domingo, 10 de setembro de 2023

FRANCISCO SOUTO NETO no ano de 1984 (PARTE 5).


Francisco Souto Neto aos 41 anos em 1984 em sua casa.


 
Comendador Francisco Souto Neto em 2015.

 

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2 de setembro de 2023:

80 ANOS ESTA NOITE

 

PARTE 5

RECORDANDO

O ANO DE 1984

 


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BONANÇA APÓS A TEMPESTADE INICIAL

E O COMEÇO DE UMA REVOLUÇÃO CULTURAL

 

Tal como relatei na PARTE 4 destas memórias, o ano de 1983 começou meio caótico, minado pelas expectativas sombrias no Banestado em relação à política. É que após tantos e tantos anos sob a Ditadura Militar, finalmente a democracia voltava a imperar graças a homens admiráveis da oposição, como Ulisses Guimarães dentre tantos outros. Por causa desses movimentos de oposição, em novembro de 1982 pudemos votar pela primeira vez para governador (empossados em março de 1983) e também votaríamos para presidente da República em 1985. Como no Paraná venceu José Richa para governador, todos os meus colegas previam que teríamos tempos tempestuosos com os novos diretores, porque eles chegariam pensando que o Banco oficial do Paraná estaria sob o ranço e a corrupção dos tempos em que eram os generais de Brasília que escolhiam quem queriam que assumisse os governos nos Estados da Federação.

Quem tinha tempo para aposentar-se, deixou o Banco. Aposentaram-se o Sr. Paulo Schultz, que era o grande e admirado provedor daquela diretoria, o Sr. Oscar, o Sr. Laerte e muitos outros. Ficamos nós, os mais novos, para enfrentarmos os novos tempos.

De fato, o novo diretor a quem eu iria assessorar, chegou no dia seguinte à posse do Governador José Richa. Eu não sabia quem seria o novo diretor, mas vi quando um homem aproximou-se da porta da diretoria, carregando uma pasta preta. Na minha fantasia, vi que saia fumacinha de sua fisionomia enferruscada. Pensei: ele é o novo diretor. E era. Chamava-se Octacílio Ribeiro da Silva.

Recebi-o, apresentei-me “Sou seu assessor”, levei-o ao seu gabinete e trocamos algumas palavras. Comecei a explicar-lhe o que era a Diretoria de Crédito Rural e Agroindustrial do Banestado, pois os diretores eram sempre inteiramente leigos ao assumir o novo cargo. Em seguida ele me pediu falar à secretária para convocar todos os chefes dos diversos departamentos que compunham aquele setor.

A nervosa reunião teve início. Naquela época, todos fumavam e eu não era exceção. Dr. Octacílio começou a falar e a bater sobre a enorme mesa de reuniões... e todos os cinzeiros trepidavam.

Disse-me ele que era muito exigente com a língua portuguesa e eu respondi-lhe que certamente nós nos daríamos bem porque eu igualmente o era em relação ao idioma pátrio.

No segundo ou terceiro dia escrevi uma correspondência para quem não me recordo e passei a carta para o diretor assinar. Ele me chamou e disse: “Aqui há uma palavra errada!”. E eu: “É mesmo?! E qual é?”. A tal palavra estava numa frase que seria mais ou menos esta: “...e além disso, o segmento mais carente daquela localidade...”. Apontou a palavra “segmento”, afirmando: faltam as vogais “ui” de “seguimento”. Na hora percebi que eu não estava errado e fi-lo saber da diferença entre “segmento” (uma parte, parcela) e “seguimento” (seguir, continuar). Pediu-me um dicionário e convenceu-se. Devo acrescentar que aquele foi um raro e pequeno equívoco de Dr. Octacílio, porque ele era um homem realmente culto e de português castiço. E como eu disse a ele: “Mas eu também posso errar, Dr. Octacílio. Na verdade, acho que seremos sempre aprendizes ao longo de toda a vida”.

Tenho certeza de que a partir daquele momento eu conquistei a confiança e a simpatia do diretor. Com a passagem dos anos tornamo-nos cada vez mais descontraídos e nunca ele me chamou à atenção por qualquer motivo. Porém ele era excessivo no trabalho. Convocava-nos para reuniões aos sábados, exigia que todos chegassem antes do horário pela manhã e que não tivéssemos hora para sair à tarde – ou noite. Ficar até às 19 horas, às vezes até às 8 da noite, era normal para ele. E nós não recebíamos pagamento pelas horas extras. Um colega que foi convocado para trabalho no sábado e que se rebelou, dizendo que tinha assuntos pessoais para tratar nos fins de semana, foi desligado e “posto à disposição”, que era como se dizia naquele tempo. Eu não podia correr esse tipo de risco porque minha mãe dependia de mim e por isso eu não poderia jamais pôr em risco minha estabilidade, nem mesmo se fosse por uma questão de direito; portanto, eu não questionava o fato de ter que trabalhar “fora de hora”.

Nos últimos três meses de 1984, ocorreram dois fatos importantes dentro da minha carreira. Primeiro, cumulei os cargos de Assessor de Diretor e Assessor para Assuntos de Cultura do Banestado (Banco do Estado do Paraná S.A.), e naquele período foi fundada a Galeria de Arte Banestado (a princípio chamou-se Galeria de Arte e Poupança Banestado). Segundo, eu consegui uma expansão na realização do 2º SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos. Em meados do ano comecei a organizar um plano colossal a que eu viria a denominar “Programa de Cultura do Banestado”. O sucesso do 2º SBAI foi retumbante e toda a diretoria ficou surpresa com a repercussão positiva na imprensa.

Durante o período daquele mandato de governo estadual (1983-1987), tivemos nada menos do que quatro diferentes presidentes do Conglomerado Financeiro Banestado, cada um desbancado pelo outro, e dois governadores: José Richa, que um ano antes do fim do mandato renunciou para candidatar-se ao senado, e então assumiu o seu vice João Elísio Ferraz de Campos. Mudanças de governador, fossem quais fossem as causas, sempre causavam tumulto nos bancos oficiais porque cargos de confiança, como o meu (de assessor de diretor) ficavam na corda bamba. Eu, sinceramente, nunca me preocupei com isso, porque se algum novo diretor me recusasse, eu poderia voltar ao meu cargo original de inspetor, que era um cargo muito respeitado. Além disso, havia um convite para eu assumir um departamento da Divisão Jurídica para atuar como Chefe de Departamento devido ao meu diploma de Bacharel em Direito. Mas Dr. Octacílio manteve-se firme na diretoria e eu, como consequência, em meu trabalho como Assessor de Diretor e Assessor para Assuntos de Cultura do Banestado.

Adiante, algumas fotografias que marcaram o ano de 1984.

 

FOTO 1 – Eu e Rubens Faria Gonçalves viajamos em nossas férias a Florianópolis. Ambos não conhecíamos aquela capital.

FOTO 2 – Por acaso encontramo-nos, em Florianópolis, com a amiga (que foi minha vizinha) e atriz Claudete Pereira Jorge com seu marido Nautílio e a filha do casal.

FOTO 3 – Em Curitiba é inaugurada uma estátua do Papa João Paulo II no Centro Cívico. A colônia polonesa, que encomendara referida estátua de bronze, não gostou. Muitos quiseram que a estátua fosse retirada mas, pelo que me lembro, houve briga e a escultora exigiu que a mesma permanecesse. E permanece, e permanece. Na ocasião eu também não gostei, pois aquele rosto me parecia conter uma expressão malvada, um estranho sorriso... e aqueles olhos azuis com as mãos de acrílico. E quando vista por trás, a estátua me parecia um vampiro.

FOTO 4 – Minha mãe e suas irmãs Sofia e Pedra olhando a estátua, enquanto fotografo esta pelas costas... Costas de um vampiro. Sim, achei a estátua meio sinistra.

FOTO 5 – Compro uma linda tela de Mazé Mendes.

FOTO 6 – A RPC (Rede Globo) resolveu promover os artistas plásticos de Curitiba. A cada dia aparecia na televisão, várias vezes, uma tela de cada artista escolhido. No dia 8 de julho de 1984, numa homenagem à artista plástica Mazé Mendes, a pintura que dela comprei  foi a escolhida e apareceu 17 vezes no vídeo. Numa dessas vezes fotografei o televisor para guardar de lembrança.

FOTO 7 – MEUS 41 ANOS Familiares e amigos vieram cumprimentar-me em meu aniversário.

FOTO 8 – MEUS 41 ANOS Familiares e amigos vieram cumprimentar-me em meu aniversário.

FOTO 9 – MEUS 41 ANOS Familiares e amigos vieram cumprimentar-me em meu aniversário.

FOTO 10 – MEUS 41 ANOSFamiliares e amigos vieram cumprimentar-me em meu aniversário.

FOTO 11 – MEUS 41 ANOS Familiares e amigos vieram cumprimentar-me em meu aniversário.

FOTO 12 – Comprei um pequeno apartamento no centro de Matinhos para irmos à praia com mais frequência e apelidei o imóvel de “La Madrague”. Em seu andar térreo, o prédio abrigava uma agência do Banco do Estado do Paraná.

FOTO 13 – Minha amiga Mercedes Pilati leva-me à casa de seu amigo Celso, para um encontro com a atriz Ivone Hoffmann.

FOTO 14 – Mercedes Pilati e Ivone Hoffmann.

FOTO 15 – Ivone Hoffmann e Francisco Souto Neto.

FOTO 16 – Passeio com Mamãe a Matinhos e Caiobá. Ficamos em nosso novo “apartamento de praia”, o La Madrague. Na foto, Mamãe segurando o Quincas Little Poncho tendo Caiobá ao longe, no horizonte.

FOTO 17 – Mamãe toca nos mexilhões enquanto Quincas parece meio aturdido.

FOTO 18 – Linda foto de Mamãe andando pela praia com o Quincas perscrutando o ambiente.

FOTO 19 – Detalhe da fotografia anterior, mostrando como eram poucos e raros os prédios altos em Caiobá no ano de 1984.

FOTO 20 – Vamos até perto da Av. Paraná, onde se localizavam os primeiros prédios de Caiobá, o Arethusa e o Savannah. Os prédios altos da Caiobá não superavam o número de dedos de duas mãos.


FOTO 21 – O 2º SBAI – SALÃO BANESTADO DE ARTISTAS INÉDITOS – O primeiro recorte anuncia a INAUGURAÇÃO da Galeria Arte e Poupança Banestado (mais tarde denominada Galeria de Arte Banestado), publicação do jornal TODOS NÓS de outubro de 1984.

FOTO 22 – O 2º SBAI – SALÃO BANESTADO DE ARTISTAS INÉDITOS – Reuni em minha casa Tadeu Petrin, colega do Banestado, e dois dos três componentes da comissão julgadora do II SBAI, Ruben Esmanhotto e Ciro Cercal Filho (ausente Violeta Franco). Na última foto, eu e Tadeu ladeando Vera Munhoz da Rocha Marques, designada para ser a gerente da nova galeria de arte. 

FOTO 23 – O 2º SBAI – SALÃO BANESTADO DE ARTISTAS INÉDITOS – Acima, o cartaz do II SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos, ilustrado com a obra “Retrato de Mulher que Chora”, de Rubens Faria Gonçalves, artista premiado no certame anterior.

FOTO 24 – O 2º SBAI – SALÃO BANESTADO DE ARTISTAS INÉDITOS – Catálogo do II SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos

FOTO 25 – O 2º SBAI – SALÃO BANESTADO DE ARTISTAS INÉDITOS Em outubro e novembro de 1983, eu já noticiava aos jornais as regras para a participação no certame. 

FOTO 26 – O 2º SBAI – SALÃO BANESTADO DE ARTISTAS INÉDITOS – Aramis Millarch, de O Estado do Paraná, e Alcy Ramalho Filho, da Gazeta do Povo, foram os primeiros jornalistas a divulgar a abertura das inscrições para o II SBAI: o Estado do Paraná de 15.11.1984 e Gazeta do Povo de 9.11.1984 e 28.11.1984. 

FOTO 27 – O 2º SBAI – SALÃO BANESTADO DE ARTISTAS INÉDITOS – Os jornais Diário Popular e Folha de Curitiba, e também Nery Baptista da Gazeta do Povo, informam estarem abertas as inscrições para o II SBAI. Dois dos jornais publicam fotos com as legendas: “Francisco Souto Neto e Tadeu Petrin, os criadores do Salão Banestado”: Diário Popular de 25/26.11.1984, Folha de Curitiba de 23.11.1984 e Gazeta do Povo de 31.12.1984.

 

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A seguir, as fotos da inauguração do II SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos começaram a ser divulgadas no primeiro dia do novo ano de 1985.


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2 de setembro de 2023:

80 ANOS ESTA NOITE

CONTINUA NA

PARTE 6

O ANO DE 1985


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 Francisco Souto Neto em 2023.

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