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2
de setembro de 2023:
80 ANOS ESTA NOITE
PARTE 7
RECORDANDO
FEVEREIRO A DEZEMBRO DE 1985
UM
FEIO INCIDENTE COM DAVID CARNEIRO E A SUA RETRATAÇÃO.
O
CEMITÉRIO DO CATUMBI.
O
3º SBAI – SALÃO BANESTADO DE ARTISTAS INÉDITOS.
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Na viagem ao Rio de Janeiro em
janeiro de 1985, ao tentar visitar os túmulos de meus trisavós, o Visconde e a
Viscondessa de Souto, encontrei o setor histórico do Cemitério do Catumbi
encoberto por denso matagal, e só abrindo uma trilha consegui chegar aos
túmulos praticamente encobertos por densa vegetação. Como não bastasse, a
favela que existe atrás do cemitério estava invadindo aquele espaço e
construindo barracos sobre túmulos.
Retornando a Curitiba, fiz uma
denúncia às autoridades do Rio de Janeiro e – através de cartas – procurei
sensibilizar a imprensa carioca. O Jornal do Brasil foi, afortunadamente,
aquele que maior importância deu à minha delação e apoiou o início da minha
luta pela preservação do setor histórico do Cemitério do Catumbi, cujo nome
oficial é Cemitério de São Francisco de Paula.
No começo do ano estive no Rio
de Janeiro. A coluna social de Alcy Ramalho deu a notícia, em dois domingos
sucessivos, de que eu me encontrava na Europa e que de Paris lhe destinara um cartão postal do Museu do
Louvre. Fiquei muito preocupado e pensei: “Alguém está se passando por mim. O
que será que escreveram no postal? Será que escreveram besteiras em meu nome?!”.
Então telefonei ao cronista, disse-lhe eu não tinha enviado postais e nem
viajado à Europa, e que queria ver o que alguém teria escrito, fingindo
tratar-se de mim. Então o Alcy pediu-me desculpas e revelou-me não ter recebido
nenhum cartão postal meu, e que ocorreu foi que ele tinha autorizado a sua
secretária a dar notícias a meu respeito e “parecia que ela havia exagerado”.
Fiquei chocado: então inventam notícias para agradar os leitores?! Ou para
bajular as pessoas que citam? Então a secretária escreve o que bem entende e
publica como se fosse o cronista?! Não é assim que se faz jornalismo sério.
Pedi ao cronista que não publicasse nada que não fosse verdadeiro, porque, no
meu caso, meus amigos e colegas sabiam que eu estive no Rio de Janeiro e não na
Europa, e que isto me deixava numa situação muito comprometedora. Alcy compreendeu
e desculpou-se.
Ao
chegar ao Cemitério do Catumbi encontrei seu setor histórico engolido pelo
matagal. As legendas na página do álbum, abaixo, explicam a situação degradante
da necrópole.
O
Jornal do Brasil foi que maior espaço dedicou à minha denúncia. Mandou uma
equipe de repórteres ao Cemitério de São Francisco de Paula, mais conhecido
como Cemitério do Catumbi, e publicou a seguinte reportagem:
Jornal
do Brasil de 7.4.1985 (p.20) – IPHAN estuda tombamento de túmulos em cemitério.
Uma
equipe do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional realiza
pesquisas no Cemitério do Catumbi e, dependendo dos resultados do trabalho,
alguns jazigos ou mesmo o trecho mais antigo do cemitério, onde ficam
sepulturas de barões, viscondes e figuras de destaque da fase de passagem do
Império para a República poderão ser tombados, para evitar que desapareçam, em
decorrência da depredação ou mesmo da especulação. Não existem cemitérios
tombados no Rio.
O
Patrimônio iniciou os estudos a partir da denúncia de que o jazigo do Barão de
Guaratiba foi demolido pelos seus descendentes para dar lugar a outras
sepulturas, vendidas a terceiros. A repetição de outros casos poderia resultar
num processo de liquidação de jazigos centenários que guardam os restos mortais
de figuras com participação em momentos importantes da História do Brasil.
Muitos desses túmulos já desapareceram sob uma favela, outros estão encobertos pelo
mato e alguns foram simplesmente violados.
Desrespeito
Armas
e brasões incrustados em mármores contendo datas de nascimento e morte de
barões foram roubados, outros estão em pedaços ou escondidos entre moitas de
capim-colonião, ervas daninhas e arbustos característicos de locais
abandonados. Por ordem do interventor da Irmandade São Francisco de Paula,
monsenhor Abílio Ferreira da Nova, a atual administração do cemitério iniciou
há um mês a erradicação do mato do trecho antigo.
A
entidade vem enfrentando problemas financeiros sérios, a ponto de ter imóveis e
outros bens leiloados. O Cemitério do Catumbi, que pertence à Irmandade,
“sofreu reflexos disso”, conforme admite monsenhor Abílio Ferreira da Nova. Mas
ele acha que a fase crítica já passou.
–
Identifiquei, há pouco tempo, indícios de um processo que poderia resultar no
fim de muitos jazigos de personagens de uma fase histórica do país. Por
enquanto, isso está contido, até porque as áreas do cemitério pertencem à
Irmandade e os jazigos são apenas para usufruto de famílias ou descendentes.
Na
realidade, a parte alta do cemitério, a mais antiga e de maior importância
histórica, ponto onde surgiram as primeiras sepulturas, teve um trecho tomado
por barracos da favela Mineira e durante anos vem sendo dominada pelo matagal.
O aparecimento de assaltantes na área acabou por espantar os raros visitantes e
pelo menos durante um ano o local ficou praticamente abandonado.
Indignação
Esse
quadro deixou indignado o advogado Francisco Souto Neto, que em janeiro passado,
ao tentar visitar os jazigos de seus trisavós, Visconde de Souto e Duque de
Caxias, foi obrigado a derrubar “mato cerrado, vendo pelo caminho as sepulturas
dos vultos históricos violadas, as lápides quebradas e mármores fragmentados,
em meio a cacos de garrafas e lixo”.
“Ao
alcançar a sepultura de meu trisavô, Visconde de Souto, encontrei, assombrado,
o mármore da campa rompido, e dentro do jazigo, diversos sacos plásticos de
lixo, contendo restos mortais, tais como colunas vertebrais, costelas, crânios.
País de memória curta! Um povo não pode se arrostar ao direito de um futuro, se
não aprender antes a respeitar a memória dos seus mortos”.
Este
trecho faz parte de documento que o advogado, residente em Curitiba, encaminhou
à Ordem dos Mínimos de São Francisco de Paula, denunciando a situação do
cemitério.
Ontem
à tarde, grande parte do trecho antigo do cemitério já estava capinado e o
túmulo do Visconde de Souto, o primeiro banqueiro de que se tem notícia no
Brasil Imperial, começava a ficar livre do mato. Mas os sacos com restos
mortais continuavam à mostra, junto da superfície da terra. O Visconde nasceu
no Porto, Portugal, veio para o Rio de Janeiro em 1830, aos 22 anos
estabeleceu-se como corretor de fundos e mercadorias e acabou tornando-se vizinho
e amigo de D. Pedro II.
Hoje,
o túmulo do visconde está perto da sepultura do conselheiro Paulo Barbosa da
Silva, primeiro-mordomo de D. Pedro II. Ao lado, fica o do Marquês de Olinda,
parcialmente danificado. Mais abaixo, agora livres das ervas daninhas, mas
adornados pelo capim-seda, aparecem os dos barões de Villa Bella, do Maruim,
Itacuruçá, Monte dos Cedros, Ibituruna e também os do marquês de Bonfim e conde
de Mesquita. Todos são vizinhos das sepulturas do duque e da duquesa de Caxias,
que no entanto tiveram os seus restos mortais levados para o mausoléu
construído em frente ao prédio do antigo Ministério da Guerra, na Avenida
Presidente Vargas.
Em
trecho mais distante, em local cimentado, os túmulos do barão de Vila Velha e
do marquês de Maricá têm permanecido um pouco livres do mato, mas ao lado
deles, com a queda da campa, o de Dona Emília Pereira dos Santos, sobre o qual
não existe qualquer registro de nobreza, está adornado por um mamoeiro
carregado de frutos. A planta nasceu espontaneamente no fundo da sepultura e,
segundo os coveiros, “os mamões são doces como mel”.
O
interventor da Ordem de São Francisco de Paula, Monsenhor Abílio Ferreira da
Nova, acha que a responsabilidade pela conservação do Cemitério do Catumbi não
cabe apenas à administração, mas também às famílias que têm parentes ali
sepultados. “Nós – acentuou o monsenhor – devemos manter as quadras e acessos
limpos, mas os jazigos precisam ser mantidos ou recuperados pelas famílias. E a
verdade é que muitas não se dão conta disso, deixam os túmulos abandonados”,
acrescentou.
*
Aramis
Millarch, do jornal O Estado do Paraná, em 17.4.1985 publicou na sua seção
TABLOIDE, a reportagem “Os ossos do Visconde que preocupam Souto”:
ALMANAQUE
– TABLOIDE – ARAMIS MILLARCH – O Estado do Paraná, 17.4.1985 – Os ossos do
Visconde que preocupam o Souto
Francisco
Souto Neto, assessor da diretoria de um importante banco local, é um homem
preocupado com a cultura e a preservação da memória brasileira. Agora, iniciou
uma campanha, a nível nacional, que começou a ter repercussão em jornais como
“O Globo” e “Jornal do Brasil”, e que deverá alcançar também outros veículos de
grande expressão.
Souto
Neto está preocupado com o abandono do Cemitério do Catumbi, no Rio de Janeiro,
onde estão, desde o século XIX, “sepulturas dos homens que construíram a
História deste País: jazigos de senadores do Império, de generais, viscondes,
condes e barões, além de vultos notáveis como o Duque de Caxias e Teófilo Otoni”.
Descendente
de dois desses vultos – sobrinho-trineto do Duque e Duquesa de Caxias, e
herdeiro direto do Visconde de Souto – Francisco chocou-se, em recente passagem
pelo Rio, com o estado de abandono do Cemitério do Catumbi. Envolto em denso
matagal, com sepulturas violadas, lápides quebradas e cacos de garrafas
misturando-se ao mato que cresce do interior das tumbas, decidiu-se a promover
uma campanha para que a responsável pela manutenção do cemitério – a Venerável
Ordem 3ª dos Mínimos de São Francisco de Paula – tome providências.
A
exemplo do curitibano Rafael Grecca de Macedo [Rafael Greca de Macedo],
ex-diretor da Casa da Memória e hoje um dos mais atuantes vereadores de
Curitiba, Francisco Souto Neto preocupa-se com a tradição e a memória histórica.
E se o objetivo de sua campanha é denunciar o abandono do mais tradicional
cemitério do tempo do Brasil-Império, o abandono que ali acontece repete-se em
várias outras cidades. Em Curitiba mesmo, em vários cemitérios, já houve
dezenas de denúncias sobre o abandono de jazigos e o matagal crescendo no
cemitério da Água Verde, sem falar da necessária restauração do painel que o
artista Franco Giglio (1937-1982) criou no muro do Cemitério Municipal e que,
deteriorado pelo tempo, aguarda providências da diretoria competente. O
prefeito Maurício Fruet, aliás, já determinou que se fizesse sua restauração
com urgência.
A
repercussão que o advogado Francisco Souto Neto conseguiu junto aos jornais
nacionais, especialmente “O Globo” e “Jornal do Brasil”, sobre o assunto do
cemitério do Catumbi, deve-se a bem organizada documentação que reuniu, fotos
comprovando as denúncias, documentos relacionados aos vultos históricos,
entrâncias, para conseguir sensibilizar a opinião pública. E, realmente, embora
o Patrimônio Histórico tenha incluído o tombamento do Cemitério do
Catumbi em seus projetos, há mais de 20 anos a situação daquele campo santo é
de completo abandono. Aliás, consequência das dificuldades econômicas da Ordem
Terceira, que está com seus 13 imóveis penhorados e só em dívidas trabalhistas
de 420 funcionários do Hospital São Francisco de Paula deve mais de Cr$ 3,5
bilhões.
Na
robusta documentação que encaminhou ao monsenhor Ferreira da Nova, interventor
da Ordem Terceira de São Francisco de Paula, e ao cardeal Dom Eugênio Salles,
do Rio de Janeiro, além dos veículos de divulgação nacional, Francisco Souto
Neto prova a imensa contribuição que o Visconde de Souto, João Manoel Souto [o
nome correto é António José Alves Souto] (Porto 28/3/1813 – Rio de Janeiro 14.1.1880)
deu ao Império, criando uma vigorosa casa financeira e doando a região que
abriga, hoje, o Ministério da Guerra e a Estação D. Pedro II [o correto
seria: doando parte da Chácara do Souto, em São Cristóvão, para a
construção da Estação Imperial], bem como mandando construir em sua chácara [da
Tijuca] uma capela (hoje conhecida como Capela Mayrink), decorada por Cândido
Portinari. Chegou a importar animais da África para seu zoo particular, que
abria aos domingos à população carioca e que deu origem ao atual zoológico do
Rio.
Enfim,
de Curitiba, Souto Neto inicia uma longa batalha para que os ossos dos seus
antepassados – ao lado de tantos outros – não se percam na cinza do tempo e que
os jazigos hoje cobertos de denso matagal sejam preservados.
A
batalha apenas começou, mas Souto Neto, com uma idealística disposição, diz que
irá até o fim.
–
“O abandono do Cemitério do Catumbi é um insulto nacional”, diz ele.
*
Alcy Ramalho Filho me
recomendou ao Dr. Francisco Cunha Pereira Filho, proprietário da Gazeta do Povo
de Curitiba, para que eu fizesse alguma publicação na página dos editoriais. Ao
mesmo tempo, publicou “Insulto à Memória” na edição de 6.5.1985:
Senadores do Império, marqueses, barões, além de figuras da história
nacional, como Theófilo Otoni e o Duque de Caxias, estão [estiveram] sepultados
no cemitério do Catumbi, no Rio de Janeiro. Ao visitá-lo, recentemente, o
advogado Francisco Souto Neto (herdeiro direto do Visconde de Souto e
sobrinho-trineto de Caxias) pôde constatar o quanto é efêmera a memória
brasileira e o estado de abandono do local. Não é apenas o de seus ilustres
antepassados, mas muitos outros jazigos encontram-se ali envolvidos por denso
matagal e servindo como depósito de lixo. Indignado, Souto Neto (que em
Curitiba desenvolve suas atividades profissionais) denunciou o fato em jornais
cariocas, do que resultou o deslocamento de uma equipe do Instituto Histórico e
Artístico Nacional para realizar pesquisas naquele cemitério e delas poderá
resultar o seu tombamento. Infelizmente, o do campo santo do Catumbi está longe
de configurar-se num caso isolado.
*
Em
7.5.1985, saiu minha crônica “Memória imemorial” na página dos editoriais da
Gazeta do Povo. Abaixo, transcrevo apenas alguns trechos:
Memória imemorial
[…] Em janeiro último, ao tentar visitar os túmulos dos meus
trisavós, os viscondes de Souto, sepultados no século XIX no Cemitério do
Catumbi, fui obrigado a derrubar mato cerrado, vendo, pelo caminho, as
sepulturas de senadores do Império, marqueses, viscondes, barões, deputados,
com as lápides quebradas, os mármores fragmentados, as campas rompidas […]. A
Venerável Ordem teve leiloada parte do seu rico acervo de arte, dentre os quais
imensos quadros de Victor Meirelles, vasos de porcelana chinesa de antigas
dinastias e móveis dos séculos XVIII e XIX. Está claro que referida Ordem não
disporá de recursos para a manutenção desse precioso fragmento da nossa
História. […] No caso, urge que o IPHAN não adie mais os seus estudos,
apressando-se a tombar logo o Cemitério do Catumbi – antes que ele desapareça,
irreversivelmente. […] (SOUTO NETO, Francisco. Memória Imemorial. Gazeta
do Povo. Curitiba, 7 maio 1985. p. 2).
*
O
jornal Correio de Notícias escreveu, em 9.5.1985: “No Rio, uma ameaça à Memória
Nacional”:
FOTO 8 – Correio de Notícias, Curitiba, 9.5.1985.
Transcrição
de apenas o trecho inicial: No Rio, uma ameaça à memória nacional.
Francisco Souto Neto, assessor de diretoria do Banestado, está lançando uma
campanha nacional em prol da cultura e memória brasileira. Trineto e herdeiro
direto do Visconde de Souto e sobrinho-trineto do Duque de Caxias, Souto ficou
“indignado com o estado de total depredação dos jazigos dos senadores do
Império, marquesas, viscondes, barões, deputados e generais” que se encontram
no Cemitério do Catumbi, no Rio de Janeiro. (…)
Legenda
da ilustração: A prova do abandono.
*
O INCIDENTE COM DAVID CARNEIRO
Para
minha surpresa e desgosto, o professor David Carneiro pôs em dúvida a
existência do Visconde de Souto e escreveu na sua coluna Veterana Verba da
Gazeta do Povo, edição de 21.5.1985, a crônica Insulto à memória de
grandes figuras, como se lê na ilustração mais abaixo (FOTO 9).
O
professor David, como eu o tratava, era meu conhecido há anos. Ele fora, no ano
de 1930, o segundo presidente do banco para o qual, naquele 1985, eu trabalhava
como funcionário de carreira – Banco do Estado do Paraná S. A., o Banestado – e
o entrevistara há bem pouco tempo para uma matéria sobre a memória daquele que
era o banco oficial do Estado. O historiador, muito lúcido e ágil, ultrapassara
os 80 anos. “Eu sou muito velho”, costumava repetir.
Na
manhã de 21 de maio recebi um telefonema de minha amiga Marléne Sant’Anna,
recomendando-me a leitura de Veterana Verba da edição daquele dia. Comprei o
jornal. O título da extensa crônica com 93 linhas era “Insulto à memória de
grandes figuras”. O autor, usando de ironia, afirmava que lera as referidas
publicações naquele mesmo jornal há poucos dias, para em seguida escrever que o
título visconde de Souto não existia no Brasil. E que em Portugal houve nobres
Souto, mas, em outras palavras, desconhecia algum visconde de Souto, insinuando
que esse título nobiliárquico poderia ser uma farsa:
Trechos principais da crônica de David Carneiro, na íntegra no recorte acima, coluna Veterana Verba, edição de 21.5.1985 da Gazeta do Povo: “Insulto à memória de grandes figuras”:
No
jornal do dia 6 de maio, nos comentários de Alcy Ramalho Filho, pude verificar
que o protesto veemente do Dr. Francisco Souto Neto é não apenas válido e do
maior interesse para a preservação concreta da memória nacional, como sobretudo
é uma espécie de exemplo que deve ser tomado para a imitação conservadora,
posta no melhor sentido… / Claro que o que ele chamou com razão “insulto à
memória” das grandes figuras (das quais a história política do nosso país está
cheia) deve receber uma reação construtiva e eficiente. E essa não pode deixar
de ser a atenção (tão frequentemente prestada ao futebol e ao carnaval) que
daqui por diante se preste às pessoas ilustres como foi dito em termos não
específicos “senadores do império, marqueses, viscondes, barões”, estando
especialmente citados Theófilo Otoni e Duque de Caixas, de quem o Dr. Souto se
declara sobrinho-trineto. / Claro que a indignação é válida e a observação
triste ao se “constatar o quanto é efêmera a memória brasileira”, em
consequência do que, o Cemitério do Catumbi no Rio de Janeiro, encontra-se em
terrível e doloroso estado de abandono, dentro de um “denso matagal e servindo
de depósito de lixo”. / O primeiro cuidado deveria ser das respectivas
famílias, e o Dr. Francisco Souto Neto não poderia ignorar que o Duque de
Caixas esteve no Cemitério do Catumbi desde 7 de maio de 1880, até serem seus
restos, e da Srª Duquesa, trasladados em 23 de agosto de 1949 para o Panteon do
grande soldado (e de sua esposa) existente sob a sua estátua na Praça da República,
em frente ao Palácio da Guerra. / Não estando mais lá o Duque de Caxias, o seu
sobrinho-trineto talvez procurasse na mesma tumba de família a outros parentes
não historicamente valiosos; mas nesse caso à família caberia o cuidado, e não
ao poder público ou a instituições de responsabilidade nacional, como foi o
caso do Duque de Caxias. / Por outro lado os cemitérios têm administração
municipal e a essa cabe (se não um perfeito cuidado) ao menos limpeza e estorvo
às depredações e à mácula do lixo que o Dr. Francisco Souto Neto viu jogado no
interior da necrópole. / Também o Dr. Souto Neto teria procurado (segundo Alcy
Ramalho Filho) o visconde de Souto de quem seria herdeiro direto. / Quero crer
que o título de visconde de Souto não exista na nobiliarquia brasileira, embora
pudesse existir em Portugal, onde os Souto, os Souto de Leão e os Souto Maior
são de antiquíssima nobreza, aparentados com os Saavedra e usando mesmo as
armas destes. / Todavia, com o nome de Souto Maior existe aqui o visconde de
Itanhaen, Manoel Inácio Andrade de Souto Maior, mais tarde elevado a marquês,
tendo sido tutor de d. Pedro II. Claro que em Portugal houve duques de Souto
Maior, e aqui, sem o título nobiliárquico específico, houve o visconde, depois
marquês de Itanhaen. / Como isso porém não seja o que nos pode interessar,
volto ao abandono em que se encontra o Cemitério do Catumbi […]. (CARNEIRO,
David. Gazeta do Povo. Curitiba, 21 maio 1985. Veterana Verba, p. 5).
*
Minha reação à crônica intempestiva e infundada de David Carneiro, acima, está no meu “Depoimento”, adendo à biografia do Visconde de Souto ainda inédita [foi publicada em 2017] escrita em coautoria por mim e minha prima Lúcia Helena Souto Martini, Visconde de Souto – Ascensão e “Quebra” no Rio de Janeiro Imperial. Eis, no parágrafo abaixo, como enfrentei o insulto do referido professor.
Pelo
menos num ponto o professor David Carneiro estava certo: jamais existiu e
jamais existirá um visconde de Souto na genealogia brasileira,
porque meu trisavô era visconde por Portugal e não pelo Brasil.
Telefonei ao professor pedindo-lhe que me recebesse ainda naquela manhã, porque
eu desejava provar-lhe a existência do visconde de Souto no Rio de Janeiro
imperial. Muni-me da documentação necessária e juntei também minha certidão de
nascimento, onde consta que sou filho de Arary Souto e neto de Francisco Souto
Júnior, e o registro de batismo do meu avô, onde se lê que Francisco Souto
Júnior era filho de Francisco José Alves Souto e neto de António José Alves
Souto, o visconde de Souto. Dirigi-me, ansioso e irritado, à mansão do
professor. Fui recebido desafiadoramente pelo velho mestre. Ele esperava por
mim na soleira da porta e olhava-me do alto dos degraus da pequena escada de
acesso à casa, com o nariz elevado e os pômulos avermelhados. Entramos e apresentei-lhe
as documentações. À medida em que o professor manuseava os papeis, vi-o aos
poucos esmaecer. A sua expressão, até há alguns minutos pétrea e colorida,
empalideceu e como que desmoronou. Ele se apercebeu de que, por seu ato
intempestivo e sem fundamento, nos colocara, a ambos, em situação pública muito
desagradável. Vale acrescentar que naquele contato nem me referi à minha
ascendência dos Lima e Silva pelo lado da minha avó paterna – assunto por ele
tratado com desdém – já que a questão central era comprovar ao historiador a
existência do visconde de Souto.
Quem
leu sua importante coluna naquele domingo, que me causara grande embaraço, poderia
não lê-la no dia da retratação, e fi-lo saber da gravidade do seu erro. Agora,
passados tantos anos, o que realmente vale lembrar é que a partir daquele
momento, arrependido pelo constrangimento causado, o velho historiador
tornou-se meu grande aliado. Sua coluna, dizia-se, alcançava o mundo cultural
carioca. E algumas vezes nos meses seguintes, ele nela se referiria ao visconde
de Souto e ao abandono do Cemitério do Catumbi, pedindo providências às
autoridades do Rio de Janeiro.
Quatro
dias depois, na edição de sábado, 25 de maio de 1985, a seção Veterana Verba da
Gazeta do Povo continha este título: “Travamos conhecimento com o visconde de
Souto”. No primeiro parágrafo, escreveu David Carneiro:
Travamos
conhecimento com o visconde de Souto: / Como saísse em 21 de maio a minha
crônica a propósito do “insulto à memória de grandes figuras brasileiras”, tive
o gosto de receber telefonema do Sr. Francisco Souto Neto que logo chegou à
minha casa para realmente confirmar o que eu supunha acontecesse” [sic]. “O
visconde de Souto, falecido no Rio de Janeiro em 14 de fevereiro de 1880, tinha
o seu título desde o tempo de D. Luís I, mas foi importantíssimo como banqueiro
que se fez por inclinação espontânea, aqui no Brasil, iniciando-se como
empregado da firma Ferreira & Cohn, na qual ascendeu pela flagrante
simpatia […].(CARNEIRO, David. Gazeta do Povo. Curitiba, 25 maio 1985.
Veterana Verba. p. 5). (VIDE FOTO 10 e o texto completo)
E assim prosseguiu David Carneiro até ao pé da página, comentando os grandes serviços prestados pelo visconde ao Brasil imperial. Sim, agora o visconde de Souto existia para o ilustre professor. Entretanto, escrever “realmente confirmar o que eu supunha acontecesse”, em vez de “realmente confirmar o meu equívoco”, foi, ao que parece, o modo que naquele momento ele encontrou para “se desculpar” sem efetivamente fazê-lo, no que foi impedido, quiçá, pela altivez que lhe era peculiar.
Apenas
quatro dias após sua crônica Insulto à memória de grandes figuras,
o professor David Carneiro “retratou-se” em Veterana Verba, Gazeta do Povo,
25.5.1985, na crônica sob o título “Travamos conhecimento com o visconde de
Souto”.
Para
evitar muitas repetições, vai adiante a transcrição de apenas alguns trechos da
“retratação” de David Carneiro, cuja íntegra, entretanto, pode ser lida no
recorte abaixo:
“Travamos conhecimento com o visconde de Souto”: Como saísse
em 21 de maio a minha crônica a propósito do “insulto à memória de grandes
figuras brasileiras”, tive o gosto de receber
telefonema do Sr. Francisco Souto Neto que logo chegou à minha casa para
realmente confirmar o que eu supunha acontecesse” [sic]. O visconde de Souto,
falecido no Rio de Janeiro em 14 de fevereiro de 1880, tinha o seu título desde
o tempo de D. Luís I, mas foi importantíssimo como banqueiro que se fez por
inclinação espontânea, aqui no Brasil, iniciando-se como empregado da firma
Ferreira & Cohn, na qual ascendeu pela flagrante simpatia (…). Foi então
que Souto, depois Visconde desse nome, da nobiliarquia lusitana, jogou-se ao
desconto de títulos mercantis, recebendo ao mesmo tempo fundos em depósito,
contas correntes a prêmio. Passava cheques ao portador à ordem dos depositantes
determinando com isso uma enorme expansão no seu movimento. Como os seus sócios
se dispusessem por volta de 1850 a deixar o ramo, retirando-se para a
Inglaterra, o Sr. António José Alves Souto montou a sua própria casa bancária,
e os depósitos se multiplicaram com as possibilidades que a sua criatividade
sugeria. (…) Foi o seu descendente Dr. Francisco Souto Neto quem nos proporcionou
os elementos biográficos acima transcritos, tendo servido como motivação para
os contatos havidos, o fato de haver sido o seu antepassado inumado no
cemitério do Catumbi onde jaziam todas as mais importantes figuras políticas do
segundo reinado, figuras essas que por desidiosa incultura do nosso país têm
tido seus túmulos violados, à vista da invasão de uma favela próxima, com
flagrante e doloroso desrespeito aos respeitáveis despojos ali existentes. Foi
graças às providências tomadas pelo Dr. Francisco Souto Neto que pudemos propor
que o Conselho Estadual de Cultura providenciasse para que os despojos do Dr.
Zacarias de Góes e Vasconcelos e sua esposa D. Carolina viessem para o Paraná,
o que se está realizando, segundo supomos, para que esta figura brasileira do
segundo reinado, a qual nos parece (pela importância da emancipação que
realizou, do Paraná como província) de real e máxima significação. Claro que a
dolorosa situação do cemitério do Catumbi é das que mais podem entristecer aos
corações patriotas. Todavia, como temos declarado sempre que o Brasil é
infelizmente, um dos países mais atrasados do Ocidente, analisamos a situação
que o Sr. Francisco Souto Neto colocou às nossas vistas, como natural
consequência do nosso atraso, ainda longe de solução satisfatória.
*
Ao
mesmo tempo, o jornal Todos Nós acorria em meu favor, publicando em sua edição
de junho de 1985: A batalha do Souto pela preservação da Memória”:
A
batalha do Souto pela preservação da Memória
Nosso
colega Francisco Souto Neto (assessor da diretoria de Crédito Rural e
Industrial) conseguiu obter sucesso num tipo de proeza nada fácil nos dias de
hoje: chamar a atenção dos mais importantes jornais do país e receber credibilidade
e apoio desses órgãos de imprensa para a deflagração de uma ampla campanha, em
âmbito nacional, com ênfase na necessidade de uma melhor preservação da memória
brasileira, e com objetivo no tombamento do Cemitério do Catumbi, no Rio de
Janeiro.
Em
carta dirigida ao Ministro da Cultura, o Souto denunciou: “No princípio do ano,
após prolongada ausência, estive no Rio, ocasião em que tentei visitar os
túmulos de meus antepassados, enterrados no cemitério do Catumbi (…). Mas para
alcançar o túmulo do meu trisavô, o Visconde de Souto (Porto 28.3.1813 – Rio de
Janeiro 14.1.1880), tive que derrubar mato cerrado, encontrando os jazigos dos
nossos vultos históricos com as lápides quebradas, os mármores fragmentados,
campas rompidas, e os túmulos, inúmeros deles, abertos, contendo em seus
interiores lixo e cacos de garrafas, ossadas humanas expostas, vegetação e até
árvores frutíferas nascendo dentro de alguns, restos de caixões mortuários
usados, com pedaços de roupas, empilhados ou esparramados pelo caminho, tudo
isso em meio a um quase intransponível matagal de cerca de dois metros de
altura, que tive que derrubar com as mãos nuas (…).
Impressões
do JORNAL DO BRASIL
Segundo
relata o Jornal do Brasil em sua edição de 7.4.1985, “esse quadro deixou
indignado o advogado Francisco Souto Neto, residente em Curitiba (…)”.
(…)
O Souto voltou-se então à imprensa, com estes objetivos: sensibilizar a opinião
pública e as autoridades do País para a necessidade de melhor preservar o nosso
patrimônio histórico, alertar os demais herdeiros dos jazigos do Catumbi, e
tentar motivar os Ministros da Cultura e do Exército a apoiaram a causa,
recomendando ao IPHAN total prioridade no tombamento do setor histórico do
cemitério do Catumbi, antes que este desapareça, irreversivelmente. (…)
O
artigo, parcialmente copiado acima, prossegue transcrevendo Aramis Millarch em
Tabloide de 17.4.1985, assim como trechos da crônica “Memória Imemorial”
publicada na página dos editoriais da Gazeta do Povo de 7.5.1985, mencionando
também o “Commercio de Lisboa” dos primeiros dias de março de 1880, que
serviram parcialmente para que o Sr. David Carneiro desenvolvesse em sua coluna
Veterana Verba, na Gazeta do Povo de 25.5.1985, uma crônica
procurando retificar dados incorretos que ele tinha publicado na mesma coluna e
jornal em 21.5.1985.
—oooOooo—
Compro
um quadro de Osmar Chromiec:
*
O CEMITÉRIO DO CATUMBI DEPREDADO
Em outubro de 1985 faço nova viagem ao Rio, e encontro o Cemitério do Catumbi livre do matagal, mas todo depredado, com o túmulo do Visconde de Souto reduzido a ruínas. O túmulo da Viscondessa, entretanto, continuava intacto. Faço essa visita ao cemitério acompanhado de minha amiga Mercedes Pilati.
*
*
No jornal O Estado do Paraná,
edição de 9 ou outubro de 1985, Aramis Millarch refere-se à minha nova viagem
ao Rio de Janeiro para verificar a limpeza do Cemitério do Catumbi, ocasião em
que também fui à Capela Mayrink (em ambos os locais acompanhado pela atriz
Mercedes Pilati), com o propósito de conseguir estimular a restauração daquele
pequeno templo que foi mandado construir pelo Visconde de Souto. Abaixo, a nota
de Millarch e fotos do estado do Cemitério do Catumbi:
TABLOIDE
– ARAMIS MILLARCH – De gente & fatos
Francisco
Souto Neto, advogado, assessor da Diretoria do Banestado, vem removendo céus e
terras para sensibilizar o Serviço do Patrimônio Histórico Artístico Nacional,
em relação ao tombamento e restauração do Cemitério da Ordem 3ª de São
Francisco de Paula, no Rio de Janeiro, onde estão sepultados vultos históricos.
É que Souto Neto ficou chocado com o abandono daquele campo santo, no qual
estão também seus antepassados, e há vários meses vem se dedicando a denunciar
a destruição de tumbas e mesmo violações ali ocorridas. Agora, Souto ganha um
aliado: o vereador Luiz Carlos Betenheuser incorporou-se aos seus protestos e
começou pedindo a transcrição nos anais da Câmara de Curitiba dos artigos que
Souto Neto vem publicando na imprensa a respeito. Nesta semana ele foi ao Rio
de Janeiro lutar pela restauração da Capela Mayrink, a última lembrança
material de seu tetravô [trisavô], o Visconde de Souto, cujos ossos, esquecidos
no cemitério carioca, preocupam seu descendente paranaense.
*
*
Minha
carta ao Jornal do Brasil, agradecendo o apoio e fazendo novas denúncias:
Cemitério –
Ao início do ano em curso, em visita ao Cemitério do Catumbi (etc…) (…). O
JORNAL DO BRASIL foi o primeiro a apoiar a minha denúncia, mobilizando uma
equipe de repórteres para constatar, in loco, a situação da antiga
necrópole e publicando grande reportagem sobre o assunto, em sua edição de
7.4.1985. Seguiram-se manifestações de diversos outros órgãos de imprensa, e
até no Paraná e em São Paulo a situação repercutiu, ora provocando reportagens,
ora apresentando-se sob a forma de assunto para editoriais. Foram quatorze as
manifestações de jornais brasileiros, e todas elas encaminhei, junto à minha
denúncia, ao Ministro da Cultura, à SPHAN e a outras autoridades.
Ao
início do mês em curso estive no Rio, e fui recebido pelo arquiteto Dr. Umberto
Nápoli, da SPHAN, que me exibiu a espessa pasta contendo minha denúncia, que
deu início aos estudos visando ao tombamento do setor histórico do Cemitério do
Catumbi. Já estão no papel os planos de reurbanização, restauração e até
arborização da antiga necrópole; e assegurou-me o arquiteto que, num curso
período de tempo, o tombamento pela SPHAN será uma realidade. Causou-me
surpresa constatar que inexistia qualquer processo, na SPHAN, para o referido
tombamento, e que tal processo só se iniciou a partir da minha denúncia. Na
mesma ocasião iniciei novo processo visando à colocação de uma placa de bronze
no interior da Capela Mayrink (já tombada, e enriquecida neste século por
quatro painéis de Portinari) alusiva ao Visconde de Souto, que foi quem mandou
construir a linda capela em 1860 [na realidade, foi em 1850], na chácara de sua
propriedade, no coração da Floresta da Tijuca. Tal homenagem representará, no
mínimo, um desagravo da nossa imemorial Memória a um vulto histórico tão
rapidamente esquecido de nossos compêndios. O apoio que recebi se seu
prestigioso jornal foi fundamental para que a SPHAN se sensibilizasse com a
questão e encaminhasse os estudos em prol do tombamento com tanta determinação,
como vem fazendo (…) Dr. Francisco Souto Neto – Curitiba (PR).
*
Em
outubro de 1985 eu anuncio o lançamento do III SBAI – Salão Banestado de
Artistas Inéditos, e o jornalista Alcy Ramalho Filho, atencioso, faz quatro
publicações na sua coluna da Gazeta do Povo: em 30.10.1985, 5.11.1985,
9.11.1985 e 10.11.1985:
*
*
Meu
artigo “Evolução às avessas” no Todos Nós de novembro de 1985:
*
Duas
notícias sobre as inscrições do III SBAI: “Inscrições para o Salão Banestado”,
no Correio de Notícias, com foto de Octacilio Ribeiro da Silva e Francisco
Souto Neto, e “Salão Banestado deverá ter muitas inscrições”, no Jornal do
Estado, com foto de Francisco Souto Neto, Tadeu Petrin, Álvaro Borges, Osmar
Chromiec e Ennio Marques Ferreira. E ainda, comentário a Francisco Souto Neto
no jornal Todos Nós:
*
Meu
artigo “O elitismo na Arte Brasileira”, no Todos Nós:
*
David
Carneiro, agora apoiando Francisco Souto Neto, escreve na Veterana Verba de
26.11.1985: “Zacarias e a necrópole do Catumbi”. E em 24.12.1985, a Gazeta do
Povo publica foto de David Carneiro com Francisco Souto Neto:
VETERANA
VERBA – Zacarias e a necrópole do Catumbi – David Carneiro
Ao
[Do] jovem Souto Neto tive o gosto de receber um exemplar do número de junho de
“Todos Nós”, o jornal do Banco do Estado do Paraná.
Tive
a satisfação de ver que Francisco Souto Neto continua batalhando para salvar o
que ainda se possa salvar de veneráveis restos existentes no Cemitério do
Catumbi.
Tenho
a impressão de que aqueles despojos que ficaram a cargo da irmandade da Ordem
Terceira de S. Francisco de Paula (ordem religiosa essa que a ela própria se
denomina de “venerável”, mas que ao que parece nenhuma veneração merece, visto
que não cumpriu o mais elementar de seus deveres, qual fosse o de cuidar das
tumbas que estavam sob sua responsabilidade) estarão irremediavelmente
perdidos.
Para
que se tenha essa impressão deverei justificá-la:
No
Conselho Estadual de Cultura ficou decidido que nos esforçássemos por encontrar
no Cemitério do Catumbi os veneráveis restos do Conselheiro Zacarias de Goes e
Vasconcelos, para que pudéssemos trazê-los para o Paraná (cuja província, como
tal, foi por ele instalada), colocando esses sagrados despojos sob sua herma e
na praça que o homenageia [em Curitiba], lembrando-o.
O
relatório que o ilustre diretor do Museu Paranaense nos deu conhecimento foi de
molde a apagar as nossas esperanças, pois onde a família [do conselheiro
Zacarias] acreditava existirem apenas os seus ossos, mais de meia dúzia de
caveiras estavam depositadas, e os ossos correspondentes aos respectivos
esqueletos estavam espalhados pela tumba, que deveria ser da família, mas a
família está incapacitada de dizer porque e como tais ossadas ali estão.
Netos
e bisnetos do conselheiro que foram procurados no Rio de Janeiro consideraram
digno de aplauso o gesto do Paraná, mas aturdidos ante o desleixo e a
ignorância dos encarregados da Ordem Terceira de S. Francisco de Paula,
inclinaram-se a desistir da homenagem à memória do seu antepassado, enquanto
outros descendentes estão de acordo em que as pesquisas dos encarregados do
Museu Paranaense prossigam até que os veneráveis restos sejam encontrados
[identificados] e sejam trazidos para o Estado que teve Zacarias de Goes e
Vasconcelos como o seu primeiro presidente de Província.
A
descrição que Francisco Souto Neto nos havia feito do desleixo do Cemitério do
Catumbi foi que nos fez pensar em trazer para Curitiba os restos do Conselheiro
Zacarias, o que talvez não se consiga fazer, muito embora não tenhamos ainda
desistido.
Souto
Neto diz que no Catumbi estariam também o Marquês de Olinda, o Barão de
Mesquita, o conde de Bonfim, Teófilo Otoni, os barões de Maruim e muitos outros
titulares, conselheiros, senadores do Império, gente ilustre que pertence à
História e que como tal não poderia estar sujeita a uma afronta subjetiva dessa
espécie.
O
Sr. Souto diz que uma injúria dessas jamais ocorreria numa nação que se
pretenda civilizada, e com efeito assim o é.
De
D. Pedro I, de seu ilustre filho, do Duque de Caxias e da sra. Duquesa de
Caxias os restos estão ad aeternum preservados; mas por que Teófilo
Otoni e Araújo Lima (Olinda) não devem merecer o mesmo respeito?
Creio
que o Ministério da Cultura (se o titular tem consciência do que seu cargo
representa) deve tomar a peito esse assunto, além do mais porque é vergonha
nacional os cemitérios (sejam eles quais forem) não estarem sujeitos a
regulamentos que garantam a integridade, a conservação e a defesa de ossos
humanos, quando nos países civilizados os cães merecem esse respeito. E não é
somente isso.
Os
despojos do Marquês de Olinda mereceriam um Panteon, e no entanto jazem
abandonados no Catumbi, ao pé de uma favela cujos habitantes se divertem
profanando túmulos. Não é possível que os descendentes não tenham vergonha de
saber que o jazigo de seus ilustres antepassados está sujeito a tais
profanações.
Recentemente
apontamos situações semelhantes em Paranaguá, mas estamos certos de que, antes
do prazo ameaçador da Municipalidade daquela cidade litorânea, o Conselho
Cultural do Paraná, reunido, providencie para que tais afrontas às memórias
ilustres não se reproduzam.
É
certo que Mozart e Camões foram para a vala comum, o que não impede que ambos
tenham suas memórias mais vivas do que qualquer um dos que ainda objetivamente
estamos vivendo. Todavia isso de nenhuma forma seria justificável.
Nossa
obrigação é educar os vivos de maneira que considerem os ossos dos que entraram
construtivamente na história nacional fiquem resguardados dos insultos de
eventual ausência de civilização.
Ilustração
do recorte menor: David Carneiro e Francisco Souto Neto.
*
A
Folha de Curitiba (“III Salão Banestado”) e o Todos Nós (“Inscrições
abertas para o III Salão Banestado”):
*
A
Gazeta do Povo (“III Salão Banestado divulga classificados”), a Folha de
Curitiba (“Classificados para o Salão Banestado”) e Wilde Martini (“O III Salão
Banestado de Artistas Inéditos”) dão os nomes dos classificados para o Salão
que abriria em janeiro do próximo ano. E o ano termina com uma nota de Alcy
Ramalho Filho (na Gazeta do Povo de 30.12.1985) com um elogio ao meu trabalho
no Banestado:
Os
jornais noticiam os aprovados no III SBAI – Salão Banestado de Artistas
Inéditos (evento que foi inaugurado nos primeiros dias do ano seguinte, quando
foram revelados os nomes dos vencedores do certame). A comissão julgadora
composta por Osmar Chromiec, Ennio Marques Ferreira e Álvaro Borges selecionou
os artistas: Almir Correia, Anita S. Tadim, Antônio F. de Almeida, Antonio
Ziothovski, Anilce B. R. Goreski, Aristide Brodeschi, Arlene Senegaglia, Ayrton
Hecke, Carmen C. Rigon, Catarina C. Santos, Catarina de Castro Caputo, Celso
Fernandes Ribeiro, Cristiane Lopes, Dalva Lobo, Donizethe A. Barbosa, Edgard
Cliquet, Edilson C. Viriato, Estela B. Peres, Eunice R. Bohn, Gladys L. S. Bittencourt,
Heloísa B. Vargas, Horandina F. Ferro, Ignácio V. de Araújo, Ivan A.
Anzuategui, Izabel M. Takahira, Jandira Chagas Martini, Janete B. de Oliveira,
Jaqueline Ballani, João Gutierrez Neto, José O. Kuster, José M. Pupulim, Julian
C. Fogotti, Julieta Grudig Stern, Kision Ebinger, Latif Salim, Lori V. de
Souza, Lourdes M. M. de Albuquerque, Luíza F. Bartz, Luís Carlos Dalla Vecchia,
Luiz José Maia, Mara C. Lau, Márcio S. Neves, Maria D. Barbosa, Maria de Júlio,
Maria Tereza C. Abagge, Maria Yunes P. Franco, Marins Delabona, Marisa Stedile,
Mariza P. Pauluk, Marly Carrati Torrens, Niti Tsuneta, Neida Peil de Oliveira,
Neide de Mello Lopes, Neuza França de Almeida, Nilza A. B. Errerias, Nilza K.
Procopiak, Odila S. Valim, Ofil de M. C. Vidal, Oswaldo F. Dias, Paulo José
Skroch, Regina C. Negrinho, Reini Von Der Osten Armellini, Rosália V. Gondim,
Rosânia R. de Almeida, Sarah M. Guarnieri, Stella H. de Barros, Suely T. B.
Baccaro, Tadashi Ikoma, Valdete P. Machado, Velcy Grandó, Vilce P. B. Camargo,
Yeda Grudzien.
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MATINHOS
E GUARATUBA
Abaixo, quatro páginas do
álbum mostrando o passeio que eu e Rubens Faria Gonçalves fizemos a Matinhos
para escalarmos o que chamamos de “O Morro de Matinhos”. Não foi exatamente uma
escalada, mas uma subida cheia de obstáculos naturais
O 3º SALÃO BANESTADO DE ARTISTAS INÉDITOS.
Para
comporem a comissão julgadora do 3º SBAI – Salão Banestado de Artistas
Inéditos a ser realizado em 1986, convidei os artistas plásticos Ennio Marques Ferreira, Álvaro Borges
e Osmar Chromiec.
Em janeiro do ano seguinte
ocorreu a inauguração do 3º SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos com
maciça divulgação pela imprensa falada, escrita e televisionado. A partir de 1986
minha vida tanto profissional quanto social, ou pessoal, passa a ser contada
através da imprensa.
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SETE
FOTOGRAFIAS SIGNIFICATIVAS DE 1985
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2 de setembro de 2023:
80 ANOS ESTA NOITE
CONTINUA NA
PARTE 8
O ANO DE 1986
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