência ou aposentadoria dos funcionários que tinham conhecimento de tais
obras, ficaram elas esquecidas e abandonadas à sua própria sorte.
Ao ser inaugurado o Centro Administrativo Banestado no bairro de Santa
Cândida, em 24 de novembro de 1978, os diversos setores foram sendo aos poucos
transferidos para o novo endereço. Providencialmente, as oito telas de De Bona
também tinham sido enviadas para lá, acondicionadas numa grande caixa de
papelão, mas sem maiores referências, e ficaram sem identificação em algum
depósito.
O achado em 1986 e o estado das obras – Segundo a reportagem do Todos
Nós, no começo de 1984 Tadeu Petrin, da Coordenadoria de Marketing, teria
comentado com Francisco Souto Neto, assessor da DCRER e também assessor
para Assuntos de Cultura, que as telas talvez estivessem na caixa-forte da
empresa conglomerada BABS. Souto pediu a Petrin que procurasse averiguar. Este
fez uma pesquisa visual que resultou infrutífera.
No dia 12 de junho de 1986 – coincidentemente véspera do aniversário de
Theodoro De Bona – um funcionário da BABS, Otto Florentino, mexendo ao acaso em
velhas caixas de papelão no depósito do seu setor de trabalho, encontrou as
oito telas. Identificando-as e presumindo seu alto valor, comunicou o fato ao
Dr. Reis, presidente da BPDS, que mandou levá-las para seu gabinete com o
propósito de salvá-las do abandono. Diz a reportagem que logo a notícia chegou
aos ouvidos de Francisco Souto Neto que, como presidente da Comissão
de Implantação do Museu Banestado, requisitou-as para comporem o acervo do
futuro museu, no que foi prontamente atendido pelo Dr. Reis. As telas estavam
danificadas, algumas furadas e outras rasgadas, e várias molduras quebradas,
faltando-lhes pedaços.
As obras não estavam catalogadas porque, obviamente, delas não se tinha
conhecimento oficial. O Departamento de Patrimônio, que mantinha rigoroso
controle e documentação fotográfica das obras de arte do Banestado, não sabia
da existência das telas de De Bona porque há mais de duas décadas estavam elas
relegadas ao esquecimento. Se houve insensibilidade neste episódio, melhor
seria atribuí-la aos fantasmas do passado, naquele momento em que um presidente
do Banestado, mandando retirá-las da parede, condenou-as ao olvido.
Ao Todos Nós de setembro de 1986, Souto Neto declarou ao final da
reportagem: “O estado atual das telas demonstra o alto grau de ignorância, e a
falta de educação e respeito das pessoas em relação às obras de arte. Resta,
entretanto, a satisfação que estou tendo pela oportunidade de resgatá-las do
abandono e do esquecimento aos quais estiveram relegadas nas últimas décadas, e
pela possibilidade de expô-las permanentemente ao público, através do futuro
Museu Banestado”.
Restauração e repercussões – Os trabalhos de restauro das
pinturas foram entregues à professora Maria Ester Teixeira Cruz, do ateliê de
restauros do Solar do Barão, que fez a substituição dos chassis infestados de
cupins, nivelamento das telas, reentelamento devido ao descolamento de camadas
das pinturas, limpeza, retoques e camadas de proteção, sem falar na recuperação
de diversos furos e rasgões que as obras apresentavam. Também as molduras foram
reconstituídas, limpas e pintadas.
Absolutamente todos os jornais de Curitiba comentaram o resgate das
telas pelo Banestado, e os principais articulistas referiram-se elogiosamente
aos acontecimentos: Aramis Millarch em sua coluna diária Tabloide, do jornal O
Estado do Paraná, David Carneiro em sua coluna também diária Veterana Verba, na
Gazeta do Povo, e muitos outros. Observando o entusiasmo da diretoria com
o marketing favorável que a imprensa fazia ao redor do
acontecimento, o assessor Souto Neto sugeriu ao seu diretor completar a galeria
de retratos pintados de todos os ex-presidentes do Banestado, até Léo de
Almeida Neves, que era o antecessor do então atual Nicolau Elias Abagge. A
ideia foi aprovada e Souto Neto começou a pesquisar quais seriam os retratistas
que dariam sequência à obra iniciada por De Bona. A escolha recaiu sobre
Antonio Macedo (autor dos retratos, no Palácio Iguaçu, de sete governadores do
Paraná), e Vilmar Lopes, um jovem e promissor artista plástico.
A inauguração do Museu Banestado – É ainda o Todos Nós que
preserva a história da inauguração do nosso Museu, na sua edição nº 114 de maio
de 1987, em reportagem intitulada “Inauguração do Museu Banestado marca o
início da preservação”. Originalmente instalado no 11º andar do edifício sito à
Rua Monsenhor Celso nº 151, constava de três salas para exposição do acervo, e
uma para mostras temporárias. Registra em seu segundo parágrafo: “O acervo
começará pequeno e singelo, mas caberá ao seu Conselho Administrativo e à
gerente do Museu, Rosane Fontoura, traçar diretrizes e planos quanto à
ampliação desse acervo, projetar exposições e mostras temporárias, dimensionar
as suas atividades e eventos culturais e trabalhar pela sua ampliação no 12º
andar, dotando-o de um pequeno teatro e biblioteca, transformando o local em
ponto de encontro da intelectualidade paranaense. Desde a sua inauguração o
Museu exibe em sala especial roupas e objetos pessoais que pertenceram a
Benjamim Constant, e que fazem parte do acervo do historiador David Carneiro,
por este emprestados ao Museu Banestado”. A maior atração foi a galeria dos
ex-presidentes, que magnetizava as atenções de todos. Artistas contemporâneos
também doaram obras para o acervo do Museu, dois deles vencedores de Salões
Banestado de Artistas Inéditos, que foram Rubens Faria Gonçalves e Jandira
Martini. Ficou ainda o registrado no Todos Nós que o Museu Banestado instituiu
uma cerimônia que se tornou tradição a cada mudança de titular da presidência
do Banestado. Assim, Nicolau Elias Abagge presidiu o banco de 1º de janeiro
de 1986 a 16 de março de 1987, quando transmitiu o cargo ao novo
presidente João Carlos Finardi. Foi então pintado o retrato de Abagge, que
Finardi inaugurou no último dia de agosto do mesmo ano. Essa cerimônia reuniu
enorme número de políticos de partidos diferentes, até mesmo um ex-governador.
De 1987 a 2000 – Finardi presidiu o Banestado de
17 de março de 1987 a 30 de março de 1988, e seu sucessor
foi Carlos Antonio de Almeida Ferreira que em novembro inaugurou o
retrato do antecessor. A solenidade foi um marcante acontecimento com
políticos, intelectuais e funcionários do banco, repercutindo em todos os
jornais e revistas. As cerimônias das inaugurações dos retratos continuaram
ocorrendo de administração para administração. Agora instalado no 2º andar da
histórica agência da Rua XV de Novembro nº 340, o Museu estava administrado
por Maria Lúcia Gomes. Heitor Wallace E. de Mello e Silva sucedeu a Almeida
Ferreira, depois assumiram respectivamente Sérgio Elói Druszcz, Norton Macedo
Correia, Luiz Antônio de Camargo Fayet e Domingos Tarço Murta Ramalho. A este
momento, o Banestado encontrava-se prestes a sucumbir, ferido de morte por
aqueles que o exauriram com má gestão, vilipendiaram e roubaram. Os dois
últimos presidentes do Banestado, Manoel Campinha Garcia Cid e Renhold
Stephanes, não chegaram a ser retratados...
Um salto no tempo – A história das telas não termina aqui e,
infelizmente, não teve final feliz. Aprendemos, duramente, que nada é para
sempre, e nem mesmo o glorioso Banestado, forte e sério, resistiria aos
assaltos que os corruptos lhe infringiram, e à dureza e insensatez da política
de privatização do governo estadual aliado ao federal. Acabou-se o Banestado e
também o seu museu que era o depositário do nosso passado e nossas lembranças.
Quando o Banestado foi comprado por preço aviltante pelo Banco
Itaú em 17 de outubro de 2000, o Paraná cobriu-se de luto.
Qual teria sido o destino do acervo do Museu Banestado, que foi formado
por doações de funcionários, ex-funcionários e de outros cidadãos sem qualquer
vínculo com o banco, mas que desejavam ver aqueles objetos preservados num
museu? Uma pesquisa na internet permitiu-nos reconstituir os prováveis caminhos
percorridos pelo acervo do nosso Museu ao longo dos últimos treze anos, até o
corrente 2013. Ademais, lembremo-nos de que o acervo do Museu seria
insignificante se comparado à totalidade do acervo do Banestado, este não menos
do que monumental e simplesmente incalculável. E tudo se foi de roldão.
Em princípio o Banco Itaú pretendeu entregar ao Paraná o
acervo de arte do Banestado em comodato pelo prazo de dez anos. Isto
significaria “emprestar” as obras ao Estado durante uma década, e depois
tomá-las a si e fazer delas o que bem entendesse. A intectualidade paranaense
protestou fortemente para que as obras de arte permanecessem para sempre no
Paraná, e o Itaú, por fim, decidiu doar o acervo ao nosso Estado. O
idealizador do Museu Banestado sugeriu que o acervo deste, por ser constituído
de objetos exclusivamente doados, fosse devolvido aos doadores. O
Itaú desconsiderou a ideia.
A cerimônia da entrega do acervo foi feita no Palácio Iguaçu e
entendeu-se que o NovoMuseu o receberia. NovoMuseu (assim mesmo, ambas as
palavras juntas) foi o nome dado à instituição por Jaime Lerner, que inaugurou
a obra nos estertores do seu governo. Alguns dias depois, o novo governador
Roberto Requião alterou o nome para Museu Oscar Niemeyer, hoje popularmente
conhecido como “Museu do Olho”.
Porém o ex-NovoMuseu recebeu apenas as obras (mas não todas!) de
artistas mais contemporâneos, ao passo que as de autores anteriores à década de
60 iriam para o Museu de Arte do Paraná, e as peças com sentido histórico
seriam destinadas ao Museu Paranaense. Passaram-se os anos e os acervos, tanto
do Banestado quanto o do Museu, não mais foram vistos.
Indagações em 2013 – É possível encontrar na internet o
endereço certo para se conhecer em profundidade a história do Museu Banestado,
desde a sua criação, ilustrada com recortes de jornais da época. Há fotografias
da inauguração do museu e dos quadros de todos os presidentes do Banestado,
recortes das campanhas para as doações, o cartaz-convite para o ato inaugural,
comentários da imprensa, elogios, críticas, passando pelas várias solenidades
que lá se realizaram. A partir do ano 2000 há recortes sobre os desenganos do
Governo Lerner e o “escândalo Banestado”, com o link que leva ao extenso
Relatório da “CPI do Banestado”. Essa página sobre o Museu Banestado alcança o
ano de 2013 e se encerra com notícias ainda correntes e indagações que deixam
em aberto o assunto do infortúnio do Banestado e seu museu. Este não é assunto
encerrado, pois há muitas perguntas que ainda terão que ser respondidas.
O endereço para pesquisa – Basta escrever em “Pesquisas
Google” as seguintes palavras: “expressão & arte” + “galeria de todos os
presidentes do banestado”. Assim mesmo, entre aspas e letras minúsculas, com o
sinal de “mais” entre as duas frases... e sem errar nenhuma das letras. Feito isto,
o Google levará o interessado ao seu destino, que é conhecer algumas
curiosidades, certos detalhes e muitas pendências que ainda pesam sobre o Museu
Banestado e o acervo de arte do próprio Banco do Estado do Paraná.
Tudo isso envolve a história pessoal de cada um de nós,
afabeanos e ex-funcionários daquela querida instituição, e reforça o nosso
desejo coletivo de fazer com que recordações possibilitem que as pequenas
histórias do Banestado se tornem História do Paraná e se perpetuem para muito
além das nossas simples e passageiras existências.
- FIM -
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JORNAIS DE PETRÓPOLIS SOBRE MEU
TIO-AVÔ, O “ANJINHO DE PETRÓPOLIS”
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
CONHEÇA O ANJINHO DE PETRÓPOLIS por Aline
Rickly
Conheça o Anjinho de
Petrópolis
por Aline Rickly
Tribuna de
Petrópolis - Domingo, 17 de novembro de 2013 - Ano CXII - Nº 34.
FOTO 76
Conheça o Anjinho de Petrópolis
por Aline Rickly
Página de capa:
FOTO 77
FOTO 78
Foto Aline Rickly.
FOTO 79
Acima, a página 3 inteira, tal como foi publicada
pela Tribuna de Petrópolis.
Conheça o Anjinho de Petrópolis
Aline Rickly
Uma cena que está se tornando cada ano mais comum no Cemitério Municipal
vem despertando a atenção e curiosidade dos petropolitanos. Os visitantes que
passam pela sepultura 685 se surpreendem ao se deparar com uma grande
quantidade de brinquedos espalhados (mais de uma centena entre carrinhos, bolas
e bonecos, além de flores e moedas) por um túmulo de aproximadamente 1
metro de comprimento. A campa pertence a Francisco José Alves Souto Filho,
que morreu aos 3 meses, no dia 9 de abril de 1872, e está sendo cultuado por
petropolitanos que dizem que o menino é um santo milagreiro. A criança ganhou o
apelido de Francisquinho ou Anjinho Petropolitano, por causa da imagem de um
anjo que está colocada em cima do túmulo, e é neto do Visconde de Souto, um dos
amigos mais próximos de D. Pedro II.
De acordo com relatos de pessoas que acreditam no poder da criança, a
cada milagre realizado, um brinquedo é colocado em cima da campa. Se esta
informação for levada em conta, nos últimos tempos mais de 100 pedidos foram
atendidos pelo menino. Embora o culto aos santos de cemitério seja alvo de
discussões que envolvem a fé, espiritualidade e religião, inúmeras pessoas
continuam acreditando no poder da criança de conceder milagres. Há dois meses,
Sebastiana dos Santos, que trabalha na limpeza do cemitério há mais de 13 anos,
fez um pedido para o menino. “Pedi que meu filho, que tem problemas com álcool,
parasse de beber, e ele já parou”,disse ela, que, como forma de agradecimento,
deixou um brinquedo em cima do túmulo.
A procura pela campa de Francisquinho também está
cada vez mais frequente. Embora seja no Dia de Finados que receba o maior
número de visitantes, nos dias normais também tem gente procurando por ele.
“Sempre tem pessoas perguntando onde está o anjo que faz milagres”, contou
Anézia Faria, que também trabalha no local.
Segundo Marisa da Silva Gomes, chefe do Arquivo
Histórico, da Biblioteca Municipal de Petrópolis, a história dos milagres
começou quando um senhor, que era responsável pela limpeza das sepulturas, fez
um pedido para curar a úlcera. “Ele foi atendido e começou a contar para as
pessoas, que passaram a acreditar e sempre que um milagre é concedido deixam um
brinquedo para o menino”, disse.
O filho do senhor que limpava as sepulturas,
atualmente encarregado da mesma função, não quis se identificar, mas contou que
o pai, falecido há 8 anos, realmente contava esta história. “Eu acho que era
loucura”, criticou. Ele relatou que o pai encontrou a sepultura abandonada há
mais de 30 anos e, desde então, se responsabilizou por limpar e cuidar dela.
“Depois que ele morreu, a responsabilidade passou para mim”,revelou.
Registros históricos afirmam que o
casal não teve filhos
Segundo registros históricos, Francisco José Alves
Souto, filho do Visconde de Souto (Antônio José Alves Souto), casou-se pela
primeira vez com Maria Luísa de França e Silva, mas não teve filhos. Apenas com
a segunda esposa, chamada Maria Lapa de Salles Oliveira, é que teve cinco
filhos.
A informação pode ser contraditória, pois no túmulo
de Francisquinho consta que Maria Luiza era sua mãe. Curiosamente, na certidão
de óbito da criança, que está na Catedral São Pedro de Alcântara, está
registrado apenas o nome do pai. “Francisco morava no Rio de Janeiro e não
sabemos por qual motivo ele estava em Petrópolis”, contou Marisa.
O pesquisador Lauro de Sá contou que a placa do
túmulo é recente, no sentido que deve ter sido colocada há uns 20 anos, e que
considera intrigante o fato de não constar o nome da mãe na certidão. Ele
também acredita que há possibilidade de Maria Luísa ter sido moradora de
Petrópolis e que o filho tenha nascido na cidade. “O pai do Francisco, o
Visconde de Souto, era um dos melhores amigos de D. Pedro II e por isto era
normal que a família visitasse a cidade com frequência, o que pode ter sido uma
forma dele ter conhecido a Maria Luísa aqui. Naquela época, não era comum
viajar com crianças pequenas porque a viagem do Rio de Janeiro até Petrópolis
era muito longa”, acrescentou.
FOTO 80
Lúcia Helena Souto Martini, sobrinha-neta de Francisco José Alves Souto
Filho, o Anjinho de Petrópolis.
Durante a apuração da matéria, a equipe da Tribuna
encontrou o bisneto de Francisco José Alves Souto, chamado Francisco Souto
Neto, que reside em Curitiba. Ele está trabalhando em uma biografia
que conta toda a história de seu trisavô, o Visconde de Souto. “Pesquisei mais
de 600 títulos junto com minha prima Lúcia Helena Souto Martini, filha de
Jacyra Souto. Em todos os registros, a informação é de que no primeiro
casamento meu bisavô não teve filhos”, contou ele, que ficou sabendo sobre a
história do Francisquinho através da equipe de reportagem da Tribuna.
“Meu bisavô é uma figura nebulosa na nossa história
familiar”, revelou. Além disso, ele ressaltou que cinco gerações são um período
considerável para que muitas informações a respeito da história dos familiares
se percam. O livro escrito pelos primos, composto por 317 páginas, está
aguardando patrocínio para ser publicado, mas antes disso, Francisco assegurou
que, com essa informação sobre a criança, irá ter que rever o capítulo em que
fala do seu bisavô. “Certamente teremos que alterar este item, atualizando os
dados. Fico muito feliz que esse pequeno petropolitano não tenha caído no
esquecimento e, de certa maneira, renasce na memória de todos encontrando a
perpetuidade merecida através dos prodígios da fé”, enfatizou.
Sobre o falecimento do bisavô, ele disse não ter
muita informação, mas acredita que ele tenha morrido com febre amarela. “Também
não sei onde ele e Maria Luísa viviam e nem onde foram sepultados”, contou.
FOTO 81
Francisco Souto Neto, sobrinho-neto de Francisco José Alves Souto Filho, o Anjinho de Petrópolis.
Francisco ressaltou que há falta de informações sobre o primogênito do seu bisavô e é justamente porque o casal morreu muito cedo. "Ao casar-se com Maria da Lapa e ter formado numerosa família,os laços com Francisquinho foram esquecidos pelas gerações que se seguiram". Em contato com a administração do Cemitério Municipal, informaram que os registros antigos não foram digitalizados e que não era possível conseguir a informação até o fechamento da edição.
FOTO 82
No lugar da fotografia, o jornal publicou o esquema da ancestralidade de Francisco Souto Neto, ligando-o ao "Francisquinho" (o Anjinho de Petrópolis) e ao Visconde de Souto.
Também não foi possível identificar o local em que Francisquinho nasceu, já que o hospital mais antigo da cidade, o Hospital Santa Teresa, foi fundado em 1876, quatro anos, após o nascimento da criança. Desta forma, se o nascimento dele aconteceu em Petrópolis, presume-se que possa ter sido através de uma parteira ou em uma casa de saúde que existia na época, da qual não se possui mais informações.
Bispo vai pesquisar a história do
menino
De acordo com o bispo dom Gregório Paixão, o caso
deve ser estudado com profundidade e prudência, para que não caia no
misticismo. “Tive um pequeno conhecimento sobre o assunto no Dia de Finados,
mas preciso conhecer a história a fundo”, ressaltou. Sobre a possibilidade de
que Francisquinho possa ser canonizado, ele destacou que é um grande processo
até chegar a esse ponto. “Se for verdade que a cada milagre concedido, um
brinquedo é depositado no túmulo dele e, se tem mais de 100 brinquedos,
realmente é um caso impressionante e vamos avaliá-lo. Tem que ser feito um
estudo para saber sobre os milagres que ele fez. Sendo coisas excepcionais vale
a pena aprofundar os estudos. Vou pedir uma investigação sobre o assunto a
paróquia do Sagrado Coração de Jesus, que fica próxima ao cemitério”, garantiu.
Dom Gregório explicou que os santos milagreiros são
intercessores de Jesus Cristo, sendo assim, eles auxiliam os pedidos; “O que
acontece, na verdade, é que as pessoas pedem o milagre a Jesus, por intercessão
da criança”.
Família Souto
FOTO 83
Requerimento dirigido em 19.2.1868 ao Vigário Capitular do Rio de Janeiro, por Francisco José Alves Souto, pedindo permissao para realizar seu casamento com Maria Luíza de França e Silva na capela particular de seus pais, o Visconde e a Viscondessa de Souto. (Documento original pertencente ao acervo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro).
Francisco José Alves Souto, pai de Francisquinho, nasceu em 20 de março de 1846, no Rio de Janeiro e morreu em 1890, aos 44 anos. Não se sabe exatamente o dia e o mês de sua morte, nem as causas. Ele foi o sexto filho de Antônio José Alves Souto, o Visconde Souto, que nasceu em Portugal, em 28 de março de 1813 e morreu em 14 de fevereiro de 1880. O Visconde foi fundador da Casa Souto, uma das mais importantes instituições financeiras do país, no século XIX que teve sua fase de prosperidade durante o bom período da produção cafeeira.
Antônio trabalhou na Corte como corretor de títulos e de outros valores. Segundo os registros, ele tinha título de nobreza e gozava de muito prestígio junto à colônia portuguesa fluminense.
Em 1857, com a crise do café, a casa entrou em crise, com quedas acentuadas nas exportações e nas cotações dos preços do café no mercado mundial.
Mesmo após ter conseguido inúmeros empréstimos com o Banco do Brasil, a Casa Souto acumulou uma dívida de 22 mil contos de réis, o que correspondia à metade do capital do Banco do Brasil, o que tornou impossível conseguir o dinheiro para pagar as dívidas.
A falência da Casa Souto foi responsável, em 1865, por uma queda comercial, baixa do câmbio e dos valores dos imóveis, decesso das ações de companhias e elevação do preço da moeda de ouro.
Santos de cemitério
Em Petrópolis, Francisquinho é o primeiro cultuado
pela população e dito como santo de cemitério, mas pelo país afora é possível
encontrar outras pessoas que morreram e fazem milagres. Segundo Lauro, esta é
uma forma simples e popular de santificar determinadas pessoas a partir do
culto e da reverência de sua sepultura. De acordo com ele, existem casos em que
um santo de cemitério acaba sendo reconhecido no Vaticano. Um exemplo é o
menino paulista Antônio da Rocha Carmo, que nasceu em 1918 e faleceu aos 12
anos de idade. Ele passou a ser reconhecido como Santo Antoninho, o Santo do
Povo, e seu processo de beatificação foi aberto em 2007. O pesquisador citou
outros casos, como o da Maria Degolada, uma jovem que foi assassinada pelo
namorado em novembro de 1889, e o da Odetinha, que morreu vítima de uma doença
infecciosa de origem bacteriana. O processo de beatificação e canonização de
Odetinha foi aberto em janeiro pela Arquidiocese do Rio.
Aline Rickly
Redação Tribuna
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domingo, 1 de dezembro de 2013
NO TÚMULO DO ANJINHO, MOEDAS QUE NINGUÉM
TIRA por Aline Rickly
No
túmulo do Anjinho, moedas que ninguém tira
por
Aline Rickly
Tribuna de Petrópolis – Terça-feira, 19 de novembro
de 2013 – Ano CXII – nº 35.
FOTO 84
No túmulo do Anjinho, moedas que ninguém tira
por
Aline Rickly
Página de capa:
FOTO 85
Página 3 fotografada no monitor do computador (versão digital da Tribuna):
FOTO 86
FOTO 87
Link da edição digital:
Criado em Terça, 19 Novembro 2013 08:30
FOTO 88
Foto: Alexandre Cari
No túmulo do
Anjinho, moedas que ninguém tira
Aline Rickly
A história sobre o Francisquinho, apontado como santo milagreiro do
Cemitério Municipal, gerou uma série de dúvidas sobre a veracidade do assunto e
o fato da criança estar sendo cultuada na cidade. Um dos questionamentos é a
respeito dos brinquedos que são colocados na campa. No Facebook da Tribuna,
inúmeras pessoas sugeriram que fossem doados a instituições carentes e outras
criticaram o culto à criança. A questão será fruto de um estudo aprofundado
feito pelo bispo dom Gregório Paixão.
“Vamos analisar o caso com procedência para que não caia no misticismo”, destacou o bispo, que considerou a história impressionante, já que a cada milagre concedido um brinquedo é colocado na campa, onde existem mais de 100, entre carrinhos, bolas, bonecos e caminhões. O bispo explicou que os santos milagreiros são intercessores de Jesus Cristo, ou seja, auxiliam os pedidos. Entre os brinquedos, é possível encontrar alguns que já não são fabricados mais, como um Mustang de ferro, da década de 70. Ontem pela manhã, alguém havia acendido velas para o menino. Na campa, também há vaso de flores, uma maçã e moedas.
O filho do senhor que limpava as sepulturas, há mais de 40 anos, não quis se identificar mas contou que, desde 1994, ajudava o pai a cuidar da sepultura. Desde que o pai morreu, há oito anos, ele ficou encarregado de limpar a campa. Ele disse que lava o mármore com água e cloro três vezes por ano, quando também avalia o estados dos brinquedos, que se deterioram com o tempo. Ele revelou que os que estão em pior estado são jogados no lixo. “Sem contar que tem muitos cachorros no cemitério que destroem os brinquedos”, disse.
Sandra Costa trabalha há 22 anos na limpeza do local e contou que não acredita que um bebê morto aos 3 meses possa ser um santo milagreiro. “Sou evangélica, faço meus pedidos direto a Deus”, disse ela, que contou também que ouve esta história do anjinho desde que começou a trabalhar no cemitério. “O baiano, que era o responsável por limpar o túmulo da criança, contava sempre essa história. E as pessoas não só acreditam como respeitam os brinquedos e não mexem neles”, destacou.
FOTO 89
Francisco Souto Neto, bisneto do pai do Francisquinho, escreveu a biografia de seu trisavô, o Visconde de Souto. / Foto: Arquivo Pessoals.
Pais do anjinho podem ter vivido em
Petrópolis.
Francisco Souto Neto, bisneto do pai do Francisquinho, escreveu a
biografia de seu trisavô, o Visconde de Souto, junto com sua prima Lúcia Helena
de Souto Martini. O livro ainda não foi publicado por falta de patrocínio e tem
317 páginas. Eles pesquisaram mais de 600 obras e, segundo Francisco, os filhos
do Visconde casaram-se todos na capela particular da Chácara do Souto, a
residência oficial da família, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. “Se a
criança morreu em 1872, meu trisavô já não era mais milionário, pois a Quebra
do Souto aconteceu em 1864”, revelou. A Casa Souto foi uma das mais
importantes instituições financeiras do país, no século XIX e teve sua fase de
prosperidade durante o bom período da produção cafeeira.
Sobre o possível nascimento da criança, Francisco acredita que é possível que o bisavô tenha conhecido a Maria Luiza, mãe do Francisquinho, em Petrópolis. “Outra hipótese é que ela fosse carioca e o casal tenha se mudado para a Cidade Imperial, onde meu bisavô veio trabalhar, talvez a convite de algum dos antigos e influentes amigos do visconde. Certamente, após perder a família, esposa e filho, meu bisavô voltou para a região do Vale do Paraíba, mais especificamente Jacareí, onde conheceu a Maria da Lapa, minha bisavó”, disse. Quando se refere aos influentes amigos, Francisco rememora que o Visconde de Souto era um dos amigos mais próximos de D. Pedro II.
Francisco encontrou em seu arquivo um documento, datado de 19 de fevereiro de 1868, no acervo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro, que representa um pedido de licença para que o casamento entre Maria Luiza e seu bisavô acontecesse na capela particular do Visconde de Souto. “O que significa que o primogênito nasceu somente três anos após o matrimônio, em 1872”, concluiu.
Aline Rickly
Redação Tribuna
*
Vide reportagem
anterior, "Conheça o Anjinho de Petrópolis", no seguinte link:
http://viagenseopinioes.blogspot.com.br/2013/11/c-onheca-o-anjinho-de-petropolis-por.html
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FOTOGRAFIAS FEITAS DA TELA DO COMPUTADOR :
ABAIXO, DUAS MATÉRIAS PUBLICADAS EM 2013 PELO JORNALISTA AROLDO MURÁ, SOBRE FRANCISCO SOUTO NETO.
FOTO 89 A
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FOTOGRAFIAS
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FOTO 137 – Minha vizinha Tânia Maria Schaykoski vem à minha sacada para apreciar a “hata” que floriu naquela noite.
FOTO 202 – Na noite dos meus 70 anos, meus convidados são recepcionados por Charles Chaplin (Luiz Berlim).
FOTO 211 – Na noite dos meus 70 anos, Charles Chaplin recebe Marion.
FOTO 242 – Em Curitiba, no Centro Cívico, a grama atrás do Palácio Iguaçu estava tão florida que até lembrava os vales alpinos da Suíça. Claro que tirei muitas fotos para não esquecer.
FOTO 243 – Em Curitiba, no Centro Cívico, a grama atrás do Palácio Iguaçu estava tão florida que até lembrava os vales alpinos da Suíça. Claro que tirei muitas fotos para não esquecer.
FOTO 243-A – Em Curitiba, no Centro Cívico, a grama atrás do Palácio Iguaçu estava tão florida que até lembrava os vales alpinos da Suíça. Claro que tirei muitas fotos para não esquecer.
FOTO 244 – Em Curitiba, no Centro Cívico, a grama atrás do Palácio Iguaçu estava tão florida que até lembrava os vales alpinos da Suíça. Claro que tirei muitas fotos para não esquecer.
FOTO 247 – Em Curitiba, no Centro Cívico, a grama atrás do Palácio Iguaçu estava tão florida que até lembrava os vales alpinos da Suíça. Claro que tirei muitas fotos para não esquecer.
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FIM DO ANO 2013
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2 de setembro de 2023:
80 ANOS ESTA NOITE
CONTINUA NA
PARTE 37
O ano 2014
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