domingo, 10 de setembro de 2023

FRANCISCO SOUTO NETO em de fevereiro a dezembro de 1985 (PARTE 7).



Francisco Souto Neto aos 40 anos em 1985. Na parede a tela que comprou da artista plástica Mazé Mendes, que aparece na capa (quarta capa) da revista de arte Gráfica.

 
Comendador Francisco Souto Neto em 2015.

 

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2 de setembro de 2023:

80 ANOS ESTA NOITE

PARTE  7

RECORDANDO

FEVEREIRO A DEZEMBRO DE 1985

 

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UM FEIO INCIDENTE COM DAVID CARNEIRO E A SUA RETRATAÇÃO.

 

O CEMITÉRIO DO CATUMBI.

 

O 3º SBAI – SALÃO BANESTADO DE ARTISTAS INÉDITOS.

 

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NO RIO DE JANEIRO

 

Na viagem ao Rio de Janeiro em janeiro de 1985, ao tentar visitar os túmulos de meus trisavós, o Visconde e a Viscondessa de Souto, encontrei o setor histórico do Cemitério do Catumbi encoberto por denso matagal, e só abrindo uma trilha consegui chegar aos túmulos praticamente encobertos por densa vegetação. Como não bastasse, a favela que existe atrás do cemitério estava invadindo aquele espaço e construindo barracos sobre túmulos.

Retornando a Curitiba, fiz uma denúncia às autoridades do Rio de Janeiro e – através de cartas – procurei sensibilizar a imprensa carioca. O Jornal do Brasil foi, afortunadamente, aquele que maior importância deu à minha delação e apoiou o início da minha luta pela preservação do setor histórico do Cemitério do Catumbi, cujo nome oficial é Cemitério de São Francisco de Paula.


 
FOTO 1 – Nesta página de álbum eu me refiro à viagem que fiz ao Rio de Janeiro no mês anterior, quando estive no Rio de Janeiro para ir ao Cemitério do Catumbi porque desejava mandar consertar o túmulo do Visconde de Souto. No centro da cidade tirei as fotografias que são vistas aqui. Quanto aos dois recortes de jornais, o comentário consta em detalhe na FOTO 2, abaixo.

FOTO 2 – DUAS FALSAS NOTÍCIA A MEU RESPEITO!

No começo do ano estive no Rio de Janeiro. A coluna social de Alcy Ramalho deu a notícia, em dois domingos sucessivos, de que eu me encontrava na Europa e que de Paris  lhe destinara um cartão postal do Museu do Louvre. Fiquei muito preocupado e pensei: “Alguém está se passando por mim. O que será que escreveram no postal? Será que escreveram besteiras em meu nome?!”. Então telefonei ao cronista, disse-lhe eu não tinha enviado postais e nem viajado à Europa, e que queria ver o que alguém teria escrito, fingindo tratar-se de mim. Então o Alcy pediu-me desculpas e revelou-me não ter recebido nenhum cartão postal meu, e que ocorreu foi que ele tinha autorizado a sua secretária a dar notícias a meu respeito e “parecia que ela havia exagerado”. Fiquei chocado: então inventam notícias para agradar os leitores?! Ou para bajular as pessoas que citam? Então a secretária escreve o que bem entende e publica como se fosse o cronista?! Não é assim que se faz jornalismo sério. Pedi ao cronista que não publicasse nada que não fosse verdadeiro, porque, no meu caso, meus amigos e colegas sabiam que eu estive no Rio de Janeiro e não na Europa, e que isto me deixava numa situação muito comprometedora. Alcy compreendeu e desculpou-se.  

 

Ao chegar ao Cemitério do Catumbi encontrei seu setor histórico engolido pelo matagal. As legendas na página do álbum, abaixo, explicam a situação degradante da necrópole.

 

 
FOTO 3 – O setor histórico do Cemitério do Catumbi tomado pelo mato. Só a capelinha do túmulo do Visconde de Souto era visível, sua campa estava quebrada e dentro vi sacos de plástico contendo ossos humanos ali jogados como se fossem lixo.

 

O Jornal do Brasil foi que maior espaço dedicou à minha denúncia. Mandou uma equipe de repórteres ao Cemitério de São Francisco de Paula, mais conhecido como Cemitério do Catumbi, e publicou a seguinte reportagem:

 

FOTO 4 – Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 7.4.1985.

Jornal do Brasil de 7.4.1985 (p.20) – IPHAN estuda tombamento de túmulos em cemitério.

Uma equipe do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional realiza pesquisas no Cemitério do Catumbi e, dependendo dos resultados do trabalho, alguns jazigos ou mesmo o trecho mais antigo do cemitério, onde ficam sepulturas de barões, viscondes e figuras de destaque da fase de passagem do Império para a República poderão ser tombados, para evitar que desapareçam, em decorrência da depredação ou mesmo da especulação. Não existem cemitérios tombados no Rio.

O Patrimônio iniciou os estudos a partir da denúncia de que o jazigo do Barão de Guaratiba foi demolido pelos seus descendentes para dar lugar a outras sepulturas, vendidas a terceiros. A repetição de outros casos poderia resultar num processo de liquidação de jazigos centenários que guardam os restos mortais de figuras com participação em momentos importantes da História do Brasil. Muitos desses túmulos já desapareceram sob uma favela, outros estão encobertos pelo mato e alguns foram simplesmente violados.

Desrespeito

Armas e brasões incrustados em mármores contendo datas de nascimento e morte de barões foram roubados, outros estão em pedaços ou escondidos entre moitas de capim-colonião, ervas daninhas e arbustos característicos de locais abandonados. Por ordem do interventor da Irmandade São Francisco de Paula, monsenhor Abílio Ferreira da Nova, a atual administração do cemitério iniciou há um mês a erradicação do mato do trecho antigo.

A entidade vem enfrentando problemas financeiros sérios, a ponto de ter imóveis e outros bens leiloados. O Cemitério do Catumbi, que pertence à Irmandade, “sofreu reflexos disso”, conforme admite monsenhor Abílio Ferreira da Nova. Mas ele acha que a fase crítica já passou.

– Identifiquei, há pouco tempo, indícios de um processo que poderia resultar no fim de muitos jazigos de personagens de uma fase histórica do país. Por enquanto, isso está contido, até porque as áreas do cemitério pertencem à Irmandade e os jazigos são apenas para usufruto de famílias ou descendentes.

Na realidade, a parte alta do cemitério, a mais antiga e de maior importância histórica, ponto onde surgiram as primeiras sepulturas, teve um trecho tomado por barracos da favela Mineira e durante anos vem sendo dominada pelo matagal. O aparecimento de assaltantes na área acabou por espantar os raros visitantes e pelo menos durante um ano o local ficou praticamente abandonado.

Indignação

Esse quadro deixou indignado o advogado Francisco Souto Neto, que em janeiro passado, ao tentar visitar os jazigos de seus trisavós, Visconde de Souto e Duque de Caxias, foi obrigado a derrubar “mato cerrado, vendo pelo caminho as sepulturas dos vultos históricos violadas, as lápides quebradas e mármores fragmentados, em meio a cacos de garrafas e lixo”.

“Ao alcançar a sepultura de meu trisavô, Visconde de Souto, encontrei, assombrado, o mármore da campa rompido, e dentro do jazigo, diversos sacos plásticos de lixo, contendo restos mortais, tais como colunas vertebrais, costelas, crânios. País de memória curta! Um povo não pode se arrostar ao direito de um futuro, se não aprender antes a respeitar a memória dos seus mortos”.

Este trecho faz parte de documento que o advogado, residente em Curitiba, encaminhou à Ordem dos Mínimos de São Francisco de Paula, denunciando a situação do cemitério.

Ontem à tarde, grande parte do trecho antigo do cemitério já estava capinado e o túmulo do Visconde de Souto, o primeiro banqueiro de que se tem notícia no Brasil Imperial, começava a ficar livre do mato. Mas os sacos com restos mortais continuavam à mostra, junto da superfície da terra. O Visconde nasceu no Porto, Portugal, veio para o Rio de Janeiro em 1830, aos 22 anos estabeleceu-se como corretor de fundos e mercadorias e acabou tornando-se vizinho e amigo de D. Pedro II.

Hoje, o túmulo do visconde está perto da sepultura do conselheiro Paulo Barbosa da Silva, primeiro-mordomo de D. Pedro II. Ao lado, fica o do Marquês de Olinda, parcialmente danificado. Mais abaixo, agora livres das ervas daninhas, mas adornados pelo capim-seda, aparecem os dos barões de Villa Bella, do Maruim, Itacuruçá, Monte dos Cedros, Ibituruna e também os do marquês de Bonfim e conde de Mesquita. Todos são vizinhos das sepulturas do duque e da duquesa de Caxias, que no entanto tiveram os seus restos mortais levados para o mausoléu construído em frente ao prédio do antigo Ministério da Guerra, na Avenida Presidente Vargas.

Em trecho mais distante, em local cimentado, os túmulos do barão de Vila Velha e do marquês de Maricá têm permanecido um pouco livres do mato, mas ao lado deles, com a queda da campa, o de Dona Emília Pereira dos Santos, sobre o qual não existe qualquer registro de nobreza, está adornado por um mamoeiro carregado de frutos. A planta nasceu espontaneamente no fundo da sepultura e, segundo os coveiros, “os mamões são doces como mel”.

O interventor da Ordem de São Francisco de Paula, Monsenhor Abílio Ferreira da Nova, acha que a responsabilidade pela conservação do Cemitério do Catumbi não cabe apenas à administração, mas também às famílias que têm parentes ali sepultados. “Nós – acentuou o monsenhor – devemos manter as quadras e acessos limpos, mas os jazigos precisam ser mantidos ou recuperados pelas famílias. E a verdade é que muitas não se dão conta disso, deixam os túmulos abandonados”, acrescentou.

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Aramis Millarch, do jornal O Estado do Paraná, em 17.4.1985 publicou na sua seção TABLOIDE, a reportagem “Os ossos do Visconde que preocupam Souto”:


 
FOTO 5O Estado do Paraná, Curitiba, 17.4.1985.

ALMANAQUE – TABLOIDE – ARAMIS MILLARCH – O Estado do Paraná, 17.4.1985 – Os ossos do Visconde que preocupam o Souto

Francisco Souto Neto, assessor da diretoria de um importante banco local, é um homem preocupado com a cultura e a preservação da memória brasileira. Agora, iniciou uma campanha, a nível nacional, que começou a ter repercussão em jornais como “O Globo” e “Jornal do Brasil”, e que deverá alcançar também outros veículos de grande expressão.

Souto Neto está preocupado com o abandono do Cemitério do Catumbi, no Rio de Janeiro, onde estão, desde o século XIX, “sepulturas dos homens que construíram a História deste País: jazigos de senadores do Império, de generais, viscondes, condes e barões, além de vultos notáveis como o Duque de Caxias e Teófilo Otoni”.

Descendente de dois desses vultos – sobrinho-trineto do Duque e Duquesa de Caxias, e herdeiro direto do Visconde de Souto – Francisco chocou-se, em recente passagem pelo Rio, com o estado de abandono do Cemitério do Catumbi. Envolto em denso matagal, com sepulturas violadas, lápides quebradas e cacos de garrafas misturando-se ao mato que cresce do interior das tumbas, decidiu-se a promover uma campanha para que a responsável pela manutenção do cemitério – a Venerável Ordem 3ª dos Mínimos de São Francisco de Paula – tome providências.

A exemplo do curitibano Rafael Grecca de Macedo [Rafael Greca de Macedo], ex-diretor da Casa da Memória e hoje um dos mais atuantes vereadores de Curitiba, Francisco Souto Neto preocupa-se com a tradição e a memória histórica. E se o objetivo de sua campanha é denunciar o abandono do mais tradicional cemitério do tempo do Brasil-Império, o abandono que ali acontece repete-se em várias outras cidades. Em Curitiba mesmo, em vários cemitérios, já houve dezenas de denúncias sobre o abandono de jazigos e o matagal crescendo no cemitério da Água Verde, sem falar da necessária restauração do painel que o artista Franco Giglio (1937-1982) criou no muro do Cemitério Municipal e que, deteriorado pelo tempo, aguarda providências da diretoria competente. O prefeito Maurício Fruet, aliás, já determinou que se fizesse sua restauração com urgência.

A repercussão que o advogado Francisco Souto Neto conseguiu junto aos jornais nacionais, especialmente “O Globo” e “Jornal do Brasil”, sobre o assunto do cemitério do Catumbi, deve-se a bem organizada documentação que reuniu, fotos comprovando as denúncias, documentos relacionados aos vultos históricos, entrâncias, para conseguir sensibilizar a opinião pública. E, realmente, embora o Patrimônio Histórico  tenha incluído o tombamento do Cemitério do Catumbi em seus projetos, há mais de 20 anos a situação daquele campo santo é de completo abandono. Aliás, consequência das dificuldades econômicas da Ordem Terceira, que está com seus 13 imóveis penhorados e só em dívidas trabalhistas de 420 funcionários do Hospital São Francisco de Paula deve mais de Cr$ 3,5 bilhões.

Na robusta documentação que encaminhou ao monsenhor Ferreira da Nova, interventor da Ordem Terceira de São Francisco de Paula, e ao cardeal Dom Eugênio Salles, do Rio de Janeiro, além dos veículos de divulgação nacional, Francisco Souto Neto prova a imensa contribuição que o Visconde de Souto, João Manoel Souto [o nome correto é António José Alves Souto] (Porto 28/3/1813 – Rio de Janeiro 14.1.1880) deu ao Império, criando uma vigorosa casa financeira e doando a região que abriga, hoje, o Ministério da Guerra e a Estação D. Pedro II [o correto seria: doando parte da Chácara do Souto, em São Cristóvão, para a construção da Estação Imperial], bem como mandando construir em sua chácara [da Tijuca] uma capela (hoje conhecida como Capela Mayrink), decorada por Cândido Portinari. Chegou a importar animais da África para seu zoo particular, que abria aos domingos à população carioca e que deu origem ao atual zoológico do Rio.

Enfim, de Curitiba, Souto Neto inicia uma longa batalha para que os ossos dos seus antepassados – ao lado de tantos outros – não se percam na cinza do tempo e que os jazigos hoje cobertos de denso matagal sejam preservados.

A batalha apenas começou, mas Souto Neto, com uma idealística disposição, diz que irá até o fim.

– “O abandono do Cemitério do Catumbi é um insulto nacional”, diz ele.

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Alcy Ramalho Filho me recomendou ao Dr. Francisco Cunha Pereira Filho, proprietário da Gazeta do Povo de Curitiba, para que eu fizesse alguma publicação na página dos editoriais. Ao mesmo tempo, publicou “Insulto à Memória” na edição de 6.5.1985:


 
FOTO 6 – Alcy Ramalho Filho – Gazeta do Povo de 6.5.1985.

Senadores do Império, marqueses, barões, além de figuras da história nacional, como Theófilo Otoni e o Duque de Caxias, estão [estiveram] sepultados no cemitério do Catumbi, no Rio de Janeiro. Ao visitá-lo, recentemente, o advogado Francisco Souto Neto (herdeiro direto do Visconde de Souto e sobrinho-trineto de Caxias) pôde constatar o quanto é efêmera a memória brasileira e o estado de abandono do local. Não é apenas o de seus ilustres antepassados, mas muitos outros jazigos encontram-se ali envolvidos por denso matagal e servindo como depósito de lixo. Indignado, Souto Neto (que em Curitiba desenvolve suas atividades profissionais) denunciou o fato em jornais cariocas, do que resultou o deslocamento de uma equipe do Instituto Histórico e Artístico Nacional para realizar pesquisas naquele cemitério e delas poderá resultar o seu tombamento. Infelizmente, o do campo santo do Catumbi está longe de configurar-se num caso isolado.

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Em 7.5.1985, saiu minha crônica “Memória imemorial” na página dos editoriais da Gazeta do Povo. Abaixo, transcrevo apenas alguns trechos:


 
FOTO 7 – “Memória Imemorial”, de Francisco Souto Neto – Página dos Editoriais – Gazeta do Povo, Curitiba, 7.5.1985. 

Memória imemorial

[…] Em janeiro último, ao tentar visitar os túmulos dos meus trisavós, os viscondes de Souto, sepultados no século XIX no Cemitério do Catumbi, fui obrigado a derrubar mato cerrado, vendo, pelo caminho, as sepulturas de senadores do Império, marqueses, viscondes, barões, deputados, com as lápides quebradas, os mármores fragmentados, as campas rompidas […]. A Venerável Ordem teve leiloada parte do seu rico acervo de arte, dentre os quais imensos quadros de Victor Meirelles, vasos de porcelana chinesa de antigas dinastias e móveis dos séculos XVIII e XIX. Está claro que referida Ordem não disporá de recursos para a manutenção desse precioso fragmento da nossa História. […] No caso, urge que o IPHAN não adie mais os seus estudos, apressando-se a tombar logo o Cemitério do Catumbi – antes que ele desapareça, irreversivelmente. […] (SOUTO NETO, Francisco. Memória Imemorial. Gazeta do Povo. Curitiba, 7 maio 1985. p. 2).

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O jornal Correio de Notícias escreveu, em 9.5.1985: “No Rio, uma ameaça à Memória Nacional”:

FOTO 8 – Correio de Notícias, Curitiba, 9.5.1985.

Transcrição de apenas o trecho inicial: No Rio, uma ameaça à memória nacional. Francisco Souto Neto, assessor de diretoria do Banestado, está lançando uma campanha nacional em prol da cultura e memória brasileira. Trineto e herdeiro direto do Visconde de Souto e sobrinho-trineto do Duque de Caxias, Souto ficou “indignado com o estado de total depredação dos jazigos dos senadores do Império, marquesas, viscondes, barões, deputados e generais” que se encontram no Cemitério do Catumbi, no Rio de Janeiro. (…)

Legenda da ilustração: A prova do abandono.

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O INCIDENTE COM DAVID CARNEIRO

 

Para minha surpresa e desgosto, o professor David Carneiro pôs em dúvida a existência do Visconde de Souto e escreveu na sua coluna Veterana Verba da Gazeta do Povo, edição de 21.5.1985, a crônica Insulto à memória de grandes figuras, como se lê na ilustração mais abaixo (FOTO 9).

O professor David, como eu o tratava, era meu conhecido há anos. Ele fora, no ano de 1930, o segundo presidente do banco para o qual, naquele 1985, eu trabalhava como funcionário de carreira – Banco do Estado do Paraná S. A., o Banestado – e o entrevistara há bem pouco tempo para uma matéria sobre a memória daquele que era o banco oficial do Estado. O historiador, muito lúcido e ágil, ultrapassara os 80 anos. “Eu sou muito velho”, costumava repetir.

Na manhã de 21 de maio recebi um telefonema de minha amiga Marléne Sant’Anna, recomendando-me a leitura de Veterana Verba da edição daquele dia. Comprei o jornal. O título da extensa crônica com 93 linhas era “Insulto à memória de grandes figuras”. O autor, usando de ironia, afirmava que lera as referidas publicações naquele mesmo jornal há poucos dias, para em seguida escrever que o título visconde de Souto não existia no Brasil. E que em Portugal houve nobres Souto, mas, em outras palavras, desconhecia algum visconde de Souto, insinuando que esse título nobiliárquico poderia ser uma farsa:

 

 
FOTO 9 – Veterana Verba – David Carneiro – Gazeta do Povo, Curitiba, 21.5.1985.

Trechos principais da crônica de David Carneiro, na íntegra no recorte acima, coluna Veterana Verba, edição de 21.5.1985 da Gazeta do Povo: “Insulto à memória de grandes figuras”:

No jornal do dia 6 de maio, nos comentários de Alcy Ramalho Filho, pude verificar que o protesto veemente do Dr. Francisco Souto Neto é não apenas válido e do maior interesse para a preservação concreta da memória nacional, como sobretudo é uma espécie de exemplo que deve ser tomado para a imitação conservadora, posta no melhor sentido… / Claro que o que ele chamou com razão “insulto à memória” das grandes figuras (das quais a história política do nosso país está cheia) deve receber uma reação construtiva e eficiente. E essa não pode deixar de ser a atenção (tão frequentemente prestada ao futebol e ao carnaval) que daqui por diante se preste às pessoas ilustres como foi dito em termos não específicos “senadores do império, marqueses, viscondes, barões”, estando especialmente citados Theófilo Otoni e Duque de Caixas, de quem o Dr. Souto se declara sobrinho-trineto. / Claro que a indignação é válida e a observação triste ao se “constatar o quanto é efêmera a memória brasileira”, em consequência do que, o Cemitério do Catumbi no Rio de Janeiro, encontra-se em terrível e doloroso estado de abandono, dentro de um “denso matagal e servindo de depósito de lixo”. / O primeiro cuidado deveria ser das respectivas famílias, e o Dr. Francisco Souto Neto não poderia ignorar que o Duque de Caixas esteve no Cemitério do Catumbi desde 7 de maio de 1880, até serem seus restos, e da Srª Duquesa, trasladados em 23 de agosto de 1949 para o Panteon do grande soldado (e de sua esposa) existente sob a sua estátua na Praça da República, em frente ao Palácio da Guerra. / Não estando mais lá o Duque de Caxias, o seu sobrinho-trineto talvez procurasse na mesma tumba de família a outros parentes não historicamente valiosos; mas nesse caso à família caberia o cuidado, e não ao poder público ou a instituições de responsabilidade nacional, como foi o caso do Duque de Caxias. / Por outro lado os cemitérios têm administração municipal e a essa cabe (se não um perfeito cuidado) ao menos limpeza e estorvo às depredações e à mácula do lixo que o Dr. Francisco Souto Neto viu jogado no interior da necrópole. / Também o Dr. Souto Neto teria procurado (segundo Alcy Ramalho Filho) o visconde de Souto de quem seria herdeiro direto. / Quero crer que o título de visconde de Souto não exista na nobiliarquia brasileira, embora pudesse existir em Portugal, onde os Souto, os Souto de Leão e os Souto Maior são de antiquíssima nobreza, aparentados com os Saavedra e usando mesmo as armas destes. / Todavia, com o nome de Souto Maior existe aqui o visconde de Itanhaen, Manoel Inácio Andrade de Souto Maior, mais tarde elevado a marquês, tendo sido tutor de d. Pedro II. Claro que em Portugal houve duques de Souto Maior, e aqui, sem o título nobiliárquico específico, houve o visconde, depois marquês de Itanhaen. / Como isso porém não seja o que nos pode interessar, volto ao abandono em que se encontra o Cemitério do Catumbi […]. (CARNEIRO, David. Gazeta do Povo. Curitiba, 21 maio 1985. Veterana Verba, p. 5).

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Minha reação à crônica intempestiva e infundada de David Carneiro, acima, está no meu “Depoimento”, adendo à biografia do Visconde de Souto ainda inédita [foi publicada em 2017] escrita em coautoria por mim e minha prima Lúcia Helena Souto Martini, Visconde de Souto – Ascensão e “Quebra” no Rio de Janeiro Imperial. Eis, no parágrafo abaixo, como enfrentei o insulto do referido professor.

Pelo menos num ponto o professor David Carneiro estava certo: jamais existiu e jamais existirá um visconde de Souto na genealogia brasileira, porque meu trisavô era visconde por Portugal e não pelo Brasil. Telefonei ao professor pedindo-lhe que me recebesse ainda naquela manhã, porque eu desejava provar-lhe a existência do visconde de Souto no Rio de Janeiro imperial. Muni-me da documentação necessária e juntei também minha certidão de nascimento, onde consta que sou filho de Arary Souto e neto de Francisco Souto Júnior, e o registro de batismo do meu avô, onde se lê que Francisco Souto Júnior era filho de Francisco José Alves Souto e neto de António José Alves Souto, o visconde de Souto. Dirigi-me, ansioso e irritado, à mansão do professor. Fui recebido desafiadoramente pelo velho mestre. Ele esperava por mim na soleira da porta e olhava-me do alto dos degraus da pequena escada de acesso à casa, com o nariz elevado e os pômulos avermelhados. Entramos e apresentei-lhe as documentações. À medida em que o professor manuseava os papeis, vi-o aos poucos esmaecer. A sua expressão, até há alguns minutos pétrea e colorida, empalideceu e como que desmoronou. Ele se apercebeu de que, por seu ato intempestivo e sem fundamento, nos colocara, a ambos, em situação pública muito desagradável. Vale acrescentar que naquele contato nem me referi à minha ascendência dos Lima e Silva pelo lado da minha avó paterna – assunto por ele tratado com desdém – já que a questão central era comprovar ao historiador a existência do visconde de Souto.

Quem leu sua importante coluna naquele domingo, que me causara grande embaraço, poderia não lê-la no dia da retratação, e fi-lo saber da gravidade do seu erro. Agora, passados tantos anos, o que realmente vale lembrar é que a partir daquele momento, arrependido pelo constrangimento causado, o velho historiador tornou-se meu grande aliado. Sua coluna, dizia-se, alcançava o mundo cultural carioca. E algumas vezes nos meses seguintes, ele nela se referiria ao visconde de Souto e ao abandono do Cemitério do Catumbi, pedindo providências às autoridades do Rio de Janeiro.

Quatro dias depois, na edição de sábado, 25 de maio de 1985, a seção Veterana Verba da Gazeta do Povo continha este título: “Travamos conhecimento com o visconde de Souto”. No primeiro parágrafo, escreveu David Carneiro:

Travamos conhecimento com o visconde de Souto: / Como saísse em 21 de maio a minha crônica a propósito do “insulto à memória de grandes figuras brasileiras”, tive o gosto de receber telefonema do Sr. Francisco Souto Neto que logo chegou à minha casa para realmente confirmar o que eu supunha acontecesse” [sic]. “O visconde de Souto, falecido no Rio de Janeiro em 14 de fevereiro de 1880, tinha o seu título desde o tempo de D. Luís I, mas foi importantíssimo como banqueiro que se fez por inclinação espontânea, aqui no Brasil, iniciando-se como empregado da firma Ferreira & Cohn, na qual ascendeu pela flagrante simpatia […].(CARNEIRO, David. Gazeta do Povo. Curitiba, 25 maio 1985. Veterana Verba. p. 5). (VIDE FOTO 10 e o texto completo)

E assim prosseguiu David Carneiro até ao pé da página, comentando os grandes serviços prestados pelo visconde ao Brasil imperial. Sim, agora o visconde de Souto existia para o ilustre professor. Entretanto, escrever “realmente confirmar o que eu supunha acontecesse”, em vez de “realmente confirmar o meu equívoco”, foi, ao que parece, o modo que naquele momento ele encontrou para “se desculpar” sem efetivamente fazê-lo, no que foi impedido, quiçá, pela altivez que lhe era peculiar.

Apenas quatro dias após sua crônica Insulto à memória de grandes figuras, o professor David Carneiro “retratou-se” em Veterana Verba, Gazeta do Povo, 25.5.1985, na crônica sob o título “Travamos conhecimento com o visconde de Souto”.

Para evitar muitas repetições, vai adiante a transcrição de apenas alguns trechos da “retratação” de David Carneiro, cuja íntegra, entretanto, pode ser lida no recorte abaixo: 


 
FOTO 10 – Veterana Verba – David Carneiro – Gazeta do Povo, Curitiba, 25.5.1985.

“Travamos conhecimento com o visconde de Souto”:  Como saísse em 21 de maio a minha crônica a propósito do “insulto à memória de grandes figuras brasileiras, tive o gosto de receber telefonema do Sr. Francisco Souto Neto que logo chegou à minha casa para realmente confirmar o que eu supunha acontecesse” [sic]. O visconde de Souto, falecido no Rio de Janeiro em 14 de fevereiro de 1880, tinha o seu título desde o tempo de D. Luís I, mas foi importantíssimo como banqueiro que se fez por inclinação espontânea, aqui no Brasil, iniciando-se como empregado da firma Ferreira & Cohn, na qual ascendeu pela flagrante simpatia (…). Foi então que Souto, depois Visconde desse nome, da nobiliarquia lusitana, jogou-se ao desconto de títulos mercantis, recebendo ao mesmo tempo fundos em depósito, contas correntes a prêmio. Passava cheques ao portador à ordem dos depositantes determinando com isso uma enorme expansão no seu movimento. Como os seus sócios se dispusessem por volta de 1850 a deixar o ramo, retirando-se para a Inglaterra, o Sr. António José Alves Souto montou a sua própria casa bancária, e os depósitos se multiplicaram com as possibilidades que a sua criatividade sugeria. (…) Foi o seu descendente Dr. Francisco Souto Neto quem nos proporcionou os elementos biográficos acima transcritos, tendo servido como motivação para os contatos havidos, o fato de haver sido o seu antepassado inumado no cemitério do Catumbi onde jaziam todas as mais importantes figuras políticas do segundo reinado, figuras essas que por desidiosa incultura do nosso país têm tido seus túmulos violados, à vista da invasão de uma favela próxima, com flagrante e doloroso desrespeito aos respeitáveis despojos ali existentes. Foi graças às providências tomadas pelo Dr. Francisco Souto Neto que pudemos propor que o Conselho Estadual de Cultura providenciasse para que os despojos do Dr. Zacarias de Góes e Vasconcelos e sua esposa D. Carolina viessem para o Paraná, o que se está realizando, segundo supomos, para que esta figura brasileira do segundo reinado, a qual nos parece (pela importância da emancipação que realizou, do Paraná como província) de real e máxima significação. Claro que a dolorosa situação do cemitério do Catumbi é das que mais podem entristecer aos corações patriotas. Todavia, como temos declarado sempre que o Brasil é infelizmente, um dos países mais atrasados do Ocidente, analisamos a situação que o Sr. Francisco Souto Neto colocou às nossas vistas, como natural consequência do nosso atraso, ainda longe de solução satisfatória.

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Ao mesmo tempo, o jornal Todos Nós acorria em meu favor, publicando em sua edição de junho de 1985: A batalha do Souto pela preservação da Memória”:


FOTO 11 - Todos Nós – Junho de 1985.

A batalha do Souto pela preservação da Memória

Nosso colega Francisco Souto Neto (assessor da diretoria de Crédito Rural e Industrial) conseguiu obter sucesso num tipo de proeza nada fácil nos dias de hoje: chamar a atenção dos mais importantes jornais do país e receber credibilidade e apoio desses órgãos de imprensa para a deflagração de uma ampla campanha, em âmbito nacional, com ênfase na necessidade de uma melhor preservação da memória brasileira, e com objetivo no tombamento do Cemitério do Catumbi, no Rio de Janeiro.

Em carta dirigida ao Ministro da Cultura, o Souto denunciou: “No princípio do ano, após prolongada ausência, estive no Rio, ocasião em que tentei visitar os túmulos de meus antepassados, enterrados no cemitério do Catumbi (…). Mas para alcançar o túmulo do meu trisavô, o Visconde de Souto (Porto 28.3.1813 – Rio de Janeiro 14.1.1880), tive que derrubar mato cerrado, encontrando os jazigos dos nossos vultos históricos com as lápides quebradas, os mármores fragmentados, campas rompidas, e os túmulos, inúmeros deles, abertos, contendo em seus interiores lixo e cacos de garrafas, ossadas humanas expostas, vegetação e até árvores frutíferas nascendo dentro de alguns, restos de caixões mortuários usados, com pedaços de roupas, empilhados ou esparramados pelo caminho, tudo isso em meio a um quase intransponível matagal de cerca de dois metros de altura, que tive que derrubar com as mãos nuas (…).

Impressões do JORNAL DO BRASIL

Segundo relata o Jornal do Brasil em sua edição de 7.4.1985, “esse quadro deixou indignado o advogado Francisco Souto Neto, residente em Curitiba (…)”.

(…) O Souto voltou-se então à imprensa, com estes objetivos: sensibilizar a opinião pública e as autoridades do País para a necessidade de melhor preservar o nosso patrimônio histórico, alertar os demais herdeiros dos jazigos do Catumbi, e tentar motivar os Ministros da Cultura e do Exército a apoiaram a causa, recomendando ao IPHAN total prioridade no tombamento do setor histórico do cemitério do Catumbi, antes que este desapareça, irreversivelmente. (…)

O artigo, parcialmente copiado acima, prossegue transcrevendo Aramis Millarch em Tabloide de 17.4.1985, assim como trechos da crônica “Memória Imemorial” publicada na página dos editoriais da Gazeta do Povo de 7.5.1985, mencionando também o “Commercio de Lisboa” dos primeiros dias de março de 1880, que serviram parcialmente para que o Sr. David Carneiro desenvolvesse em sua coluna Veterana Verba,  na Gazeta do Povo de 25.5.1985, uma crônica procurando retificar dados incorretos que ele tinha publicado na mesma coluna e jornal em 21.5.1985.

 

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Compro um quadro de Osmar Chromiec:

FOTO 12 – Compro um quadro de Osmar Chromiec, que Dino Almeida reproduz a cores em sua coluna de 22.9.1985. Nesse tempo era ainda muito raro o uso de cores nos jornais. 

 

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O CEMITÉRIO DO CATUMBI DEPREDADO

 

Em outubro de 1985 faço nova viagem ao Rio, e encontro o Cemitério do Catumbi livre do matagal, mas todo depredado, com o túmulo do Visconde de Souto reduzido a ruínas. O túmulo da Viscondessa, entretanto, continuava intacto. Faço essa visita ao cemitério acompanhado de minha amiga Mercedes Pilati.


FOTO 13 – Outubro de 1985: o setor histórico do Cemitério do Catumbi depredado. O túmulo do Visconde de Souto em ruínas.

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FOTO 14 – Setor histórico do Cemitério do Catumbi em outubro de 1985, devastado por depredações. Na segunda foto, os números indicam os seguintes túmulos: 1 – Marquês de Olinda. 2 – Marquesa de Olinda. 3 – Visconde de Souto.

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No jornal O Estado do Paraná, edição de 9 ou outubro de 1985, Aramis Millarch refere-se à minha nova viagem ao Rio de Janeiro para verificar a limpeza do Cemitério do Catumbi, ocasião em que também fui à Capela Mayrink (em ambos os locais acompanhado pela atriz Mercedes Pilati), com o propósito de conseguir estimular a restauração daquele pequeno templo que foi mandado construir pelo Visconde de Souto. Abaixo, a nota de Millarch e fotos do estado do Cemitério do Catumbi:


FOTO 15 – Em 9.10.1985 Aramis Millarch escreve uma vez mais sobre o assunto. Ao lado, o abandono de um dos túmulos do Cemitério do Catumbi, seguido de uma lápide perdida em meio à devastação.

TABLOIDE – ARAMIS MILLARCH – De gente & fatos

Francisco Souto Neto, advogado, assessor da Diretoria do Banestado, vem removendo céus e terras para sensibilizar o Serviço do Patrimônio Histórico Artístico Nacional, em relação ao tombamento e restauração do Cemitério da Ordem 3ª de São Francisco de Paula, no Rio de Janeiro, onde estão sepultados vultos históricos. É que Souto Neto ficou chocado com o abandono daquele campo santo, no qual estão também seus antepassados, e há vários meses vem se dedicando a denunciar a destruição de tumbas e mesmo violações ali ocorridas. Agora, Souto ganha um aliado: o vereador Luiz Carlos Betenheuser incorporou-se aos seus protestos e começou pedindo a transcrição nos anais da Câmara de Curitiba dos artigos que Souto Neto vem publicando na imprensa a respeito. Nesta semana ele foi ao Rio de Janeiro lutar pela restauração da Capela Mayrink, a última lembrança material de seu tetravô [trisavô], o Visconde de Souto, cujos ossos, esquecidos no cemitério carioca, preocupam seu descendente paranaense.

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FOTO 16 – Com Mercedes Pilati e mais duas amigas na Capela Mayrink, mandada construir pelo Visconde de Souto nestas terras que eram de sua propriedade. Naquele tempo, esta parte montanhosa da Tijuca era de plantações de café, tal como esta fazenda do Visconde. Muitos anos depois as fazendas foram desapropriadas e o Imperador D. Pedro II mandou reflorestar toda a vasta região, nascendo então a Floresta da Tijuca que hoje conhecemos. 

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Minha carta ao Jornal do Brasil, agradecendo o apoio e fazendo novas denúncias:


FOTO 17 – Jornal do Brasil – Cartas – 1º caderno – Sexta-feira, 1º.11.1985

Cemitério – Ao início do ano em curso, em visita ao Cemitério do Catumbi (etc…) (…). O JORNAL DO BRASIL foi o primeiro a apoiar a minha denúncia, mobilizando uma equipe de repórteres para constatar, in loco, a situação da antiga necrópole e publicando grande reportagem sobre o assunto, em sua edição de 7.4.1985. Seguiram-se manifestações de diversos outros órgãos de imprensa, e até no Paraná e em São Paulo a situação repercutiu, ora provocando reportagens, ora apresentando-se sob a forma de assunto para editoriais. Foram quatorze as manifestações de jornais brasileiros, e todas elas encaminhei, junto à minha denúncia, ao Ministro da Cultura, à SPHAN e a outras autoridades.

Ao início do mês em curso estive no Rio, e fui recebido pelo arquiteto Dr. Umberto Nápoli, da SPHAN, que me exibiu a espessa pasta contendo minha denúncia, que deu início aos estudos visando ao tombamento do setor histórico do Cemitério do Catumbi. Já estão no papel os planos de reurbanização, restauração e até arborização da antiga necrópole; e assegurou-me o arquiteto que, num curso período de tempo, o tombamento pela SPHAN será uma realidade. Causou-me surpresa constatar que inexistia qualquer processo, na SPHAN, para o referido tombamento, e que tal processo só se iniciou a partir da minha denúncia. Na mesma ocasião iniciei novo processo visando à colocação de uma placa de bronze no interior da Capela Mayrink (já tombada, e enriquecida neste século por quatro painéis de Portinari) alusiva ao Visconde de Souto, que foi quem mandou construir a linda capela em 1860 [na realidade, foi em 1850], na chácara de sua propriedade, no coração da Floresta da Tijuca. Tal homenagem representará, no mínimo, um desagravo da nossa imemorial Memória a um vulto histórico tão rapidamente esquecido de nossos compêndios. O apoio que recebi se seu prestigioso jornal foi fundamental para que a SPHAN se sensibilizasse com a questão e encaminhasse os estudos em prol do tombamento com tanta determinação, como vem fazendo (…) Dr. Francisco Souto Neto – Curitiba (PR).

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FOTO 18– Em março Alcy Ramalho Filho faz elogios ao Salão Banestado, o meu “carro-chefe” do meu trabalho em prol da cultura. No alto da página, minha fotografia em casa, com o chihuahua Quincas Little Poncho.

  

Em outubro de 1985 eu anuncio o lançamento do III SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos, e o jornalista Alcy Ramalho Filho, atencioso, faz quatro publicações na sua coluna da Gazeta do Povo: em 30.10.1985, 5.11.1985, 9.11.1985 e 10.11.1985:


 
Foto 19 – Alcy Ramalho Filho na Gazeta do Povo – Curitiba – 30.10.1985, 5.11.1985, 9.11.1985, 10.11.1985.

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FOTO 20 - Jornal do Estado, 8.11.1985. Gazeta do Povo, 18.11.1985. Correio de Notícias, 16.11.1985. Gazeta do Povo. Anúncios sobre o 3º SBAI: “Salão Banestado dará 2 mi a novos artistas”, no Jornal do Estado de 8.11.1985. “Salão Banestado com inscrições até dia 29”, na Gazeta do Povo de 18.11.1985. “III Salão Banestado aceitando inscrições”, no Correio de Notícias de 16.11.1985. Na notícia ilustrada com foto, o registro da visita de cortesia de Francisco Souto Neto e Octacílio Ribeiro da Silva ao Dr. Francisco Cunha Pereira Filho, diretor da Gazeta do Povo.

 

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Meu artigo “Evolução às avessas” no Todos Nós de novembro de 1985:


 
FOTO 21 – “Evolução às avessas” – Todos Nós – Novembro de 1985.

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Duas notícias sobre as inscrições do III SBAI: “Inscrições para o Salão Banestado”, no Correio de Notícias, com foto de Octacilio Ribeiro da Silva e Francisco Souto Neto, e “Salão Banestado deverá ter muitas inscrições”, no Jornal do Estado, com foto de Francisco Souto Neto, Tadeu Petrin, Álvaro Borges, Osmar Chromiec e Ennio Marques Ferreira. E ainda, comentário a Francisco Souto Neto no jornal Todos Nós:

 

 
FOTO 22 – Correio de Notícias, 24.11.1985. Na fotografia, Octacílio Ribeiro da Silva e Francisco Souto Neto. Jornal do Estado de 24.11.1985. Na foto, tirada na residência de Francisco Souto Neto, que recebe: Tadeu Petrin, Álvaro Borges, Osmar Chromirec e (em pé) Ennio Marques Ferreira. Todos Nós de Novembro 1985.

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Meu artigo “O elitismo na Arte Brasileira”, no Todos Nós:


 
FOTO 23 – “O elitismo na Arte Brasileira” – Todos Nós – Dezembro de 1985.

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David Carneiro, agora apoiando Francisco Souto Neto, escreve na Veterana Verba de 26.11.1985: “Zacarias e a necrópole do Catumbi”. E em 24.12.1985, a Gazeta do Povo publica foto de David Carneiro com Francisco Souto Neto:


FOTO 24 – Gazeta do Povo de 26.11.1985: Veterana Verba – David Carneiro – “Zacarias e a necrópole do Catumbi”. No recorte menor: Gazeta do Povo de 24.12.1985: Foto de David Carneiro e Francisco Souto Neto.

VETERANA VERBA – Zacarias e a necrópole do Catumbi – David Carneiro

Ao [Do] jovem Souto Neto tive o gosto de receber um exemplar do número de junho de “Todos Nós”, o jornal do Banco do Estado do Paraná.

Tive a satisfação de ver que Francisco Souto Neto continua batalhando para salvar o que ainda se possa salvar de veneráveis restos existentes no Cemitério do Catumbi.

Tenho a impressão de que aqueles despojos que ficaram a cargo da irmandade da Ordem Terceira de S. Francisco de Paula (ordem religiosa essa que a ela própria se denomina de “venerável”, mas que ao que parece nenhuma veneração merece, visto que não cumpriu o mais elementar de seus deveres, qual fosse o de cuidar das tumbas que estavam sob sua responsabilidade) estarão irremediavelmente perdidos.

Para que se tenha essa impressão deverei justificá-la:

No Conselho Estadual de Cultura ficou decidido que nos esforçássemos por encontrar no Cemitério do Catumbi os veneráveis restos do Conselheiro Zacarias de Goes e Vasconcelos, para que pudéssemos trazê-los para o Paraná (cuja província, como tal, foi por ele instalada), colocando esses sagrados despojos sob sua herma e na praça que o homenageia [em Curitiba], lembrando-o.

O relatório que o ilustre diretor do Museu Paranaense nos deu conhecimento foi de molde a apagar as nossas esperanças, pois onde a família [do conselheiro Zacarias] acreditava existirem apenas os seus ossos, mais de meia dúzia de caveiras estavam depositadas, e os ossos correspondentes aos respectivos esqueletos estavam espalhados pela tumba, que deveria ser da família, mas a família está incapacitada de dizer porque e como tais ossadas ali estão.

Netos e bisnetos do conselheiro que foram procurados no Rio de Janeiro consideraram digno de aplauso o gesto do Paraná, mas aturdidos ante o desleixo e a ignorância dos encarregados da Ordem Terceira de S. Francisco de Paula, inclinaram-se a desistir da homenagem à memória do seu antepassado, enquanto outros descendentes estão de acordo em que as pesquisas dos encarregados do Museu Paranaense prossigam até que os veneráveis restos  sejam encontrados [identificados] e sejam trazidos para o Estado que teve Zacarias de Goes e Vasconcelos como o seu primeiro presidente de Província.

A descrição que Francisco Souto Neto nos havia feito do desleixo do Cemitério do Catumbi foi que nos fez pensar em trazer para Curitiba os restos do Conselheiro Zacarias, o que talvez não se consiga fazer, muito embora não tenhamos ainda desistido.

Souto Neto diz que no Catumbi estariam também o Marquês de Olinda, o Barão de Mesquita, o conde de Bonfim, Teófilo Otoni, os barões de Maruim e muitos outros titulares, conselheiros, senadores do Império, gente ilustre que pertence à História e que como tal não poderia estar sujeita a uma afronta subjetiva dessa espécie.

O Sr. Souto diz que uma injúria dessas jamais ocorreria numa nação que se pretenda civilizada, e com efeito assim o é.

De D. Pedro I, de seu ilustre filho, do Duque de Caxias e da sra. Duquesa de Caxias os restos estão ad aeternum preservados; mas por que Teófilo Otoni e Araújo Lima (Olinda) não devem merecer o mesmo respeito?

Creio que o Ministério da Cultura (se o titular tem consciência do que seu cargo representa) deve tomar a peito esse assunto, além do mais porque é vergonha nacional os cemitérios (sejam eles quais forem) não estarem sujeitos a regulamentos que garantam a integridade, a conservação e a defesa de ossos humanos, quando nos países civilizados os cães merecem esse respeito. E não é somente isso.

Os despojos do Marquês de Olinda mereceriam um Panteon, e no entanto jazem abandonados no Catumbi, ao pé de uma favela cujos habitantes se divertem profanando túmulos. Não é possível que os descendentes não tenham vergonha de saber que o jazigo de seus ilustres antepassados está sujeito a tais profanações.

Recentemente apontamos situações semelhantes em Paranaguá, mas estamos certos de que, antes do prazo ameaçador da Municipalidade daquela cidade litorânea, o Conselho Cultural do Paraná, reunido, providencie para que tais afrontas às memórias ilustres não se reproduzam.

É certo que Mozart e Camões foram para a vala comum, o que não impede que ambos tenham suas memórias mais vivas do que qualquer um dos que ainda objetivamente estamos vivendo. Todavia isso de nenhuma forma seria justificável.

Nossa obrigação é educar os vivos de maneira que considerem os ossos dos que entraram construtivamente na história nacional fiquem resguardados dos insultos de eventual ausência de civilização.

Ilustração do recorte menor: David Carneiro e Francisco Souto Neto.

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A Folha de Curitiba (“III Salão Banestado”) e o Todos Nós (“Inscrições abertas para o III Salão Banestado”):


FOTO 25 – Folha de Curitiba de 25.11.1985. Na foto, na residência de Souto Neto: em primeiro plano, sentados, Osmar Chromiec, Ennio Marques Ferreira e Álvaro Borges. Atrás, em pé: Francisco Souto Neto e Tadeu Petrin. Todos Nós de Novembro de 1985: “Inscrições abertas para o III Salão Banestado”.

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A Gazeta do Povo (“III Salão Banestado divulga classificados”), a Folha de Curitiba (“Classificados para o Salão Banestado”) e Wilde Martini (“O III Salão Banestado de Artistas Inéditos”) dão os nomes dos classificados para o Salão que abriria em janeiro do próximo ano. E o ano termina com uma nota de Alcy Ramalho Filho (na Gazeta do Povo de 30.12.1985) com um elogio ao meu trabalho no Banestado:

 

FOTO 26 – Gazeta do Povo de 18.2.1985. Folha de Curitiba de 18.12.1985. Wilde Martini em 21.12.1985. Alcy Ramalho Filho em 30.12.1985.

Os jornais noticiam os aprovados no III SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos (evento que foi inaugurado nos primeiros dias do ano seguinte, quando foram revelados os nomes dos vencedores do certame). A comissão julgadora composta por Osmar Chromiec, Ennio Marques Ferreira e Álvaro Borges selecionou os artistas: Almir Correia, Anita S. Tadim, Antônio F. de Almeida, Antonio Ziothovski, Anilce B. R. Goreski, Aristide Brodeschi, Arlene Senegaglia, Ayrton Hecke, Carmen C. Rigon, Catarina C. Santos, Catarina de Castro Caputo, Celso Fernandes Ribeiro, Cristiane Lopes, Dalva Lobo, Donizethe A. Barbosa, Edgard Cliquet, Edilson C. Viriato, Estela B. Peres, Eunice R. Bohn, Gladys L. S. Bittencourt, Heloísa B. Vargas, Horandina F. Ferro, Ignácio V. de Araújo, Ivan A. Anzuategui, Izabel M. Takahira, Jandira Chagas Martini, Janete B. de Oliveira, Jaqueline Ballani, João Gutierrez Neto, José O. Kuster, José M. Pupulim, Julian C. Fogotti, Julieta Grudig Stern, Kision Ebinger, Latif Salim, Lori V. de Souza, Lourdes M. M. de Albuquerque, Luíza F. Bartz, Luís Carlos Dalla Vecchia, Luiz José Maia, Mara C. Lau, Márcio S. Neves, Maria D. Barbosa, Maria de Júlio, Maria Tereza C. Abagge, Maria Yunes P. Franco, Marins Delabona, Marisa Stedile, Mariza P. Pauluk, Marly Carrati Torrens, Niti Tsuneta, Neida Peil de Oliveira, Neide de Mello Lopes, Neuza França de Almeida, Nilza A. B. Errerias, Nilza K. Procopiak, Odila S. Valim, Ofil de M. C. Vidal, Oswaldo F. Dias, Paulo José Skroch, Regina C. Negrinho, Reini Von Der Osten Armellini, Rosália V. Gondim, Rosânia R. de Almeida, Sarah M. Guarnieri, Stella H. de Barros, Suely T. B. Baccaro, Tadashi Ikoma, Valdete P. Machado, Velcy Grandó, Vilce P. B. Camargo, Yeda Grudzien.

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MATINHOS E GUARATUBA


Abaixo, quatro páginas do álbum mostrando o passeio que eu e Rubens Faria Gonçalves fizemos a Matinhos para escalarmos o que chamamos de “O Morro de Matinhos”. Não foi exatamente uma escalada, mas uma subida cheia de obstáculos naturais

FOTO 27 – Subindo para o Morro de Matinhos.

FOTO 28 - No alto do Morro de Matinhos.

FOTO 29 – Vistas de Matinhos e Caiobá.

FOTO 30 – Vistas de Matinhos e Caiobá.

FOTO 31 – Estivemos também em Guaratuba.

 

O 3º SALÃO BANESTADO DE ARTISTAS INÉDITOS.

 

Para comporem a comissão julgadora do 3º SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos a ser realizado em 1986, convidei os artistas plásticos Ennio Marques Ferreira, Álvaro Borges e Osmar Chromiec.


FOTO 32 – Nesta página de álbum, a reunião em minha casa com os membros da comissão julgadora do 3º SBAI: Ennio Marques Ferreira, Álvaro Borges e Osmar Chromiec. Ennio fez-me uma pergunta que me surpreendeu: “A diretoria do Banestado tem preferência ou recomendação por algum dos artistas concorrentes?”. Respondi-lhe: “Claro que não. Nem a diretoria, nem eu pessoalmente. A propósito, estarei acompanhando o seu trabalho no dia do julgamento, mas não direi nenhuma palavra sobre minhas preferências. Vocês serão uma comissão julgadora soberana, como também o foram as comissões nos SBAIs anteriores”. A seriedade e honestidade do “meu” salão de artes plásticas já era de sobejo por todos conhecida.

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Em janeiro do ano seguinte ocorreu a inauguração do 3º SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos com maciça divulgação pela imprensa falada, escrita e televisionado. A partir de 1986 minha vida tanto profissional quanto social, ou pessoal, passa a ser contada através da imprensa.

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SETE FOTOGRAFIAS SIGNIFICATIVAS DE 1985


 
FOTOS 33 e 33 a – O túmulo do Visconde de Souto depredado. O túmulo da Viscondessa de Souto, um pouco mais abaixo no Cemitério e mais distante da favela, não foi cercado pelo mato e estava (e continua) mais preservado, embora em 1985 já tivessem furtado o busto em mármore de minha trisavó e algumas floreiras. Atualmente não resta nenhuma floreira e o belo crucifixo sobre o telhado também foi furtado. Uma pena!

FOTOS 34 e 34 a – O túmulo de meus tios-trisavós, o Duque e a Duquesa de Caxias. Ambos os túmulos estão vazios porque os restos mortais do casal foram exumados e trasladados para o Panteon da Pátria, em frente ao antigo Ministério da Guerra. Mas seus túmulos originais estão também quebrados e faltando pedaços. O da Duquesa está em pior situação.

FOTO 35 – Mamãe passeando com Quincas na maré baixa, na ponta da praia chamada de Pico de Matinhos.

FOTO 36 – No 2º Salão Banestado o Rubens teve (com os outros dois premiados no ano anterior) uma “sala especial”. Aqui estão Tadeu Petrin (quem comigo criou o SBAI), Vera Munhoz da Rocha Marques (que gerenciava a Galeria de Arte), Elice Maria Cella, Francisco Souto Neto, Rubens Faria Gonçalves e Devanir Massami Tominaga.

FOTO 37 – Eu e minha mãe (ela segurando o Quincas Little Poncho) em casa, no nosso Natal de 1985.

 

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2 de setembro de 2023:

80 ANOS ESTA NOITE

CONTINUA NA

PARTE  8

O ANO DE 1986


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Francisco Souto Neto em 2023.

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