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2
de setembro de 2023:
80 ANOS ESTA NOITE
PARTE 8
RECORDANDO
O ANO DE 1986
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ANO EM QUE SALVEI DA DESTRUIÇÃO VALIOSAS TELAS DE THEODORO DE BONA
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O
ANO DE 1986
Em 1986 colecionei exatamente 90 recortes de jornais que se referem a mim, ou às minhas atividades. Algumas páginas de meus álbuns de fotografias completam esse quadro ilustrando um pouco da minha trajetória naquele ano.
Daqui em diante as minhas atividades profissionais e sociais serão narradas através de recortes de jornais e revistas, que estão colados nas páginas de meus álbuns de fotografias.
Francisco Souto Neto
Os
registros do ano de 1986 começam com o detalhe do grande cartaz do 3º SBAI –
Salão Banestado de Artistas Inéditos, que foi inaugurado no dia 6 de janeiro:
*
Jornais
anunciam a abertura do 3º Salão Banestado. No primeiro recorte da página de
álbum, abaixo, foto com legenda: “Octacílio Ribeiro da Silva, diretor do
Banestado, e Francisco Souto Neto, criador do SBAI”. No segundo recorte, a
mesma fotografia. No quarto recorte, foto pequena mostrando Tadeu Petrin e
Francisco Souto Neto, com os três membros da comissão julgadora do III SBAI:
Ennio Marques Ferreira, Álvaro Borges e Osmar Chromiec:
Jornal
do Estado – 5.1.1986
Exposições
– Banestado lança Artistas Inéditos
O
III Salão Banestado de Artistas Inéditos – SBAI, será inaugurado amanhã, dia 6,
às 19 horas, pelo novo presidente do Conglomerado Financeiro Banestado, Nicolau
Elias Abagge, na Galeria de Arte Poupança Banestado, à Rua Marechal Deodoro,
333. Durante as solenidades de abertura, serão divulgados os nomes dos três
grandes vencedores, e entregues os prêmios em espécie, oferecidos pelo
Banestado, e as menções especiais, aos concorrentes que tiveram as suas
obras apreciadas pela Comissão Julgadora, composta pelos artistas plásticos
Álvaro Borges, Ennio Marques Ferreira e Osmar Chromiec.
Foram
inscritas 228 obras, nos Estados em que o Banestado tem agências, além do
Distrito Federal. Porém as 95 obras selecionadas pela Comissão Julgadora são
todas do Paraná. Francisco Souto Neto, assessor da diretoria do Banestado,
criou o SBAI em 1993 em companhia de Tadeu Petrin. “Chegamos ao III SBAI com a
certeza da consecução dos nossos objetivos, já que ao criá-lo por puro
diletantismo, vínhamos movidos pelo propósito de abrir um novo espaço, sem fins
lucrativos, onde os artistas plásticos principiantes pudessem expor suas obras,
dando ao público a sua arte. A inauguração do III Salão Banestado de Artistas
Inéditos corresponde à sedimentação de um acontecimento que já ganhou tradição
nos meios culturais do País, e que alcança a meta de despertar o potencial
criativo dos artistas plásticos em estágio de desenvolvimento, promovendo-os e
premiando a sua criatividade”, declarou Souto Neto. O cartaz da exposição deste
ano foi criado por um dos classificados do ano passado, Devanir Massami
Tominaga. As obras do III SBAI estão à venda e permanecerão expostas até o dia
24 de janeiro.
O
SBAI foi proposto à diretoria por Octacílio Ribeiro da Silva, diretor de
Crédito Rural e Industrial do Banestado, e aprovado pelo ex-presidente José
Carlos Campos Hildalgo, atual Secretário de Estado da Indústria e do Comércio.
*
Abaixo,
cinco recortes de jornais que anunciam a abertura do III SBAI. O recorte maior
é ilustrado com foto de Jandira Chagas Martini, grande vencedora do certame,
ladeada por Francisco Souto Neto e Tadeu Petrin. O recorte menor é ilustrado
com foto de Tadeu Petrin e Francisco Souto Neto:
*
O
catálogo do III SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos:
*
No
dia 6 de janeiro, faço a abertura das solenidades de inauguração do III SBAI –
Salão Banestado de Artistas Inéditos. Na primeira foto, aparecem: José Tarcizo
Falcão (diretor do Banestado), Nicolau Elias Abagge (presidente do Banestado),
Octacílio Ribeiro da Silva (diretor do Banestado), Francisco Souto Neto
(assessor de diretor e assessor para assuntos de cultura do Banestado),
Christóvam Soares Cavalcante (presidente da Banestado Crédito Imobiliário),
Tadeu Petrin (do Marketing do Banestado) e Vera Munhoz da Rocha Marques
(gerente da Galeria de Arte Banestado). As sete páginas seguintes são
auto-explicativas:
*
Duas
notícias após a inauguração do III SBAI:
Artistas
classificados para o III Salão Banestado
A
comissão julgadora composta por Osmar Chromiec, Ennio Marques Ferreira e Álvaro
Borges selecionou os artistas: Almir Correia, Anita S.Tadim, Antônio F. de
Almeida, Antonio Ziothovski, Anilce B. R. Goreski, Aristide Brodeschi, Arlene
Senegaglia, Ayrton Hecke, Carmen C. Rigon, Catarina C. Santos, Catarina de
Castro Caputo, Celso Fernandes Ribeiro, Cristiane Lopes, Dalva Lobo, Donizethe
A. Barbosa, Edgard Cliquet, Edilson C. Viriato, Estela B. Peres, Eunice R.
Bohn, Gladys L. S. Bittencourt, Heloísa B. Vargas, Horandina F. Ferro, Ignácio
V. de Araújo, Ivan A. Anzuategui, Izabel M. Takahira, Jandira Chagas Martini,
Janete B. de Oliveira, Jaqueline Ballani, João Gutierrez Neto, José O. Kuster,
José M. Pupulim, Julian C. Fagotti, Julieta Grudig Stern, Kision Ebinger, Latif
Salim, Lori V. de Souza, Lourdes M. M. de Albuquerque, Luíza F. Bartz, Luís
Carlos Dalla Vecchia, Luiz José Maia, Mara C. Lau, Márcio S. Neves, Maria D.
Barbosa, Maria de Júlio, Maria Tereza C. Abagge, Maria Yunes P. Franco, Marins
Delabona, Marisa Stedile, Mariza P. Pauluk, Marly Carrati Torrens, Niti
Tsuneta, Neida Peil de Oliveira, Neide de Mello Lopes, Neuza França de Almeida,
Nilza A. B. Errerias, Nilza K. Procopiak, Odila S. Valim, Ofil de M. C. Vidal,
Oswaldo F. Dias, Paulo José Skroch, Regina C. Negrinho, Reini Von Der Osten
Armellini, Rosália V. Gondim, Rosânia R. de Almeida, Sarah M. Guarnieri, Stella
H. de Barros, Suely T. B. Baccaro, Tadashi Ikoma, Valdete P. Machado, Velcy
Grandó, Vilce P. B. Camargo, Yeda Grudzien.
*
Três
notícias após a inauguração do III SBAI. Na primeira delas, aparecem na foto:
Vera Munhoz da Rocha Marques, Tadeu Petrin, Christóvam Soares Cavalcante,
Francisco Souto Neto, Nicolau Elias Abagge e José Tarcizo Falcão:
Diário
Popular – 9.1.1986
Salão
Banestado de Artistas
Foi
inaugurado o III Salão Banestado de Artistas Inéditos – SBAI pelo presidente do
Conglomerado Financeiro Banestado, Nicolau Elias Abagge, na presença de mais de
500 convidados. Iniciando as solenidades das premiações, Francisco Souto Neto,
assessor de Diretor do Banestado e mestre-de-cerimônias da noite, em companhia
de Tadeu Petrin, ambos fundadores do SBAI, convidou algumas das autoridades
presentes [para comporem] a tribuna, que foi formada por Octacílio Ribeiro da
Silva e Tarciso Falcão, diretores do Banestado, pelo deputado federal Léo de
Almeida Neves, por Christóvam Cavalcante, presidente da BCI, por Vera Munhoz da
Rocha Marques, gerente da Galeria Banestado, e presidida por Nicolau Abagge.
Após
Octacílio Ribeiro proferir o discurso oficial, Souto Neto anunciou os nomes dos
grandes vencedores do certame, cujos prêmios foram entregues pelos componentes
da tribuna.
O
1º lugar coube a Jandira Chagas Martini, o 2º a Maria Lúcia de Júlio, e o 3º a
Paulo José Sckroch. Foram concedidas menções especiais para Edilson de Carvalho
Viriato, Aristides Brodeschi, Mariza Pereira Pauluk, Neida Peil de Oliveira,
Almir Correia e João Gutierrez Netto.
Souto
Neto e Tadeu Petrin projetaram o SBAI sem fins lucrativos, com o objetivo de
abrir um novo espaço para os artistas plásticos em estágio de desenvolvimento,
e de promover, premiar e apoiar a sua criatividade.
O
SBAI estará aberto ao público até 24 do corrente, na Galeria de Arte Poupança
Banestado, à Rua Marechal Deodoro, 333, nesta capital, em horário comercial.
*
Quatro
notícias publicadas sobre o Salão Banestado. A primeira delas, mostra Francisco
Souto Neto abrindo o III SBAI. Na segunda notícia, da coluna “Divulgando”, de
Renato Toniolo, a fotografia leva a seguinte legenda: “Jandira Chagas
Martini, 1º prêmio do Salão Banestado de Artistas Inéditos, ladeada pelos
organizadoras da mostra, Francisco Souto Neto e Tadeu Petrin. Foto Grandó”. A
terceira notícia tem na sua fotografia a seguinte legenda: “Tadeu Petrin e
Francisco Souto Neto, criadores do Salão Banestado de Artistas Plásticos, com a
comissão julgadora do III SBAI: Ennio Marques Ferreira, Álvaro Borges e Osmar Chromiec,
consagrados artistas plásticos de renome nacional e internacional”. A
legenda da foto estampada no quarto recorte, diz: “Segue com invulgar
sucesso a visitação ao III Salão Banestado de Artistas Inéditos, que conferiu o
1º prêmio a Jandira Martini, que é vista na foto com Rubens Faria Gonçalves
(prêmio no I SBAI), Francisco Souto Neto (organizador do evento) e Edilson
Viriato (menção especial do júri do III SBAI)”:
*
Mais
três notícias após a inauguração do III SBAI. Na primeira delas, Francisco
Souto Neto fazendo a abertura do evento, com a legenda: “Presidente,
diretores do Banestado e os criadores do Salão”.
*
Mais três notícias sobre o 3º SBAI:
*
Mais
duas notícias sobre o 3º SBAI:
*
Duas últimas notícias sobre o 3º SBAI, e a terceira, de Alcy Ramalho Filho, na Gazeta do Povo de 1º.3.1986, notícia repetida, que diz: “Francis Sotto Netto [Francisco Souto Neto], assessor da Diretoria do Banestado, Henriqueta Brieba, Yara Amaral e a Sra. Edith Barbosa Souto,que foi anfitriã das duas atrizes, quando da sua última estada em Curitiba”.
*
Meu
artigo no Opção Cultural: “A inacessibilidade da arte brasileira”
*
Meu
artigo no Todos Nós: “O pequeno universo do fantástico ou o corvo de Eiseley”:
O
pequeno universo do fantástico ou o corvo de Eiseley
Em
“O Despertar dos Mágicos”, livro de Louis Pauwels e Jacques Bergier, o
antropólogo americano Loren Eiseley conta a seguinte história: “Descobrir
outro mundo, não é apenas um fato imaginário. Pode acontecer aos homens. Aos
animais também. Por vezes, as fronteiras resvalam ou interpenetram-se: basta
estar presente nesse momento. Vi o fato acontecer a um corvo. Esse corvo é meu
vizinho: nunca lhe fiz mal algum, mas ele tem o cuidado de se conservar no cimo
das árvores, de voar alto e de evitar a humanidade. O seu mundo principia onde
minha vista acaba. Ora, uma manhã, os nossos campos estavam mergulhados num
nevoeiro extraordinariamente espesso, e eu me dirigia às apalpadelas para a
estação. Bruscamente, à altura dos meus olhos, surgiram duas asas negras, imensas,
precedidas por um bico gigantesco, e tudo isso passou como um raio, soltando um
grito de terror tal que eu faço votos para que nunca mais ouça coisa
semelhante. Esse grito perseguiu-me durante toda a tarde. Cheguei a consultar o
espelho, perguntando a mim próprio o que teria eu de tão revoltante… Acabei por
perceber. A fronteira entre os nossos dois mundos resvalara, devido ao
nevoeiro. Aquele corvo, que supunha voar à altitude habitual, vira de súbito um
espetáculo espantoso, contrário, para ele, às leis da natureza. Vira um homem
caminhar no espaço, bem no centro do mundo dos corvos. Deparara com a
manifestação de estranheza mais completa que um corvo pode conceber; um homem
voador… Agora, quando me vê, lá do alto, solta pequenos gritos, e reconheço
nesses gritos a incerteza de um espírito cujo universo foi abalado. Já não é,
nunca mais será como os outros corvos…” – Francisco Souto Neto (Dcrer).
*
Uma
notícia num jornal de Cascavel, com legenda errada, sobre o 3º SBAI, mostrando
Jandira Martini entre Octacilio Ribeiro da Silva e Francisco Souto Neto:
*
Meu
artigo no Opção Cultural sobre Rubens Aparecido Gennaro, “Um novo desenhista,
dos bons”:
Um
novo desenhista, dos bons – por Francisco Souto Neto
Rubens
Aparecido Gennaro nasceu em Martinópolis, em 29.9.1958. É o mais novo da
família, com dez anos de diferença do irmão Cirton Gennaro, artista plástico
muito conhecido no eixo Rio-São Paulo.
Autodidata,
cresceu vendo o irmão desenhar e, através deste, esteve sempre muito envolvido
com o mundo artístico.
Seu
avô foi prefeito da cidade onde nasceu, de modo que o assunto política influiu,
desde cedo, no seu processo de criação. Diz ele que seu primeiro desenho já foi
sobre política.
Gennaro
estuda Arquitetura e reside na CELU – Casa do Estudante Luterano Universitário.
Desenha como hobby, mas já fez logotipos para políticos e criou os visuais para
algumas campanhas. Dedica-se também, com muita propriedade, à caricatura.
Legenda:
Genaro, o desenhista desta página. Na caricatura “Fênix”, Jânio Quadros.
*
Leite
racionado em Curitiba… e minha mãe aparece na fila do leite:
*
Acontecimento memorável: eu e Gil praticamos, em minha casa, uma “desobediência civil”: o Gil consegue uma cópia do filme de Goddard proibido pela censura, “Je vous Salut Marie”, e convidamos várias pessoas para virem assistir, dentre eles Marilene e Aramis Millarch, e Regina e Robert Jan Bowles:
O episódio da exibição de “Je vous Salut Marie” vai descrito no prefácio que escrevi para o livro da autoria de José Gil de Almeida, História do Movimento Cineclubista Paranaense, que pode ser lido neste endereço:
http://fsoutoneto.blogspot.com/2011/12/livro-historia-do-movimento.html
Convidados
para ver “Je vous Salut Marie”: Marilene (com Gil) e eu com Aramis Millarch. As
duas fotos abaixo, são de telas de Rubens Faria Gonçalves, que fazem parte da
coletiva tratada na próxima ilustração:
*
Alguns
comentários sobre a obra de Rubens Faria Gonçalves em exposição na coletiva do
Teatro Guaíra em maio de 1986:
RUBENS
FARIA GONÇALVES
Só
agora Rubens Gonçalves está começando a expor; entretanto, há muito tempo
acompanho a silenciosa evolução do processo criativo desse artista plástico.
Autodidata, desde a infância já era íntimo dos pincéis e tintas. A princípio
adotando a técnica de óleo sobre tela, com a passagem do tempo inclinou-se às
técnicas mistas, com preferência pelas tintas acrílicas. As mulheres, presença
constante em sua obra, ao longo do tempo foram adquirindo uma expressão toda
própria, tornando-se cada vez mais estilizadas e, com isso, ganhando forte
personalidade.
Traços
decididos, ora com o tubo de tinta direto sobre a superfície de cartão ou tela,
ora com pinceladas vigorosas, suas mulheres, absolutamente autênticas e sem
similares, compõem um universo onde o brilho se contrapõe às sombras de grandes
contrastes de tons, alinhavados de riscos de cores fortes e luminosas. O
resultado transporta o observador para uma dimensão de mistério e indagações,
para um mundo de extraordinária poesia e fascínio.
As
criações de Rubens Faria Gonçalves se multiplicavam em seu estúdio, e lá
permaneciam sem sair dos limites daquelas paredes, exceto quando admiradas e
ambicionadas por amigos do artista, a eles eram presenteadas.
Rubens
Gonçalves começa agora a expor seus trabalhos. E começa dando ao público uma
obra que é fruto de longo processo evolutivo e que lhe chega já adulta,
atestando claramente o crescendo de talento de um artista que, muito em breve,
haverá de contar com o reconhecimento dos verdadeiros apreciadores de arte.
Curitiba,
maio de 1986.
Francisco
Souto Neto,
Criador
do Salão Banestado de Artistas Inéditos.
*
Em
julho de 1986, Rubens Faria Gonçalves realiza mais uma exposição, desta vez na
sede da Fundação Cultural de Curitiba. Ele me convidou a assinar o catálogo da
exposição. As fotos do catálogo e de amigos e parentes que compareceram à
inauguração, bem como sua entrevista para a televisão, estão nas cinco páginas
de álbum fotográfico, adiante:
O
meu texto de apresentação à exposição de Rubens Faria Gonçalves na sede da
Fundação Cultural de Curitiba:
O
UNIVERSO PICTÓRICO DE RUBENS FARIA GONÇALVES
Acompanhei o trabalho silencioso de Rubens Faria Gonçalves ao longo do tempo.
Silencioso, porque Rubens criava para satisfazer a sua necessidade íntima de
uma busca estética através da manifestação pictórica baseada em pesquisa e
seriedade, e os seus trabalhos não eram exibidos senão a uns raros amigos que
frequentavam seu estúdio. Realmente, ele não expressava a necessidade de mostrar
a sua obra, nem com ela competir em certames artísticos.
Fomos
nós, uns poucos amigos, que conseguimos convencê-lo a começar a dar a público a
sua arte. E ele iniciou, quase timidamente, expondo no I SBAI – Salão Banestado
de Artistas Inéditos, quando foi premiado pela comissão julgadora daquele
certame, composta dos renomados artistas plásticos Mazé Mendes, Alberto Massuda
e Jair Mendes.
No
estúdio do artista, nas ocasiões em que vi a superfície branca ser cingida
pelos tons fortes e a espátula espargindo cores que os pincéis alinhavam, houve
sempre um som ao fundo, fosse no cristal da voz de Elis Regina, na cadência
maravilhosa de Billie Holiday, ou na rouquidão cheia de indagações e
sensualidade de Marlene Dietrich, ou ainda em árias conhecidas interpretadas
por Maria Callas. Dessa amálgama, das mãos do artista que se movem ao som dos
amplificadores e que se mancham das cores fortes que usa, nascem as figuras
humanas, enigmáticas, às vezes etéreas, os braços das misteriosas mulheres que
abarcam os limites da tela, e as expressões dos rostos, tudo isso na composição
de um universo que não procuro entender, nem decifrar. A mim, basta sentir a
profunda impressão que me causa a sua pintura, e a emoção do resultado estético
advindo do fecundo momento mágico em que o nascimento de uma obra de arte, dum
artista autêntico, se completa.
Convidados
na exposição de Rubens Faria Gonçalves:
Rubens
Faria Gonçalves sendo entrevistado pela televisão:
Convidados
na exposição de Rubens Faria Gonçalves:
Os
jornais referem-se à exposição de Rubens Faria Gonçalves, algumas vezes
transcrevendo o meu texto na íntegra, ou em partes. Abaixo, recortes de quatro
diferentes jornais:
Seis
recortes de jornais, a respeito da exposição de Rubens Faria Gonçalves:
Abaixo, recorte de um jornal (não está identificado) sobre a exposição do Rubens Gonçalves, com o meu texto de apresentação à mostra:
Encerrando
a exposição de Rubens Faria Gonçalves na Fundação Cultural de Curitiba, com uma
foto do artista sendo entrevistado pelo Canal 4:
*
Minhas
crônicas “Rizzo, revelação nas artes plásticas”, e “Marília Pera e os cambistas
do Guaíra, ou O dia em que não revi Marília Pera”:
Minha crônica no Opção Cultural, “Motorista brasileiro,
*
Comentava-se
no Banestado que existiam telas de De Bona que estariam “perdidas” em algum
lugar não sabido. Após meses de pesquisas e procuras, as telas foram
encontradas por Otto Florentino, funcionário da CEAD. Estavam danificadas,
algumas furadas, as molduras quebradas. Obtive permissão para mandar
restaurá-las. De Bona retratava os primeiros presidentes do Banestado. O
segundo presidente tinha sido David Carneiro. Enviei a ele – o historiador e
museólogo David Carneiro – as fotografias do achado, que então publicou em
Veterana Verba, na Gazeta do Povo de 2.9.1985, a crônica “Telas salvas e a
Fundação Cultural”, onde ele conta a essa história, através da minha própria
narrativa. Observar, nas duas fotos ao lado do recorte de jornal, os retratos
dos dois primeiros presidentes do Banestado, e os detalhes de alguns pequenos
furos nas telas, bem como a moldura de uma delas quebrada:
VETERANA
VERBA – Telas salvas e a Fundação Cultural – David Carneiro
Do
amigo Souto Neto, agente cultural ativíssimo do Banestado, recebi um cartão em
que me dizia: “Conforme havia prometido, junto a fotografia do senhor retratado
pelo De Bona. Tela e moldura estão sendo restauradas. Para seu conhecimento
estou anexando cópia do texto a ser publicado na próxima edição do ‘Todos Nós’
contendo meu depoimento sobre o achado das oito obras do mestre De Bona. Abraço
do Souto Neto”.
A
pequena história do achado das telas de De Bona, diz: “Ao tomarmos conhecimento
de que Francisco Souto Neto, assessor da Diral, tinha conseguido incorporar
oito telas de Theodoro De Bona ao acervo do futuro Museu Banestado,
procuramo-lo pra saber dos pormenores desse achado de grande importância, não
apenas para o Banestado – pois estão ali retratados os oito primeiros
presidentes da Casa – mas também em termos de toda a comunidade que terá acesso
aos mesmos, após inauguração do museu, programada para o final do ano.
Mestres
da pintura, como Andersen e De Bona, dentre outros, têm a mesma importância
para a história das artes plásticas do Paraná, quanto por exemplo Portinari e
Di Cavalcanti (para citar apenas dois) para o Brasil.
Compreende-se
pois, o entusiasmo do colega Souto, nomeado Presidente da Comissão de
implantação do Museu Banestado, ao dar inicio ao acervo com peças de tão alto valor
para o mercado de arte e inestimáveis para o Banestado, e de quem colhemos o
depoimento que reproduzimos a seguir”.
Retrospecto: “Os
oito quadros de De Bona foram feitos nos anos 40 e ainda não conseguimos
identificar quem os tenha encomendado. Devem ter permanecido cerca de duas
décadas, aproximadamente, nas paredes da presidência do Banestado de onde foram
retirados e levados à casa de máquinas dos elevadores do edifício da Rua
Monsenhor Celso, que durante muitos anos abrigou a diretoria e alguns órgãos da
direção geral. Possivelmente ao final de alguma gestão, talvez por
transferência ou aposentadoria de funcionários (que tivessem conhecimento de
tais obras) ficaram elas abandonadas à própria sorte. Tratadas naquele tempo
como entulho, devem ter servido de base para caixotes, a julgar pelos danos
causados às telas, algumas rasgadas.
Por
ocasião da inauguração do Centro Administrativo Banestado a 24/XI/1973 os
diversos setores foram sendo transferidos do centro da cidade para Santa
Cândida. Providencialmente, as oito telas também foram, acondicionadas em
grande caixa de papelão.
Entretanto
ninguém delas sabia oficialmente. Havia uma espécie de lenda a respeito de
quadros valiosos esquecidos em algum ponto ignoto da Direção Geral do
Banestado. Aliás, ao fazer as proposição através do Dr. Octacílio Ribeiro à
presidência do Banestado com vistas à criação do Museu Banestado, Souto Neto
mencionou essas telas”.
O
achado: “No princípio do ano em curso, Tadeu Petrin do
Depub foi encarregado da pesquisa, mas sem resultado. A 12/VI/1986 um
funcionário da Cead, Otto Florentino, mexendo em velhas caixas encontrou as
oito telas que, identificadas, foi o fato comunicado ao Dr. Reis que se dispôs
a salvá-las, iniciando o acervo do Museu.
Os
trabalhos de restauro estão entregues a Dª Maria Ester Teixeira Cruz que os
realiza no Solar do Barão. Chassis serão substituídos, reentelamento, limpeza e
retoques indispensáveis à salvação das telas, tudo será executado em cerca de
noventa dias”.
Como
se vê ainda não há na generalidade das pessoas o conhecimento indispensável
para que a riqueza artística e documental seja devidamente tratada, quando ela
existe.
Felizmente,
porém, há também entusiastas de primorosa formação que tratam de salvar o que
existe, quando têm conhecimento da existência concreta desse material, e usam a
sua força para a realização do que lhes parece seu dever.
O
Banestado está de parabéns. Vai iniciar o processo de fundação de sua “Fundação
Cultural” que iniciará seus trabalhos pela restauração da fortaleza da barra de
Paranaguá, sem a qual possivelmente o próprio Paraná não teria existência,
conforme mostro no meu livro sobre Afonso Botelho de S. Payo e Souza,
construtor da mesma entre 1767 e 1770.
Parece-nos
da maior importância a Fundação Cultural do Banestado, visto que não se pode
relegar a segundo plano o pouco que possuímos de história, documentando a
contribuição paranaense para a História do Brasil, e que é da maior importância
em todos os sentidos.
*
Em setembro ainda repercute o III SBAI:
Brilha
o atelier do Círculo Militar em Pernambuco e nos Estados Unidos – Wilde
Martini.
(…)
Incentivada também por Adalice Araújo (um dos críticos de arte mais honestos de
que se tem notícia no Paraná), que prognosticou novos sucessos [a Jandira
Martini] após o prêmio do III SBAI, tem agora confirmada a sua previsão, também
feita por Francisco Souto Neto, criador e coordenador do SBAI, o primeiro a
adquirir um trabalho de Jandira. (…)
Quatro
notícias de Alcy Ramalho Filho, na Gazeta do Povo, uma de agosto e as três
outras de setembro de 1986:
Artespaço
(Alcy Ramalho Filho) de 29.8.1986: “Recebendo convite
de Francisco Souto Neto em nome do Comitê Cultural Pró Álvaro Dias, o
arqueólogo Galvão Figueirim. Virá a Curitiba proferir palestra sobre o
tombamento de Paranaguá” (…)
Destaques
(Alcy Ramalho Filho) de 2.9.1986: “A dedicação de
Francisco Souto Neto, assessor do diretor de Crédito Rural do Banestado, que
assume com força total o setor de Patrimônio Histórico do Comitê Cultural
Pró-Álvaro Dias”.
Evento
(Alcy Ramalho Filho) de 13.9.1986: “Em trânsito por
Curitiba, Carlos Kroeber é recebido por Francisco Souto Neto, um dos
coordenadores do Comitê Cultural Álvaro Dias. O ator Carlão, como os amigos o
chamam, é um dos destaques da novela “Roda de Fogo”. (Foto repetida).
Artespaço
(Alcy Ramalho Filho) de 18.9.1986: “Do Rio aporta cartão de
Francisco Souto Neto que conta da temporada do ator Carlos Kroeber no Teatro
João Caetano, e de suas reuniões na Secretaria do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional. Souto é coordenador do setor de patrimônio do Comitê Álvaro
Dias.
*
Volto ao Rio de Janeiro em setembro de 1986, e contrato um marmorista para refazer o túmulo do Visconde de Souto no Cemitério de Catumbi, e também para restaurar a lápide original, a única peça que pôde ser salva da depredação do setor histórico da necrópole.
As próximas oito páginas do álbum de fotografias contêm
legendas que são auto-explicativas.
*
Por duas vezes Aramis Millarch refere-se, neste ano, ao assunto do Cemitério do Catumbi, nas matérias “Visconde de Souto e os ossos de sua família” (em 12.7.1986) e “Souto busca a nobreza e descobre as telas” (em 3.11.1986). Abaixo, estão as duas matérias lado a lado, que poderão ser lidas no original. Imediatamente após a ilustração, ambas as matérias estão integralmente transcritas. A primeira delas recebeu, na sua origem como matéria digitalizada (o link TABLOIDE digital), um complemento feito por mim em 27.8.2010, com algumas retificações e explicações, que vão também transcritas abaixo. Poderão igualmente ser consultadas em
http://www.millarch.org/artigo/visconde-souto-os-ossos-de-sua-familia , especificamente, ou em
http://www.millarch.org/taxonomy_vtn/term/682020 , genericamente:
Visconde
[de] Souto e os ossos de sua família – Tabloide – Aramis Millarch – O Estado do
Paraná – 12.7.1986.
Talvez
em breve o advogado Francisco Souto Neto, colecionador de artes plásticas
e que vem procurando desenvolver vários projetos culturais (Salão de Novos;
Museu do Banestado. etc.), possa acrescentar em seu bem cuidado
cartão-de-visitas o título de Visconde de Souto. Para tanto, um envelope foi
encaminhado ao sr. Manuel Sebastião Dauen e Lorena, Marquês de Pombal,
presidente do Conselho de Nobreza, em Lisboa, Portugal – com elementos
informativos sobre sua árvore genealógica e, também, denúncias sobre “os
descalabros que envolvem a memória de alguns dos mais fiéis súditos de Suas
Altezas Reais, os antigos soberanos portugueses” – no Cemitério de Catumbí, no
Rio de Janeiro. Inclusive, cópia desta documentação foi enviada também a Dom
Duarte-Pio-João-Miguel-Gabriel-Rafael de Bragança, Duque de Bragança, herdeiro
do trono de Portugal. xxx Tudo começou quando Francisco Souto Neto visitando o
Cemitério de Catumbí, em janeiro de 1985, deparou com os túmulos de seus
ancestrais – incluindo o Visconde de Souto (o banqueiro português Antonio José
Alves Souto, 1813-1880) e os seus trisavós, Visconde de Souto e a Viscondessa
Maria Jacinta de Freitas Souto (1810-1885), num “quadro de horror” – como
descreve. O cemitério coberto por denso matagal, túmulos destruídos, lixo
jogado no local etc. – tudo próximo a favela do Catumbí, “que avançara com
barracos erguidos sobre os túmulos mais antigos”. Organizado e disposto a
denunciar à opinião pública o abandono do cemitério do Catumbí – onde repousam
os restos de muitos vultos da história de Portugal e do Brasil – Francisco
Souto Neto iniciou uma série de contatos com autoridades – dando, ao mesmo
tempo divulgação inclusive através de publicações nacionais) do abandono
do cemitério. Até ao então ministro da Cultura, Aluízio Pimenta, Souto
Neto fez chegar os seus protestos – apelando para a restauração do cemitério.
Mas, apesar de sua luta, nada foi feito e, em dezembro último, verificou que o
túmulo da família Souto havia desabado inteiramente, “transformando-se em
escombros de mármore”. xxx Embrenhando-se no cipoal nobiliárquico histórico
para fundamentar suas preocupações com o abandono dos túmulos de seus
antepassados, Francisco Souto Neto acabou tornando-se amigo do arqueólogo
Roberto de Aquinolordy (que há anos busca tesouros de um navio pirata, afundado
na baía de Paranaguá), presidente da Sociedade Brasileira de Heráldica e
Medalhística – que o animou em suas pesquisas. Reforçado pelo apoio do sr.
Augusto Benedito Galvão Bueno Trigueirinho, presidente do Instituto Genealógico
Brasileiro, Souto Neto dirigiu-se agora ao Marquês de Pombal (o sétimo,
descendente direto daquele que expulsou os Jesuítas do Brasil), que preside o
Conselho de Nobreza de Portugal. Como o pai de Francisco, o jornalista Arary
Souto (1908-1963), era primogênito [segundogênito, porém,”primogênito
varão”] de sua geração, descendente, numa linhagem direta de primogênitos
varões, do Visconde de Souto, e sendo Francisco o filho mais velho [vide “Após
um quarto de século…“, abaixo], tornou-se legítima sua aspiração a herdar o
título de Visconde. Um título que – diz o pretendente – é valioso, já que em
Portugal, ao contrário do que ocorre em outros países (Alemanha, Itália etc.),
os mesmos não podem serem comprados – e só são concedidos aos legítimos
herdeiros, através de muitas provas e registros no Arquivo Nacional da Torre do
Tombo. Assim, ao mesmo tempo que deseja regularizar a cessão do título de
Visconde, Francisco Souto Neto busca, também, idealisticamente, com esta
distinção, tornar mais fácil o trabalho na área cultural, ao qual pretende se
dedicar, em tempo integral, tão logo aposente-se de suas funções bancárias.
- Complemento à matéria acima, com explicações e retificações, feitas por Francisco Souto Neto ao Tabloide digital em 27.8.2010:
Título: Após
um quarto de século…, enviado por Francisco Souto Neto em 27/08/2010
– 09:28.
Desde
a publicação do artigo ao alto, já se passaram mais de 24 anos, quase um quarto
de século. Entretanto, recentemente ocorreram novos fatos envolvendo as
narrativas acima, que merecem uma complementação. Assim, tomo a liberdade de
escrever o que segue. Naquele ano de 1986, na visita que fiz ao Cemitério do
Catumbi, onde estão sepultados meus trisavós, o Visconde e a Viscondessa de
Souto, encontrei o setor histórico da necrópole no mais absoluto abandono.
Recorri a vários órgãos da imprensa, e a maior receptividade veio do Jornal do
Brasil, que enviou ao cemitério uma equipe de reportagem que confirmou a
existência de matagal e depredação, com o túmulo do Visconde de Souto
(1813-1880) vandalizado e a campa quebrada, dentro da qual funcionários do
cemitério tinham atirado sacos de lixo, de plástico, contendo ossos humanos não
identificados. O túmulo do Marquês de Olinda, com quem o Visconde de Souto era
aparentado, estava também vandalizado. O Jornal do Brasil comprovou as
denúncias e publicou a extensa matéria com fotografias, na página 20 da edição
de 7 de abril de 1985. Mandei a administração do cemitério dar destino cristão
aos despojos desconhecidos e contratei o conserto do túmulo. Ao mesmo tempo,
mantive contato com importantes personalidades do Brasil e de Portugal (o
Visconde de Souto era português, por isso também falei ao telefone com Dom
Duarte, tal como é tratado o atual Duque de Bragança) que pudessem influir na
preservação do setor histórico do Cemitério do Catumbi. Naquela ocasião,
pensávamos que meu bisavô Francisco José Alves Souto fosse o primogênito da sua
geração. Eu e meus familiares e parentes tínhamos a comprovação de que meu avô
Francisco Souto Júnior (1881-1940) era filho de Francisco José Alves Souto
(1847-1890) e neto de António José Alves Souto – o Visconde de Souto – mas
desconhecíamos os nomes de todos os nossos tios-bisavós. Tínhamos o relato
familiar oral de que Francisco José seria o primeiro filho do Visconde, mas
recentemente descobrimos haver aí um equívoco. Quando eu e minha prima Lúcia
Helena Souto Martini, que reside em Paulínia, SP, nos decidimos entre 2006 e
2007 a escrever em coautoria a biografia do Visconde de Souto, pouco sabíamos
dele. Além de uma sucinta biografia publicada no ano do seu falecimento em seis
edições do Jornal Commercio de Lisboa (zelosamente guardadas por minha avó
paterna), de relatos familiares passados de geração para geração, e do conteúdo
de não mais do que meia dúzia de livros, nada mais sabíamos do nosso
antepassado. Começamos então a efetuar profundas pesquisas à distância, e
depois “in loco” no Rio de Janeiro: no Arquivo Nacional, Biblioteca Nacional,
IHGB, Cúria Metropolitana, SPHAN, Museu Histórico Nacional, e outros órgãos
ligados à Memória. Graças a pesquisas em “Livros de Google”, até 2010 nós
localizamos mais de seiscentas obras referindo-se ao Visconde de Souto e à
“Quebra do Souto”, como é historicamente denominado o episódio da falência da
sua casa bancária, ocorrida em 10 de setembro de 1864. E através de Estante
Virtual, em quatro anos consegui comprar cerca de cento e quarenta livros em
sebos de todo o país, enquanto minha prima Lúcia Helena adquiriu outros
aproximadamente cem títulos. Um dos livros que comprei chama-se “Anuário
Genealógico Brasileiro”, de Salvador de Moya, editado pelo Instituto
Genealógico Brasileiro, São Paulo, edição de 1943. Na página 150 dessa obra
estão relacionados os treze filhos do Visconde de Souto. Somente então nós
descobrimos que o primogênito do Visconde e Viscondessa de Souto chamava-se
Antônio José Alves Souto Júnior, falecido na infância, e que nosso bisavô
figura no referido livro como tendo sido o 4º filho. Em 2007 ou 2008, graças ao
Dr. Dalmiro da Motta Buys de Barros, que foi presidente do Colégio Brasileiro
de Genealogia no Rio de Janeiro, obtivemos a ordem correta dos nomes dos filhos
do Visconde de Souto, na qual nosso bisavô não figura como o 4º filho, muito
menos como primogênito, mas como o 6º de treze irmãos. Além disso, ocorreu um engano
na edição de Tablóide acima, de 12 de junho de 1986, onde se lê: “Sendo
Francisco [eu] o filho mais velho…”. Ao notar o equívoco, telefonei ao meu
amigo Aramis, pedindo-lhe retificar, o que ele fez na próxima ocasião em que se
referiu a mim, ou seja, em Tablóide de 3 de novembro do mesmo ano de 1986 (o
título da nova matéria foi: “Souto busca a nobreza e descobre as telas”), e
nessa ocasião ele esclareceu: “Embora seja o ‘secundogênito varão’ na família –
mas como conta com a desistência formal de seu irmão, Olímpio, mais velho,
Francisco iniciou o lento, difícil mas estimulante processo de reivindicar o
título nobiliárquico”.Entretanto, a minha pretensão em revitalizar o título de
visconde, se desfez nos anos seguintes, porque, naqueles tempos idos, ao entrar
em contato com o 7º Marquês de Pombal, que era o presidente do Conselho de
Nobreza de Portugal, me foram solicitadas várias comprovações documentais, que
eram então praticamente impossíveis de se obter, tais como, dentre muitas
outras, as certidões de nascimento e casamento dos meus bisavós, que viveram e
morreram no oitocentismo, isto é, no distante século XIX. Os leitores que se
interessarem por estes assuntos, poderão encontrar mais subsídios na edição que
acabo de citar (de 3 de novembro de 1986) e também em outros textos correlatos
publicados pelo saudoso Aramis Millarch em Tablóide, agora transformado em
“Tabloide Digital”, coluna que assim alcança a perenidade. Muito obrigado ao
Francisco Millarch e sua mãe Marilene, pela oportunidade desta retificação.
Souto
busca a nobreza e descobre as telas – Tabloide – Aramis Millarch – O Estado do
Paraná – 3.11.1986.
Francisco Souto Neto, 43 anos, advogado e bancário – assessor da Diretoria de Crédito Rural do Banestado, é um exemplo de que a perseverança vence os obstáculos. Há mais de um ano ao visitar o Cemitério do Catumbi, no Rio de Janeiro, horrorizou-se ao ver o estado de abandono em que se encontrava aquele campo santo, onde repousam os restos mortais de seus antepassados – ao lado de outros vultos eméritos, como o Duque de Caxias. Souto Neto moveu céus e terras, fez mais de 30 cartas a diferentes autoridades, foi notícia nacional e, finalmente, viu recompensados seus esforços. Em 29 de setembro último, encaminhou uma carta ao monsenhor Abílio Ferreira da Nova, procurador da venerável Ordem 3ª dos Mínimos de São Francisco de Paula, responsável pelo Cemitério do Catumbi, dizendo que agora as alamedas foram limpadas e restauradas com cimento, “o que impedirá o crescimento de ervas daninhas” e assim louva o trabalho do sr. Norberto Porfírio Ferreira, administrador daquele campo santo. xxx Em sua preocupação pela restauração do Cemitério do Catumbi, Francisco Souto Neto embrenhou-se na genealogia de sua família e descobriu que o título de visconde está vago. Embora seja o “secundogênito varão” na família – mas como conta com a desistência formal de seu irmão, Olímpio, mais velho, Francisco iniciou o lento, difícil mas estimulante processo de reivindicar o título nobiliárquico. A documentação já foi enviada ao Conselho de Nobreza, em Portugal e dias atrás, recebeu um telefonema do próprio duque de Bragança, comunicando que o processo terá uma recomendação especial. Assim, é possível que em breve, Souto Neto possa ostentar um título de visconde em seu curriculum e cartões de visitas. xxx Junto ao Banestado, do qual é funcionário há mais de 20 anos Souto Neto tem se preocupado em dinamizar atividades culturais. Foi, por exemplo, o idealizador do Salão Banestado de Novos Talentos, já em sua terceira edição e que tem revelado alguns talentos. Mas o projeto maior que Francisco Souto Neto conseguiu ver aprovado foi a criação do Museu Banestado, cuja comissão de implantação vem presidindo com entusiasmo. E graças ao faro de Francisco para reunir tudo que se relaciona à história de nosso banco oficial, acabou descobrindo oito telas de Theodoro De Bona, com retratos de ex-presidentes do banco, que há anos estavam jogadas nos depósitos da instituição. Foram tão maltratadas, que a professora Maria Ester Teixeira Cruz, do ateliê de restauro do Solar do Barão, está às voltas para conseguir recuperá-las. Para tanto, terá que substituir os chassis das molduras (infestadas de cupins), nivelamento das telas, reentelamento (devido ao descolamento da camada de pintura), limpeza, retoques e camadas de proteção, sem falar na recuperação dos diversos furos que as obras apresentam. Também as molduras que estão danificadas e quebradas, serão reconstituídas, limpas e pintadas. xxx A história da garimpagem para descobrir estas telas está contada por Souto Neto no último número de “Todos Nós”, órgão de divulgação dos funcionários do Banestado. Valendo uma média de Cz$ 150 mil cada um destes quadros – afinal, o velho De Bona, 81 anos, doente e praticamente sem mais pintar é hoje um dos mais valorizados artistas paranaenses – estas telas foram feitas nos anos 40 e até agora não se sabe quem teve a idéia de encomendá-los. Dos oito retratos, um inclusive não foi sequer identificado – o que prova a falta de documentação e memória do Banestado, justificando plenamente o projeto histórico que Francisco Souto Neto vem empenhando-se em realizar. As telas identificadas trazem o primeiro presidente do banco, Pretextato Taborda Ribas e outros paranaenses que ocuparam as mesmas funções: David da Silva Carneiro, Gustavo A. de Carvalho, Bertholdo Hauer, Ivo Abreu de Leão, Rivadávia de Macedo e Arcésio Correia Lima. xxx O abandono destas telas, que somente foram localizadas graças ao empenho de Souto Neto, mostra de como o Estado sempre ignorou o seu acervo artístico. Por exemplo, estas telas, quando foram retiradas da sala da diretoria (Quando? Por decisão de quem?), acabaram tratadas como entulho, servindo de base para caixotes a julgar pelos danos causados às mesmas, furadas e rasgadas, diz Souto Neto. Por ocasião da inauguração do Centro Administrativo Banestado em 24 de novembro de 1978, os diversos setores foram sendo, aos poucos, transferidos para Santa Cândida. E as telas de De Bona vieram, por acaso, acondicionadas numa grande caixa de papelão. Entretanto, ninguém delas sabia, ao menos oficialmente.- “Mas havia uma espécie de lenda a respeito de diversos quadros de alto valor, esquecidos em algum ponto” – diz Souto Neto. Este ano, Souto Neto tentou encontrá-las na caixa forte do banco. Claro que não estavam lá. Finalmente, no dia 12 de junho de 1986 (por coincidência, véspera do aniversário de De Bona) um funcionário humilde, Otto Florentino, mexendo em velhas caixas de papelão no depósito do seu setor de trabalho, encontrou as oito telas. Identificando-as e presumindo o seu valor, comunicou o fato à diretoria e com isto Souto Neto exultou: afinal, localizava uma preciosidade para o acervo do Museu Banestado.
*
Em novembro de 1986 a imprensa começa a comentar que eu iniciava os preparativos para inaugurar o IV SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos em janeiro do próximo ano (1987):
ARTES
VISUAIS – Adalice Araújo
Francisco
Souto Neto movimentando a atuação cultural do Banestado. Após ter resgatado
oito telas de De Bona que irão para o Museu Banestado, a ser em breve
inaugurado, lança a 4ª versão do Salão Banestado de Artistas Inéditos.
Os
jornais anunciam que eu abri as inscrições para o IV SBAI, e também transcrevem
minhas apreciações às obras de alguns artistas plásticos, como Antônio Rizzo:
RIZZO
(…)
Francisco Souto Neto, colecionador e crítico de arte, comenta o trabalho de
Antônio Rizzo: “É um artista completo. Sua comunhão com a própria criação
começa já na armação da tela e na fabricação da tinta. Além de pintor, é
desenhista, poeta e músico. Mas o mais importante é o conteúdo de sua obra: às
vezes sobre fundos abstratos o figurativo emerge, seja no esboço de uma
silhueta de mulher, seja na profusão de elementos cotidianos. Rizzo retrata de
modo transvanguardista o cotidiano, mas sob sua ótica personalíssima e às vezes
intrigante, ao mesmo tempo que envolvente, mas invariavelmente plena e bela”.
Os
jornais avisam que as inscrições para o IV SBAI estão quase se encerrando.
Legenda da fotografia da Gazeta do Povo: “Francisco Souto Neto,
idealizador, e Octacílio Ribeiro da Silva, incentivador do Salão de
Inéditos”. Legenda da fotografia do Correio de Notícias: “Octacílio
Ribeiro da Silva, diretor do Banestado, e Francisco Souto Neto, criador do
salão”.
Artespaço
– Alcy Ramalho Filho
Excelente
o artigo de Francisco Souto Neto sobre o artista plástico Antônio Rizzo no
último número do “Todos Nós”, órgão informativo do Banestado.
Mais
quatro notícias. Legenda da fotografia de uma delas: “Octacílio Ribeiro da
Silva, diretor de Crédito Rural do Banestado, e seu assessor Francisco Souto
Neto, coordenador do SBAI e do Museu Banestado”. A fotografia seguinte,
publicada por duas vezes, tem a legenda: “Em trânsito por Curitiba, Carlos
Kroeber é recebido por Francisco Souto Neto, um dos coordenadores do Comitê
Cultural Álvaro Dias. O ator Carlão, como os amigos o chamam, é um dos
destaques da novela ‘Roda de Fogo’.”
Em
dezembro de 1986 os jornais já começam a divulgar os nomes da comissão
julgadora do IV SBAI, e também os nomes dos artistas classificados para o
certame. Os nomes dos premiados, porém, só seriam conhecidos em janeiro, na
inauguração da Salão. Legenda da primeira fotografia: “Francisco Souto Neto e
Tadeu Petrin, da comissão organizadora, e Sofia Dyminski, Ricardo Krieger e
Jorge Carlos Sade, da comissão julgadora do IV SBAI”. Legenda da
segunda foto: “O júri e os organizadores do Salão Banestado versão 87:
Ricardo Krieger, Jorge Carlos Sade, Sofia Dyminski, Francisco Souto Neto, Tadeu
Petrin”:
Meu texto para a exposição de Tominaga:
Devanir
Massami Tominaga: Cor e Movimento
Foi
no II SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos que pela primeira vez tomei
contato com a obra de Tominaga. Seu trabalho atraiu imediatamente a minha
atenção, e senti-me satisfeito ao vê-lo premiado pela comissão julgadora
daquele certame. A sua criatividade fê-lo merecer, mais tarde, a ilustração do
cartaz-convite do III SBAI.
Tive
também a satisfação de apresentá-lo ao historiador e professor Dr. David
Carneiro que, bem impressionado com o trabalho de Tominaga, encomendou-lhe uma
tela, “O Cerco da Lapa”, que hoje integra o acervo do Museu David Carneiro.
Assim,
venho acompanhando a evolução das pesquisas desse artista plástico. E cada vez
que visito seu pequeno atelier, sinto-me surpreso: trabalhando em óleo sobre
tela, com traços que se aproximam do gestual, Tominaga imprime um movimento
muito grande às suas composições que muitas vezes revelam trabalhadores em
contato com a natureza: ora figuras sofridas carregam pesados fardos, ora
colhem sementes, ou ingressam na mata, onde as cores e os tons tornam-se cada
vez mais brilhantes e luminosos.
É
na comunhão entre rurícolas, trabalho e natureza que Tominaga, artesão do
movimento, segue num crescendo de sensibilidade e de talento criador.
Francisco
Souto Neto
Criador
do Salão Banestado de Artistas Inéditos.
Anúncios
dos jornais pela inauguração, em janeiro, do IV SBAI, com fotos de Francisco
Souto Neto e Tadeu Petrin, com os membros da comissão julgadora:
Anúncios
dos jornais pela inauguração, em janeiro, do 4º SBAI, com fotos de Francisco
Souto Neto e Tadeu Petrin, com os membros da comissão julgadora:
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dos jornais pela inauguração, em janeiro, do 4º SBAI, com fotos de Francisco
Souto Neto e Tadeu Petrin, com os membros da comissão julgadora:
A
última notícia do ano anuncia os nomes dos artistas classificados para o 4º SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos. O Salão seria inaugurado nos
primeiros dias de 1987. Esse evento e as fotografias correspondentes estarão na
próxima página deste blog. Esta, a relação dos artistas classificados pela
comissão julgadora composta por Sofia Dyminski, Ricardo Krieger e Jorge
Carlos Sade: Álvaro Wambier, Annemarie de Fernandez, Antônio Luz, Antônio
Rizzo, Aristide Brodeschi, Arlene Senegaglia, Arlinda Mendes, Ayrton A. Hecke,
Caetano A. Rodrigues, Catarina de Castro Caputo, Christianne Ávila César,
Dourival Conceição, Dulcirene Moletta, Edilson Viriato, Fernanda Maria de
Paula, Horandina Ferro, Ieda Coelho, Ivo Martinez Filho, Jaqueline Bellani,
José Antônio de Lima, José Carlos Kuster, José Márcio Pupulim, Julian Carlos
Fagotti, Lory Maria Archer, Lourdes Marcondes, Luiz Carlos Dalla Vecchia, Márcio
Sborgi, Maria de Lourdes Brandão, Maria Dorothéa Barbosa, Marina Pimentel de
Barros, Maria Regina Simonato, Mariza Pauluk, Marly Carrati Torrens, Marly
Meyer de Araújo, Nilce Sabbag, Odila Vallim, Regina Negrinho, Ruth Assumpção,
Sérgio de Almeida, Tadashi Ikoma, Wilma Zétola, Yara de Moraes.
Aqui
terminam os recortes de jornais do ano. Em 1986 colecionei 91 recortes de
notícias de jornais mencionando minhas atividades, com 32 fotografias minhas,
generosamente publicadas pelos meus amigos jornalistas. Nos anos seguintes,
cresceria o Salão Banestado, e esses números se multiplicariam muitas vezes…
*
ALGUMAS
FOTOGRAFIAS DO ANO DE 1986:
===ooOoo===
2
de setembro de 2023:
80 ANOS ESTA NOITE
CONTINUA NA
PARTE 9
O ANO DE 1987
===ooOoo===
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