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2 de setembro de 2023:
80 ANOS ESTA NOITE
de 1943 a 1967
por Francisco Souto Neto
Em 2 de setembro de 1983 eu completava 40 anos de idade. Oito anos antes disso, portanto em 1975, eu tinha participado de um concurso interno – quando eu trabalhava como escriturário no Banco do Estado do Paraná – para o cargo de inspetor do então banco oficial do Paraná. Tive sucesso no concurso e fui muito bem classificado. Após alguns anos atuando como inspetor, fui convidado durante o governo Jayme Canet Júnior a assumir ao cargo de confiança de “assessor de diretor” e terminei minha carreira como “assessor para assuntos de cultura da presidência do Banestado”.
Os meus primeiros 40 anos de vida parece-me terem passado lentamente, como que em “fatias de tempo” muito bem delimitadas pelas mudanças de cidades de minha família, promovidas pelas profissões de meu pai – jornalista e radialista – e que para mim se tornaram muito bem caracterizadas nas fases de minha infância. Essas memórias ficaram vinculadas ao meu período pré-escolar (1943-1948), depois aos dois anos (1949-1950) de “jardim de infância”, em seguida aos cinco anos (1951-1955) do Curso Primário e finalmente aos quatro anos (1956-1959) do Curso Ginasial que antecedeu à Universidade.
Os 40 anos seguintes (de 1983 a 2023) parecem-me transcorridos em velocidade supersônica, e assim a minha idade de 80 anos chegou-me como num estrondo em meio a indagações: “Como assim? Já?”.
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Em Presidente Venceslau, SP, de 1943 a 1947
No dia 2 de setembro de 1943 nasci em Presidente Venceslau, SP, pelas mãos do Dr. José Mendes Ribeiro, médico obstetra de minha mãe Dª Edith Barbosa Souto. Nós residíamos na Rua Carlos Gomes nº 344, em frente do prédio onde poucos anos depois instalou-se o Venceslau Clube, e a apenas uns 50 metros da Igreja Nossa Senhora de Fátima, na Praça Dr. Álvaro Coelho. Sempre pensei que esse templo católico fosse a catedral de Presidente Venceslau, mas estou descobrindo agora que não existe uma catedral católica em minha cidade natal.
Meu pai, Arary Souto, era o tesoureiro da prefeitura. Durante a guerra, em 1943, ele foi nomeado como Encarregado Geral do Racionamento em Presidente Venceslau. Houve um período em que ele assumiu o cargo de prefeito municipal, em circunstâncias que desconheço. Não sei o que ocorreu com o prefeito eleito. Acredito que isso tenha ocorrido em 1946 ou 1947. Para elucidar a questão, seria necessária uma pesquisa nos arquivos da prefeitura naquele período, e também no jornal da época, mas não sei se naquele tempo já existia uma publicação noticiosa diária ou semanal naquela cidade.
A história do livro acima pode ser encontrada neste endereço:
https://soutoneto.blogspot.com/2020/04/almanach-hachette-1908-com-anotacoes-de.html
Um episódio em minha tenra infância traz-me a seguinte memória que se tornou perenizada por ter-se transformado num episódio repetido pela minha mãe através de muitos anos. Ocorreu o seguinte:
Um amiguinho veio brincar comigo em certa tarde, e eu disse a ele: “O Papai agora é prefeito”. Meu amiguinho deu de ombros: “O meu também logo vai ser”.
O que poderia eu entender de prefeitos naquela idade? Absolutamente nada. Mas eu sabia que quando Papai chegava em casa no fim da tarde, não vinha mais no seu velho carro, mas num automóvel muito mais vistoso, que era chamado de “o carro do prefeito”.
Algumas vezes a imprensa registrou o fato de meu pai Arary Souto ter sido prefeito de Presidente Venceslau, como vemos no Jornal do Paraná, de Ponta Grossa, na 1ª página da edição de 1º.11.1951:
Em Presidente Venceslau viviam parentes de minha mãe, tais como suas primas Henriqueta (Queta) casada com o escritor Hélio Serejo, e Georgina, casada com Antônio Daraia. Havia ligações familiares e de amizade nas localidades vizinhas de Presidente Epitácio e Porto Tibiriçá, ambas no Estado de São Paulo. Atravessando o Rio Paraná em frágeis embarcações e entrando no Rio Pardo através de sua foz, chegávamos ao distrito de Porto XV de Novembro, em Mato Grosso Uno, onde residiam primos de minha mãe, Pery e Emerenciana Martins com seus filhos. Eu e meus irmãos tratávamo-los por “tios”.
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Em Ponta Grossa, PR, de 1948 a 1952
Mudamo-nos para Ponta Grossa, na Terra dos Pinheirais, onde meu pai trabalharia primeiramente como Diretor de Redação do “Jornal do Paraná”, que foi considerado na época como o mais informativo jornal do Estado.
A esse tempo residimos na Rua Visconde de Nácar nº 149, centro da cidade, localizada entre a Rua XV de Novembro e a Marechal Deodoro.
Aí fui matriculado no Jardim de Infância que funcionava no Colégio Sant’Ana, na esquina Praça Barão do Rio Branco, mais exatamente entre a Av. Bonifácio Vilela e a Rua do Rosário.
No link abaixo estão registradas as minhas lembranças do Jardim de Infância no Colégio Sant’Ana em Ponta Grossa:
https://fsoutone.blogspot.com/2022/06/meu-jardim-de-infancia-em-19491950-por.html
Em 1949 meu pai Arary Souto assumiu o cargo de Diretor de Redação do Jornal do Paraná, que foi considerado como o diário mais informativo de todo o Estado. O link abaixo leva à primeira página do Jornal do Paraná e às palavras de meu pai em “Nosso Programa”, publicadas à esquerda do título do jornal:
Após afastar-se como Diretor de Redação do Jornal do Paraná e passar alguns meses na diretoria da Companhia Impressora do Paraná, meu pai voltou à Diretoria de Redação do Jornal do Paraná, o que foi efusivamente comemorado na primeira página do matutino:
As minhas 14 fotografias abaixo são o registro do tempo em que residi em Ponta Grossa, na Rua Visconde de Nácar nº 149, de 1947 a 1952.
No link abaixo, minhas lembranças certamente desagradáveis de duas professoras da minha infância: de Dona Maria Antônia, do 1º ano primário, e de Dona Adelaide, durante os quatro anos do Curso Ginasial:
https://soutoneto.wordpress.com/2014/12/02/professoras-da-minha-infancia-os-inocentes-e-as-bruxas/
Dos 3 aos 9 anos, as minhas memórias mais remotas:
https://nostalgiaresgatedamemoria.blogspot.com/2022/01/dos-3-aos-6-anos-as-minhas-memorias.html
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No ano de 1953 meu pai recebeu o convite de um primo de minha mãe, Wilson Barbosa Martins, para mudar-se para Campo Grande com a finalidade de organizar um jornal (o "Correio do Estado") e depois, com a experiência do jornalismo em Ponta Grossa, tornar-se diretor do novo matutino diário. Wilson era um empresário e político importante em Campo Grande, onde foi vereador e deputado estadual, e por duas vezes governador do Estado de Mato Grosso do Sul, além de ter sido também deputado federal e senador da República.
Mudamo-nos para aquela que era a cidade natal de minha mãe, e onde residia e continua residindo o seu ramo familiar.
Fomos morar na Av. Calógeras, quase esquina da Av. Afonso Pena, onde estava o melhor cinema da cidade, o Alhambra – a apenas 50 metros de minha casa – e a somente 200 metros do palacete do médico Tio Vespasiano (irmão de minha bisavó e tio-avô de minha mãe) que, tal como seu genro Wilson Barbosa Martins, tinha sido deputado estadual, deputado federal, senador da República e também governador do Estado de Mato Grosso Uno.
Nossos vizinhos à esquerda de nossa casa eram os gregos Vavas, e fiquei amigo de um menino da minha idade que se chamava Cristaque. Ao lado direito estava a residência da adolescente Lenira Nunes Feitosa, que se tornou grande amiga de minha irmã Ivone.
Através do Google Street View tentei localizar a casa na Av. Calógeras. Ela não existe mais. Ficava ou no nº 2099 atual (Betel Center) ou no 2121 (atual Igreja Internacional da Graça de Deus).
Nossa casa era bem moderna, estilo mais ou menos de um bangalô, com uma varanda grande ao nível da calçada. Ali minha mãe ficava bordando, ou fazendo tricô, enquanto olhava o movimento da avenida. A casa era dotada de “serpentina” para aquecer a água da cozinha e banheiros. Localizava-se a apenas uns 300 metros do Colégio Oswaldo Cruz, onde fui matriculado no 3º ano do curso primário. Minha professora era uma linda moça chamada Agnes.
Um dos meus colegas de classe chamava-se Maurício e algumas vezes voltávamos em grupo com outros, já que morávamos na mesma direção. Quando nos aproximávamos do palacete de Tio Vespasiano, Maurício me disse: “Eu moro ali”. Não acreditei, pois sabia que ali era a residência do tio-avô de minha mãe. Maurício insistiu: “Moro, sim, e vou lhe mostrar”. Atravessou a rua, entrou pelo portão da residência, e foi correndo até à porta do andar térreo, que abriu e ali desapareceu. No dia seguinte, eu disse a ele: “Maurício, acho que nós somos primos, pois na sua casa mora o meu Tio Vespasiano. Você é neto dele?” A resposta foi: “Não, eu disse que moro lá por brincadeira. É que minha mãe é a cozinheira de Dona Celina e Dr. Vespasiano”. Então não éramos primos, mas isso não fez qualquer diferença, pois continuamos sendo grandes amigos até ao final do curso. No fim daquele ano de 1953 minha família deixaria Campo Grande, porque meu pai havia organizado o novo jornal de Campo Grande, foi seu diretor durante alguns meses e depois desligou-se daquele diário porque iríamos morar em Presidente Venceslau, minha cidade natal.
Lembro-me de que não fui muito bem na escola, talvez pela mudança de cidade de Ponta Grossa e estar num outro estado federativo, isto somado à novidade de conhecer a numerosíssima família de minha mãe. Muito mais que aos estudos, eu me atinha à descoberta dos novos laços familiares e das famosas fazendas dos tios e primos de minha mãe, tais como Niagara, Passatempo, Vacaria, Campeiro e outras. Campo Grande tornou-se para mim um “parque de diversões”.
O primo com quem mais convivi foi o Euclides, filho de Izaura (cognominada “Tia Pedra”). Também conheci minha avó materna, a quem chamávamos “Mãe Izolina”. Meus laços de amizade firmaram-se mais com as famílias de Tio Cláudio, Tia Pedra e Tia Sofia. A irmã mais bonita e culta de minha mãe chamava-se Nêmesis, que se casou com um diplomata da família Coelho.
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Presidente Venceslau, SP, em 1954 e 1955
Voltamos a residir em 1954 e 1955 na cidade paulista em que nasci, Presidente Venceslau, onde meu pai se reestabeleceu por um tempo para tratar de seus negócios.
O melhor colégio da cidade era o Liceu Dom Pedro de Alcântara, com as aulas ministradas pelo seu diretor, o professor cego Armando de Oliveira Campos. Ele era desprovido de visão. Utilizava-se de livros em braile quando dependia de alguma leitura ou ditado para os seus alunos. Dispunha de uma secretária, Dona Zilda, quem corrigia os cadernos e cuidava da disciplina, mas ali éramos crianças muito bem educadas, plenas de respeito pelo professor e sua secretária.
A fotografia abaixo foi tirada ao fim do curso primário.
Orgulho, preconceito, beleza e rudeza
Por duas vezes, enquanto moramos em Presidente Venceslau, minha prima Yeda Souto Rhormens, de Campinas (filha de Tio Raul e Tia Jahyra, irmã de meu pai) foi passar as férias conosco. Yeda era muito bonita, até demais. Na rua, tanto em Campinas quanto em São Paulo, costumavam confundi-la com Martha Rocha, Miss Brasil que naqueles dias fazia muito sucesso em todo o país. Yeda tinha estudado balê e arte dramática. Dançava maravilhosamente com suas sapatilhas. Nas declamações chegava a emocionar a plateia. Então meu irmão teve uma ideia para fazer movimentar a cena artística e cultural de Presidente Venceslau. Ele, associado a algumas pessoas, não me lembro quem, promoveu um acontecimento artístico no Venceslau Club, que incluiria Yeda dançando trechos solos de balê e fazendo interpretação dramática de poemas. Minha irmã, com vestido comprido e descalça, se apresentaria num número de dança, e meu irmão, ele próprio, tocaria violão e cantaria. Alguém tocaria piano, e assim por diante. Yeda ficou muito animada com a ideia. Foi feita grande divulgação do evento...
No dia anunciado o Venceslau Club lotou e os vários números artísticos do espetáculo foram muito aplaudidos. Sucesso total. Meu pai ficou muito zangado porque não sabia que minha irmã Ivone dançaria e não concordava com a ideia. Enfim, a sociedade venceslauense gostou e nos dias seguintes Yeda passou a ser convidada para festinhas (às quais minha mãe e minha irmã Ivone a acompanhavam) e os rapazes venceslauenses chegavam a pedir autógrafo à minha prima. Eu era fã de Yeda, admirava sua beleza e versatilidade artística, mas ela praticamente nem olhava para mim – um pixote aos 10 anos por ela apaixonado.
Vale lembrar que um dos poemas que foram declamados e interpretados por Yeda, e que fez algumas senhoras discretamente enxugarem as lágrimas, foi “Moleque Bacurau”, poema de Silvio Moreaux – um texto que atualmente se poderia considerar inadequado e preconceituoso. Mas o evento a que me refiro aconteceu há aproximadamente 70 anos... e naquele tempo se já existia o vocábulo “ecologia” – eu acho que não –, ele era por todos desconhecido. O preconceito racial era uma infame realidade crua e perversa. Em casa recebíamos orientação correta, mas na escola a conversa dos coleguinhas era outra. Ademais, por exemplo, a revista O Cruzeiro ressaltava com entusiasmo o grande escritor Hemingway matando, por “esporte”, elefantes e rinocerontes na África; Jorge Goulart e Emilinha Borba cantavam a marchinha de carnaval “O teu cabelo não nega” (“mas como a cor não pega, mulata, eu quero o teu amor”); Bibi Ferreira fazia sucesso cantando “Nega do cabelo duro”; jovens e velhos enchiam os céus de junho com balões incandescentes sem atinar às possibilidades de incêndios; e em dezembro sacrificavam-se pinheiros para servirem de árvores de natal. Sim, os tempos eram outros. Talvez fosse o tempo da inocência mesclada à ignorância.
Mas a beleza feminina era exaltada com toda razão, já que as feministas ainda não existiam para apresentar ideias mais sérias e adequadas, e Martha Rocha merecidamente enchia os olhos dos brasileiros. Minha prima Yeda, parecida com a famosa “miss” e talvez ainda até mais bela, continua merecendo ser lembrada por mim, principalmente porque ao lado da beleza ela carregava uma personalidade imperiosa, inovadora e independente, aliada à fina educação que recebeu dos pais. Yeda escrevia poemas e publicava livros. Ela era, de certo modo, a mulher do futuro. Portanto, Yeda merece que nestas minhas memórias da infância em Presidente Venceslau eu registre aqui a viagem que fizemos com ela a Porto Epitácio, onde tomamos um barco que nos levou à outra margem, na desembocadura do Rio Pardo, onde se situava o Porto XV de Novembro, ocasião em que meu irmão Olímpio (também apaixonado pela prima) tirou fotografias dela ao lado dos vaqueiros que fizeram a travessia no mesmo barco pelas águas do Rio Paraná. As fotos resultaram no contraste entre a exuberância ou elegância de uma moça “da cidade” com o rude mundo “selvagem” dos caboclos daquele então fim de mundo...
Portanto seguem abaixo dez fotografias da Yeda, de uma das ocasiões em que nos visitou em Presidente Venceslau. É uma pena que eu não tenha as fotografias que foram tiradas durante o espetáculo no Venceslau Club.
No ano de 1992 fizemos uma viagem a Campo Grande (eu, minha mãe e Rubens Faria Gonçalves) e paramos em Presidente Venceslau durante dois ou três dias, onde visitamos Tio Hélio Serejo. No filme abaixo (parte 1) registramos as visitas ao médico José Mendes Ribeiro e sua esposa Dona Vitalina, e ao vereador Mário Torres que naquela época residia na casa onde eu nasci (casa que teve a fachada modificada por uma reforma). A parte 1 (com 10 minutos) desse filme pode ser vista clicando-se este link do YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Ndmyjoz9-j4
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Ponta Grossa, PR, de 1956 a 1963
Em dezembro de 1955, após a conclusão de meu Curso Primário, retornamos a Ponta Grossa, onde meu pai viria a ser o diretor de uma segunda emissora de rádio na cidade, a Rádio Central do Paraná, que ele rapidamente a tornou a emissora mais popular. Era um tempo anterior à televisão no interior do Estado, quando o rádio era o mais importante meio de comunicação de massas. Ainda menino, logo eu compreenderia que o meu pai ocupava um cargo de grande importância na cidade. Fomos residir num lindo casarão na Rua Augusto Ribas nº 571, entre a Rua XV de Novembro e a Marechal Deodoro, a 50 metros do Cine Ópera e a 100 metros da praça da catedral.
Meu pai matriculou-me no Ginásio Ponta-grossense, conhecido como “A Academia” e considerado o melhor ginásio da cidade. Ali estudei durante os quatro anos do Curso Ginasial, de 1956 a 1959. Após o ginásio, fiz os três anos do Curso Científico de 1960 a 1962 no Colégio Regente Feijó.
Vivi três épocas diferentes em Ponta Grossa, e a mais marcante pelas lembranças da minha família foi aquela em que moramos na Rua Augusto Ribas, entre final de 1955 até aproximadamente 1962. Meu pai faleceria em 1963. Lamentavelmente os amigos dos meus pais, assim como eles próprios, já se foram; se vivos, teriam hoje mais de 100 anos. Os acontecimentos sociais somados a praticamente tudo o que gravitava ao redor da “jeunesse dorée” da década de 50 caiu no esquecimento dos ainda sobreviventes daquela época. Por isso resolvi rememorar um pouco dos tempos mágicos da Rua Augusto Ribas.
FOTO 85 – Nesta foto, eu entre os 12 e os 13 anos, entrando em casa com minha mãe. Às nossas costas, do outro lado da rua, “vis-a-vis” com a minha casa, estão duas janelas de um dos casarões mais interessantes da cidade: a Mansão Vendrami.
Os meus quatro anos do Curso Ginasial e o convite pela conclusão do curso, com os nomes de todos os meus colegas, estão no link abaixo, bem como comentários sobre alguns dos nossos professores... os bons e os não tão bons:
https://fsoutone.blogspot.com/2019/03/os-graduandos-do-ginasio-ponta.html
Um fato que marcou bastante os rumos da minha vida foi o seguinte: desde 1955 as crônicas sociais eram lidas avidamente principalmente nas edições de domingo, nos dois jornais diários que existiam em Ponta Grossa: o Jornal da Manhã (que sucedeu ao Jornal do Paraná, do qual meu pai era o diretor de redação) e o Diário dos Campos. A mais importante de todas as colunas sociais era a Cortina de Seda, no Jornal da Manhã, assinada por Fadlo Auak, heterônimo de Sebastião Nascimento Filho. Ser citado nas colunas sociais era quase tão importante quanto... existir, socialmente falando. Quando a Cortina de Seda passou a ser assinada pela misteriosa Belinda (que praticamente revolucionou o colunismo social ponta-grossense e produziu tsunamis nos nomes colunáveis), eu tive a experiência de oferecer colaboração a Belinda, sob o pseudônimo de Mister X, e durante algumas semanas senti-me poderoso, mais ou menos aos 14 anos de idade), num espaço dentro da Cortina de Seda, com o subtítulo de “Mexericos de Mister X”.
A história de Mister X está a partir do ANEXO 4 do blog abaixo, no qual faço o relato das minhas primeiras incursões na imprensa paranaense, sem dúvida inspirado pelo importante jornalista que foi meu pai:
https://fsoutone.blogspot.com/2016/08/o-jornal-da-manha-de-ponta-grossa-nos.html
Eu comecei a escrever sobre as famílias de Ponta Grossa que foram importantes em minha vida, e iniciei pelos Vargas de Oliveira, Lange, Maia e Armellini. Sobre João Vargas de Oliveira e Dona Argentina, tanto ele era amigo e companheiro de Rotary de meu pai, quanto Dona Argentina de minha mãe. Sobre os Lange, também: o Sr. Afonso era amigo do meu pai e companheiro (tal como João Vargas) nas competições de tiro ao prato, e Dona Romilda da minha mãe. Elas foram pares de diretoria na Rede Feminina de Combate ao Câncer, da qual Dona Romilda era presidenta perpétua. Quando o casal Afonso e Romilda viajou à Europa (sua filha caçula, Lílian, morava na Itália) e lá passou pouco mais de um ano excursionando através do continente, minha mãe foi investida por Dona Romilda ao cargo de presidenta, porque ela sabia que nas mãos de Edith Souto a Rede Feminina de Combate ao Câncer continuaria atuante e segura. Quanto aos Maia (Sr. Janguta e Dª Graziela), eles eram como uma extensão da minha própria família. Meu pai companheiro de Janguta e minha mãe amiga de Graziela, amizades essas que se aprofundaram pelo ramo de Dona Graziela a todos os seus irmãos da família Pinto, e pelo lado dos irmãos do Sr. Janguta. Estes, Pinto e Maia, por sua vez, tornaram-se amigos dos irmãos do meu pai, de São Paulo. Enfim, com essas três famílias tivemos um envolvimento como se fossem nossos próprios familiares. Incluo também a família Armellini (Arthur Armellini e Grací Aguiar Armellini – após enviuvar, em segundas núpcias passou a assinar Grací – ou Maria da Graça – Trény). Dona Grací, minha professora de Literatura Francesa no Curso Científico, tornou-se uma das mais importantes pessoas em minha vida. Tornei-me amigo de seus três filhos: Célia, Lúcia e Tuca (Arthur Armellini Júnior), amizade esta que se estendeu por mais duas gerações (netos e bisnetos de Dona Grací).
Eu gostaria de escrever sobre outras famílias que nos foram igualmente muito importantes, com o mesmo grau de amizade, mas ainda não o fiz. Ultimamente tenho me cansado um pouco das lidas com o computador, mas não desisti. Ainda pretendo me estender sobre as famílias Emílio, Carriel, Strozzi, Mezzomo, Slaviero, Calderari, Schmidt Vasconcellos, Enei, Araújo, Capote, Gravina... e tantos outros.
Por ora, relaciono abaixo as minhas memórias que envolvem João Vargas e Argentina, Afonso e Romilda Lange, Janguta e Graziela e, particularmente, Dona Grací Trény. Quem clicar sobre os quatro links abaixo, encontrará, quase diria, trechos da História da Sociedade Ponta-Grossense.
https://nostalgiaresgatedamemoria.blogspot.com/2019/07/familia-vargas-de-oliveira-de-ponta.html
https://nostalgiaresgatedamemoria.blogspot.com/2019/07/familia-lange-de-ponta-grossa-sr-afonso.html
https://nostalgiaresgatedamemoria.blogspot.com/2019/08/familia-maia-de-ponta-grossa-sr-janguta.html
https://nostalgiaresgatedamemoria.blogspot.com/2022/10/professora-maria-da-graca-graci-aguiar.html
De 1960 a 1962 eu fiz o Curso Científico no Colégio Regente Feijó, e o link abaixo mostra a fotografia dos meus colegas reunidos em frente ao colégio após o fim do nosso curso.
https://fsoutone.blogspot.com/2019/03/os-graduandos-do-curso-cientifico-no.html
Em 1962, meu pai teve que se ausentar da diretoria que exercia na Rádio Central do Paraná, por motivo de séria doença, e passou praticamente todo o ano em São Paulo com minha mãe, em tratamento. Foi nesse ano conturbado que concluí o Curso Científico. Não pude me preparar para o vestibular em 1963 e meu pai faleceu em abril daquele ano. Eu irmão Olímpio tinha se casado com Maria Aparecida d”Elboux Moreira em 1962 e minha irmã estava noiva de Dulci Col da Rosa. Casaram-se em 1963. Agora residindo num apartamento na Rua Paula Xavier, 1446, entre a Rua XV de Novembro e Dr. Colares, a um quarteirão e meio da Praça Barão de Guaraúna, eu e minha mãe entramos num período de provações.
AINDA EM PONTA GROSSA, DE 1964 A 1975:
TEMPOS DIFÍCEIS
Através de concurso público, fui aprovado e entrei para trabalhar no Banco do Estado do Paraná em 1965 na função de escriturário. Antes, no Banco Nacional do Comércio, eu ganhava pouco e a pensão de minha mãe minguava mês a mês. Para ajudar no orçamento, ela fazia bordados artísticos, principalmente para enxovais. Parei de estudar e estimulado por minha mãe e minha irmã, comecei a me preparar para o vestibular de Direito. Eram poucas as opções de cursos nas Faculdades de Ponta Grossa. Como eu trabalhava de manhã e à tarde, a Faculdade de Direito era uma das duas únicas que me possibilitariam estudar à noite. A outra Faculdade seria de Administração, que não me interessava. No final de 1965 fiz um curso preparatório para o vestibular, e o professor de Português chamava-se Lóris Sidenko. No primeiro dia, para conhecer os alunos, pediu-nos para escrevermos “Por que quero estudar Direito”. No dia seguinte, com as provas corrigidas, ele disse-nos que iria ler aquela que ele considerara a melhor redação, e deu-nos os seus motivos. Começou a ler... e imediatamente percebi que a redação era a minha. Isso foi para mim um poderoso estímulo. Chegado o dia do vestibular fui aprovado, se bem me lembro, em 3º lugar, e em 1966 entrei no 1º ano da Faculdade. Eu não gostava muito de Direito, mas tive a intuição de que minha facilidade para redigir poderia definir o meu futuro.
Devo confessar que após o falecimento do meu pai e nos dois anos seguintes, então trabalhando no Nacional do Comércio, como eu tinha um pequeno ordenado somado a uma pensão muito baixa de minha mãe, eu imaginava que meu irmão, a partir de 1963 residindo em Nova York, poderia ajudar minha mãe com as despesas da casa. Passaram-se os anos, meu irmão conquistou cargos elevados em uma empresa internacional, a Knoll, da qual tornou-se um dos diretores. Tinha um Rockefeller como seu cliente e gente famosa tal como Yoko Ono e outras celebridades bem conhecidas nos Estados Unidos. Entretanto um auxílio financeiro à nossa mãe jamais veio de sua parte. Ficamos eu e ela na dura labuta.
O Banco do Estado do Paraná pagava os salários iniciais mais elevados que os demais bancos que aqui atuavam, de modo que passamos a levar uma vida modesta, mas sem grandes sacrifícios.
A certa altura, meu irmão ofereceu-me a seguinte ajuda, isto é, um convite: falou-me que ele poderia conseguir para mim uma colocação em Nova York, e nos primeiros tempos eu poderia dormir no apartamento em que ele e minha cunhada moravam. “Mas tem uma condição”, disse-me ele. E concluiu: “Você tem que deixar que eu mande em você”. Aí estava o problema: para ele, quase 10 anos mais velho, eu era aquele que, desde sempre, seria um menino e deveria ser mandado – com o que nunca concordei e brigávamos por esse motivo desde minha infância. Meu pais eram boníssimos e liberais; jamais recebi deles nem um único tapa. Não sei como não viam que meu relacionamento com meu irmão era sempre difícil por causa do seu temperamento de “mandão”. Declinei do convite: “Mandar em mim, como quando eu era criança, nunca mais!” Meu orgulho e dignidade sempre me falaram mais alto. E não foi somente isso: como eu deixaria minha mãe sozinha? É bem verdade que minha irmã e seu marido sempre foram muito carinhosos conosco, mas meu cunhado não teria nenhuma obrigação em cuidar de minha mãe e ela mesma não queria interferir na vida da filha recém-casada. Não que ela precisasse de “cuidados”, porque defendia-se com sua pequena pensão e com os admiráveis bordados que deram a ela o apelido de “Mãos de Fada”. Mesmo assim, eu estava decidido a tentar devolver-lhe a vida de conforto como aquela que sempre lhe – e nos – foi dada pelo meu pai.
Passei 10 anos trabalhando na Agência Banestado de Ponta Grossa, a única na cidade, que funcionava na Rua XV de Novembro. Cheguei ao posto de “chefe de serviço”, o meu ordenado era ainda discreto, mas eu e minha mãe procuramos prosseguir sem nos privarmos de nada essencial, sempre dando para economizar alguma coisa para alguns passeios e também para pequenas excentricidades.
Foi quando o Banco anunciou a abertura de um concurso interno para inspetor. Inscrevi-me, fiz as provas e fiquei entre os primeiros classificados. Assumi em 1º de setembro de 1975 e foi quando começou para mim uma vida inteiramente nova. Na minha nova função passei a trabalhar com afinco para novas conquistas profissionais. Minha primeira compra com o novo ordenado foi uma máquina de lavar roupa para minha mãe.
O Paraná tinha apenas três grandes estradas asfaltadas partindo de Curitiba: uma para Paranaguá, outra para Foz do Iguaçu passando por Ponta Grossa, e a última para Londrina com ramificação para Maringá, passando por Apucarana, se bem me lembro. Este, sim, foi um tempo difícil. As viagens de ônibus eram longas e cansativas. O filme abaixo (filme mudo feito em Super8), depois sonorizado, dá mostras de alguns dos lugares onde estive.
https://www.youtube.com/watch?v=u0KQOb75PVY
Abaixo, algumas fotografias que mostram algumas das minhas atividades entre os anos de 1964 a 1975.
1964
1966
1967
Os acontecimentos na vida de Francisco Souto Neto nos anos de 1964 a 1967 vão relatados através de alguns recortes de jornais encontrados no seguinte blog:
https://franciscosoutoneto.wordpress.com/2011/12/28/notas-diversas-de-1964-a-1967/
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2 de setembro de 2023:
80 ANOS ESTA NOITE
PARTE 2
A PROSSEGUIR DO ANO 1968
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Parabéns - pelos oitentinhas e por esta autobiografia bem documentada. Que venha a próxima parte. Beijos, primo querido!
ResponderExcluirQuerida prima Lúcia Helena, que bom saber que você esteve aqui nas minhas memórias de tempos remotos. Obrigado. Beijos.
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