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2
de setembro de 2023:
80 ANOS ESTA NOITE
PARTE 5
RECORDANDO
O ANO DE 1984
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BONANÇA
APÓS A TEMPESTADE INICIAL
E O COMEÇO DE UMA REVOLUÇÃO CULTURAL
Tal como relatei na PARTE 4
destas memórias, o ano de 1983 começou meio caótico, minado pelas expectativas
sombrias no Banestado em relação à política. É que após tantos e tantos anos
sob a Ditadura Militar, finalmente a democracia voltava a imperar graças a homens
admiráveis da oposição, como Ulisses Guimarães dentre tantos outros. Por causa desses
movimentos de oposição, em novembro de 1982 pudemos votar pela primeira vez
para governador (empossados em março de 1983) e também votaríamos para
presidente da República em 1985. Como no Paraná venceu José Richa para
governador, todos os meus colegas previam que teríamos tempos tempestuosos com
os novos diretores, porque eles chegariam pensando que o Banco oficial do
Paraná estaria sob o ranço e a corrupção dos tempos em que eram os generais de
Brasília que escolhiam quem queriam que assumisse os governos nos Estados da
Federação.
Quem tinha tempo para
aposentar-se, deixou o Banco. Aposentaram-se o Sr. Paulo Schultz, que era o
grande e admirado provedor daquela diretoria, o Sr. Oscar, o Sr. Laerte e
muitos outros. Ficamos nós, os mais novos, para enfrentarmos os novos tempos.
De fato, o novo diretor a quem
eu iria assessorar, chegou no dia seguinte à posse do Governador José Richa. Eu
não sabia quem seria o novo diretor, mas vi quando um homem aproximou-se da
porta da diretoria, carregando uma pasta preta. Na minha fantasia, vi que saia
fumacinha de sua fisionomia enferruscada. Pensei: ele é o novo diretor. E era.
Chamava-se Octacílio Ribeiro da Silva.
Recebi-o, apresentei-me “Sou
seu assessor”, levei-o ao seu gabinete e trocamos algumas palavras. Comecei a
explicar-lhe o que era a Diretoria de Crédito Rural e Agroindustrial do
Banestado, pois os diretores eram sempre inteiramente leigos ao assumir o novo
cargo. Em seguida ele me pediu falar à secretária para convocar todos os chefes
dos diversos departamentos que compunham aquele setor.
A nervosa reunião teve início.
Naquela época, todos fumavam e eu não era exceção. Dr. Octacílio começou a
falar e a bater sobre a enorme mesa de reuniões... e todos os cinzeiros
trepidavam.
Disse-me ele que era muito
exigente com a língua portuguesa e eu respondi-lhe que certamente nós nos
daríamos bem porque eu igualmente o era em relação ao idioma pátrio.
No segundo ou terceiro dia
escrevi uma correspondência para quem não me recordo e passei a carta para o
diretor assinar. Ele me chamou e disse: “Aqui há uma palavra errada!”. E eu: “É
mesmo?! E qual é?”. A tal palavra estava numa frase que seria mais ou menos
esta: “...e além disso, o segmento mais carente daquela localidade...”. Apontou
a palavra “segmento”, afirmando: faltam as vogais “ui” de “seguimento”. Na hora
percebi que eu não estava errado e fi-lo saber da diferença entre “segmento” (uma
parte, parcela) e “seguimento” (seguir, continuar). Pediu-me um dicionário e
convenceu-se. Devo acrescentar que aquele foi um raro e pequeno equívoco de Dr.
Octacílio, porque ele era um homem realmente culto e de português castiço. E
como eu disse a ele: “Mas eu também posso errar, Dr. Octacílio. Na verdade,
acho que seremos sempre aprendizes ao longo de toda a vida”.
Tenho certeza de que a partir
daquele momento eu conquistei a confiança e a simpatia do diretor. Com a
passagem dos anos tornamo-nos cada vez mais descontraídos e nunca ele me chamou
à atenção por qualquer motivo. Porém ele era excessivo no trabalho.
Convocava-nos para reuniões aos sábados, exigia que todos chegassem antes do
horário pela manhã e que não tivéssemos hora para sair à tarde – ou noite.
Ficar até às 19 horas, às vezes até às 8 da noite, era normal para ele. E nós
não recebíamos pagamento pelas horas extras. Um colega que foi convocado para
trabalho no sábado e que se rebelou, dizendo que tinha assuntos pessoais para
tratar nos fins de semana, foi desligado e “posto à disposição”, que era como
se dizia naquele tempo. Eu não podia correr esse tipo de risco porque minha mãe
dependia de mim e por isso eu não poderia jamais pôr em risco minha
estabilidade, nem mesmo se fosse por uma questão de direito; portanto, eu não
questionava o fato de ter que trabalhar “fora de hora”.
Nos últimos três meses de
1984, ocorreram dois fatos importantes dentro da minha carreira. Primeiro,
cumulei os cargos de Assessor de Diretor e Assessor para Assuntos de Cultura do
Banestado (Banco do Estado do Paraná S.A.), e naquele período foi fundada a
Galeria de Arte Banestado (a princípio chamou-se Galeria de Arte e Poupança
Banestado). Segundo, eu consegui uma expansão na realização do 2º SBAI – Salão
Banestado de Artistas Inéditos. Em meados do ano comecei a organizar um plano
colossal a que eu viria a denominar “Programa de Cultura do Banestado”. O
sucesso do 2º SBAI foi retumbante e toda a diretoria ficou surpresa com a
repercussão positiva na imprensa.
Durante o período daquele
mandato de governo estadual (1983-1987), tivemos nada menos do que quatro
diferentes presidentes do Conglomerado Financeiro Banestado, cada um desbancado
pelo outro, e dois governadores: José Richa, que um ano antes do fim do mandato
renunciou para candidatar-se ao senado, e então assumiu o seu vice João Elísio
Ferraz de Campos. Mudanças de governador, fossem quais fossem as causas, sempre
causavam tumulto nos bancos oficiais porque cargos de confiança, como o meu (de
assessor de diretor) ficavam na corda bamba. Eu, sinceramente, nunca me
preocupei com isso, porque se algum novo diretor me recusasse, eu poderia
voltar ao meu cargo original de inspetor, que era um cargo muito respeitado. Além
disso, havia um convite para eu assumir um departamento da Divisão Jurídica
para atuar como Chefe de Departamento devido ao meu diploma de Bacharel em
Direito. Mas Dr. Octacílio manteve-se firme na diretoria e eu, como
consequência, em meu trabalho como Assessor de Diretor e Assessor para Assuntos
de Cultura do Banestado.
Adiante,
algumas fotografias que marcaram o ano de 1984.
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A
seguir, as fotos da inauguração do II SBAI – Salão Banestado de Artistas
Inéditos começaram a ser divulgadas no primeiro dia do novo ano de 1985.
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2 de setembro de 2023:
80 ANOS ESTA NOITE
CONTINUA NA
PARTE 6
O ANO DE 1985
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Francisco Souto Neto em 2023.
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